Abuso sexual e violência doméstica: ex-testemunhascasino online moneyJeová acusam igrejacasino online moneyencobrir crimes e proteger predadores:casino online money

Parte dos crimes, dizem, foram cometidos por "anciãos" — homens respeitados dentro da igreja, que têm privilégios e atuam como conselheiros e juízes.

A BBC News também teve acesso a documentos internos da organização e conversou com quatro ex-anciãos que relatam que as ordens que recebiam eram para lidar com problemas internamente, evitando procurar autoridades a todo custo.

As acusaçõescasino online moneyacobertamentocasino online moneyabuso sexual e violência contra a mulher dentro do grupo estão sendo investigadas pelo Ministério Públicocasino online moneySão Paulo, mas as denúncias não se restringem ao Estado. A BBC conversou com vítimas também no Riocasino online moneyJaneiro ecasino online moneyMinas Gerais.

A associação das Testemunhascasino online moneyJeová do Brasil diz que "abominam qualquer tipocasino online moneyviolência, inclusive a sexual e a consideram como um crime" e nega que haja qualquer tipocasino online moneyacobertamentocasino online moneycrimes.

A entidade diz que também que os casos específicos investigados pelo Ministério Público estão sob segredocasino online moneyJustiça.

"As Testemunhascasino online moneyJeová reconhecem que compete às autoridades apurar se houve ou não algum delito e elas irão colaborar com qualquer procedimento jurídico", diz a organizaçãocasino online moneynota.

"O bem-estarcasino online moneycrianças e adolescentes écasino online moneymáxima importância para as Testemunhascasino online moneyJeová, por isso publicamos inúmeras matérias baseadas na Bíblia para ajudar os pais a cumprir acasino online moneyresponsabilidadecasino online moneyproteger e instruir seus filhos", dizem, citando uma sériecasino online moneypublicações como referência, como, por exemplo, textos com os títulos "Um perigo que preocupa todos os pais", "Como proteger seus filhos" e "Façacasino online moneyseu lar um abrigo seguro".

Sem escolha

"Eu não tive escolha sobre entrar nessa seita ou não", diz a cuidadoracasino online moneyidosos E. B.,casino online money37 anos, que foi educada como testemunhacasino online moneyJeová desde criança.

Sua mãe era da religião e E.B. cresceu acreditando nos seus ensinamentos. "Eles falam muito do Armagedom, então você cresce morrendocasino online moneymedo do fim do mundo. Também fazem um terror sobre as pessoas que sãocasino online moneyfora, que eles chamamcasino online money'pessoas do mundo', dizem que aqui fora você vai ser maltratado, que tudo é horrível, que as pessoas vão se aproveitarcasino online moneyvocê", conta.

Dentro da igreja, os líderes são chamadoscasino online money"anciãos": são homens com cargoscasino online moneyliderança, não necessariamente idosos. "Eles são vistos como puros, respeitáveis, nunca que você vai imaginar que eles vão abusarcasino online moneyuma criança", diz E.B.

Foi por isso que a mãe da menina confiou quando um anciãocasino online moneyuma das congregaçõescasino online moneyTestemunhascasino online moneyJeovácasino online moneySão José do Rio Preto pediu para levá-la para a sede da entidade na cidade, conta. Ela tinha 12 anos e iria ser questionada sobre a fé, como parte da preparação para seu batismo. As perguntas normalmente são feitas com várias crianças ao mesmo tempo.

"Eu achei que quando a gente fosse chegar lá no salão ia ter mais gente, mas estava só eu e ele. Ele me levou sozinha para uma sala e trancou a porta", diz.

casino online money Crime

"Ele começou a falar do meu corpo, falar que já fazia tempo que ele me notava, que ele percebia que eu não usava sutiã. Achei muito esquisito. Ele perguntou se eu já tinha tido relações, se eu já tinha visto um pênis. E começou a falar que o dele era maior que a média, e colocou para fora, mostrou pra mim."

"Eu era uma criança, não sabia nada dessa parte sexual. Eu fiquei muito assustada, muito envergonhada. Mas ao mesmo tempo eu achava que aquilo fazia parte... Eu não estava entendendo. Achei que ele estivesse fazendo algum teste comigo."

O homem então se colocou atrás da menina e começou a tocar nos seus seios e se esfregar nela, diz E.B.

"Eu fiquei muito assustada, não sabia o que fazer. Disse que estava passando mal e fui para o banheiro. Fiquei um tempão lá, mas eu não tinha para onde fugir porque a porta estava trancada."

