Hanseníase, malária, tuberculose: pandemia reduz combate a doenças que afetam os mais pobres:o melhor site de apostas esportivas

  • Leticía Mori @leticiamori_
  • Da BBC News Brasilo melhor site de apostas esportivasSão Paulo
Braçoo melhor site de apostas esportivascriança caindoo melhor site de apostas esportivasuma maca

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Dengue, doençao melhor site de apostas esportivasChagas, leishmaniose, hanseníase, malária, esquistossomose e tuberculose são consideradas doenças negligenciadas

o melhor site de apostas esportivas Hanseníase, esquistossomose, doençao melhor site de apostas esportivasChagas, leishmaniose, malária, hepatites, filariose linfática... a lista é grande.

Com a emergênciao melhor site de apostas esportivassaúde pública criada pela covid-19, o combate a doenças que mesmo antes da pandemia já recebiam pouca atenção piorou dramaticamente. Estas enfermidades costumam ser classificadas pela comunidade científica como "doenças negligenciadas".

O termo se refere a doenças infecciosas que atingem um grande númeroo melhor site de apostas esportivaspessoas e afetam principalmente as populações mais pobres.

Segundo a Organização Mundialo melhor site de apostas esportivasSaúde, as chamadas doenças negligenciadas podem afetar até 1,6 bilhãoo melhor site de apostas esportivaspessoaso melhor site de apostas esportivastodo o mundo. Elas estão principalmente na Ásia, na África e na América Latina.

Mesmo antes da pandemia, elas já recebiam poucos investimentos da indústria farmacêutica porque, para muitos especialistas, tanto os remédios quanto os tratamentos renderiam pouco lucro a laboratórios.

Esta é a visãoo melhor site de apostas esportivasJadel Kratz, um especialistao melhor site de apostas esportivasdoenças negligenciadas que chefia a áreao melhor site de apostas esportivasPesquisa e Desenvolvimento da DNDI (Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas), uma entidade sem fins lucrativos que defende o combate a essas enfermidades.

Enquanto o mundo concentra esforços no combate à covid-19, pesquisas e estudos clínicos sobre as doenças negligenciadas foram interrompidos. E faltam remédios para pacientes, afirma Kratzo melhor site de apostas esportivasentrevista à BBC News Brasil.

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"Doenças que estavam muito próximaso melhor site de apostas esportivasserem controladas, ou erradicadas, ouo melhor site de apostas esportivasatingirem os objetivoso melhor site de apostas esportivascombate da OMS talvez tenham retrocessos", diz o pesquisador.

Ele alerta que iniciativas importantes para o diagnóstico destas doençaso melhor site de apostas esportivasdiversas universidades foram paralisadas com a pandemia. E aponta que elas são essenciais, já que muitas das pessoas afetadas não têm acesso ao sistemao melhor site de apostas esportivassaúde e, no fim das contas, podem nem saber que estão doentes.

As consequências podem ser graves, incluindo o riscoo melhor site de apostas esportivasgerarem comorbidades que tornem as infecções por covid-19 ainda mais graves, explica Kratz.

"São doenças que têm problemaso melhor site de apostas esportivasresistência a medicamentos. Então, se o paciente interromper o tratamento, aquele mesmo tratamento talvez já não seja eficaz lá na frente."

Para Kratz, este cenário torna ainda mais importante o controle da epidemiao melhor site de apostas esportivascovid-19 o mais rápido possível.

Leia abaixo os principais trechos da entrevistao melhor site de apostas esportivasKratz à BBC News Brasil.

Pernao melhor site de apostas esportivaspessoa afetada por hanseníase

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A hanseníase é uma das doenças que podem debilitar as pessoas afetadas para o resto da vida

o melhor site de apostas esportivas BBC News Brasil - Por que pesquisaso melhor site de apostas esportivasuniversidades e instituições públicas são importantes para doenças negligenciadas?

o melhor site de apostas esportivas Jadel Kratz - A pesquisa acadêmica é importanteo melhor site de apostas esportivastodas as áreas das ciências da vida. Muitas das inovações médicas e farmacêuticas começam com a ciência básica. Mas, mais ainda onde o modelo tradicional farmacêutico não está. Uma vez que a indústria tem pouco interesse nessa área, por uma sérieo melhor site de apostas esportivasrazões, uma delas o lucro, as instituições públicas que têm essa missão assumem um papel ainda mais central.

