Aborto: o que levou a Igreja Católica a considerar essa prática pecado no século 19:1xbet bonus sexta feira
- Edison Veiga
- De Bled (Eslovênia) para a BBC News Brasil

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1xbet bonus sexta feira Aborto e Igreja. Geralmente há polêmica quando essas duas palavras aparecem juntas. E o assunto voltou à tona com a eleição1xbet bonus sexta feiraJoe Biden. Segundo católico1xbet bonus sexta feiratoda a história a ocupar o posto1xbet bonus sexta feirapresidente dos Estados Unidos,1xbet bonus sexta feirapostura favorável ao direito ao aborto — legalizado no país desde 1973 — tem feito setores mais conservadores do episcopado no país cobrarem um posicionamento da Igreja, que poderia impedi-lo1xbet bonus sexta feiracomungar, por exemplo.
Mas se discussões sobre o "certo" ou o "errado" na prática1xbet bonus sexta feirainterrupção voluntária1xbet bonus sexta feiragravidez aparecem1xbet bonus sexta feiradocumentos da Igreja Católica desde o início do cristianismo, a incisiva postura atual,1xbet bonus sexta feiraque aquele que pratica o aborto está automaticamente condenado à excomunhão, é bem mais recente.
Apesar1xbet bonus sexta feiracoerente teologicamente, tudo indica que seja consequência1xbet bonus sexta feirapressão política alheia ao próprio Vaticano. Graças à proximidade — com interesses1xbet bonus sexta feiraambas as partes — entre o papa Pio 9º (1792-1878) e o imperador francês Napoleão 3º (1808-1873).
"Em 1869, a Igreja Católica posicionou-se contra todos os abortos a pedido1xbet bonus sexta feiraNapoleão 3º, da França, onde a população estava1xbet bonus sexta feiradeclínio", escreve o pesquisador William F. Loomis (1940-2016), professor1xbet bonus sexta feirabiologia da Universidade da Califórnia,1xbet bonus sexta feiraseu livro Life As It Is - Biology For The Public Sphere (A Vida Como Ela É - Biologia para a Esfera Pública,1xbet bonus sexta feiratradução livre).
"Papa Pio 9º declarou que a vida começa na concepção e deve ser protegida depois disso", prossegue ele. "Na tradição judaica, o feto é parte da mãe […]; entretanto, há passagens nas escrituras que consideram o primeiro respirar como o início da vida."
Em documento publicado pela Igreja1xbet bonus sexta feiraoutubro1xbet bonus sexta feira1869, dois meses antes do início do Concílio Vaticano 1º, a definição é clara e concisa: "procurantes abortum, effectu sequuto". Ou,1xbet bonus sexta feiratradução livre: "obter um aborto, seguindo-se o feito". É um dos itens sob a pena1xbet bonus sexta feiraexcomunhão latae sententiae, ou seja, automaticamente, por força da própria lei.

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"Até Pio 9º, cometer o pecado do aborto era considerado um erro grave, uma ação não ética que devia ser condenada e combatida. Mas não tinha essa conotação tão pesada, que levasse a ser considerada,1xbet bonus sexta feiraimediato, a excomunhão", contextualiza o bioeticista Alexandre Martins, professor na Universidade Marquette,1xbet bonus sexta feiraconfissão católica, nos Estados Unidos.
"Ele começa essa visão, que vai chegar ao primeiro Código1xbet bonus sexta feiraDireito Canônico, promulgado1xbet bonus sexta feira1917", explica. "Vem essa condenação direta do aborto, com pena1xbet bonus sexta feiraexcomunhão direta pelo fato1xbet bonus sexta feirasi, a pena máxima da Igreja Católica."
Martins pontua que o pontificado1xbet bonus sexta feiraPio 9º acabou balizando a influência do entendimento contemporâneo que o catolicismo tem sobre a questão. "Tornou-se preto no branco, sem nenhum espaço para a possibilidade do aborto. [Desde então,] o aborto na Igreja Católica é condenado a qualquer momento, a [ideia de] dignidade do ser humano ficou atrelada à concepção, e por conta dessa dignidade há uma obrigação1xbet bonus sexta feiraproteger o inocente e vulnerável", comenta ele.
