O que é ser feminista?:jogar among us

  • Matheus Magenta*
  • Da BBC News Brasiljogar among usLondres
Ilustraçãojogar among usfeministas

Crédito, Daniel Arce Lopez/BBC

jogar among us A cada 10 brasileiras, 4 se consideram feministas e 6 rejeitam esse rótulo. O feminismo no Brasil, aliás, é mais bem avaliado por homens do que por mulheres. Por outro lado, a maioria das brasileiras defende pautas consideradas feministas: 70% acham insuficiente o espaço ocupado por mulheres na política, 85% veem aumento da violência contra mulheres e 60% avaliam que as leis não são adequadas para protegê-las.

Os dados acima,jogar among usuma pesquisa do instituto Datafolhajogar among us2019, resumem uma das principais questões atuaisjogar among ustorno do feminismo: por que muitas mulheres defendem bandeiras feministas, mas ainda assim rejeitam o rótulo?

Esse, obviamente, não é o único conflito do movimento organizado que surgiu no fim do século 19jogar among ustorno da luta pelo direito das mulheresjogar among usvotar (ejogar among usserem votadas) e que hoje abrange uma sériejogar among uslutas relacionadas à defesa dos direitos das mulheres contra a discriminação e a opressão praticada na grande maioria das vezes por homens.

O movimento centenário levou a conquistas fundamentais, como o direitojogar among usvotar e a redução da desigualdade salarial, mas as ações e declarações contra a dominação ou a opressão masculina foram alvojogar among ustanta resistência ou desinformação ao longo dos anos que a palavra feminista algumas vezes se tornou uma ofensa para muitas mulheres e homens.

E por quê? Há diversos motivos. Em seu livro O Feminismo é para Todos, a escritora e ativista bell hooks (ela assina o seu nome com letras minúsculas) cita um dos principais: muita gente pensa,jogar among usforma errada, que o feminismo é "anti-homem". Mas ela explica que, na verdade, o centro do feminismo é ser anti-sexismo (ou anti-machismo), e não ser anti-homem.

Para entender todas essas questões, a BBC News Brasil explica abaixo as origens do feminismo, as ondas do movimento ao longo dos anos e por que não existe um, mas vários feminismos. Em seguida, é preciso entender as críticas ao movimento feitas por mulheres negras e por outras que atualmente rejeitam o termo feminista. Depois, vale se debruçar sobre como as mulheres se tornaram a maioria do eleitorado, mas só ocupam 15% dos assentos no Congresso brasileiro.

As origens do feminismo

O primeiro registro conhecido do termo "feminismo" datajogar among us1837,jogar among usescritos do filósofo francês Charles Fourier, que comparava a situação das mulheres à dos escravizados. À época, a palavra derivava o termojogar among uslatim femina ("mulher") e remetia a características e qualidades femininas. Mas décadas depois passou a ser associado aos movimentos por direitos das mulheres, e a acepção original caiujogar among usdesuso.

Como ocorre com outros termos políticos importantes (como comunista, liberal e conservador), não há consenso sobre o que realmente significa feminismo, considerado um movimento, uma filosofia política ou uma atitudejogar among usrelação ao mundo.

Mas ainda assim diversas especialistas tentam explicar o que, afinal, é ser feminista.

bell hooks

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bell hooks explica que feminismo não é ser anti-homem, mas ser anti-machismo

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Por exemplo: para a escritora e pesquisadora britânica Rosalind Delmar,jogar among usseu artigo "O que é Feminismo?", "uma feminista é no mínimo alguém que acredita que mulheres sofrem discriminação por causajogar among usseu sexo, que elas têm necessidades específicas que continuam a ser negadas e desatendidas, e que a satisfação dessas necessidades demanda uma mudança radical na ordem política, social e econômica".

Carla Cristina Garcia, no livro Breve História do Feminismo, porjogar among usvez, define o feminismo "como a tomadajogar among usconsciência das mulheres como coletivo humano, da opressão, dominação e exploraçãojogar among usque foram e são objeto por parte do coletivojogar among ushomens no seio do patriarcado sob suas diferentes fases históricas, que as movejogar among usbusca da liberdadejogar among usseu sexo ejogar among ustodas as transformações da sociedade que sejam necessárias para este fim".