E.B. conta que depois, no caminhocasino online moneyvolta para a casa dela, o ancião tentou convencê-la a ir para a casa dele e tentou embriagá-la. "Depois disse que eu 'tinha obrigado' ele a ir se aliviar no banheiro. Eu era tão inocente que nem entendi o que ele quis dizer", relata.

Acobertamento

E.B. diz que falou sobre o episódio para a mãe, apesar do abusador dizer a ela para não falar nada para ninguém. "Ela não falou nada para mim. Para ela, o que eles falavam era como se fosse Deus falando, então ela não confrontou ele."

Quando ouviu que o mesmo homem havia "mexido" com outra pessoa no Salão do Reino (como são chamados os locaiscasino online moneyencontro dos religiosos), E.B. resolveu contar para outros anciãos o que tinha se passado.

"Eles ficaram bem desconcertados, mas falaram para eu deixar nas mãoscasino online moneyJeová, que Jeová ia resolver esse assunto. Que era para eu orar, perdoar ele pelo que ele fez e que Deus consolasse meu coração" diz ela. "E ainda pediram para não comentar com mais ninguém porque ele tinha esposa e filha, porque isso podia virar casocasino online moneypolícia e a gente evita que vire casocasino online moneypolícia."

A BBC News Brasil conversou com quatro ex-anciãos que afirmaram que a orientação da organização sempre foi para que todos que os líderes resolvessem os problemas entre membros internamente, aconselhando-os a não procurar as autoridades para evitar "vilipendiar" o nome da religião.

'Justiça paralela'

Nos documentos oficiais da Associação das Testemunhas Cristãscasino online moneyJeová, que tem sede nos EUA e tem diversas publicações e comunicados enviados para as filiais no mundo, há orientações explícitas para que anciãos resolvam quaisquer problemas entre membros internamente.

Como explicam esses documentos, pessoas acusadascasino online moneycometer crimes e irregularidades são julgadas por anciãoscasino online moneyuma reunião chamada 'comissão judicativa'. Mas para que uma acusação gere uma comissão — incluindo casoscasino online moneyabuso sexualcasino online moneycrianças ou violência contra a mulher — é exigido que haja duas testemunhas. Tudo isso está detalhado no livro dos anciãos, que é acessível somente aos líderes e não é compartilhado com os outros fiéis.

"Anciãos não estão autorizados pelas Escrituras e tomar ação congregacional a menos que haja confissão ou duas testemunhas confiáveis", diz trechocasino online moneyuma cartacasino online money2012 sobre abuso sexual enviadas pela sede para as filiais no mundo. Há nove cartas sobre o assunto datando desde 1992 — a cartacasino online money2012 ordena as congregações a tirar do arquivo e destruir todas as cartas anteriores.

"São crimes que porcasino online moneynatureza não têm testemunhas, e que precisam ser investigados pelas autoridades, que têm condiçõescasino online moneyfazê-lo", afirma Celeste Santos, promotora do Ministério Públicocasino online moneySão Paulo que investiga os casos.

As cartas sobre pedofilia repassadas pela sede para as filiais dizem que é possível manter um abusador na congregação desde que ele tenha "se arrependido".

"O departamentocasino online moneyserviço [jurídico] vai dar orientações quando uma comissão judicativa conclui que alguém culpadocasino online moneyabuso sexualcasino online moneymenores está arrependido e pode permanecer na congregação", diz uma cartacasino online money2016.

"Em 2015, depoiscasino online moneymuitos escândalos, eles deram uma nova orientação da igreja para os anciãos não desencorajar pessoas que desejam buscar as autoridades. Mas na prática existe toda uma culturacasino online moneyacobertamento que continuou", afirma Eduardo*, que foi ancião até 2016.

A orientação oficial da organização para os anciãos hoje é que procurarem o escritório jurídico da igrejacasino online moneycasocasino online moneydenúnciascasino online moneyabusocasino online moneymenores. "Em alguns países, quem fica sabendocasino online moneyum suposto casocasino online moneyabusocasino online moneymenores é obrigado por lei a denunciar o caso às autoridades", diz a versãocasino online money2019 do manual dos anciãos.

O ex-ancião Marcus Borges*, que deixou a religião no iníciocasino online money2020, diz que "a práticacasino online moneylidar com o caso internamente, sem levar às autoridades", dura até hoje. "E essa exigência das testemunhas [para que a pessoa seja desligada] faz com que a maioria dos casos sejam ignorados", diz ele.