É o caso da Fiocruz, que foi criada pensando nisso, eo melhor site de apostas esportivasfato é um dos centroso melhor site de apostas esportivaspesquisa mais relevantes para essas doenças no Brasil.

o melhor site de apostas esportivas BBC News Brasil - Como a pandemia afetou esse cenário no último ano?

o melhor site de apostas esportivas Kratz - A real magnitude do impacto disso ainda está sendo acessado. Historicamente, as doenças tropicais negligenciadas, por exemplo Chagas, leishmaniose, tuberculose, hanseníase, já vemo melhor site de apostas esportivasum históricoo melhor site de apostas esportivaspouco investimento. O investimento é baixo, mas é relativamente estável. Sendo criativo, fazendo-se novos modelos, às vezes a gente consegue avançar.

Mas, quando surgiu uma emergência médica do nível da covid-19, boa parte dos investimentos foi sugada. Os investimentos já eram escassos e deixaramo melhor site de apostas esportivasestar disponíveis para essas doenças. A prioridade do financiamento para pesquisaso melhor site de apostas esportivasdoenças negligenciadas caiu, foi para outra área. E talvez os números geraiso melhor site de apostas esportivasinvestimentos sejam menores no final porque talvez o mundo entreo melhor site de apostas esportivascrise. O dinheiro vai diminuir, apesaro melhor site de apostas esportivastodo mundo reconhecer agora que é importante fazer pesquisa biomédica.

Além da diminuição dos investimentos, as próprias condições para os estudos foram dificultadas. Os estudos clínicos normalmente são feitoso melhor site de apostas esportivasambiente hospitalar e muito descentralizados. Os estudos clínicos para outras enfermidades pararam. Ou porque o hospital está completamente lotado e precisa redirecionar todos os recursos para o atendimento emergencial ou porque ele foi fazer um estudo clínico para a covid-19. Tem levantamentos nos EUA que mostram que reduziu por voltao melhor site de apostas esportivas80% o númeroo melhor site de apostas esportivasestudos clínicos rodando..

Foram todos substituídos por estudos para covid-19 — vários deles mal desenhados, feitos na correria.

Nossos laboratórios que desenvolvem novos medicamentos para Chagas e Leishmaniose tiveram que ficar por vários meses fechados na Unicamp. A gente tem projetos com parceiros na Unicamp, na USP, na UFRJ e muitos desses laboratórios tiveram que fechar. Desde o nível mais básico, para entender como aquele parasita afeta o corpo, até os estudos clínicos sendo feitos no ambiente hospitalar.

Vai atrasar ainda mais as pesquisas que já estão historicamente atrasadas.

Pernao melhor site de apostas esportivascriança com hanseníase

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A maior parte dessas doenças atingem majoritariamente crianças e deixam sequelas físicas, sociais e econômicas para o resto da vida

o melhor site de apostas esportivas BBC News Brasil - E a produçãoo melhor site de apostas esportivasremédios para essas doenças?

o melhor site de apostas esportivas Kratz - Um ponto importante é a interrupção das cadeias, tantoo melhor site de apostas esportivasestudo quantoo melhor site de apostas esportivassuprimentos. Então, não só as pesquisas estão paradas, como faltam medicamentos.

Muitas das doenças tropicais não têm uma maquinaria bem azeitadao melhor site de apostas esportivasprodução. Um exemplo clássico é a hanseníase: as medicações são antigas, não são ideais, têm uma sérieo melhor site de apostas esportivasefeitos colaterais negativos. Mas é importante que os pacientes tenham acesso a essas medicações, mesmo que elas sejam imperfeitas.

