'Comer carne é um tiposlot gacor 202racismo': a pesquisadora que questiona o modo como tratamos os animais:slot gacor 202

"A comida é e sempre foi profundamente política. O apelo agora é reconhecer essa política animal também como uma parte dos direitos civis desse discurso", ela diz.

Para Narayanan, essa deverá ser uma bandeira cada vez mais empunhada por progressistas e ativistas que pregam igualdade na sociedade.

A entidade Peta ("Pessoas Pelo Tratamento Éticoslot gacor 202Animais", na siglaslot gacor 202inglês), por exemplo, escolheu o especismo como um dos principais alvosslot gacor 202suas mais recentes campanhas,slot gacor 202uma notável tentativaslot gacor 202atrelar o que chamaslot gacor 202"crença ultrapassadaslot gacor 202que os seres humanos são superiores a todas as espécies animais" aos fervilhantes protestos do Black Lives Matter que tomaram as ruas dos EUA eslot gacor 202outros países,slot gacor 202um levante contra a supremacia branca.

O que o grupo busca é estender essa discussão para "supremaciaslot gacor 202raças", numa defesa irrestrita do veganismo, que passou a ser ressignificado nesse atual contexto político.

"O veganismo é tão antigo quanto é novo. É a primeira dieta da humanidade, mas também assumiu possibilidades muito renovadas agora que desfrutaslot gacor 202um novo sopro com adeptos dispostos a defendê-lo por outras questões mais amplas, como a da perspectiva do bem estar animal eslot gacor 202uma busca por maior igualdade entre espécies", acrescenta Narayanan. Para ela, que é membro do Oxford Centre for Animal Ethics, um dos mais respeitados órgãosslot gacor 202ética animal do mundo, essas questões estavam adormecidas nesse discurso, e agora despertaram.

Pela libertação animal

Foi a partir dos anos 1970 que teorias como a da Ecologia Profunda passaram a pregar um entendimento ecológico não antropocêntrico, ou seja, que não reconhecia o status privilegiado dos seres humanosslot gacor 202relação aos outros seres vivos. Nessa mesma década, o filósofo Peter Singer lançou Libertação Animal, uma das obras seminais da discussão sobre os direitos animais, que argumentava contra o especismo, ou a discriminação contra os seres baseadas apenas no fatoslot gacor 202eles pertencerem a uma dada espécie.

"O termo especismo começou a ser usado frequentemente, e hojeslot gacor 202maneira mais ampla, para ser combatido como se combate o sexismo e o racismo", explica o pesquisador e doutorslot gacor 202demografia José Eustáquio Diniz Alves.

"Ainda falta muito para que possamos reconhecer especismo como crime, é claro, mas há legislações bastante avançadas (da Europa a países como a Nova Zelândia)slot gacor 202direção ao bem-estar animal, reconhecendo legalmente as demais espécies como seres sencientes (capazesslot gacor 202sofrer ou sentir prazer ou felicidade)", explica. "Para o mundo ser um local mais justo e harmonioso, não basta ser antissexista e antirracista é preciso ser antiespecista", afirma.

Narayanan concorda. Quando deixou Nova Déli para estudar as políticas urbanas e suas intersecções entre especismo, racismo e até o casteísmo tão presente naslot gacor 202Índia natal, ela não tinha a dimensão filosófica e política do que representava uma dietaslot gacor 202consumo animalslot gacor 202seu país. Entendia, claro, o papel da vaca e a simbologia religiosa que o animal sagrado sempre teve no hinduísmo predominante na Índia. Mas nunca tinha refletido mais a fundo como isso ajudou a constituir as diferenças sociais tão descomunais na sociedade indiana.

Naslot gacor 202origem, o hinduísmo védico (a base da religião hindu hoje presente principalmenteslot gacor 202países asiáticos) não proibia o consumoslot gacor 202carne. "Mesmo os brâmanes (sacerdotes, magos e filósofos) comiam carne e tomavam leite, ainda que a vaca já fosse considerada sagrada", afirma.