"É uma seita com uma Justiça paralela, que você desestimula as pessoas a procurar a Justiça", acrescenta o ex-ancião Eduardo.

"Você tinha que dizer: 'se quiser procurar a polícia é uma questão sua, mas tem que pensar que vai causar um vitupério para o nomecasino online moneyJeová'", conta Eduardo. "É uma instrução que você é obrigado a seguir. Se você não seguir, você perde privilégios, você é desqualificado como ancião", afirma."Eu já cheguei a burlar as regras para desassociar um pedófilo."

Eduardo conta que teve que lidar com cinco denúnciascasino online moneyabuso sexual contra crianças ao longo dos dez anos que trabalhou como ancião — as discordâncias dele com os métodos da organização, diz, acabaram por eventualmente levá-lo a abandonar a religião.

"Teve um tio, esse conseguimos desassociar, que abusoucasino online moneyduas sobrinhas crianças", relembra. O homem nunca foi levado à Justiça, conta.

"Eu hoje me arrependo muitocasino online moneyter participado disso, mas é porque eu não tenho mais a lavagem cerebral eu que tinha lá dentro."

Os Testemunhascasino online moneyJeová dizem que os anciãos "não protegem das autoridades ninguém que comete violênciacasino online moneyqualquer tipo, inclusive contra menores".

"Não aceitamos um abusadorcasino online moneynosso meio e nunca o protegeríamos. As Testemunhascasino online moneyJeová são criticadas justamente por seguir princípios bíblicos e excluir do seu meio pessoas que praticam qualquer tipocasino online moneyimoralidade sexual", afirmamcasino online moneynota à BBC News Brasil.

A entidade diz também que "posição das Testemunhascasino online moneyJeová para a proteçãocasino online moneymenores requer que quando os anciãos tomarem conhecimentocasino online moneyum alegadocasino online moneyabuso, eles relatem isso às autoridadescasino online moneyconformidade com as leis ou no caso que o menor ou a vítima ainda esteja numa situaçãocasino online moneyrisco".

Ostracismo

E. B. diz que tentou falar sobre o abuso que sofreu quando criança para outros anciãos,casino online moneyuma congregação diferente, depoiscasino online moneyadulta. Conta que novamente ouviu que não deveria procurar as autoridades. Se o fizesse, diz ela, corria o riscocasino online moneyser expulsa da organização.

"Para quem está na religião, ser desassociado é a pior punição possível", explica o ex-ancião Osmanito Torres, que fez parte da religião por anos. "Porque existe um ostracismo, a partir do momentocasino online moneyque você é desligado, nenhum (membro da) Testemunhacasino online moneyJeová pode falar com você, nem as pessoas dacasino online moneyfamília. Você é completamente excluído, não podem nem te cumprimentar na rua."

E para quem tem a família toda e todo o círculo social dentro da religião, o ostracismo é um processo muito violento, diz ele. "Você fica completamente sozinho. Há casoscasino online moneyjovens que se suicidaram porque a mãe paroucasino online moneyfalar com eles", diz Osmanito, que hoje é ativista contra a prática da exclusão.

"Eles têm essa posturacasino online moneyser um outro governo, um mundo paralelo", diz a brasileira Vana Lopes coordenadora do grupo Vítimas Unidas, que levou parte das acusações da abuso dentro das Testemunhascasino online moneyJeová ao conhecimento do Ministério Públicocasino online moneySão Paulo, que investiga os casos.

Desde que foi vítimacasino online moneyum abuso pelo médico Roger Abdelmassih, Vana atuacasino online moneyforma voluntária para ajudar vítimascasino online moneyoutros casos como o dela chegarem à Justiça.

"É importante que o MP e a sociedade entendam essas vítimas, entendam porque elas demoram para denunciar, porque têm medo do ostracismo, porque a família deixacasino online moneyfalar com elas", afirma Vana Lopes. "Mas as que estão saindo estão começando a denunciar."

Ester não foi a única vítima que diz ter recebido ameaçascasino online moneyexpulsão ao tentar falar dos crimes.

A carioca Ruth* nasceu dentro da religião — todacasino online moneyfamília era testemunhacasino online moneyJeová. Ela conta que, quando se tornou adolescente, não queria mais fazer parte do grupo.

"Eu queria comemorar aniversário (que é proibido), não aguentava mais a exigênciacasino online moneyter que fazer várias horascasino online moneyvisitas nas casas das pessoas (para fazer pregação), queria ser uma adolescente normal", conta.