Relação com a França
Era um momento bastante tumultuado, o1xbet bonus sexta feiraPio 9º à frente da Igreja. A península itálica vivia uma série1xbet bonus sexta feiraconflitos — que culminariam na unificação do país e a formação do Estado italiano moderno.
Nesse contexto, a Igreja perdia poder político, estatal e militar. "Havia os chamados Estados Pontifícios", esclarece Martins. "O papa tinha até Exército, mas foi pouco a pouco perdendo [as terras]. Havia uma relação com [o imperador francês] Napoleão 3º, que protegia os Estados Pontifícios."
Pio 9º teve uma postura bastante reacionária frente ao mundo que se abria à modernidade no século 19, condenando as ideias liberais, o relativismo moral, a secularização e a separação entre Igreja e Estado — cerne dos ideais republicanos contemporâneos. "A questão do aborto entra aí [nesse contexto], com ele condenando e rejeitando o novo mundo que estava florescendo", pontua Martins. "Um mundo mais leigo e sem a tutela da Igreja. Ele vai ser o primeiro [papa] a condenar1xbet bonus sexta feiramodo mais explícito o aborto, criando uma punição."
Conforme explica o historiador Paulo Debom, professor do Centro Universitário Celso Lisboa, depois que a Revolução Francesa,1xbet bonus sexta feira1789, precipitou uma ruptura forte entre a Igreja e o Estado, ao longo do século 19 houve uma reaproximação.

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"Na proposta1xbet bonus sexta feiragoverno1xbet bonus sexta feiraNapoleão 3º existia uma aliança muito forte com a Igreja Católica,1xbet bonus sexta feiracerta forma uma continuidade do período1xbet bonus sexta feiraNapoleão [o 1º]", afirma ele. "Há uma percepção [do governo]1xbet bonus sexta feiraque, com muitos católicos na população francesa, se fosse mantida a postura1xbet bonus sexta feiraafastamento, separação e combate ao catolicismo, haveria muitos problemas1xbet bonus sexta feirapopularidade. É uma jogada clara."
"[Por isso,] Napoleão 3º, diante dos estados italianos1xbet bonus sexta feiraconflitos constantes pelo processo1xbet bonus sexta feiraunificação e [vendo] a Igreja Católica sob ameaça, para garantir o apoio do povo francês, ele declarou apoio à Igreja Católica e deixou muito claro que,1xbet bonus sexta feiraseu governo, colocaria os exércitos franceses1xbet bonus sexta feiradefesa dos Estados Pontifícios", narra Debom.
No meio do cenário, há um problema vivido pela França: o país experimentava um crescimento demográfico muito baixo, se comparado a outras nações europeias do período. Em um estudo publicado originalmente1xbet bonus sexta feira1974, o demógrafo, economista e sociólogo Éttiene Van1xbet bonus sexta feiraWalle (1932-2006), professor na Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, concluiu que a taxa1xbet bonus sexta feiranatalidade — ou seja, o número1xbet bonus sexta feiranascidos vivos por mil habitantes — caiu1xbet bonus sexta feira40 para 30 no século 19. No mesmo período, a média europeia era1xbet bonus sexta feira45. Em 1900, a taxa1xbet bonus sexta feiranatalidade na Alemanha era1xbet bonus sexta feira35, enquanto a França chegava a 22 nascimentos por mil.
"Ao longo do século 19, a natalidade [na França] vai se manter a um nível apenas suficiente para a população seguir1xbet bonus sexta feiraum número constante", pontua o pesquisador,1xbet bonus sexta feiraartigo publicado1xbet bonus sexta feira1986. "A esta época, a França se distingue dos demais países da Europa pela estagnação ou mesmo declínio1xbet bonus sexta feirasua população rural."
Segundo levantamento do economista Alain Clément (1953-2016), professor na Universidade1xbet bonus sexta feiraTours, na França, considerando as potências europeias, a população francesa representava 40% do total1xbet bonus sexta feira1700. Em 1890, apenas 12%.

