Pesquisadores brasileiros detectam hanseníase resistente a tratamento padrão no Pará:sport recife x tombense
- Maurício Brum
- De Porto Alegre para a BBC Brasil

Crédito, Getty Images
Imagem microscópica mostra a Mycobacteruim laprae; pesquisadores brasileiros detectaram existênciasport recife x tombensebactérias resistentes ao tratamento-padrãosport recife x tombensemaior proporção do que apontado pela OMS
sport recife x tombense Uma doença considerada erradicadasport recife x tombensegrande parte do mundo ainda é um problemasport recife x tombensesaúde sport recife x tombense pública no Brasil: a hanseníase tem cercasport recife x tombense28 mil novos casos registrados por ano no país, que ocupa o segundo lugar no ranking mundialsport recife x tombensenovos pacientes diagnosticados, atrás apenas da Índia.
Agora, um estudo recente publicado por pesquisadores brasileiros indica que o problema pode ser ainda mais sério: detectou-se uma existênciasport recife x tombensebactérias resistentes ao tratamento-padrãosport recife x tombensemaior proporção do que os números divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
"Por muitos anos, a OMS dizia que não existia resistência, que a hanseníase é 100% curável. Isso não é verdade", diz Marcelo Mira, professor do Programasport recife x tombensePós-Graduaçãosport recife x tombenseCiências da Saúde da PUC-PR e líder do estudo.
"Mas, no passado, não tínhamos as ferramentas para detectar isso. A Mycobacterium leprae é a única bactéria que causa a doençasport recife x tombensehumanos e que não pode ser cultivadasport recife x tombenselaboratório,sport recife x tombensemeiosport recife x tombensecultura. Só nos anos 90 começaram a surgir os primeiros testes moleculares, que permitem identificar a resistência diretamente no genoma do bacilo", explica.
O tratamento-padrão para a hanseníase é a chamada poliquimioterapia (PQT), uma associaçãosport recife x tombensedrogas como a rifampicina e a dapsona, remédios para os quais o levantamento testou a resistência. No estudo, os pesquisadores detectaram a maior proporçãosport recife x tombensecepas resistentes da M. leprae já reportadasport recife x tombenseuma determinada comunidade: 43,2% dos casos apresentavam resistência a algum dos medicamentos, e 32,4% possuíam resistência dupla.
Publicado na Clinical Infectious Diseases, uma das principais revistas científicas na áreasport recife x tombensedoenças infecciosas, o artigo também contou com pesquisadores do Instituto Laurosport recife x tombenseSouza Lima, Fundação Oswaldo Cruz, Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Estadual do Pará (UEPA) e Universidade Federalsport recife x tombenseSão Paulo (Unifesp).
Vila do Prata
Para chegar aos resultados, os pesquisadores analisaram, ao longosport recife x tombense12 anos, a população da Vila Santo Antônio do Prata, uma ex-colôniasport recife x tombensehansenianos no interior do Pará, situada a 110 kmsport recife x tombenseBelém. Hoje com uma população perto dos 3 mil habitantes, a maioria descendentesport recife x tombensepacientes que tiveram hanseníase, a comunidade foi submetida a maissport recife x tombense600 consultas pela equipesport recife x tombensesuas expedições.
A localidade, popularmente conhecida como Vila do Prata, foi um dos vários hospitais-colônias abertos no Brasil a partirsport recife x tombense1923, quando pacientes diagnosticados com lepra (o nome da doença na época) passaram a ser internados compulsoriamente.

Crédito, Getty Images
'A Mycobacterium leprae é a única bactéria que causa doençasport recife x tombensehumanos e que não pode ser cultivadasport recife x tombenselaboratório,sport recife x tombensemeiosport recife x tombensecultura. Só nos anos 90 começaram a surgir os primeiros testes moleculares', explica o pesquisador Marcelo Mira
Os chamados "leprosários" contribuíram para aumentar o estigma socialsport recife x tombenserelação à doença: eram locaissport recife x tombenseisolamento, onde os doentes acabavam apartados da sociedade e, com frequência, permaneciam até o fim da vida - mesmo já tratados e com o contágio encerrado.
A Vila do Prata recebeu pacientes dos Estados do Norte e Nordeste do país. Embora o isolamento tenha deixadosport recife x tombenseser obrigatóriosport recife x tombense1962, a integração dessas comunidades permaneceu rara, tanto no que diz respeito à saída dos habitantes quanto à entradasport recife x tombensenovas pessoas. Tratamentos interrompidos, desconhecimento e preconceitosport recife x tombenserelação à doença também fizeram com que muitas dessas áreas se mantivessem endêmicas.
"Ainda hoje, a população local é discriminada pelo fatosport recife x tombenseser uma ex-colôniasport recife x tombensehansenianos", lamenta Mira, que destaca a importânciasport recife x tombensevencer o estigma.
Para o estudo, o isolamento acabou se revelando importante para compreender como a resistência opera.
"É uma população que permaneceu relativamente isolada desde o estabelecimento da colônia e foi submetida a praticamente todos os protocolossport recife x tombensetratamento aplicados nos últimos 100 anos", destaca Mira.
"Claro que os resultados devem ser interpretados corretamente: é uma população muito particular, superexposta e supertratada por décadas. Mas os resultados são um importante sinalsport recife x tombensealerta,sport recife x tombenseque ainda sabemos muito pouco sobre o fenômeno da emergênciasport recife x tombenseresistência ao tratamento", ressalta o pesquisador.
Por ser uma doença com um temposport recife x tombenseincubação alto, não há o riscosport recife x tombenseum surto: a proliferação dessas cepas viria gradualmente, como consequênciasport recife x tombenseuma negligência continuada por parte das autoridades.
"Em um cenáriosport recife x tombenseque não se preste atenção a esse problema, é provável que daqui a 20 ou 30 anos haja uma hanseníase muito mais resistente disseminada nas populações endêmicas", pontua Mira.
Sinalsport recife x tombensealerta
Para especialistas da área, o estudo se soma às evidênciassport recife x tombenseque a resistência é um problema que ainda não recebeu a devida atenção do poder público. Como a própria OMS subestimava essa questão até os anos 90, as políticas nacionais se movem lentamente no que diz respeito aos tratamentos alternativos à PQT.
"O Ministério da Saúde não tem um protocolo padronizado para agirsport recife x tombensecasossport recife x tombenseresistência. Estamossport recife x tombenseuma fasesport recife x tombenseque o ministério ainda faz levantamentos sobre a situação, enquanto a bactéria já está um passo à frente, como sempre", diz Claudio Salgado, pesquisador do Laboratóriosport recife x tombenseDermato-Imunologia da UFPA e presidente da Sociedade Brasileirasport recife x tombenseHansenologia (SBH), que analisou o estudo a pedido da BBC Brasil.