Em seu livro O Feminismo é para Todos, hooks diz que feminismo é "um movimento para acabar com sexismo, exploração sexista e opressão". Neste livro, ela cita como exemplo sexista a violência patriarcal, "baseada na crençajogar among usque é aceitável que um indivíduo mais poderoso controle outros por meiojogar among usvárias formasjogar among usforça coercitiva".

"Assim como a maioria dos cidadãos desta nação acreditajogar among ussalários iguais para funções iguais, a maioria do pessoal acredita que homens não deveriam espancar mulheres nem crianças. Ainda assim, quando dizem para essas pessoas que violência doméstica é um resultado do sexismo, que ela não vai acabar enquanto não acabar o sexismo, elas não conseguem fazer essa dedução lógica, porque isso exige desafiar e mudar maneiras fundamentaisjogar among uspensar gênero", escreve ela.

Sexismo é "o conjuntojogar among ustodos e cada um dos métodos empregados no seio do patriarcado para manterjogar among ussituaçãojogar among usinferioridade, subordinação e exploração o sexo dominado: o feminino", explica a pesquisadora e professora Carla Cristina Garcia (PUC-SP), no livro Breve História do Feminismo.

E o que seria o patriarcadojogar among usque hooks e outras feministas falam? De acordo com o Dicionário Ideológico Feminista, organizado pela ativista e psicóloga espanhola Victoria Sau, o patriarcado é uma "formajogar among usorganização política, econômica, religiosa, social baseada na ideiajogar among usautoridade e liderança do homem, no qual se dá o predomínio dos homens sobre as mulheres, do marido sobre as esposas, do pai sobre a mãe, dos velhos sobre os jovens, e da linhagem paterna sobre a materna".

Segundo esse dicionário, o patriarcado "surgiu da tomadajogar among uspoder histórico por parte dos homens que se apropriaram da sexualidade e reprodução das mulheres e seus produtos: os filhos, criando ao mesmo tempo uma ordem simbólica por meio dos mitos e da religião que o perpetuam como única estrutura possível".

Na históriajogar among usquadrinhos Uma Breve História do Feminismo no Contexto Euro-Americano, a artista gráfica Patu e a jornalista e cientista política Antje Schrupp dizem que feminismo não é um programajogar among usconteúdo fixo, mas uma atitude orientada pela liberdade feminina e "quem quer entender as ideias feministas precisa sempre enxergá-lasjogar among usseu contexto e não deve jamais exigir uma definição inequívoca".

Por isso, muitos pesquisadores falamjogar among us"feminismos", como feminismo marxista, feminismo negro, feminismo radical, feminismo pós-moderno (ou interssecional) e feminismo queer (expressão da língua inglesa que significa estranho, excêntrico, e era usada pejorativamente para se referir a homossexuais, mas foi reivindicada por movimentos LGBTI, passando a designar comportamentos que não se encaixamjogar among uspadrões normativosjogar among usgênero).

Ainda assim, mais uma vez, diversos especialistas tentam reunir ou explicar o que grande parte das feministas defendemjogar among uscomum.

Ativista sufragista do início do movimento feminista

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Movimento feminista surgiujogar among ustorno da luta pelo direitojogar among usvotar e ser votada

De acordo com o Dicionário Routledgejogar among usPolítica,jogar among usforma simplificada, o movimento feminista busca direitos sociais e políticos para as mulheres equivalentes aos dos homens. E, apesar das divergências entre os diversos grupos feministas, o principal pressuposto compartilhado por todos os braços do movimento é que fazemos partejogar among us"uma tradição históricajogar among usexploração masculina das mulheres, originada inicialmente das diferenças sexuais que levaram a uma divisão do trabalho, como, por exemplo, a criação dos filhos".

Hoje, segundo esse dicionário, as políticas defendidas por feministas variam bastante, incluindo igualdadejogar among usoportunidades, fim da discriminação sexualjogar among uscontratações e salários, creches gratuitas para retirar as desvantagens das mulheres no mercadojogar among ustrabalho e ações afirmativas contra a desigualdadejogar among usgênerojogar among usvagasjogar among usemprego, candidaturas políticas e cargosjogar among uschefia.

No Dicionário do Pensamento Político, o filósofo conservador britânico Roger Scruton identifica três reivindicações frequentes entre feministas modernas, que também carregam bastante divergências entre si.