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Em 1867, a taxa1xbet bonus sexta feirafertilidade na França era1xbet bonus sexta feira3,03 filhos nascidos vivos por casamento. Era inferior a Prússia (3,84), Holanda (4,04), Inglaterra (3,77) e Itália (4,55). Responsável por organizar os censos franceses1xbet bonus sexta feira1856, 1861 e 1866, o estatístico Alfred Legoyt (1812-1855) chegou a escrever que a nação era "o país da Europa cuja população cresce mais lentamente" e avaliou,1xbet bonus sexta feiraacordo com a perspectiva da época, que o fraco aumento da população fazia com que a França estivesse "ficando para trás".
Várias são as explicações possíveis para o fenômeno. Debom aposta no momento histórico conturbado. "Penso logo1xbet bonus sexta feiratodas as ondas revolucionárias que aconteceram [na França, ao longo do século 19], justamente por péssimas condições1xbet bonus sexta feiravida da maior parte da população. A Revolução Industrial toma corpo, e você tem massas e massas1xbet bonus sexta feirapessoas, originalmente camponesas, jogadas para fora1xbet bonus sexta feirasuas terras e levadas a ocupar as filas dos operários nas fábricas", afirma o historiador. "É um período1xbet bonus sexta feiramuita miséria. O baixo crescimento demográfico pode ser decorrência da péssima condição1xbet bonus sexta feiravida."
Em artigo, Clément fala1xbet bonus sexta feiraaspectos culturais e psicológicos que teriam causado essa baixa fertilidade. Lembra que o país vivia um êxodo rural e as condições mais difíceis funcionavam como um "freio preventivo [à procriação]". Citando autores da época, ele argumenta que "a baixa fecundidade" poderia ser "fruto1xbet bonus sexta feiraum desejo1xbet bonus sexta feiramelhorar o padrão1xbet bonus sexta feiravida".
"A 'esterilidade sistemática' estaria ligada ao desejo1xbet bonus sexta feiramanter um certo padrão1xbet bonus sexta feiravida", escreve o economista.
Mas havia também uma questão legal cuja origem remetia ao Código Civil outorgado por Napoleão Bonaparte (1769-1821)1xbet bonus sexta feira1804. A legislação passava a reservar um tratamento aos herdeiros, garantindo que as sucessões fossem mais justas. Ou seja: não podia mais valer a tradição histórica,1xbet bonus sexta feiraque o pai reservava ao filho mais velho suas posses — automaticamente relegando os demais a papéis secundários ou mesmo à sina1xbet bonus sexta feiraviverem como agregados. As terras precisavam ser divididas,1xbet bonus sexta feirapartes iguais.
"A ausência1xbet bonus sexta feiraliberdade testamentária e a consequente obrigação1xbet bonus sexta feiratratar os herdeiros1xbet bonus sexta feirapé1xbet bonus sexta feiraigualdade levam a uma dispersão da propriedade, que só pode ser evitada controlando a fertilidade", aponta Clément.
O economista e político francês Michel Chevalier (1806-1879) escreveu, na época, que, "a razão deste fenômeno [da queda da natalidade] é muito fácil1xbet bonus sexta feiraexplicar". "O dono quer fugir das necessidades1xbet bonus sexta feirauma partilha que reduza os coparticionadores à porção mínima", argumentou. "Em nossa sociedade moderna, o filho único substitui o filho mais velho."
Para o governo1xbet bonus sexta feiraNapoleão 3º, presidente1xbet bonus sexta feira1848 a 1852 e imperador1xbet bonus sexta feira1852 a 1870, a questão populacional era um grande problema. De acordo com o entendimento da época, era preciso um crescimento demográfico para aumentar a produção, tanto a agrícola quando a industrial, incipiente.

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Clément ressalta que foram diversas tentativas1xbet bonus sexta feira"higiene pública" e "arranjos institucionais" para que a população da França não decaísse ainda mais. Em seu livro Storia dell'Aborto, a jurista italiana Giulia Galeotti conta que as leis napoleônicas, ao trazer para a esfera civil os registros1xbet bonus sexta feiranascimento, casamento e óbito, tirando a incumbência das paróquias, possibilitaram um maior controle estatal sobre a realidade demográfica, possibilitando "combater as causas do despovoamento".
Já que havia uma boa relação com o papa, por que não pedir uma ajuda também?
