'Minha mãe tem síndromeboski pokerDown':boski poker
- Vinícius Lemos
- De Cuiabá para BBC News Brasil

Crédito, Reprodução/Alex Duarte
Desde o início do casamento, Izabel e José queriam ter filhos
boski poker Nas fotografias da colaçãoboski pokergrau da atendente Cristinna Maria da Silva, o largo sorriso da mãe dela, a donaboski pokercasa Izabel Rodrigues,boski poker66 anos, se destaca. A alegria da idosa demonstra o orgulho que ela sentiu ao ver a única filha concluir o ensino superior.
Junto delas e com um sorriso tímido, o paiboski pokerCristinna, o aposentado José Ribeiro,boski poker78 anos, também demonstrou felicidade com a conquista da filha, que se formouboski pokerAdministração.
A conclusão do ensino superior foi algo distante para os paisboski pokerCristinna, que cresceram na região rural do pequeno municípioboski pokerMorrinhos (GO) — hoje a família vive na área urbana da cidade. Eles estudaram somente até as primeiras séries do ensino fundamental.
O diplomaboski pokerCristinna foi também uma conquista para a mãe dela. Izabel tem síndromeboski pokerDown e um dos principais desafios que enfrentou na vida foi provar para os parentes que seria capazboski pokercriar a filha.
Muitos duvidavam que a mulher, que tinha amigos imaginários e parecia alheia a tudo, poderia cuidarboski pokeruma criança.
A síndromeboski pokerDownboski pokerIzabel foi descoberta somente quando ela tinha 35 anos. A idosa, que é a caçulaboski poker19 filhos, passou parte da vida sendo considerada pelos familiares como alguém que vivia "no mundo da lua". No passado, parentes e conhecidos não desconfiavam que ela pudesse ter uma alteração genética. Para eles, tratava-se do jeito dela.
Para provar que conseguiria criar a filha, Izabel foi uma mãe extremamente cuidadosa. "Sempre que eu me sujava, ela corria para me limpar. Mesmo que estivesse perto da lama, com as outras crianças sujas, eu sempre estava limpa", diz Cristinna, hoje com 29 anos.
"Ela era a minha bonequinha. Cuidei muito bem dela. Ela era um xodó para mim", conta Izabel, que éboski pokerpoucas palavras, mas sempre está sorridente.
Hoje, quase 30 anos após a donaboski pokercasa ter se tornado mãe, os parentes ainda se surpreendem por ela ter conseguido criar a filha. "Eles ficam admirados por ela ter dado contaboski pokercuidarboski pokermim", comenta Cristinna.
A síndromeboski pokerDown
Izabel nasceu por meioboski pokeruma parteira, que era responsável pelos nascimentos dos bebês da região ruralboski pokerMorrinhos. Na infância, demorou mais que os outros irmãos para aprender a falar e a andar. "Percebiam que ela era mais lenta que os outros, mas achavam que não era nada. Pensavam que era preguiça dela", diz Cristinna.
Desde pequena, a idosa tem dificuldadesboski pokercompreensão. Logo nos primeiros anos da escola, os pais decidiram retirá-laboski pokerlá, porque ela tinha extrema dificuldadeboski pokeraprendizado. Izabel sabe ler e escrever muito pouco.
Na adolescência e no início da vida adulta, os parentes notaram que Izabel tinha atitudes diferentes. "Por um período, a minha mãe trabalhou. Ela falava que ia ao banheiro, mas quando iam atrás dela, ela estava no pomar, brincando com amigos imaginários. Diziam que ela não era certa da cabeça", conta Cristinna.
Aos 25 anos, Izabel começou a namorar com José Ribeiro. Eles são primosboski pokersegundo grau e moravamboski pokerregiões próximas. Com cercaboski pokerseis mesesboski pokernamoro, ele pediu permissão para se casar com ela. "Alguns dos meus tios não queriam deixar a minha mãe se casar, porque falavam que ela não era muito certa. Mas a minha avó permitiu."
Desde o início do casamento, Izabel e José queriam ter filhos. Dez anos depois, parentes do casal levaram a mulher ao médico, para descobrir o motivoboski pokerela não conseguir, até então, engravidar. "Nessa consulta, o médico descobriu a síndromeboski pokerDown da minha mãe. Ele disse que ela nunca poderia ter filhos, porque pessoas assim são inférteis", diz Cristinna.
A síndromeboski pokerDown é uma alteração genética caracterizada pela presençaboski pokertrês cromossomos 21 nas células do indivíduo. Aqueles que possuem a síndrome têm, ao todo, 47 cromossomos nas células, enquanto a maior parte da população tem 46.
No Brasil, estima-se que haja cercaboski poker300 mil pessoas com a trissomia do cromossomo 21, como também é conhecida a síndromeboski pokerDown. Estudos apontam que um a cada 700 bebês nascidos vivos possui a característica genética.