Primeiro, a reivindicaçãojogar among usque as diferenças biológicas entre mulheres e homens não são suficientes para explicar as diferenças atuaisjogar among usseus comportamentos, papeis e status. Ou seja, essa disparidade é uma criação social baseada no poder que deve ser removida.

Segundo, a ideiajogar among usque as diferenças naturais entre homens e mulheres (como atributos físicos) não podem servirjogar among usbase para a desvalorizaçãojogar among usatributos femininos e valorização dos masculinos.

Terceiro, a ideiajogar among usque "as mulheres não devem ser incentivadas a pensar que ser completas só é possível numa relação com os homens. Mais especificamente, as mulheres devem pararjogar among uspensar suas identidades a partir da aparência aos olhos e mentes dos homens".

Ondas do feminismo: do século 19 até hoje

Costuma-se dizer que o feminismo teve pelo menos três ondas,jogar among usgeral ligadas a fasesjogar among usgrande mobilização do movimento feminista branco europeu ou americano. Mas a própria ideiajogar among usondas é criticada por parte do movimento, por, entre outros pontos, ser reducionista ao sugerir uma suposta unidade nas reivindicações ou sugerir implicitamente que há períodosjogar among us"calmaria" entre uma onda e outra.

No livro Ideologias Políticas: Uma Introdução, o professor e cientista político britânico Rick Wilford (Queen's University) explica que onda é uma metáfora usada para indicar períodosjogar among usque uma maréjogar among usnovas ideias feministas surgia para transformar a paisagem política.

A primeira onda se deu do fim do século 19 até as primeiras décadas do século 20, tendo como principal bandeira o direitojogar among usvotar e ser votada para as mulheres ao redor do mundo (essa vitória sufragista se daria no Brasiljogar among us1932, por exemplo).

Apontava-se à época também como o sistema econômico vigente "se beneficiava do trabalho gratuito das mulheres nos núcleos familiares e da diferença salarial entre os sexos para gerar e ampliar lucros", explica a filósofa e pesquisadora brasileira Ilze Zirbel (UFSC),jogar among usartigo sobre o tema.

Segundo ela, é comum afirmar que as protagonistas da primeira onda eram mulheresjogar among usclasse média, mas "a maioria das manifestantes presentes nas grandes manifestações que deram visibilidade a essa onda era da classe trabalhadora, lutando contra as péssimas condiçõesjogar among usvida e trabalho a que estavam submetidas".

Vale lembrar que a primeira greve geral do Brasil foi iniciadajogar among us1917 por mulheresjogar among usuma fábrica têxtil paulistana. Além disso, o chamado Dia Internacional da Mulher (8jogar among usmarço) teve origemjogar among usreivindicaçõesjogar among usoperárias ao redor do mundo no início do século 20.

A segunda onda ganha força nos anos 1960, com um movimentojogar among uslibertação feminina e ligado à ideiajogar among ussororidade (uniãojogar among usmulheres com o mesmo fim, segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa), tendojogar among usvista a discriminação desigual que atinge mulheresjogar among usdiferentes classes e etnias.

Em seu livro A Mística Feminina, um dos principais da segunda onda, a escritora e ativista americana Betty Friedan exorta as mulheres, entre outros objetivos, a se qualificarem, voltarem ao mercadojogar among ustrabalho e tomarem as rédeasjogar among usseus direitos reprodutivos (graças ao surgimento da pílula anticoncepcional), se livrando assim das amarras da vida doméstica.

Ilustração sobre desigualdadejogar among usgênero, com mulher cuidandojogar among uscriança enquanto homem faz planos
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Desigualdadejogar among usoportunidade entre os gêneros está no centrojogar among usdiversas batalhas das feministas

Por outro lado, durante a segunda onda, diversas pensadoras feministas (como Angela Davis e Lélia Gonzalez) ganharam proeminência questionando justamente ideias baseadas no pontojogar among usvista das mulheres brancas e mais ricas. Um exemplo: muitas mulheres negras no Brasil, além das atribuições domésticas e maternas, já estavam inseridas no mercadojogar among ustrabalho há décadasjogar among uspostos como comerciante informal e empregada doméstica (geralmente sob condições bastante precárias).