Um ancião então foi questioná-la sobre seu desejocasino online moneysair da religião, relata ela. "Ele pediu pra minha mãe para ficar sozinho comigo e começou a fazer perguntas totalmente impróprias: 'Você fez sexo com alguém? Você fez sexo anal?'", conta. "Ele passou a mão no meu peito e perguntou se alguém já tinha feito isso."

"Não tive coragemcasino online moneyfalar para ninguém. Mas fui ficando com cada vez mais raiva da religião. Aí um dia eu contei para um grupocasino online moneyanciãos o que ele tinha feito e disse que ia dar parte dele."

Os anciãos então abriram uma comissão judicativa contra Ruth, diz ela, e acabaram a expulsando da religião. E o ancião que a assediou não teve nenhum tipocasino online moneyrepreensão ou consequência, diz.

Violência doméstica

A costureira A. P. conta que não nasceucasino online moneyuma famíliacasino online moneytestemunhascasino online moneyJeová, mas pregadores da religião bateram emcasino online moneyporta diversas vezes quando ela era uma criança.

"Meu pai tinha acabadocasino online moneymorrer e minha mãe tinha muitos filhos para criar, ela estava muito vulnerável emocionalmente", diz ela.

A.P. ecasino online moneyfamília passaram a frequentar a igreja e a menina era totalmente engajada. Ainda jovem, ficou noivacasino online moneyum homem da comunidade religiosa.

"Certa vez, quando ele foi me visitarcasino online moneycasa e estava indo embora, voltou dizendo que não havia mais ônibus", relata A.P.

Para não dizerem na congregação que os dois tiveram relações antes do casamento - o que é proibido - A. P. conta que fez uma cama para ele na sala, a dois colchõescasino online moneydistância dela.

"Minha família era grande, então algunscasino online moneynós dormíamos na sala. De noite eu vi ele se levantando e se debruçando sobre a minha irmã, que tinha 12 anos. Eu sou míope, não entendi direito, achei que talvez ele tivesse cobrindo ela. Depois ele correu para o banheiro", diz,

"Ele viu que eu fiquei desconfiada e confessou para mim que tinha passado a mão nela. Na época eu não sabia o que era pedofilia, eu achei que era só uma traição."

Quando falou para os anciãos o que tinha acontecido, conta A. P., eles não disseram que era deveria ir às autoridades, não perguntarem se ela tinha testemunhas. Segundo ela, disseram para não contar aquilo à mais ninguém, para perdoá-lo e apressaram seu casamento.

A costureira diz que sofreu violência por anoscasino online moneyseu casamento. Ela relata que seu marido tentava forçá-la a fazer sexo quando ela não estava disposta e a espancava por ter sido recusado.

"Tentei contar diversas vezes para os anciãos, eles diziam que eu deveria ser mais paciente. Isso porque eu era uma mulher que não abria a boca para questionar nada. Diziam que eu deveria dar ao meu marido o que lhe era devido."

Foi durante uma dessas vezes, afirma, que ela descobriu o que era pedofilia. "Quando contei a um ancião o que ele havia feito com minha irmã, ele me perguntou 'você sabe o que é isso? É pedofilia.' Mas nunca,casino online moneynenhum momento, eles tomaram alguma atitude contra ele", diz a costureira.

Quando A. P., o marido e o filho foram morarcasino online moneyuma vila onde residiam diversas testemunhascasino online moneyJeová, dois anciãos eram seus vizinhoscasino online moneyambos os lados.

"A violência dele (do marido) chegou a um ponto que um dos anciãos abriu a parede do quintal entre nossas casas para nos vigiar, porque sabia que ele poderia me bater a qualquer momento", diz ela.

"Eu tinha muito medocasino online moneyprocurar a polícia e ser desassociada. Eu não tinha para onde ir, minha família, todas as minhas relações eram da igreja", conta.

A. P. diz que uma noite finalmente teve coragemcasino online moneyir à polícia depois do marido começar a agredi-la com golpescasino online moneykaratê. "Não foi fácil", conta.

O caso, no entanto, nunca virou um processo. "Me disseram que o caso ia pro fórum e iam entrarcasino online moneycontato, mas nunca entraram. Ninguém me informou, na delegacia, que eu deveria voltar e pedir para que ele fosse denunciado à Justiça", diz ela.

Na época, antes da Lei Maria da Penha, esse tipocasino online moneycrime era condicionado, ou seja, o caso não podia ser denunciado à Justiça sem que a vítima pedisse por isso. A. P., no entanto, nunca voltou para casa, e acabou saindo da religião com o filho.

