Alzheimer, um recomeço? Três histórias surpreendentes sobre a demência:www bets com br
- Mônica Vasconcelos
- Da BBC News Brasilwww bets com brLondres

Crédito, Arquivo pessoal
Da esquerda para a direita, Áurea Galli, Eneide Marques Cavalcante e Luzia da Silva: três mulheres, três experiênciaswww bets com brconvívio com a demência
"Logo ela deixouwww bets com brse lembrarwww bets com brmim. No começo eu falava, 'olha,www bets com brfilha chegou'" Lígia Galli
"Eu não tenho saudade do pão que ela fazia, da roupa que ela costurava. Eu tenho saudade do sorriso, que é a presença dela mesmo." Ivani Alexandre
"Eu falei, 'mãe, você entrou na contramão, você quase se matou e matou o Matheus junto'… ela falou, 'nossa, eu fiz isso?'" Denise Marques
Quando tudowww bets com bruma pessoa parece ter ido embora — identidade, linguagem, habilidades, memória… —, onde fica guardado o amor?
Especialistas alertam que a pandemiawww bets com brcovid-19 vai acelerar uma epidemiawww bets com brdemência que já existe hoje no mundo. A notícia preocupa, mas entre profissionaiswww bets com brsaúde, pacientes e familiares, cada vez mais pessoas vêm propondo que busquemos formas diferenteswww bets com brpensar a doença. Não como o fim, mas como um possível recomeço.
Nesta reportagem, três mulheres cujas mães viveram ou vivem hoje com demência e uma médica geriatra compartilham visões sobre a doença que podem surpreender muita gente.
"Quando você recebe um diagnósticowww bets com brdemênciawww bets com brum ente querido seu, parece que tudo acabou", diz a geriatra Celene Pinheiro. "Só que nem sempre é assim."
"Foram os melhores anos da vida dela e os melhores anos dela comigo", diz Denise.
Ao compartilhar suas histórias e reflexões, as entrevistadas vão também oferecendo suas respostas para questões comuns entre pessoas afetadas pela demência.
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Finalwww bets com brYouTube post, 1
Como cuidar bemwww bets com bralguém que tem demência? Colocar um ente querido com demênciawww bets com brcasawww bets com brrepouso é abandoná-lo? Como o idoso com demência pode ser incluído na sociedade e quem se beneficia com isso? Até que ponto no desenvolvimento da demência a pessoa é capazwww bets com brse sentir amada ou hostilizada?
E quando aceitam fazer seus depoimentos, as mulheres (e sim, é sobre elas que recai, na grande maioria dos casos, a responsabilidadewww bets com brcuidar) expressam um desejowww bets com brcomum: contribuir para que a sociedade conviva melhor com uma doença que, segundo a Organização Mundialwww bets com brSaúde (OMS), afeta hoje 50 milhõeswww bets com brpessoas no mundo e deve afetar maiswww bets com br150 milhõeswww bets com br2050.

Crédito, Arquivo pessoal
Eneide recebeu o diagnósticowww bets com brDoençawww bets com brAlzheimerwww bets com brjaneirowww bets com br2015 e faleceuwww bets com br2019, aos 85 anos. 'Foram os melhores anos da vida dela', diz Denise.
Denise e Eneide - Alzheimer, um recomeço?
Denise Marques tem 54 anos e é terapeuta. Sua mãe, Eneide Marques Cavalcante, recebeu o diagnósticowww bets com brdoençawww bets com brAlzheimerwww bets com brjaneirowww bets com br2015 e faleceuwww bets com brdezembrowww bets com br2019 aos 85 anos.
"A minha mãe teve Alzheimer, é uma doença que quando a gente ouve a respeito, assusta. Mas eu aprendi que o Alzheimer não é terrível como falam."
Eneide tinha uma deficiência: ela nasceu sem a cabeça do fêmur, o maior osso da perna.
"Minha mãe foi criada pelos meus avós com muito amor, carinho e cuidado, devido à deficiência dela. E aí eu imagino o choque que ela teve quando se viu num casamento totalmente abusivo. E ela não conseguia sair porque meu pai ameaçava que se ela se separasse ele mataria todos nós — eu, minha mãe e meus avós."