E o que significa "libertação"? E como essa palavra se diferenciajogar among us"emancipação"?

No Dicionáriojogar among usPolítica organizado por Norberto Bobbio e outros, a cientista política e professora italiana Ginevra Conti Odorisio (Universidade Roma Tre) ressalta que "emancipação", simbolizada pela luta do direito ao voto, consistia na "exigência da igualdade (jurídica, política e econômica) com o homem, mas mantinha-se na esfera dos valores masculinos, implicitamente reconhecidos e aceitos". A libertação, no entanto, prescinde "da 'igualdade' para afirmar a 'diferença' da mulher, entendida não como desigualdade ou complementaridade, mas como assunção histórica da própria alteridade e buscajogar among usvalores novos para uma completa transformação da sociedade".

A ideiajogar among usuma terceira onda surgiu por volta dos anos 1990, épocajogar among usque a mídia, segundo Ilze Zirbel, divulgava que as jovens seriam "pós-feministas", porque entendia-se que o feminismo havia garantido diversas conquistas (como acesso a educação e emprego) e, portanto, havia perdidojogar among usrazãojogar among usexistir. Algo que, obviamente, não é uma realidade para todas as mulheres.

E pelo que elas lutavam? "Para aquelas a quem o acesso à educação, ao saneamento, ao aborto seguro, ao divórcio, à mobilidade básica estavam garantidos por lei, foi possível focar mais intensamentejogar among usoutras questões. Para as que não viviam esse tipojogar among usrealidade, foi necessário seguir lutado por direitos mínimosjogar among uscidadania. Outras pautas seguiram sendo comuns à maioria: a luta contra a exploração, a violência física e psicológica, o feminicídio, a discriminação no trabalho, as jornadas duplas ou triplas, os privilégios masculinos."

Além disso, explica a pesquisadora, as descrições sobre a terceira onda costumam ressaltar disputas e debates internos, sugerindojogar among usforma equivocada que as fases anteriores tiveram unidadejogar among usdemandas ejogar among usidentidade (o que é ser mulher). "Feministas latinas, negras, revolucionárias, proletárias, lésbicas, pró-sexo, antipornografia (dentre outras) fomentaram o debate feminista por todo o século 20, evidenciando a grande diversidade do feminismo (de indivíduos, grupos, pautas, estratégias)."

Mulheres com bandeiras da diversidade

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Para Judith Butler, as pessoas têm seu gênero designado ao nascerjogar among usacordo com seu sexo biológico e que isso determina a forma como são tratadas na sociedade ao longo da vida

Em mapeamento das mais diversas categorias ou vertentes do feminismo, a antropóloga e professora brasileira Fabiana Martinez (UFG) explica que geralmente o movimento traça a trajetória dos femininos a partirjogar among us"uma preocupação com igualdade e semelhança nos anos 1970, passando por diferença e diversidade nos anos 1980 e indojogar among usdireção à fragmentação dos anos 1990".

Hoje, conta a pesquisadora, essa fragmentação é potencializada pela internet, mais especificamente nas redes sociais, onde experiências são compartilhadas a pontojogar among usganharem um caráter coletivo.

Segundo ela, o ciberfeminismo impulsionou diversas campanhas no Brasil a partirjogar among us2015, numa espéciejogar among us"Primavera Feminista" mobilizadasjogar among usredes sociais, hashtags, ruas e passeatas. Esses atos problematizam questões como "o machismo, a violência contra mulheres, o assédio sexual, o estupro, a pedofilia, a segurança das mulheresjogar among usvias públicas, o racismo e as leis sobre o aborto e o feminicídio".

Em umjogar among usseus estudos sobre o tema, a pesquisadora analisa as principais vertentes feministas citadas nesses ambientes digitais: feminismo negro, feminismo interseccional (ou pós-moderno), feminismo radical, feminismo liberal/libertário, transfeminismo, feminismo marxista/socialista/materialista e feminismo queer/LGBT.

Influenciado por feministas como a escritora francesa Simonejogar among usBeauvoir, o feminismo marxista, por exemplo, "entende que a causa da subordinação feminina está na organização da economia e no mundo do trabalho", explica Martinez. Isso inclui, entre outros elementos, o papel feminino na esfera doméstica como reprodutora da família e a desigualdadejogar among usclasse entre mulheres (patroas e empregadas).