"Lá dentro eles dizem que aqui fora todo mundo é horrível, mas foi aqui fora que eu encontrei ajuda, apoio, encontrei um marido que me trata bem, que me ama. Não lá dentro", diz.

A Igreja diz que não comenta casos específicos, mas que "reconhece que compete às autoridades apurar" denúnciascasino online moneyviolência e que "irá colaborar com quaisquer procedimentos jurídicos".

Na própria família

Aos 65 anos, a ex-testemunhacasino online moneyJeová Débora* conta que apenas há cinco anos é que conseguiu se abrircasino online moneyverdade sobre os abusos sexuais que sofreu entre os oito e os 12 anoscasino online moneyidade nas mãos do cunhado, que era um ancião respeitado entre as testemunhascasino online moneyJeová.

"Teve um impacto psicológico muito grande na minha vida toda", diz ela, cuja família toda até hoje é adepta à organização religiosa.

"Aos finaiscasino online moneysemana minha mãe costumava me mandar para a casa da minha irmã mais velha para ajudar nos cuidados com as crianças e também porque era a oportunidade para ter uma refeição melhor e uma boca a menos para comercasino online moneycasa", conta ela.

Às vezescasino online moneyirmã não podia ir às reuniões, então a menina era obrigada a ir com o cunhado. "No caminhocasino online moneyvolta, já noite avançada e na escuridão das ruas, ele pegava minha mão e colocava no bolso para segurar o pênis dele, depois abria os botões das calças e mandava que eu segurasse", relata. À noite, diz ela, o cunhado deitava na camacasino online moneyque ela estava dormindo e tocavacasino online moneysuas partes íntimas.

"Por vezes sentia uma gosmacasino online moneyminhas mãos e no meu corpo. Eu não entendia o que era aquilo, achava que era vômito, mas para meu espantocasino online moneymanhã a cama estava aparentemente limpa, eu não conseguia compreender", conta Débora.

Ela diz que tentou conversar com a mãe diversas vezes para contar o que acontecia, mas a mãe dizia que a menina estava mentindo, que "um ancião não faria uma coisa dessas" e a mandava "calar a boca".

"Tentei falar do assunto com pelo menos dois anciãos. Eu só queria saber o que era aquilo. Mas sequer chegava na metade do relato, era interrompida com as mais variadas desculpas", conta.

Débora diz que achava que não podia ir à polícia não só por medo das punições que diziam na igreja que sofreria por "vilipendiar o nomecasino online moneyJeová", mas porque tinha horrorcasino online moneyser expulsa ecasino online moneysua família nunca mais falar com ela.

Foi só depoiscasino online moneymuitos anos que Débora conseguiu entender que foi vítimacasino online moneyabuso. E só depoiscasino online moneydeixar a religião, e depois que o cunhado já tinha morrido, que ela conseguiu finalmente tratar os traumas deixados por ele, diz ela.

Débora afirma que as informações que obteve depoiscasino online moneyse abrir sobre o caso a levaram a achar que o cunhado teve muitas outras vítimas.

Há cercacasino online moneyquatro meses, ela contou para a irmã sobre o crime que sofreu.

"Fiquei estupefata quando ela me disse que já sabia, que o marido dela 'era safado mesmo'", afirma. A irmã disse que certa vez o pegou molestando a filha da vizinha e apenas mandou que "não fizesse mais aquilo".

"Ela deveria saber que isso é algo que Deus abomina e ela não fez nada para interromper este ciclo", diz Débora.

A BBC News conversou também com Bruna*, sobrinha netacasino online moneyDébora e neta do ancião que cometeu os crimes.

A jovem diz que o avô tentou tocá-la diversas vezes quando ela era criança. "Quando eu era pequena ele estava doente, mas mesmo na cadeiracasino online moneyrodas ele colocava eu e minha irmã no colo e ficava se mexendo, se encostando na gente", afirma. "Eu sempre fugia e protegia a minha irmã."

"Eu não gostava do meu avô e desconfio que ele abusou até da minha mãe", diz Bruna, que saiu há pouco tempo da religião.

Tanto Bruna quanto Débora foram excluídas pela família. "É muito difícil, mas eu aprendi que não devo sofrer por pessoas que não se importam comigo, que nunca se importaram."

"Meu cunhado já morreu há muito tempo. Sei que não há nada que as autoridades possam fazercasino online moneyum caso como esse, mas eu conto isso tudo para que as pessoas saibam que esse tipocasino online moneycoisa acontece e para impedir que aconteça com outras pessoas", afirma Débora.