No relatowww bets com brDenise, o horror da violência doméstica vivenciada por ela e outros familiares momentaneamente toma lugar central na narrativa.
"Quando meu pai chegavawww bets com brcasa, já estava todo mundo tremendo. De que jeito ele ia chegar? Ele voltava alcoolizado, uma força, entortava a torneira, arrebentava a geladeira. Era uma coisa muito violenta."
Mais adiante, veremos que, sobre o panowww bets com brfundo dos 35 anoswww bets com brabuso físico e psicológico que Eneide viveu, a doençawww bets com brAlzheimer que ela desenvolve terá um papel singular emwww bets com brvida — e nawww bets com brsua filha.
Denise conta que seu pai morreuwww bets com brjaneirowww bets com br1997, mas a mãe nunca se recuperou da violência que sofreu e começou a fazer tratamento para depressão. Episódios estranhos, como aquelewww bets com brque Eneide entra na contramãowww bets com bruma rua movimentadawww bets com brCampinas e depois não se lembra do que fez (episódio descrito no início dessa reportagem), são para Denise um prenúncio do que estava por vir.
"Eu entendo que o Alzheimer é uma doença muito sorrateira, silenciosa", diz.
Dez anos mais tarde, Eneide tornou-se paciente da geriatra Celene Pinheiro.

Crédito, Divulgação/Sacha Ueda
Celene Pinheiro, 47 anos, é geriatra e presidente voluntária da Associação Brasileirawww bets com brAlzheimer e Outras Demências (ABRAz)
"Eu conheci e acompanhei a dona Eneide por pelo menos dez, doze anos", diz a médica. "E uma coisa que chamava muito a atenção no relacionamento das duas é que ambas se tratavam muito mal."
"Quando elas chegavam à clínica, nesse relacionamento conflituoso — a filha falava às vezeswww bets com brforma ríspida com a mãe — as minhas secretárias já vinham: 'doutora, nossa, como ela trata mal a mãe! Coitada da nona Eneide!'. E eu falava: 'gente, calma. A gente não deve julgar. A gente deve ouvir. E entender o cenário onde essa relação se construiu.' E foi o que acabou acontecendo", conta Celene.
Em seu depoimento, Denise oferece pistas sobre como era o relacionamento com a mãe: "A Eneide que eu conhecia era extremamente rígida. Eu a chamavawww bets com brgeneral."
"Quando eu comecei o relacionamento com minha namorada, a minha mãe não aceitouwww bets com brjeito nenhum", ela recorda. "Ficou muito indignada e não permitia que eu conversasse com ela sobre isso."
De repente, a relação entre mãe e filha se transforma, conta Celene.
"Quando ela (Denise) leva (Eneide) para a instituição, e a demência da dona Eneide avança mais um pouquinho, a hora que eu vejo, as duas começam a se relacionarwww bets com bruma forma leve, bem humorada, alegre, afetuosa. Um afeto muito grande da Denise para com a Eneide."
A médica conta que não entendia o que estava acontecendo. Até que, um dia, quando visitavawww bets com brpaciente na clínicawww bets com brrepouso, Denise lhe falouwww bets com brseu relacionamento, e da recusa da mãewww bets com braceitar a homossexualidade da filha.
Mas o Alzheimer mudaria tudo isso.

Crédito, Arquivo pessoal
'Minha mãe foi criada com muito amor, carinho e cuidado, devido à deficiência dela. E aí eu imagino o choque que ela teve quando se viuwww bets com brum casamento totalmente abusivo', diz Denise
"Quando a dona Eneide desenvolve a demência, essas convenções sociais caem por terra", conta Celene. "E ela começa a dar espaço para essa aproximação que, eu acho, a Denise desejava tanto."
Dois anos após a mortewww bets com brEneide,www bets com brentrevista por Zoom à BBC News Brasil, Denise ri, maravilhada, ao recordar os últimos quatro anos na vida da mãe. Não ficou nada mal resolvido, diz.