íconesjogar among usaplicativosjogar among usredes sociais

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Redes sociais impulsionaram expansão e diversificação do feminismo

O feminismo radical (conhecido também como radfem), por outro lado, é influenciado por ativistas como as escritoras canadense Shulamith Firestone e americana Andrea Dworkin, além da própria Beauvoir. Uma das que mais crescem na internet, essa corrente defende que "a raiz da dominação masculina estaria no patriarcado, nos papéis sociais intrínsecos ao sistemajogar among usgênero" e faz críticas a "estruturas que consideram reforçar o gênero e seus efeitos como a maternidade, a feminilidade, a pornografia e a prostituição", explica Martinez.

Há também o feminismo queer ou LGBT. Entre 1988 e 1993, a filósofa e escritora americana Judith Butler publicou trabalhos considerados hoje basejogar among usáreasjogar among usestudos conhecidas como teoria queer ejogar among usgênero, segundo as quais há uma diferença entre o sexo biológico e as identidades masculina e feminina que, alémjogar among usserem formadas por aspectos físicos, seriam também construções sociais por receberem influências históricas e sociais.

Para ela, na sociedade contemporânea, as pessoas têm seu gênero designado ao nascerjogar among usacordo com seu sexo biológico e que isso determina a forma como são tratadas na sociedade ao longo da vida. "Claro que há aspectos nossos que são sólidos, mas também é verdade que, dependendo da forma como somos criados, da culturajogar among usque vivemos, diferentes possibilidadesjogar among usdesejo emergemjogar among usnós. Ser humano é viver na interseção entre biologia e cultura", disse ela à BBC News Brasiljogar among us2017.

"Muitos não querem flexibilizar as categoriasjogar among usgênero, mas, para outros, é uma questãojogar among usvida ou morte", afirmou Butler. "Assim, mulheres percebem que podem fazer mais, homens podem se expressar mais, o amor gay e lésbico torna-se legítimo, as pessoas queer se veem como parte do mundo. O gênero abre para elas a possibilidadejogar among usrespirar, viver, pertencer. É um espaçojogar among uscompaixão para a luta que enfrentam."

As mulheres que rejeitam o rótulojogar among usfeminista e as críticas das mulheres negras

"Alguém que lute por igualdade das minoriasjogar among usum modo geral — e, consequentemente, da mulher — não tem como não ser feminista", disse a senadora Simone Tebet (MDB-MS), hoje candidata à Presidência,jogar among usentrevista à BBC News Brasiljogar among us2021. "(Mas) tenho dificuldadejogar among usfalar que eu sou feminista."

E por quê essa dificuldade? "É um termo que agora você não consegue mais nem definir, é uma coisa que nós vamos ter que voltar a discutir: o que é o feminismo? O que é ser feminista no Brasil, que também não se iguala a ser feministajogar among usoutros países? (...) Eu tô dizendo que,jogar among usmodo geral, como tudo no Brasil também, está polarizado e há certo radicalismo. Às vezes, não me enxergam como feminista, ou, às vezes, eu tenho dificuldade, também,jogar among usdizer que sou, embora seja, porque há uma pauta ou outrajogar among usque pode ser que eu não me enquadre nesse perfil", disse a candidata.

Para Tebet, o importante nessa discussões são atitudes, e não rótulos. "Sou uma pessoajogar among uscentro e tenho horror a essa polarização. Uma pessoajogar among uscentro como eu tem dificuldade atéjogar among usse adjetivar: sou feminista ou não sou feminista? Não importa. Não adianta você ser rotulada e não seguir a cartilha, né? Então, o que importa são seus gestos ejogar among ushistória."

empregada doméstica limpa porta

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Uma das principais críticas ao movimento feminista décadas atrás erajogar among usque ele falavajogar among usacesso ao mercadojogar among ustrabalho ignorando o fatojogar among usque muitas mulheres negras já trabalhavam há décadasjogar among uscondições precárias

Um estudo com 27 mil pessoas nos EUAjogar among us2016 mostrou que dois terços dos entrevistados acreditavam que a igualdadejogar among usgênero é importante, um aumentojogar among usrelação a 1977, quando pesquisas similares apontavam que um quarto dos entrevistados pensava assim.