Crédito, Getty Images
O pesquisador Claudio Salgado destaca que resistência a antibióticos na hanseníase lembra o que ocorreu no caso da tuberculose
Para Salgado, o combate à doença vive uma espéciesport recife x tombense"marasmo" causado por uma percepção errôneasport recife x tombenseque o problema já foi devidamente controlado.
"As pessoas acham que a hanseníase está controlada, e que vai acabar com a melhoria das condições socioeconômicas", aponta. "Mas o trabalho mostra claramente que a bactéria está se desenvolvendo, e temos um percentual cada vez maiorsport recife x tombensepessoas que respondem menos aos tratamentos convencionais", entende o especialista.
"A bactéria não espera. Ela se multiplica e desenvolve resistência aos antibióticos", resume. "Já vimos isso na tuberculose algumas décadas atrás. Ela começou a apresentar os primeiros casossport recife x tombensemultirresistência naquela época e hoje, quase metade dos casos são multirresistentes. Com a hanseníase, estamos vendo o início disso", argumenta Salgado.
Por ser um campo relativamente recente, a compreensão da resistência ainda é parcial, segundo o presidente da SBH. "O que o estudo traz é uma parte da história, as partes do genoma que nós conhecemos, mas há outras áreas com resistência que ainda não são conhecidas, o que torna o processo mais grave", interpreta Salgado.
"Não podemos alarmar a população com promessassport recife x tombenseuma epidemia, mas também não se pode empurrar com a barriga achando que está tudo bem. Temos casossport recife x tombenseresistência publicadossport recife x tombense2011, agora vemos esses resultadossport recife x tombense2019. O que vamos aguardar? Sair outro trabalhosport recife x tombense2029 para dizer que realmente tem resistência? Precisamossport recife x tombenseum protocolo urgentemente".
A visão é semelhante àsport recife x tombenseMarcelo Mira, que reforça a necessidadesport recife x tombenseuma política alternativa para casossport recife x tombenseque o M. leprae já não responde ao tratamento convencional.
"Alguns médicos realizam o tratamento com antibiótico específico para casos mais resistentes, mas fazem isso não por uma orientação definida pelo ministério, e sim por entenderem que o protocolo clássico já não funciona", aponta o líder do estudo. "O Ministério da Saúde precisa decidir logo a respeito disso".
Procurada para comentar os resultados do estudo, a Secretariasport recife x tombenseVigilânciasport recife x tombenseSaúde do Ministério da Saúde (SVS/MS), órgão responsável pelo monitoramento e políticas relacionadas à hanseníase, não havia retornado os contatos até o fechamento desta reportagem.

sport recife x tombense Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube sport recife x tombense ? Inscreva-se no nosso canal!
Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimossport recife x tombenseautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticasport recife x tombenseusosport recife x tombensecookies e os termossport recife x tombenseprivacidade do Google YouTube antessport recife x tombenseconcordar. Para acessar o conteúdo cliquesport recife x tombense"aceitar e continuar".
Finalsport recife x tombenseYouTube post, 1
Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimossport recife x tombenseautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticasport recife x tombenseusosport recife x tombensecookies e os termossport recife x tombenseprivacidade do Google YouTube antessport recife x tombenseconcordar. Para acessar o conteúdo cliquesport recife x tombense"aceitar e continuar".
Finalsport recife x tombenseYouTube post, 2
Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimossport recife x tombenseautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticasport recife x tombenseusosport recife x tombensecookies e os termossport recife x tombenseprivacidade do Google YouTube antessport recife x tombenseconcordar. Para acessar o conteúdo cliquesport recife x tombense"aceitar e continuar".
Finalsport recife x tombenseYouTube post, 3