Crédito, Reprodução/Alex Duarte
Casamentoboski pokerIzabel e José
Uma das características da síndrome é a infertilidade. Estudos apontam que metade das mulheres que possuem a alteração genética são inférteis. Entre os homens com a síndrome, a infertilidade chega a atingir 80% deles.
Apesar do prognóstico desanimador, Izabel conseguiu engravidar meses após descobrir a síndrome. "Foi uma grande felicidade descobrir que ela estava grávida", comenta José.
Há considerável possibilidadeboski pokerque o bebêboski pokeruma pessoa com síndromeboski pokerDown nasça com a mesma característica genética. Em casosboski pokermãe e pai com a síndrome, as chancesboski pokera criança ter a alteração genética chegam a 80%.
No casoboski pokerIzabel e José, como somente ela possui a síndromeboski pokerDown, as chancesboski pokera criança ter a mesma característica eramboski poker50%. Apesar da possibilidade considerável, Cristinna nasceu sem nenhuma alteração genética.
Casosboski pokerfilhosboski pokerpai ou mãe com síndromeboski pokerDown que nascem sem a alteração genética são considerados incomuns.
O nascimento da filha
Desde o início da gravidez, os parentesboski pokerIzabel tinham receio sobre a capacidade dela para cuidarboski pokerum bebê. Em razão disso, logo após o nascimentoboski pokerCristinna, uma irmã da donaboski pokercasa a auxiliou nos cuidados com a recém-nascida.
"Os meus tios não queriam deixar a minha mãe sozinha comigo e decidiram que alguém precisava acompanhá-la nos primeiros dias, depois que ela saísse do hospital. Essa minha tia, que já tinha filhos, ficou na minha casa durante o meu primeiro mêsboski pokervida. Depois ela foi embora, porque a minha mãe já tinha aprendido o que tinha que aprender", relata Cristinna.
"Meu pai passava o dia trabalhando, então ficávamos eu e a minha mãe. Ela é muito determinada quando quer alguma coisa e sempre quis mostrar que poderia cuidarboski pokermim. Ela teve muita capacidade para me criar", declara.
Uma das grandes dificuldades enfrentadas pelas pessoas com síndromeboski pokerDown é a crençaboski pokerque são incapazes. Apesar da deficiência intelectual, que pode se manifestarboski pokerdiferentes níveis, especialistas orientam que é importante estimular o desenvolvimento dessas pessoas para que elas possam se tornar cada vez mais independentes.
"Hoje, a deficiência intelectual e as dificuldadesboski pokerdesenvolvimento das pessoas com síndromeboski pokerDown são condições acolhidasboski pokerforma melhor pela sociedade. Mas a gente percebe que muitas pessoas não querem que o indivíduo com síndromeboski pokerDown se desenvolva, porque têm a crençaboski pokerque serão eternas crianças", afirma a neuropsicóloga Karyny Ferro, que atua no Instituto Jô Clemente (antiga Apaeboski pokerSão Paulo).

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Os pais e Cristinna quando era bebê
"A deficiência intelectual é uma questão genética. Mas existe uma questão social. É importante que as pessoas tratem o indivíduo com Down conforme a idade cronológica dele, para que culturalmente ele consiga lidar com a autoimagem, porque querendo ou não, é uma pessoa que está envelhecendo", acrescenta.
Especialistas frisam que uma pessoa com síndromeboski pokerDown pode ser capazboski pokercriar um filho. Em alguns casos, pode necessitarboski pokermaior apoio externo, mas é fundamental que não menosprezem a capacidade daquele indivíduo e estimulem a independência.
Questões referentes à autonomia e desenvolvimentoboski pokeruma pessoa com síndromeboski pokerDown tornam-se ainda mais importantes atualmente. Isso porque a expectativaboski pokervida deles, queboski pokerdécadas atrás eraboski poker35 anos, hoje corresponde a, aproximadamente, 63 anos.
Entre os pontosboski pokerdesenvolvimentoboski pokerpessoas com a síndromeboski pokerDown, o geneticista e pediatra Zan Mustacchi ressalta a importânciaboski pokerentender que esses indivíduos podem ter uma vida sexual comum. Ele afirma que é fundamental falar sobre sexualidade com eles.
"O problema é que a sociedade não assumiu esse tipoboski pokerabertura. Dizem que por eles terem dificuldades intelectuais, não podem ter uma vida sexual. Isso faz com que esse indivíduo seja despreparado e, consequentemente, possa até sofrer abusos. A sexualidade deles é comum, como qualquer outra", pontua Mustacchi.
Especialistas afirmam que para que o indivíduo com síndromeboski pokerDown tenha uma vida produtiva e inclusivaboski pokertodos os aspectos, é preciso haver apoio dos familiares eboski pokerdiferentes profissionais, como fonoaudiólogo e psicólogo.
Uma mãe extremamente zelosa
Diferente do que costuma ser orientado por especialistas, Izabel nunca teve nenhum tipoboski pokeracompanhamentoboski pokerrazão da síndromeboski pokerDown. "Ela nunca procurou ajuda ou quis algum acompanhamento, até porque a gente moraboski pokeruma cidade pequena. Ela diz que esse diagnóstico não mudouboski pokernada a vida dela", conta Cristinna.
A síndromeboski pokerDown não afetou a criação que recebeu da mãe, afirma Cristinna. "Ela sempre foi muito amorosa e cuidadosa. Muita gente me pergunta qual é a diferençaboski pokerter uma mãe com síndromeboski pokerDown, mas para mim isso nunca mudou nada."
"Sempre cuidei muito bem da minha filha. Eu a levava e buscava na escola. Gostava muitoboski pokerpassear com ela", diz Izabel.