"Quando a minha mãe chegou nesse nível maior do Alzheimer, virou a chavinha. Como se essa couraça que ela desenvolveu para se protegerwww bets com brtanto sofrimento na vida tivesse caído, vindo abaixo."
"E aí foram os melhores anos da minha mãe, e os melhores anos meus com ela. Conheci aquela mulher alegre, risonha, que fazia todo mundo sorrir. Carinhosa, abraçava, beijava. Foi uma coisa incrível. Eu vejo que o Alzheimer deu para a minha mãe e para mim uma oportunidadewww bets com bra gente fazer um resgate. Foi uma história linda."
Os efeitos inesperados da demência
Na experiênciawww bets com brEneide, a doençawww bets com brAlzheimer não apagou apenas regras e convenções sociais. A demência fez também o que anoswww bets com brterapia e medicamentos não tinham conseguido fazer: eliminou da memóriawww bets com brEneidewww bets com brexperiência traumáticawww bets com brviolência.
"No caso da Eneide, a demência foi um presente, porque ela pôde apagar essa memória muito triste e pôde voltar a ser a pessoa alegre que ela era antes", reflete Celene. Mas, infelizmente, não é assim para todos, diz a médica.
"Eu conheço uma senhora que até hoje repete: 'não bate na criança'. Porque o marido dela era muito violento com os filhos. Até hoje ela verbaliza isso: 'Ai, coitadinha, não bate.' Tem pessoas que ficam com essas recordações por terem um valor afetivo muito grande."

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Lígia Galli, 59 anos, ewww bets com brmãe, Áurea Moraes Galli, 81 anos. Áurea recebeu o diagnósticowww bets com brdemênciawww bets com br2012
Lígia e Áurea - Levar pessoa com demência para a instituição é abandonar?
A donawww bets com brcasa Lígia Galli tem 59 anos. Sua mãe, Áurea Moraes Galli, tem 81 anos e recebeu o diagnósticowww bets com brdemênciawww bets com br2012. Desde então, Áurea vivewww bets com bruma instituiçãowww bets com brlonga permanência (ILPI).
"Minha mãe sempre foi uma pessoa ativa, prestimosa com a casa, com os cuidados com os filhos. Fazia tricô, crochê, bordado. Ela cozinhava extremamente bem, fazia pinturas a óleo lindíssimas", conta Lígia.
"Então eu notei muita diferença, retomando, após a morte do meu pai. Quando eu ia visitá-la, a casa estava muito suja, muito largada, com um cheiro ruim, comida estragada na geladeira. Era uma coisa que chocava a mim porque minha mãe não passava nem pertowww bets com brum tipowww bets com brcomportamento assim."
Logo, Lígia percebe que a mãe não pode mais viver sozinha. Seu depoimento nos remete a um dilema quase universal entre pessoas afetadas pela demência: cuidarwww bets com brcasa ou levar para uma ILPI?
"Várias pessoas falaramwww bets com brcolocar minha mãe numa clínica, mas para mim, naquele momento, aquilo era impensável. Aquela ideiawww bets com brque a gente vai abandonar o idoso, largar aos cuidadoswww bets com brestranhos", diz.
Lígia decide levar a mãe para morar com elawww bets com brIndaiatuba, interiorwww bets com brSão Paulo. Ela conta que, no começo,www bets com brfilha, que tinha 7 anoswww bets com bridade, achava certas situações engraçadas.
"Porque minha mãe ainda mantinha um bom humor", lembra. "Com piadas, com coisas engraçadas, que começaram a ser misturadas com momentoswww bets com brraiva, mau humor, desespero,www bets com brfalar sozinha,www bets com brtirar a fralda e guardar as fezeswww bets com brgaveta."
"Começou um drama muito grande", lembra Lígia. De um lado, a filha, aos prantos. De outro, uma mãe que agora precisavawww bets com bratenção 24 horas por dia.
"E quanto mais difícil a situação ficava, mais eu achava que tinhawww bets com brser capazwww bets com brcuidar", lembra.
Para ter um poucowww bets com brdescanso, Lígia começa a levar Áurea para passar o diawww bets com bruma clínica.