Primeiros cristãos
A condenação ao aborto, embora nunca tivesse aparecido1xbet bonus sexta feiraforma tão contundente como a feita por Pio 9º, é algo coerente à história do catolicismo. Professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o historiador, filósofo e teólogo Gerson Leite1xbet bonus sexta feiraMoraes, avalia essa postura como "revolucionária" nos primeiros anos do cristianismo.
"Naquele momento, tratava-se1xbet bonus sexta feirauma religiosidade marginal dentro1xbet bonus sexta feiraum império romano extremamente poderoso", contextualiza. "Continuação cultural do que chamamos1xbet bonus sexta feirasociedade clássica, ou greco-romana, havia ali o regime do patria potestas."
Nesse sentido, todo o poder familiar emanava do pai, da figura masculina. "Ele tinha direito ao infanticídio, praticado, por exemplo, quando nascia uma criança indesejada, com algum tipo1xbet bonus sexta feiradeficiência, ou uma segunda filha mulher. Quase nenhuma família romana na Antiguidade criava duas meninas", comenta o historiador.
É esse pai que também podia autorizar o aborto. "A sociedade greco-romana era uma sociedade abortista. Nesse sentido, podemos dizer que o cristianismo foi revolucionário, porque ousou lutar contra o aborto desde muito cedo", comenta. "O cristianismo tem essa glória: ter defendido desde suas origens o direito1xbet bonus sexta feiratodo ser humano à vida. Isso explica, segundo alguns teóricos, a adesão1xbet bonus sexta feiramuitas mulheres ao cristianismo [nesse período inicial]. E como essas mulheres ficavam com a responsabilidade1xbet bonus sexta feiraeducar os filhos, acabavam educando-os na fé cristã. Isso contribuiu para que o cristianismo crescesse, se institucionalizasse como religião e se tornasse poderoso."

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"O fato1xbet bonus sexta feira[os cristãos] não fazerem abortos, ajudou a população cristã a aumentar", concorda Martins.
Então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o cardeal croata Franjo Šeper (1905-1981) publicou um documento1xbet bonus sexta feira1974 lembrando que "a tradição da Igreja sempre considerou a vida humana como algo que deve ser protegido e favorecido, desde o seu início, do mesmo modo que durante as diversas fases do seu desenvolvimento". "Opondo-se aos costumes greco-romanos, a Igreja dos primeiros séculos insistiu na distância que, quanto a este ponto, separa deles os costumes cristãos".
Ele cita o Didaché, um texto1xbet bonus sexta feira16 capítulos, escrito no primeiro século da Era Cristã e que funcionava como uma espécie1xbet bonus sexta feiracatecismo para os primeiros praticantes da então nova religião. "No livro […] diz-se claramente: 'Tu não matarás, mediante o aborto, o fruto do seio; e não farás perecer a criança já nascida'", afirma.
"É uma clara posição1xbet bonus sexta feiraum documento cristão1xbet bonus sexta feiraque há uma condenação textual tanto do aborto quanto do infanticídio", comenta Moraes.
Igreja e aborto
Da posição contrária ao aborto até a pecaminização categórica promulgada por Pio 9º, a distância não está somente na penalização radical com excomunhão automática. Há toda uma discussão teológica e filosófica sobre quando,1xbet bonus sexta feirafato, começaria a vida — discussão que,1xbet bonus sexta feiracerta forma, ainda embasa argumentos pró e contra a interrupção voluntária da gravidez até hoje.
Prolífico autor dos primórdios do cristianismo, Tertuliano (160-220) qualificava o aborto como "homicídio antecipado". "Já é homem aquele que o será. Essa expressão do Tertuliano focalização a motivação da condenação do aborto voluntário nos ensinamentos da patrística1xbet bonus sexta feiramaneira geral", frisa Moraes.
Em uma época1xbet bonus sexta feiraque era difícil determinar o início da gravidez, as discussões teológicas procuravam responder1xbet bonus sexta feiraque momento haveria "a infusão da alma" sobre o feto, ou seja, a "transformação do ser1xbet bonus sexta feirauma pessoa". "[Desde o princípio] havia os que imaginavam que na própria concepção você já tem uma pessoa, recuperando a questão aristotélica do ato e da potência, com a ideia1xbet bonus sexta feiraque uma semente não é uma árvore mas tem o potencial para se tornar uma.
