Como jovem com famílias branca e negra e um festivalaposta vermelho ou pretomúsica atiçaram guerra por direitos trans:aposta vermelho ou preto

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Rebecca Walker, fotografada ao lado dos pais, iria puxar a terceira onda do feminismo
aposta vermelho ou preto Uma garotinha criadaaposta vermelho ou pretoforma não convencional na décadaaposta vermelho ou preto1970, nos Estados Unidos, mudariaaposta vermelho ou pretomaneira profunda a face do feminismo dos anos 1990aposta vermelho ou pretodiante — e desempenhando um papel importante na luta pelos direitos das mulheres trans.
Estamos falando da escritora Rebecca Walker, que declarou a chamada terceira onda do feminismo — que viria a desafiar visões discriminatórias dentro do movimentoaposta vermelho ou pretorelação às mulheres trans.
Uma guerra cultural que ainda reverbera com força — e travou umaaposta vermelho ou pretosuas batalhas mais emblemáticas nos anos 1990 durante o Michfest, um festival só para mulheres no Estado americanoaposta vermelho ou pretoMichigan, que expulsou uma frequentadora trans.
Esta história é contada no quarto episódio do podcast As Estranhas Origens das Guerras Culturais, da BBC News Brasil. Trata-seaposta vermelho ou pretouma adaptaçãoaposta vermelho ou pretoportuguês da sérieaposta vermelho ou pretoinglês Things Fell Apart, da Rádio 4, da BBC, escrita e apresentada pelo autor e jornalista anglo-americano Jon Ronson.
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Finalaposta vermelho ou pretoYouTube post, 1
No quarto episódio (chamado Muitas Vidas Diferentes), Ronson entrevista Rebecca Walker e outras personagens envolvidas nesta guerra cultural, como Nancy Burkholder, a mulher trans que foi expulsa do MichFest sob o argumentoaposta vermelho ou pretoque o festival era só para "mulheres nascidas mulheres".
A infância divididaaposta vermelho ou pretoRebecca
Filhaaposta vermelho ou pretoum casal inter-racial, a escritora Rebecca Walker nasceuaposta vermelho ou preto1969aposta vermelho ou pretoum hospital não-segregadoaposta vermelho ou pretoJackson, no Estado americano do Mississippi — um lugaraposta vermelho ou pretoque bebês mestiços eram pouco comuns.
"Quando as enfermeiras entraram com minha certidãoaposta vermelho ou pretonascimento, na margem pertoaposta vermelho ou preto(onde estava escrito) "raça da mãe: negra, raça do pai: branca" havia um pontoaposta vermelho ou pretointerrogação e uma pergunta: 'Tá certo isso?'", diz Rebeccaaposta vermelho ou pretoentrevista ao podcast As Estranhas Origens das Guerras Culturais.

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'A gente definitivamente lutou por direitos trans', diz Rebecca, hoje com 52 anos
Filha da autora Alice Walker, que mais tarde escreveria A Cor Púrpura, e do advogado judeu Melvyn Leventhal, ela conta que os pais eram ativistas na luta pelos direitos civis americanos.
"Com a minha criação, eles queriam estabelecer um modeloaposta vermelho ou pretoque a humanidadeaposta vermelho ou pretocada ser humano — e nãoaposta vermelho ou pretoraça — estivesse no centro da questão."
Eles queriam ser exemplos vivosaposta vermelho ou pretouma família inter-racial bem-sucedidaaposta vermelho ou pretoum estado racista do sul americano. E Rebecca, poraposta vermelho ou pretoprópria existência, iria personificar esses ideais.
Mas, quando ela tinha sete anos, eles se divorciaram.
"Meu mundo realmente se despedaçou. Eles criaram esse acordoaposta vermelho ou pretoguarda maluco. Ela se mudou para San Francisco, ele se mudou para a capital, Washington."
E a pequena Rebecca passou a se revezar, a cada dois anos, entre a casaaposta vermelho ou pretosua família branca eaposta vermelho ou pretofamília negra.
"Comecei a ter uma existência muito dividida. Os dois acabaram voltando para suas respectivas culturas. Meu pai se casou com uma boa moça judia do acampamentoaposta vermelho ou pretoverão, e minha mãe arrumou como companheiro um intelectual afro-americano que foi colegaaposta vermelho ou pretofaculdade dela. Foi muito difícil."
Ao oito anos, ela lembra da discriminação que sofreu ao fazer um teste para um papel na peça Mágicoaposta vermelho ou pretoOz, enquanto estudavaaposta vermelho ou pretouma escola predominantemente branca.
"Acabei pegando o papel da Bruxa Má do Oeste. Nunca me consideraram para o papelaposta vermelho ou pretoDorothy porque eu não era branca. Como uma menina negra, eu já era vistaaposta vermelho ou pretoum contexto negativo", afirma.