Em uma pesquisa feita no Reino Unidojogar among us2018, 8% das pessoas disseram concordar com papéisjogar among usgênero tradicionais — que o homem deve trabalhar e que as mulheres devem cuidar da casa. O índice erajogar among us43%jogar among us1984.

Se muitas pessoas acreditam que a igualdadejogar among usgênero é importante, e ainda não foi atingida, porque não há tantas pessoas — especialmente jovens mulheres — se identificando como feministas?

Pode ser que elas não se sintam representadas pelo termo, afirmam especialistas. Segundo pesquisas, mulheresjogar among usbaixa renda tendem a se identificar menos com a palavra "feminismo". Isso não significa, porém, que elas não defendem bandeiras feministas.

Cercajogar among us1jogar among uscada 3 pessoas entre as classes mais altas se consideram feministas,jogar among usacordo com uma pesquisa feita na Grã-Bretanhajogar among us2018. Em comparação, nas classes mais baixas 1jogar among uscada cinco pessoas se identificam com esse termo.

Mas, por outro lado, pessoasjogar among usbaixa renda são tão propensas a apoiar direitos iguais para homens e mulheres quanto pessoasjogar among usclasses mais altas. Em todas as faixas socioeconômicas,jogar among uscada 10 pessoas, 8 concordam que homens e mulheres devem ter os mesmos direitos,jogar among usacordo com uma pesquisa britânicajogar among us2015.

A questão racial também parece afetar a maneira como a palavra "feminista" é vista. Pesquisas com jovens dos EUA mostram que cercajogar among us12% das mulheres latinas se identificam como feministas, mas que o índice sobe para mulheres negras (21% se consideram feministas), asiáticas (23%) e brancas (26%).

Quase 75%jogar among ustodas as mulheres disseram que o movimento feminista fez "muito" ou "algo" para melhorar a vida das mulheres brancas. Mas o índice cai para 60% quando a pergunta é se o feminismo conquistou muito para mulheresjogar among ustodas as etnias. Entre as mulheres negras, só 46% acham que o feminismo melhorou a vidajogar among usmulheresjogar among ustodas as etnias.

Em artigo sobre o tema, a filósofa e professora brasileira Halina Leal (Universidade Regionaljogar among usBlumenau) explica que grande parte das feministas negras apontam que tanto o movimento feminista quanto o movimento negro "falharam e ainda falham ao negligenciar as peculiaridades das necessidades das mulheres negras".

Como no momentojogar among usque somente os homens negros obtiveram direito ao voto nos Estados Unidos ou quando feministas brancas trataram apenas as necessidadesjogar among usmulheres brancasjogar among usclasse média e alta fosse comuns a mulheresjogar among ustodas as raças, etnias e classes sociais.

Manifestante com cartaz escrito Sou Mãe e defendo o aborto legal e seguro

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Direito é uma das principais questões que dividem as mulheres

"Quando falamos do mito da fragilidade feminina, que justificou historicamente a proteção paternalista dos homens sobre as mulheres,jogar among usque mulheres estamos falando? Nós, mulheres negras, fazemos partejogar among usum contingentejogar among usmulheres, provavelmente majoritário, que nunca reconheceramjogar among ussi mesmas esse mito, porque nunca fomos tratadas como frágeis. Fazemos partejogar among usum contingentejogar among usmulheres que trabalharam durante séculos como escravas nas lavouras ou nas ruas, como vendedoras, quituteiras, prostitutas", afirma a escritora e filósofa Sueli Carneiro no artigo "Enegrecer o Feminismo: A Situação da Mulher Negra na América Latina a partirjogar among usuma perspectivajogar among usgênero".

Essa diferença já havia sido levantada um século antes, mais especificamente no discurso "Eu não sou mulher?" proferidojogar among us1851 por Sojourner Truth, abolicionista americana, ex-escravizada e ativista dos direitos das mulheres negras.