No processoslot gacor 202independência da Índia,slot gacor 2021947, a questão da proteção das vacas permaneceu tão volátil queslot gacor 2021950, quando a Constituição do país foi redigida, a proteção desses animais, entendida especificamente como uma proibiçãoslot gacor 202abate, foi inserida como uma recomendação (já que não poderia ter o pesoslot gacor 202lei pela Índia ser uma república secular) para apaziguar os nacionalistas hindus, que queriam garantir que o país fosse gerido sob suas crenças.

"A vaca foi uma das armas que utilizaram para tentar conseguir imporslot gacor 202religião,slot gacor 202posição na sociedade. Ela sempre foi enfatizada como uma espécieslot gacor 202Mãe ou Deusa hindu, e seus matadores, que eram tipicamente muçulmanos pobres ou hindusslot gacor 202baixa casta, tornaram-se os 'outros' dentro da sociedade", explica a pesquisadora.

Segregação alimentar

Hoje, maisslot gacor 20270 anos depois, segundo críticos e opositores, o governo nacionalistaslot gacor 202Narendra Modi tenta reativar esse simbolismo, para impor a soberania hindu perante a outras religiões e castas.

"Há uma tentativaslot gacor 202criar um Estado hindu 'puro', a vaca se torna um veículo para aterrorizar aqueles que são vistos como não pertencentes à Índia Hindu", acrescenta ela. O consumoslot gacor 202carne bovina pelos muçulmanos faz com que eles sejam vistos como violadores da própria nação hindu. Uma clara tentativaslot gacor 202usar o abate como uma formaslot gacor 202segregação.

"Acontece que a Índia é hoje um dos maiores abatedourosslot gacor 202vacas do mundo", afirma a pesquisadora. Isso porque enquanto o consumo da carne do animal é proibido, o leite continua sendo uma fonteslot gacor 202alimento determinante para um país com 1,3 bilhãoslot gacor 202habitantes. Quando as vacas usadas para dar leite ficam doentes, inférteis, velhas, ou nascem apenas animais machos, eles são abatidos — ainda que na Índia isso aconteça inteiramente no subsolo, na economia paralela.

"Em contraste com a carne que é hiperpolítica, o leite é vistoslot gacor 202forma completamente apolítica, porque produtos derivados apenasslot gacor 202fêmeas vivas não estão relacionados com o abate na imaginação popular. No entanto, a realidade é que a indústriaslot gacor 202laticínios também é uma indústriaslot gacor 202abate", explica.

Isso é visto por alguns como uma contradição para um país que prega a superioridade pelo simbolismo que o animal carrega. Para Narayanan, uma provaslot gacor 202que o racismo arraigado vai muito além do sistemaslot gacor 202castas. A politização e o sagrado representado na figura da vaca só são levadosslot gacor 202conta "para pregar uma ideiaslot gacor 202supremacia racial, explorando uma outra espécie para isso".

Narayanan defende que cada vez mais o que vai pautar as nossas relações com os animais é a transparência, já que vivemos uma eraslot gacor 202a superconscientização. Todo o tiposlot gacor 202exploração animal virá à tonaslot gacor 202uma maneira mais representativa na nossa sociedade, que será cada vez mais intolerante aos maus-tratos. "A forma como tratamos as outras espécies vai ser a tônica que vai definir nossa relação alimentar", avalia.

Isso não significa que todo mundo vai deixarslot gacor 202comer carne, mas uma grande parte da população vai querer saberslot gacor 202onde vem a carne que come, como ela foi produzida. Produtores terão que investirslot gacor 202garantiasslot gacor 202vigilânciaslot gacor 202suas fazendas para mostrar aos consumidores que seguem os preceitosslot gacor 202bem-estar animal.

"As pessoas já não aceitam que outras espécies possam ser submetidas a quaisquer tiposslot gacor 202tratamentos com a única finalidadeslot gacor 202satisfazê-las. Esta questão moral é definitivamente crescente, e o veganismo é a melhor arma que muitos encontraram para combater essa ideiaslot gacor 202discriminação,slot gacor 202opressão,slot gacor 202um tipo muito latenteslot gacor 202racismo", conclui.

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