Assim como Débora e Bruna, nenhuma das vítimas que conversaram com a BBC News Brasil estão mais na religião.

E. B. diz que tudo o que passou a afetou profundamente durante a vida toda, levando a ter diversos problemas pessoas e psicológicos. "Hoje eu sofrocasino online moneydepressão. Graças a Deus tenho tratamento, mas tudo isso poderia ter sido evitado", diz ela, que hoje continua acreditandocasino online moneyDeus, mas não faz parte casino online moneynenhuma religião organizada.

"Ainda é muito difícil lidar com a exclusão, nenhum deles fala mais comigo. Mas eu não me arrependocasino online moneyter saído", diz. "Hoje eu sou livre."

Casos no Exterior

"Existe um padrãocasino online moneyocultamentocasino online moneyabusos sexuais e violência contra a mulher no mundo todo dentro dessa seita", afirma o ex-ancião Antonio Madaleno,casino online moneyPortugal, que escreveu o livro Apóstata para contarcasino online moneysuas experiências na igreja.

Em 2015, um órgão governamentalcasino online moneyinvestigação sobre abusos sexuais contra crianças da Austrália divulgou que a filial australiana das Testemunhascasino online moneyJeová tinha registrados denúncias casino online moneymaiscasino online money1,8 mil casoscasino online moneyabusos desde 1950 — nenhum deles denunciado às autoridades pela Igreja.

No Reino Unido as Testemunhascasino online moneyJeová foram condenadascasino online money2016 por não proteger uma vítimacasino online moneyabuso sexual e uma comissão governamental investiga como o grupo lida com denúnciascasino online moneyabuso.

Investigação

As Testemunhascasino online moneyJeová são uma organização religiosa internacional, criada nos EUA no fim do século 19, que compartilha preceitoscasino online moneyoutras correntes do cristianismo, mas baseia suas crenças numa interpretação própria da Bíblia.

Há cercacasino online money8,5 milhõescasino online moneyTestemunhascasino online moneyJeová no mundo todo, segundo a própria organização. A religião é conhecida pela pregaçãocasino online moneyportacasino online moneyporta.

De acordo com o último censo populacional do Instituto Brasileirocasino online moneyGeografia e Estatística (IBGE),casino online money2010, existiam maiscasino online money1,3 milhõescasino online moneypraticantes da religião no Brasil naquele ano, tornando o país um dos com maior númerocasino online moneyfiéis dessa comunidade do mundo.

Em São Paulo, a igreja tentou barrar uma operaçãocasino online moneybusca e apreensãocasino online moneysuas sedes, e teve o pedido negado pela Justiça no mês passado. A operação foi pedida pelo Ministério Públicocasino online moneySão Paulo, que investiga os relatoscasino online moneyabuso sexual, violência e acobertamento contra o grupo religioso desde 2019.

Em nota à BBC News Brasil, a entidade afirma quecasino online moneytodos os casos as vítimas e seus pais têm o direitocasino online moneyreportar às autoridades uma acusaçãocasino online moneyviolência contra menores.

"Qualquer pessoa que relatar uma acusação como essa aos anciãos é claramente informada por elescasino online moneyque têm o direitocasino online moneyreportar o assunto às autoridades", diz a organização religiosa.

A promotora responsável pela investigação, Celeste Santos, do Avarc (programacasino online moneyacolhimentocasino online moneyvítimas do MP) diz que recebeu inúmeros relatoscasino online moneyvítimascasino online moneyabuso sexual e violência — e acredita que mais casos podem vir à tona.

"Apareceram até casoscasino online moneyoutros Estados, e a gente aconselhou a procuraram as policiais e ministérios públicos regionais", conta ela, que só pode investigar e processar crimes que tenham alguma relação com São Paulo.

Uma dificuldade, no entanto, é que,casino online moneyacordo com a legislação atual, muitos dos crimes denunciados até já prescreveram. Santos, no entanto, afirma acreditar que a Justiça deveria aceitar as denúncias mesmo assim.

"Eu defendo que esse tipocasino online moneyabuso é equiparável a um crime contra a humanidade, e portanto não prescrevem", diz a promotora.

Ela afirma que o tempo para que um caso deste seja levado à Justiça deveria ser maior. "A vítima passa por várias fases:casino online moneyperceber que sofreu uma violência,casino online moneyentender e depoiscasino online moneybuscar a Justiça. Precisamos respeitar o tempo da vítima", diz ela.

*os nomes foram alterados a pedido dos entrevistados

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