"Quando eu chegavawww bets com brcasa, o dia que ela ficavawww bets com brcasa, eu abria a porta e sentia o cheirowww bets com brfezes. Eu brigava com ela. Sentava no banheiro, fechava tudo, chorava, chorava. Senão eu ia realmente perder a paciência com ela."
Do consultório, a geriatra Celene Pinheiro acompanhou a lutawww bets com brLígia para cuidar da mãe.
"A Lígia é minha paciente. Ela veio me contando como foi o diagnóstico da mãe,www bets com brdoençawww bets com brAlzheimer."
"Ela estava se desdobrando, se desgastando, sofrendo, até que ela fala: 'meu Deus, só tem uma saída: pedir ajuda especializada'", recorda a médica.
Mas Lígia ainda precisouwww bets com brum último empurrão. Um dia, ela recebe um telefonema da clínica onde a mãe estava passando o dia. Áurea tinha caído e sofrido várias fraturas.
"Depois desse acidente, para mim ficou claro que ela tinhawww bets com brir para uma clínicawww bets com brlonga permanência", diz Lígia.
"Minha prima ainda brincou: 'coitada da tia Aurinha. Deus teve que quebrar awww bets com brmãe toda para você entender que era horawww bets com brlevar ela para uma clínica. Para ter um tratamento adequado e você também,www bets com brficar cuidandowww bets com brvocê e dawww bets com brfilha.'"

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Culinária, crochê, pintura a óleo: os múltiplos talentoswww bets com brÁurea Galli
Quando você leva um idoso com demência para uma ILPI, está atendendo a uma necessidade dele, diz Celene Pinheiro.
"Eu falo para os filhos dos meus pacientes, você sabe ler e escrever? Quando seu filho entrou na idadewww bets com brser alfabetizado, você levou para a escola, para que ele fosse alfabetizado por especialistaswww bets com brfazer isso. Não está abandonando seu filho."
Quando se tratawww bets com brum idoso com demência, você temwww bets com brpensar assim, prossegue a médica. "Você sabe cuidar, mas às vezes a pessoa precisawww bets com bralgo a mais."
Livre da responsabilidadewww bets com brcuidar, Lígia passa a se relacionar com a mãewww bets com brmaneira diferente.
"Ela me disse que pela primeira vez, depoiswww bets com brmuito tempo, se sentia filha da mãe dela", diz a geriatra.
E é como filha que Lígia viverá um encontro inesquecível com a mãe.
"Um dia, chegueiwww bets com bruma visita e estava tão triste, tão abalada, com tanto problema da minha filha, do meu marido, faltawww bets com brdinheiro…", conta.
"Minha mãe estava no terraço sozinha, sentei e comecei a conversar com ela. Até hoje eu converso com ela, como se ela entendesse. Acaba saindo sem querer e acho que alguma coisinha sobra, lá dentro da cabecinha dela. E eu deitei no colo dela. E chorei tanto, tanto. Falei, 'poxa mãe, estou com tanto problema'."
Lígia continua.
"Ela passou a mão na minha cabeça e falou: 'ah, coitadinha, ela tá triste.' E falou: 'eu te amo'. Foi a primeira vez, na minha vida, que eu ouvi a minha mãe falar 'eu te amo'. Eu chorei muito, ewww bets com brseguida ela começou a cantar 'boi, boi, boi, boi da cara preta…'. Que é uma música que ela canta até hoje."
"Foi um consolo", conta. "O momentowww bets com bramor que eu nunca tinha recebido da minha mãe a minha vida inteira. Recebi aquele dia."
Em seguida, sorrindo entre as lágrimas, Lígia pede: "Você tem um lencinho aí pra mim?"

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Livre da responsabilidadewww bets com brcuidar, Lígia desenvolve um relacionamento diferente com a mãe
Como se comunicar com quem tem demência? O poder da linguagem não verbal
Ao ler o relato desse precioso encontro entre mãe e filha, alguns talvez se perguntem: mas então, onde é que estava esse sentimento que Áurea expressa? Onde fica guardado o amor?