Elas normalmente são baratas, antigas, não têm um incentivoo melhor site de apostas esportivasnegócio para a produção. Muitas vezes, as indústrias que ainda fazem a produção desses medicamentos doam ou vendem a preços super baratos para o sistemao melhor site de apostas esportivassaúde. Muitas pararamo melhor site de apostas esportivasproduzir esses medicamentos porque foram produzir coisas mais urgentes. Então, as cadeias foram interrompidas e os pacientes ficaram sem (remédios), como no caso da hanseníase.

o melhor site de apostas esportivas BBC News Brasil - Quando as coisas voltarem ao normal, será possível recuperar esses projetoso melhor site de apostas esportivasonde pararam? Ou perde-se parte do que já tinha sido feito e é preciso começar tudoo melhor site de apostas esportivasnovo?

o melhor site de apostas esportivas Kratz - A cadeia foi muito abalada e a gente não sabe quando isso vai retornar. Em estudos clínicoso melhor site de apostas esportivascampo foram interrompidos, aquilo se perdeu. Além disso, há lacunas: a ciência é feita por pessoas e elas passam por uma formação para chegar lá. Com a pandemia, vai ter muita lacunao melhor site de apostas esportivaspessoal,o melhor site de apostas esportivascientistas sendo formados. Gente que teve que postergar seu mestrado, suas pesquisas, sobretudo cientistaso melhor site de apostas esportivasinícioo melhor site de apostas esportivascarreira.

As doenças tropicais negligenciadas têm um plano bastante estruturadoo melhor site de apostas esportivaspesquisa, que é o roadmap (mapao melhor site de apostas esportivasprojetos futuros) da Organização Mundial da Saúdeo melhor site de apostas esportivascontrole e eliminaçãoo melhor site de apostas esportivasdoenças.

Isso envolve múltiplas estratégias, muitas delaso melhor site de apostas esportivascampo. Controleo melhor site de apostas esportivasvetores, melhorao melhor site de apostas esportivasinfraestrutura, administraçãoo melhor site de apostas esportivasmedicamentos, diagnóstico, monitoramentoo melhor site de apostas esportivaspacientes. E muitas vezes, especialmente no caso das doenças negligenciadas, isso é feito na Unidade Básicao melhor site de apostas esportivasSaúde (UBS). Agora a UBS está maluca controlando covid-19, não consegue fazer mais nada. Doenças que estavam muito próximaso melhor site de apostas esportivasserem controladas, erradicadas, ouo melhor site de apostas esportivasatingirem os objetivoso melhor site de apostas esportivascombate da OMS, talvez tenham retrocessos. Doenças como tuberculose, malária, Chagas, leishmaniose que têm problemas sérioso melhor site de apostas esportivassubnotificação e diagnósticos, pioraram ainda mais, não há dúvida. Doenças como tuberculose, que mata na escalao melhor site de apostas esportivasmilhãoo melhor site de apostas esportivaspessoas por ano, foram largadas ao ostracismo pela urgência da pandemia.

o melhor site de apostas esportivas BBC News Brasil - Então o atendimento aos pacientes também foi afetado?

o melhor site de apostas esportivas Kratz - Além do impacto nas pesquisas você teve o impacto nas estratégias já implementadaso melhor site de apostas esportivascombate e controle. Sobretudo essas iniciativas grandeso melhor site de apostas esportivasdiagnósticos, achar os pacientes e tratá-los. E são doenças que têm problemaso melhor site de apostas esportivasresistência à medicamentos. Se o paciente interrompe o tratamento no meio, aquele mesmo tratamento talvez já não seja eficaz lá na frente. O impacto é claro, só não está mensurado ainda.

A gente pode pegar o exemplo clássico da doença da Chagas, que é uma doença parasitária negligenciada que afeta principalmente regiões pobres e com pouca infraestrutura no mundo. Muitas das pessoas moramo melhor site de apostas esportivasáreas endêmicas, rurais, têm baixa escolaridade, problemas associados à pobreza, não têm acesso ao sistemao melhor site de apostas esportivassaúde e acabam não diagnosticadas. O resultado disso é que o númeroo melhor site de apostas esportivaspessoas que éo melhor site de apostas esportivasfato diagnosticado é baixo, mas a gente estima que haja 6 milhõeso melhor site de apostas esportivaspessoas com a doença no mundo. Nas regiões endêmicas, há maiso melhor site de apostas esportivas70 milhõeso melhor site de apostas esportivaspessoaso melhor site de apostas esportivasrisco. E no fim, menoso melhor site de apostas esportivas1% das pessoas que têm Chagas acessam o tratamento. A lacuna do diagnóstico e tratamento é preenchida por grandes esforços: ter pessoas no campo, com kitso melhor site de apostas esportivastestagem adaptados, baratos, e com tratamento seguro e barato. E a pandemia afetou isso, não só para Chagas, mas para outras doenças.