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Betty Friedan lançou a segunda onda do feminismoaposta vermelho ou preto1963 com o livro 'A Mística Feminina', que combatia ideiaaposta vermelho ou pretoque as mulheres deveriam apenas cuidaraposta vermelho ou pretosuas casas, filhos e maridos
Por outro lado, enquanto estava comaposta vermelho ou pretofamília negra, também não se sentia totalmente incluída. Ela recordaaposta vermelho ou pretoser chamada pelos primosaposta vermelho ou pretocracker (forma depreciativaaposta vermelho ou pretose referir a uma pessoa branca).
"Eles eram bem mais tolerantesaposta vermelho ou pretogeral, mas com certeza houve momentosaposta vermelho ou pretoque meus parentes negros reparavam na minha branquitude."
Como Rebecca escreveuaposta vermelho ou pretoseu livro Black, White and Jewish ("Negra, Branca e Judia",aposta vermelho ou pretotradução livre), ela iaaposta vermelho ou pretoum mundo a outro, como se fossem planetas diferentes.
A divisão no movimento feminista
Em poucos anos, esta experiência única iria inspirá-la a fazer algo extraordinário dentro do movimento feminista. Mas a criação pouco convencional não foiaposta vermelho ou pretoúnica fonteaposta vermelho ou pretoinspiração. Ela também era afilhada da líder feminista Gloria Steinem, cofundadora da revista Ms..
"Fui criada nos escritórios da revista Ms., a revista para mulheres que era tão radical e revolucionária e intrínseca ao movimento das mulheres", revela.
A revista tinha surgido com a segunda onda do feminismo — que havia começadoaposta vermelho ou preto1963 com o livro A Mística Feminina,aposta vermelho ou pretoBetty Friedan, que combatia a ideiaaposta vermelho ou pretoque as mulheres deveriam apenas cuidaraposta vermelho ou pretosuas casas, filhos e maridos.

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A segunda onda feminista foi marcada por protestos e conquistas, como o direito ao abortoaposta vermelho ou pretotodos os estados americanos (recentemente revogado)
Ao colocar o desconforto das mulheresaposta vermelho ou pretopalavras, Friedan começou uma revolução. Suas leitoras recém-galvanizadas começaram a protestar, pedindo mudanças e demandando direitos iguais.
A segunda onda do feminismo foi poderosa. Houve protestos contra concursosaposta vermelho ou pretobeleza e contra a revista Playboy, alémaposta vermelho ou pretomanifestações contra violência doméstica. E foram obtidas algumas importantes vitórias, como a decisão do caso Roe x Wade na Suprema Corteaposta vermelho ou preto1973, que concedeu às mulheres o direito ao abortoaposta vermelho ou pretotodos os estados americanos — e que recentemente foi revogada.
Mas, na épocaaposta vermelho ou pretoque Rebecca frequentava a redação da revista Ms., no fim dos anos 1980, o feminismo passava por uma fase complicada.
"Eu tinha sido criadaaposta vermelho ou pretouma comunidade muito feminista,,aposta vermelho ou pretouma maneira diferenteaposta vermelho ou pretomuitas das minhas colegas da época. E elas tinham muita resistência ao feminismo, ninguém queria ser chamadaaposta vermelho ou pretofeminista", diz ela.
"A propaganda contra o feminismo na época era incrivelmente forte. As feministas eram todas vistas como odiadorasaposta vermelho ou pretohomens, lésbicas, mulheres que não depilavam as pernas."
Na verdade, quando Rebecca estava no final da adolescência, algumas mulheres tinham começado a se chamar pós-feministas.
E como se não bastasse, também havia grandes cisões dentro do movimento — com a percepçãoaposta vermelho ou pretoque estava sob o domínioaposta vermelho ou pretomulheres brancas heterossexuais e ricas.
"Mulheres não-brancas se sentiam excluídas do movimento feminista. E havia muita polêmicaaposta vermelho ou pretotorno da inclusão das lésbicas, se elas poderiam desestabilizar a causa", explica a escritora.
'Eu sou a terceira onda'
Mas Rebecca via as coisasaposta vermelho ou pretooutra maneira. Tendo crescido com a experiênciaaposta vermelho ou pretodois mundos completamente diferentes, ela achava que o movimento podia ser algo bem mais abrangente, mais ciente dos diferentes tiposaposta vermelho ou pretoinjustiça.