Talvez não haja uma resposta, claro. Mas o episódio sugere que pessoas com demência são, sim, capazeswww bets com brsentir e expressar amor.
Para Celene, essa história ilustra a importância da comunicação não verbal com pessoas que têm demência.
"Se a Lígia falasse para a mãe, 'mãe, eu estou triste', talvez a mãe não compreendesse porque, muitas vezes, ela não entende o significado da palavrawww bets com brsi. Mas à medida que ela deita no colo da mãe, se coloca nessa posiçãowww bets com brfragilidade e chora, e externa esse sentimento dela, a mãe percebe pela posição, e pelo choro, a situação que a filha está passando. E aí ela compreende, e fala: 'tadinha, ela está triste'."
Na verdade, pondera a médica, não se tratawww bets com brentender com a razão.
"Ela entendeu da forma como ela podia, ou (melhor), acho que ela não entendeu, ela sentiu. Tem coisas que não passam pelo campo da compreensão, passam pelo campo do sentimento."
Por outro lado, observa a médica, uma expressão facial hostil, ou alarmada, pode assustar a pessoa que tem demência.
"Isso é muito nítido. Às vezes, você pode falar uma coisa que não seja agressiva, mas por uma feição agressiva, a pessoa se assusta."
Um dilema e um privilégio
Anteswww bets com brconcluirmos a históriawww bets com brLígia e Áurea, é importante ressaltarmos que, para a grande maioria dos brasileiros, o dilema vivido por Lígia — cuidarwww bets com brcasa ou na instituição? — é quase um privilégio. E por que privilégio?
Segundo Celene Pinheiro, que alémwww bets com brgeriatra é também presidente voluntária da regional paulista da Associação Brasileirawww bets com brAlzheimer e Outras Demências (ABRAz), estima-se que entre 1,5 e 2 milhõeswww bets com brpessoas vivam hoje com alguma formawww bets com brdemência no Brasil.
Faltam estudos sobre o tema, a médica explica, e os números são imprecisos. Ainda assim, aqui vão dados preliminares fornecidos pela Frente Nacionalwww bets com brFortalecimento às ILPIs:
- Haveria 7 mil ILPIs no Brasil, abrigando por voltawww bets com br300 mil idosos.
- Dessas ILPIs, 5% apenas seriam públicas. Outras 35% seriam filantrópicas (muitas das quais pagas) e 60% particulares.
- Entre as pagas, as mensalidades oscilariam entre 70%www bets com brum salário mínimo e R$ 20 mil reais.
Ou seja, há uma carência gritantewww bets com brILPIs no país. E entre as instituições que existem, a maioria está fora do alcance do brasileiro comum.
Para esses brasileiros, a mensagem da geriatra é: peça ajuda.
"Procure a assistente social no postowww bets com brsaúde mais próximo", ela sugere. "Busque saber que recursos estão disponíveis. Medicamentos? Fraldas?"
Ela prossegue.
"É importante que a família se sensibilize e se mobilize para cuidar desse idoso. Muitas vezes, fica uma só pessoa cuidando, isso é muito cruel com quem cuida", comenta.
Por fim, diz Celene, as instituiçõeswww bets com brapoio (entre elas a ABRAz) oferecem uma gamawww bets com brserviços. Aconselhamento jurídico, por exemplo.
"Às vezes, a orientação jurídica permite que a pessoa viabilize recursos para cuidar desse idoso."
As associações também oferecem suporte emocional e oportunidades para que cuidadores e outras pessoas afetadas pela demência se encontrem, se apoiem mutuamente, troquem experiências e recebam informações práticas sobre como cuidar, explica.
A médica deixa claro que tudo isso está longewww bets com brser suficiente. Mas diz que profissionaiswww bets com brsaúde como ela e entidadeswww bets com brapoio vêm pressionando autoridades e políticos para que promovam mais pesquisas sobre as demências e aumentem a ofertawww bets com brserviços ewww bets com brinstituições públicas para pacientes.
Não por acaso, acabawww bets com brser aprovado no Senado um projetowww bets com brlei que institui uma política nacionalwww bets com brenfrentamento à doençawww bets com brAlzheimer e outras demências.