Assim como Tertuliano, os teólogos Basílio1xbet bonus sexta feiraCesareia (329-379) e Gregório1xbet bonus sexta feiraNazianzo (329-389) defendiam a "animação imediata" — ou seja, que o início do ser humano ocorria na concepção. "Tertuliano argumentava que nós temos tanto corpo quanto a alma sendo acolhidos e elaborados e aperfeiçoados juntos", contextualiza Moraes.
Santo Agostinho (354-430), contudo, trouxe elementos para que essa ideia passasse por revisões — e suas reflexões acabaram embasando um entendimento bastante corrente ao longo1xbet bonus sexta feiratoda a Idade Média. Para ele, a alma exigiria uma forma apropriada para ser inserida.
Isso significava que o feto precisaria já estar melhor formado, preparado para receber a alma. Séculos adiante, Tomás1xbet bonus sexta feiraAquino (1225-1274) ecoa esse mesmo princípio. "A filosofia escolástica chega a fixar o início da forma humana no quadragésimo dia [de gestação] para os homens e no octagésimo para as mulheres", explica Moraes.
Em seu livro Uma História Não Contada: A História das Ideias Sobre o Aborto na Igreja Católica, a filósofa e teóloga norte-americana Jane Hurst (1948-1972) entende a pecaminização do aborto por conta da questão sexual. Não é a única voz nesse sentido — há pesquisadores que apontam que, no âmago do discurso do cristianismo primitivo estava, na verdade, o fato1xbet bonus sexta feiraque o aborto era praticado para esconder traições. Ou seja: o que estava sendo condenado era o adultério e não a interrupção voluntária da gravidez.
"A Igreja sempre se opôs ao aborto não apenas porque suspeita que se trata1xbet bonus sexta feiraum homicídio — o que continua sendo discutido — mas também porque ele revela um pecado sexual", escreve ela. "A Igreja ensina que todo ato que pretende separar a união sexual da procriação é pecaminoso. […] O aborto realizado voluntariamente indica que os parceiros sexuais não se uniram com a intenção1xbet bonus sexta feiraprocriar."
Hurst defende que, nesse sentido, a gênese da ideia estaria relacionada a "questões1xbet bonus sexta feirapenitência", procedendo da "função legislativa da Igreja". "Se o aborto está sendo usado para esconder irregularidade sexuais, então é pecado e exige que a pessoa pecadora faça penitência para que seja perdoada desses erros", argumenta a autora.
"Existia, nesse período antigo, amplo acordo quanto ao fato1xbet bonus sexta feirao aborto ser um pecado quando utilizado para ocultar evidências dos pecados1xbet bonus sexta feirafornicação e adultério", aponta. Ela cita,1xbet bonus sexta feiraseu livro, um texto1xbet bonus sexta feiraSão Jerônimo (347-420). "Outras pessoas tomam poções para garantir a esterilidade e são culpadas do assassinato1xbet bonus sexta feiraum ser humano ainda não concebido. Outras, quando descobrem que ficaram grávidas através do pecado, abortam usando drogas. Com frequência, elas mesmas morrem e são levadas à presença das autoridades do mundo inferior culpadas1xbet bonus sexta feiratrês crimes: suicídio, adultério contra Cristo e assassinato1xbet bonus sexta feirauma criatura não nascida", afirmou o religioso.
Essa é a postura da organização Católicas pelo Direito1xbet bonus sexta feiraDecidir, grupo que configura uma voz dissonante à posição oficial atual da Igreja. A direção brasileira do movimento foi procurada pela reportagem e preferiu responder com dois artigos previamente escritos. "Nos primeiros séculos do cristianismo, a preocupação central — da Igreja, como do Estado — era com a constituição do casamento monogâmico como regra para toda a sociedade", afirma,1xbet bonus sexta feiratrecho1xbet bonus sexta feiraum dos textos, a socióloga Maria José Rosado, professora da Pontifícia Universidade Católica1xbet bonus sexta feiraSão Paulo (PUC-SP) e presidente da organização.