"Aquele homem ali diz que é preciso ajudar as mulheres a subir numa carruagem, é preciso carregá-las quando atravessam um lamaçal, e elas devem ocupar sempre os melhores lugares. Nunca ninguém me ajuda a subir numa carruagem, a passar por cima da lama ou me cede o melhor lugar! E não sou eu uma mulher? Olhem para mim! Olhem para meu braço! Eu capinei, eu plantei, juntei palha nos celeiros, e homem nenhum conseguiu me superar! E não sou eu uma mulher? Consegui trabalhar e comer tanto quanto um homem — quando tinha o que comer — e aguentei as chicotadas! Não sou eu uma mulher?", afirmou Truth.

"Ser negra e mulher no Brasil, repetimos, é ser objetojogar among ustripla discriminação, uma vez que os estereótipos gerados pelo racismo e pelo sexismo a colocam no mais baixo níveljogar among usopressão", diz a filósofa, professora e ativista brasileira Lélia Gonzalez.

Ou seja, "as experiências das mulheres negras não se inserem nem no ser mulher nem no ser negro", resume Leal.

Por isso, Carneiro explica que enegrecer o movimento feminista brasileira significa, entre diversos outros pontos, tratarjogar among usviolência racial contra mulheres negras, formular políticas públicas também para doenças que atingem mais a população negra e contestar "mecanismosjogar among usseleção no mercadojogar among ustrabalho como a 'boa aparência', que mantém as desigualdades e os privilégios entre as mulheres brancas e negras".

Mulheres no centro das eleições no Brasil

Em 2002, as mulheres passaram a ser maioria no eleitorado do Brasil, e hoje, duas décadas depois, representam 53% do total — são 78 milhõesjogar among useleitoras, ante 69,5 milhõesjogar among useleitores. Mas ainda estão longe da representação equivalente no Congresso. Elas somam 15% das cadeiras, metade da média latino-americana.

Em 2018, houve uma transformação nesse campo: foi a primeira eleição presidencial desde a redemocratizaçãojogar among usque houve uma diferença entre o voto masculino e o feminino para um candidato competitivo à Presidência: Jair Bolsonaro (então-PSL, hoje PL).

manifestantes contra bolsonaro no protesto conhecido como Ele Não

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Manifestação contra Bolsonaro batizadajogar among usEle Não

De 1989 a 2014, homens e mulheres sempre votaramjogar among usforma equivalente nos principais candidatos presidenciais, mesmo nas eleições com candidatas com chancejogar among usvitória ou eleitas, como Marina Silva (Rede) e Dilma Rousseff (PT).

Só que na última eleição surgiu uma disparidadejogar among usgênero. Segundo análise do cientista político e especialistajogar among useleições Jairo Nicolau,jogar among usseu livro O Brasil Dobrou à Direita, 64 homens a cada 100 votaramjogar among usBolsonaro. Já apenas 53jogar among uscada 100 mulheres fizeram o mesmo.

Para a pesquisadora Cecilia Machado, da FGV,jogar among usartigo sobre o tema, a principal hipótese é que esquerda e direita no Brasil não tinham "posições marcadamente antagônicas com relação ao papel das mulheres na sociedade", como ocorre nos EUA desde os anos 1980, quando o Partido Republicano passou a adotar uma postura antiaborto, por exemplo.

Masjogar among us2018, Bolsonaro "iniciou no país uma discussão francamente aberta sobre como ele vê o papel da mulher na sociedade", afirma Machado, e se tornou assim o "grande responsável pela disparidadejogar among usgênero nas intençõesjogar among usvoto que surgiu no Brasil".

Nicolau aponta outras hipóteses para o apoio desproporcional entre homens e mulheres, entre eles o histórico políticojogar among usBolsonaro (ligado às demandasjogar among usmilitares, uma categoria majoritariamente masculina) e as bandeiras defendidas por ele (como armamento da população) que têm mais acolhida entre o eleitorado masculino.

O presidente refutou os dados que apontam uma maior rejeição feminina ajogar among uscandidatura. "Segundo pesquisa, as mulheres não votamjogar among usmim, a maioria vota na esquerda. Agora, não sei, pesquisa a gente não acredita, se há reação por parte das mulheres, faz uma visitinhajogar among usPacaraima, Boa Vista, nos abrigos, e vê como é que estão as mulheres fugindo do paraíso socialista defendido pelo PT", disse Bolsonaro,jogar among usreferência a imigrantes oriundos da Venezuela.