"Vamos avançar para aumentar o acesso ao cuidadowww bets com brqualidade e às instituições", diz.
Mas nem todo paciente com demência precisa ser cuidadowww bets com bruma instituição. A história que encerra essa reportagem é uma experiênciawww bets com brcuidar bem —www bets com brcasa.

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Luzia da Silva, 81 anos, vive com Alzheimer e outras demências há pelo menos 8 anos. Ela mora com a filha, a professora aposentada Ivani Alexandre, 59 anos
Ivani e Luzia - O que é um bom evoluir da demência?
Ivani Alexandre, professora aposentada, tem 59 anos. Sua mãe, Luzia da Silva, com 81 anos, vive com Alzheimer e outras demências há pelo menos 8 anos.
"Minha mãe costurava, quando foi para a minha casa ainda costurou. Costurou uma colchawww bets com brretalhos maravilhosa, mas nos últimos retalhos foi muito difícil, e eu falo que essa colchawww bets com brretalhos foi a história da minha aceitação."
"Eu insistindo e e eu percebendo que cada dia ela tinha uma dificuldade. Ela não gravava o que tinha feito no dia anterior e a gente começava do zero. Sempre começando do zero. Mas foi super bacana essa colcha, e aí eu entendi."
Celene Pinheiro diz que começou a atender Luziawww bets com br2012.
"A Ivani percebeu que era entrando nesse mundowww bets com brnovas necessidades da dona Luzia, e atendendo a essas necessidades, que ela ia conseguir tanto estimular a dona Luzia como também trazer muito mais conforto e serenidade", diz.
As demências são doenças degenerativas e progressivas, diz a médica. Elas vão piorar — mas podem evoluirwww bets com brformas diferentes.
O bom evoluir da demência se apoiawww bets com brdois grandes pilares, explica. Um é a saúde geral do paciente — que dependewww bets com brfatores como boa alimentação, exercícios físicos e o controlewww bets com brdoenças crônicas como diabetes, por exemplo.
O outro grande pilar tem a ver com as interações sociais, a qualidade do ambiente, o entorno da pessoa.
"Tem casoswww bets com brpessoas que têm diagnósticowww bets com brdemência há bem maiswww bets com brdez anos e estão estáveis porque têm engajamento social, uma vivência interessante com a família, uma vida bem organizada no sentido da rotina", diz. "Você vê que essas pessoas evoluem melhor."
Aqui, a médica tocawww bets com brum ponto central ao novo jeitowww bets com brpensar a demência que surge no Brasil e no mundo: chegawww bets com brsegregação. A pessoa com demência precisa ser incluída na sociedade, ela defende.
Como incluir a pessoa com demência e quem ganha com isso?
Como educadora, Ivani já tinha familiaridade com o conceitowww bets com brinclusão. Ela conta que, quando era professorawww bets com breducação física, adorava ver crianças com deficiência e sem deficiência fazendo aula juntas. Ela diz à BBC News Brasil que, hoje, pratica inclusãowww bets com brcasa, com a mãe.
A família morawww bets com bruma chácara. Luzia é incentivada a contribuir com pequenas tarefas, como debulhar feijão, por exemplo.
"A coordenação fina dela ainda é muito boa", explica.
Mas a história vai ficar ainda mais interessante. Por causa da pandemia, a netawww bets com brIvani, Dyanna, com 4 anoswww bets com bridade, vem passar uma temporada na chácara.
Agora, são quatro geraçõeswww bets com brconvivência: Luzia, Ivani e seu marido, o filho do casal e a neta. "A gente foi construindo um relacionamento", conta.
Bisneta e bisavó passam a fazer refeições juntas. Luzia torna-se "a ajudante"www bets com brDyanna e participa das atividades escolares. "Minha mãe sempre prestativa", comenta Ivani. "Afinal, ela quer ser útil."
"Por exemplo, meu filho e minha neta fizeram um bilboquê e a minha mãe brincou junto", lembra. "Ela mostrou uma habilidade, todo mundo ficou admirado, aplaudiu, e ela ficou toda feliz, sorridente."