"No império romano, estabeleceram-se leis que desencorajavam o concubinato. O primeiro concílio do Ocidente, realizado no século 4, antes mesmo da oficialização do cristianismo por Constantino — o Concílio1xbet bonus sexta feiraElvira — estabelece penas religiosas severíssimas para as transgressões à fidelidade conjugal. Tanto a Igreja quanto o Estado impunham penas mais duras para os casos1xbet bonus sexta feiraadultério do que para os1xbet bonus sexta feirahomicídio", prossegue a socióloga.
"Assim, a punição do aborto, durante os seis primeiros séculos do cristianismo, não era referida,1xbet bonus sexta feiraprimeiro lugar, ao feto cuja vida seria tirada, mas ao adultério que o aborto revelava", argumenta Rosado. "Pode-se pois concluir que para o cristianismo, como para a lei romana, a afirmação do casamento monogâmico como única união legítima, era mais importante como fundamento social do que a proteção da vida."
"O que podemos dizer é que a condenação ao aborto é uma constante no ensinamento moral da Igreja. A partir do século 4, a temática começa a aparecer1xbet bonus sexta feiraconcílios […]. Com o passar do tempo, não poucos autores admitem uma gravidade1xbet bonus sexta feiraculpa. Mas depende1xbet bonus sexta feiraquando esse aborto é feito", diz Moraes.
"A questão do aborto nos documentos da Igreja tem variações significativas, mas o mais importante é a linguagem para1xbet bonus sexta feiracondenação", contextualiza Martins. Sisto 5º (1521-1590),1xbet bonus sexta feiraseu pontificado, reviu a postura medieval e passou a entender que não importava o estágio da gravidez, uma interrupção intencional não devia ser aceita. "Mas seu sucessor, Gregório 14 [(1535-1591)], rejeita essa perspectiva e volta a manter a distinção do aborto, como algo diferente [se praticado] no começo [da gestação]", conta o bioeticista.
Entre idas e vindas, o que predominava até o século 19, conforme ressalta Rosado, era esse entendimento1xbet bonus sexta feiraque "só haveria aborto pecaminoso quando o feto estivesse totalmente formado". E a condenação, nos casos1xbet bonus sexta feiraque havia, era moral e teológica, sem nenhuma sanção como a determinada por Pio 9º.
"[O papa,1xbet bonus sexta feira1869] declara que o aborto é pecado1xbet bonus sexta feiraqualquer situação e1xbet bonus sexta feiraqualquer momento1xbet bonus sexta feiraque se realize. Pela primeira vez, papa e teólogos coincidem, rechaçando a teoria da 'hominização retardada' para assumir a da 'hominização imediata'", explica a socióloga. "Isto é, a tese1xbet bonus sexta feiraque desde o momento da concepção existe uma pessoa humana e, portanto, atentar contra ela é homicídio."
"Até essa data, essa questão havia sido controvertida na Igreja. Note-se que isso ocorre no mesmo período1xbet bonus sexta feiraque a Igreja tem necessidade, por razões1xbet bonus sexta feirapolítica interna e externa,1xbet bonus sexta feiraafirmar o poder papal, através da proclamação do dogma da infalibilidade", contextualiza ela.
Ciência e fé

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Após a excomunhão para o procurantes abortum, effectu sequuto, a Igreja se manteve firme1xbet bonus sexta feiraseu posicionamento. "Os papas recentes,1xbet bonus sexta feiraparticular João Paulo 2º [(1920-2005)], encaram o aborto como o auge da desumanização dos comportamentos", explica o biólogo e sociólogo Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP. "A 'cultura da morte' é uma situação1xbet bonus sexta feiraque as pessoas são reduzidas a números e engrenagens num sistema socioeconômico que não se preocupa com elas. Assim, cada pessoa pode ser descartada ou substituída quando não interessa ao sistema."
Essa ideia, como pontua Ribeiro Neto, foi chamada1xbet bonus sexta feira"cultura do descarte" pelo papa Francisco. "O fato da mãe não desejar mais a vida do próprio filho representa o ponto mais alto dessa desumanização, no qual as relações mais vitais deixaram1xbet bonus sexta feiraser significativas."