Crédito, Reprodução/Alex Duarte
Os pais e Cristinna na infância
Um dos poucos momentosboski pokerque Cristinna se viu com medoboski pokerrelação à alteração genética da mãe foi durante a adolescência. "Eu estava na sétima série. Estávamos estudando sobre cromossomos e uma professora explicou sobre a síndromeboski pokerDown. Na época, eu desconhecia sobre o assunto e disse que minha mãe tinha. Nisso, minha professora garantiu que a minha mãe não tinha, porque as pessoas com essa síndrome são inférteis."
"Eu fiquei abalada, porque comecei a pensar que pudesse ser adotada. Procurei meu tio, que tinha me falado sobre a síndrome, e ele me mostrou fotos da minha mãe grávida. Até falei com um médico da cidade e ele também me disse que, apesarboski pokerser incomum uma pessoa com síndromeboski pokerDown ter filhos, eu era filha da minha mãe", relembra.
Os netos
Há alguns anos, Cristinna deixou a casa dos pais para morar com o marido. Hoje, ela é mãeboski pokerdois garotos,boski pokerseis e 10 anos, e está grávidaboski pokerseis meses.
A atendente se recorda que o primeiro momentoboski pokerque duvidou da capacidade da mãe,boski pokerrazão da síndromeboski pokerDown, foi logo após o nascimento do primogênito. "Eu não deixei que ela desse banho no meu filho nos primeiros meses dele, porque fiquei pensando que ela não fosse capaz. Para que ela não ficasse magoada, também não deixei que a outra avó fizesse isso. Eu mesma dei os banhos nele", diz.
Cristinna confessa que se arrependeu da atitude. "Eu fiquei pensando: a minha mãe conseguiu cuidarboski pokermim e me deu banho sozinha. Por que não conseguiria fazer isso com meu filho? Então, quando tive meu segundo filho, o primeiro banho, fora do hospital, foi dado por ela. Foi uma formaboski pokerme redimir", conta.
Atualmente, Izabel cuida dos netos durante o período da manhã, enquanto a filha trabalha. "Ela é uma avó muito carinhosa", comenta Cristinna.
'Fiz questãoboski pokerdar esse orgulho para eles'
Izabel e José moram na mesma casa,boski pokerum conjunto habitacionalboski pokerMorrinhos, há maisboski poker30 anos. Hoje, vivem com a aposentadoria do idoso, que é um salário mínimo, e com a rendaboski pokertapetes que fazem para vender. "O dinheiro deles é escasso, mas nunca passaram necessidade. Eu ajudo quando eles precisamboski pokeralgo. Como a família deles é muito grande, sempre ajuda também", conta Cristinna.
"Nós tentamos aposentar a minha mãe por invalidez, mas não conseguimos, porque a Justiça alega que o benefício só pode ser concedido se a renda familiar for inferior a 1/4 do salário mínimo por pessoa. Como ela é casada com o meu pai e eles têm o salário mínimo dele, o juiz entendeu que a renda dela é maior que 1/4", diz Cristinna. Segundo ela, o caso segue na Justiça.

Crédito, Arquivo Pessoal
Foto tirada na colaçãoboski pokergrau da Cristinna,boski pokerfevereiro deste ano
A preocupaçãoboski pokerCristinna com Izabel e José é constante. Ela conta que desde criança soube que teria que ter muito cuidado com eles. "Os meus tios sempre falaram que vim ao mundo para ajudar os meus pais."
Ao relembrar tudo o que viveu com os pais até hoje, ela cita que um dos momentos mais importantes foi o dia daboski pokercolaçãoboski pokergrau,boski pokerfevereiro deste ano. Orgulhosos, Izabel e José posaram para diversas fotos ao lado da filha. O momento especial causou comoçãoboski pokerparentes ao ser compartilhado por Cristinna nas redes sociais.
"Uma prima, muito mais velha que eu, comentou que ninguém acreditava que meus pais dariam contaboski pokercuidarboski pokermim, muito menosboski pokerme formar. Ninguém nunca acreditou que eles fossem capazes. Mas fiz questãoboski pokerdar esse orgulho para eles."

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