A eleiçãojogar among us2018 teve outro fato inédito ligado às mulheres: foi a primeira disputajogar among usque pessoas saíramjogar among usmassa às ruas não para apoiar um candidato presidencial preferido, mas para protestar contra outra. No caso, o movimento #EleNão impulsionado por mulheresjogar among usesquerdajogar among usredes sociais que resultoujogar among usdezenasjogar among usmanifestações ao redor do país contrárias a Bolsonaro.

Mas logo após os protestos o candidato cresceu nas pesquisas eleitorais. Nicolau explica que os dados disponíveis não permitem saber com certeza o impacto positivo ou negativo no resultado eleitoral desses protestos, mas o pesquisador estima que "os efeitos devem ter sido mais para reforçar a identidade e os valores dos eleitores que já haviam feito suas escolhas (contra ou a favorjogar among usBolsonaro) do que para influenciar maciçamente a definição eleitoral fora do círculojogar among uspessoas mais ativas na política".

Nicolau lembra como as pesquisasjogar among usintençãojogar among usvoto indicavam ao longo da campanhajogar among us2018 um apoio reduzido a Bolsonaro no eleitorado feminino, mas essa situação perdeu força a poucos dias da votação. Ele aponta algumas hipóteses. Uma delas é que historicamente o volumejogar among usindecisos é bem maior no eleitorado feminino nos dias que antecedem o pleito. "Outro fator a ser considerado é o efeito da mobilização pró-Bolsonarojogar among usalgumas lideranças evangélicas, segmento religioso majoritariamente composto por mulheres."

Um estudo liderado pela antropóloga e professora brasileira Isabela Kalil (Fespsp) afirma que as análises sobre a subida eleitoraljogar among usBolsonaro depois dos protestos do "Ele Não" devem levarjogar among usconta tanto "traços fortesjogar among usantifeminismo no eleitorado feminino" quanto fatores como "mudanças nas estratégiasjogar among uscampanha do candidato, a declaraçãojogar among usintençãojogar among usvotojogar among uslíderes religiosos, açõesjogar among uspropaganda por partejogar among usseus apoiadores ejogar among usalta hospitalar (depois do atentado)".

Segundo esse estudo, Bolsonaro conseguiu atrair diferentes gruposjogar among useleitoras, entre elas aquelas que enxergavam a educação como um grande campojogar among usbatalha contra "doutrinações" da esquerda e aquelas que se veem como mulheres bem-sucedidas que atingiram seus objetivos por méritos próprios, sem precisarjogar among usajudajogar among usfeministas e sem abrir mão da feminilidade.

Manifestante pró-Bolsonaro no movimento Ele Sim

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Movimento Ele Não deu origem a reaçõesjogar among usmulheres que votavamjogar among usBolsonaro

Uma das principais críticas feitas ao feminismo éjogar among usque partejogar among ussuas lutas atuais não atendem às demandas das "mulheres comuns".

Muitas pensadoras feministas, no entanto, argumentam que o feminismo pretende justamente que todas as mulheres tenham a liberdade e a oportunidadejogar among usfazer suas escolhas sobre suas vidas, seja trabalhar dentrojogar among uscasa ou fora dela, por exemplo.

O neologismo empoderamento, inclusive, é usado como símbolo dessa meta,jogar among usempoderar,jogar among usgarantir a possibilidadejogar among usescolha.

Segundo a economista e professorajogar among usorigem indiana Naila Kabeer (London School of Economics), ele é "o processo através do qual aqueles/as a quem era negada a capacidadejogar among usfazer escolhas estratégicas parajogar among usvida adquirem tal capacidade", explica a antropóloga e professora brasileira Cecília Sardenberg (UFBA)jogar among usartigo com um panorama do conceito.

Nesse sentido, poder é a capacidadejogar among usfazer escolhas (ejogar among uster alternativas).

E isso passa, segundo a ativista e escritora indiana Srilatha Batliwala, também citada por Sardenberg, por construirjogar among usprópria autonomia ao se ter controle sobre recursos materiais, intelectuais e ideológicos. "Recursos, que têm estado,jogar among usgrande parte, sob o controle masculino." Ainda que seja um percurso individual, Sardenberg ressalta que essas mudanças "não acontecem sem ações coletivas" e conscientização.

*Com informações adicionaisjogar among usRafael Barifouse, da BBC News Brasiljogar among usSão Paulo

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