Ao observar as mudanças históricas da Igreja quanto aos entendimentos, o acadêmico vê uma coerência baseada no patamar científico1xbet bonus sexta feiracada momento. "A doutrina católica segue o conhecimento médico da época", argumenta ele. "O princípio é que toda vida humana é inviolável a partir do momento1xbet bonus sexta feiraque tem uma alma imortal, infundida por Deus."
"Na Idade Média, acreditava-se que o feto só ganhava vida começava a se movimentar. Portanto, não tinha alma [até esse momento]. Com o tempo, concluiu-se que o feto já era uma nova vida, diferente daquela da mãe, a partir da concepção. E a Igreja mudou1xbet bonus sexta feiracronologia1xbet bonus sexta feirarelação ao aborto", diz Ribeiro Neto. "A mudança foi1xbet bonus sexta feiracronologia, não1xbet bonus sexta feiraprincípio."
Professor1xbet bonus sexta feirabioética na Universidade1xbet bonus sexta feiraSão Paulo (USP) e membro da Pontifícia Academia para a Vida, Dalton Luiz1xbet bonus sexta feiraPaula Ramos avalia a postura medieval como "coerente pelo fato1xbet bonus sexta feiraque naquela época só conseguiam constatar a existência do corpo [no caso, do feto] macroscopicamente observando".
"Elio Sgreccia [(1928-2019), cardeal italiano, presidente da Pontifícia Academia para a Vida] costumava dizer que o que São Tomás1xbet bonus sexta feiraAquino não tinha era microscópio, porque o conceito vai sendo constatado microscopicamente a partir do desenvolvimento dessas tecnologias,1xbet bonus sexta feiraobservação,1xbet bonus sexta feiraexames."
Para o bioeticista Martins, se a Igreja sempre condenou o aborto, antes1xbet bonus sexta feiraPio 9º "havia mais espaço para interpretação, para ver que1xbet bonus sexta feiraalguns casos até poderia se recorrer a isso". "Hoje, não mais", pontua. "Mas, do ponto1xbet bonus sexta feiravista moral, é muito importante entender que, na Igreja, a intenção conta muito. A intenção1xbet bonus sexta feiracometer o ato faz parte da maneira1xbet bonus sexta feirajulgar a moralidade do ato, e isso é fundamental na Igreja."
"Outro elemento é a questão da misericórdia. Apesar1xbet bonus sexta feiraa Igreja ter essa questão definida, há sempre a misericórdia: acolher e respeitar as pessoas que caíram nesse erro", diz ele.
No caso1xbet bonus sexta feiraBiden, a polêmica baseia-se1xbet bonus sexta feiraum documento assinado pelo então cardeal Joseph Ratzinger, antes1xbet bonus sexta feirase tornar papa Bento 16, quando ele ainda era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. "Ele elencava cinco exigências irrenunciáveis para a conduta dos políticos", explica Ribeiro Neto. "O direito à vida; a proteção e promoção da família; a liberdade,1xbet bonus sexta feiraparticular religiosa e1xbet bonus sexta feiraeducação; a economia à serviço da pessoa; e a construção da paz."
"Contudo, os grupos contrários ao aborto, principalmente nos Estados Unidos, frequentemente se atinham apenas à primeira exigência, criando o paradoxo1xbet bonus sexta feiracristãos apoiaram políticos corruptos e mal-intencionados só porque esses se declaravam contrários ao aborto", afirma o sociólogo. "Criou-se uma partidarização da questão. Republicanos condenavam o aborto, mas eram coniventes com o aquecimento global, com as guerras e contra a acolhida aos migrantes. Democratas fazem exatamente o contrário."
"Como, na verdade, as cinco exigências são 'irrenunciáveis', a comunidade cristã está se dividindo por questões partidárias,1xbet bonus sexta feiravez1xbet bonus sexta feirabuscar a unidade na busca do bem comum. Esse é o pano1xbet bonus sexta feirafundo pelo qual alguns católicos querem uma condenação clara da conduta1xbet bonus sexta feiraBiden e o próprio Vaticano tem pedido um esforço para o diálogo1xbet bonus sexta feiracomunhão", salienta Ribeiro Neto.

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