E essas pessoas que deixamo melhor site de apostas esportivasser diagnosticadas e tratadas continuam sendo reservatórios da doença, o que pode contribuir para que outras pessoas se infectem, através dos vetores (no casoo melhor site de apostas esportivasChagas, o barbeiro). Não tratadas e não diagnosticadas, as pessoas podem desenvolver as formas mais graves e morrerem. E se infectadas por covid podem ter um agravamento do quadro por causao melhor site de apostas esportivascomorbidades.

Idoso deitado na camao melhor site de apostas esportivasambiente insalúbre

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São doenças que têm a transmissão facilitada por condições ambientais, como umidade

o melhor site de apostas esportivas BBC News Brasil - Falandoo melhor site de apostas esportivascomorbidade, como as pessoas com essas doenças são afetadas pela covid?

o melhor site de apostas esportivas Kratz - É difícil falaro melhor site de apostas esportivasnúmeros, mas eu não tenho dúvidas que o que está sendo feito para analisar a questão da comorbidade é insuficiente justamente pela questãoo melhor site de apostas esportivasque a gente mal está conseguindo controlar a pandemia. A doençao melhor site de apostas esportivasChagas, por exemplo, tem uma ligação super clarao melhor site de apostas esportivascomorbidade. Normalmente o paciente se infecta, tem um quadro agudo, com pouca mortalidade nesse estágio — muitos dos pacientes nem percebem que pegaram. E depois aquilo cronifica, reduz a carga parasitária e uma parte desses pacientes, cercao melhor site de apostas esportivas20%, 30% vão ter problemas cardíacos associados ao trypanosoma cruzi. E o paciente pode nem saber que tem comorbidade, e aí pega covid e acaba tendo um quadro mais grave.

A covid não enxerga classes, mas se a comunidade mais pobre tem mais Chagas, então ela está propensa a ter quadros mais vulneráveis e casos mais graveso melhor site de apostas esportivascovid associados à comorbidade.

A covid é uma doença infecciosa que tem um componente forte do sistema imunológico no agravamento dos casos. A gente sabe que muitos dos casos graves não é a doençao melhor site de apostas esportivassi que agrava a situação da pessoa, mas a reação do sistema imunológico. Então a pessoa ter um sistema imunológico funcionando plenamente ajuda que a doença não se agrave. E muitas das doenças negligenciadas também afetam o sistema imune, como a leishmaniose.

Favelao melhor site de apostas esportivaspaís da américa latina

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As doenças negligenciadas se concentramo melhor site de apostas esportivasáreas pobres, como favelas urbanas e zonas rurais remotas

o melhor site de apostas esportivas BBC News Brasil - Tem alguma lição que a pandemia pode trazer sobre a forma como fazemos ciência que pode ajudar no combate às doenças negligenciadas no futuro?

o melhor site de apostas esportivas Kratz - Essa pandemia mostrou o quanto é importante a pesquisa colaborativa, interdisciplinar e integrada. Ou seja, o quão importante é a colaboração, que se manifesta atravéso melhor site de apostas esportivasciência aberta, compartilhamentoo melhor site de apostas esportivasdados, financiamentos coletivoso melhor site de apostas esportivasvez daquele modelo fechado, pensando só no lucro. A gente teve oportunidadeo melhor site de apostas esportivasvalidar novas plataformas, como as vacinaso melhor site de apostas esportivasRNA. Se a gente pensar que o vírus foi sequenciadoo melhor site de apostas esportivasjaneiro do ano passado e no final do ano a gente estava fazendo ensaio clínicoo melhor site de apostas esportivasfase 3 (a fase mais avançada antes da liberação para o público), tudo issoo melhor site de apostas esportivasum ano... Isso vem para dar uma chacoalhada: sim, é possível fazer mais rápido, com qualidade, quando tem prioridade, financiamento e colaboração.

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