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'Tem casoswww bets com brpessoas que têm diagnósticowww bets com brdemência há bem maiswww bets com brdez anos e estão estáveis porque têm engajamento social, uma vivência interessante com a família', diz a geriatra Celene Pinheiro
Ivani não se esquivawww bets com brfalar do aspecto mais dolorido dessa convivência com a demência.
"Sinto falta do sorriso, que é a presença dela mesmo. Não gosto muito quando ela está com aquele ar ausente, isso me machuca. E a minha neta trouxe essa vivacidade para a minha mãe."
Luzia, porwww bets com brvez, também oferece a Dyanna oportunidadeswww bets com brse incluir e fazerwww bets com brcontribuição.
"Havia alguns momentoswww bets com brque minha mãe falava para a Dyanna: 'ah, vou embora'."
"Ela levantava, ia saindo, e não dava tempowww bets com bra Dyanna vir contar para mim, para eu tomar uma atitude."
Esse, aliás, é um quadro comum entre pacientes com demência. Durante certos períodos do dia, ficam inquietos e começam a vagar, forçar as portas e querer ir embora. Médicos chamam esse comportamentowww bets com brSíndrome do Pôr do Sol. Dyanna logo aprende a lidar com ele.
"Ela corria atrás da minha mãe, pegava pela mão e explicava: 'não, bisa, você mora aqui.' Aí ela levava a minha mãe no quarto: 'olha, aqui é seu quarto, aqui é seu banheiro.' Ela estava repetindo os gestos que tinha me visto fazer", conta. "Ela se prontificou a ser cuidadora também."
O depoimentowww bets com brIvani é repletowww bets com brmomentos encantadores,www bets com brque bisavó e bisneta parecem habitar um mundo só delas. Dyanna e Luzia pescando. Dyanna sentada na poltrona ao lado da cama da bisavó, trocando histórias.
"A conversa ia longe! E eu ouvindo atrás da porta, para saber se estavam fazendo arte."
E o episódiowww bets com brque Dyanna tenta convencer a a avó a sentarwww bets com brum pequenino balanço, feito sob medida para a criança.
"Se eu não tivesse surtado, eu deveria ter filmado: 'Não, bisa, senta aqui, põe uma perna, depois põe a outra… não, não tem problema, não vai acontecer nada'."
Ivani ri, deliciada, ao recordar o episódio.
"E minha mãe simplesmente indo… não têm amarras, nenhuma das duas."
Poder trocar histórias, conviver e participar da vida da família eleva muito a autoestima da pessoa que tem demência, diz Celene. Mas para a geriatra, a históriawww bets com brIvani, Luzia e Dyanna mostra que não só o idoso se beneficia.
"A criança também, começa a perceber o outro, a não olhar só para si."
"E ganha a cuidadora Ivani, que aprendeu tanto e tem tido momentos tão ricoswww bets com brconvívio."
Dizendo adeus aos poucos
Ao longowww bets com brvárias entrevistas à BBC News Brasil, Celene Pinheiro não esconde seu desejowww bets com brmudar a imagem que se faz das demências. Mas ela reconhece: "Ninguém quer terwww bets com brenfrentar um casowww bets com brdemência na família."
Por outro lado, "quantos perdem familiareswww bets com brforma repentina e sofrem tanto", observa. A demência pode ser a oportunidadewww bets com bruma despedida gradativa.
"Quando você percebe que essa é uma condição que vai levar tempo para acontecer, e que você pode fazer dele um tempo bom, e se permitir ter esses momentos bonitos, é muito engrandecedor."
Mas as palavras finaiswww bets com brCelene Pinheiro vão para quem não conseguiu se enxergar nos relatoswww bets com brLígia, Ivani e Denise.
Ela conta que,www bets com br18 anoswww bets com brgeriatria, já viu muitas famílias saírem do consultório ou da salawww bets com brpalestras se sentindo culpadas.
"Não estamos pregando modelos virtuosos, que devam ser erguidos", explica. "Conhecemos muito mais histórias tristes do que bem sucedidas. Mas, quem sabe ouvir histórias positivas nos ajuda a vislumbrar outras possibilidades?"

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