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Em 1992, aos 21 anos, Rebecca deu início a uma nova onda feminista
Da maneira como ela via, uma mulher heterossexual poderia ser vítimaaposta vermelho ou pretomisoginia, enquanto uma mulher lésbica poderia ser vítimaaposta vermelho ou pretomisoginia e homofobia. E o movimento deveria lidar com os dois tiposaposta vermelho ou pretopreconceito, porque as dificuldades impostas aos grupos se cruzavam — ou melhor, se interseccionavam.
Na época, Kimberlé Crenshaw, professoraaposta vermelho ou pretodireito na Universidade da Califórniaaposta vermelho ou pretoLos Angeles, estava cunhando um termo que consolidou esta ideia. O feminismo, conforme as duas concordavam, deveria ser "interseccional".
"Meu projeto se tornou como podemos permitir a essa geração redefinir o que é o movimento? Porque estamos perdendo uma geração", conta Rebecca.
"Escrevi então um artigo na revista Ms. bastante emocionado. A última linha diz que não sou uma feminista pós-feminista. Eu sou a terceira onda. Sou a nova versão das guerreiras do movimento."
Foi assim que,aposta vermelho ou preto1992, aos 21 anos, Rebecca deu início a uma nova onda feminista — a terceira onda.
"Aquele artigo começou o movimento. As pessoas escreveram centenasaposta vermelho ou pretocartas. Eram cartasaposta vermelho ou pretomulheres e homens jovensaposta vermelho ou pretotodo o país que diziam: Sim, nós somos a terceira onda também", relembra.
A agitação começou logo depoisaposta vermelho ou pretoRebecca publicar seu artigo. Pessoas que pensavam como ela agora tinham um guarda-chuva para ficar debaixo, para repensar princípios até então sacrossantos da segunda onda. A maneira como as mulheres deveriam encarar a pornografia, por exemplo.
"Havia um sentimento no meu grupoaposta vermelho ou pretoque a sexualidade livre tinha sido castrada pela segunda onda, então havia uma espécieaposta vermelho ou pretoclamor por mais liberdade e prazer dentro da terceira onda", explica.
A inclusãoaposta vermelho ou pretomulheres trans
E da filósofa americana Judith Butler, um dos principais expoentes da terceira onda feminista, veio um clamor para repensar as categoriasaposta vermelho ou pretogênero como um todo.
"A gente definitivamente lutou por direitos trans. Havia muito mais julgamento contra mulheres trans na segunda onda. A gente era muito favorável a pessoas trans", diz Rebecca.

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Judith Butler é uma das principais referênciasaposta vermelho ou pretoestudosaposta vermelho ou pretogênero
A partir da ideiaaposta vermelho ou pretoSimone De Beauvoiraposta vermelho ou pretoque "não se nasce mulher, torna-se mulher", Butler argumentou que a identidadeaposta vermelho ou pretogênero não está vinculada às características físicas biológicas, mas surge a partir das normas sociais.
Na visão dela, as pessoas poderiam se libertar dessas normas — tendo liberdadeaposta vermelho ou pretoexpressãoaposta vermelho ou pretogênero.
E, por consequência, o feminismo interseccional significava abrir a categoria "mulher" para muito mais gente.
MichFest, um festival só para mulheres...
Numa noiteaposta vermelho ou pretoverãoaposta vermelho ou preto1991, na zona ruralaposta vermelho ou pretoMichigan,aposta vermelho ou pretoideia estava prestes a ser testada.
Todos ano, havia um eventoaposta vermelho ou pretoque, apesar das tensões geracionais do movimento feminista, todo mundo tendia a se dar bem: o MichFest — o Festival da Mulheraposta vermelho ou pretoMichigan.
Ao longoaposta vermelho ou pretouma semana, milharesaposta vermelho ou pretomulheresaposta vermelho ou pretotodas as procedências acampavamaposta vermelho ou pretouma área cercada por florestas, faziam as refeições juntas, participavamaposta vermelho ou pretooficinas e ouviam bandas formadas só por mulheres tocar.
O Michfest era uma sociedade multigeracional e multicultural — um acampamento construído por mulheres, para mulheres.
Rebecca eaposta vermelho ou pretomãe Alice participavam, assim como Bonnie Morris, historiadora especializadaaposta vermelho ou pretoestudos sobre as mulheres.
"Foi um dos primeiros lugares onde as mulheres se sentiram seguras para tirar suas blusas. Então você chegava nesse lindo ambiente rural com os morros cobertosaposta vermelho ou pretoamazonas sem camisa — mulheresaposta vermelho ou pretotodas as cores, formas, idades e tamanhos. Eu rapidamente tirei minha própria blusa. Corri pelos morros, descalça, me sentindo forte", conta Bonnieaposta vermelho ou pretoentrevista ao podcast As Estranhas Origens das Guerras Culturais.
"Havia mulheres que só queriam curtir, flertar — e outras ocupadas fazendo planos para derrubar o patriarcado e implementar o poder das mulheres. Havia uma gamaaposta vermelho ou pretooficinas,aposta vermelho ou pretocomo combater o racismo a como lidar com o abusoaposta vermelho ou pretomulheres."
"E estávamos todas cobertasaposta vermelho ou pretolama, alegremente dançando na chuva. E toda noite havia estrelas cadentes e beleza. Então, havia uma sensaçãoaposta vermelho ou pretosegurança", diz ela.
... mas só 'mulheres que nasceram mulheres'
Entre as participantes do festival, também estava a americana Nancy Burkholder, uma mulher trans.
Ela conta que se descobriu como trans quando tinha 28 anos — quando não conseguia mais suprimir a vontadeaposta vermelho ou pretoser mulher.
"Pela primeira vez na minha vida, fui fazer terapia. E minhas primeiras palavras para ela foram: Eu quero ser uma garota. Simplesmente saiu. Àquela altura, eu apenas disse: Já chega, não vou viver o resto da minha vida desse jeito", conta Nancyaposta vermelho ou pretoentrevista ao podcast As Estranhas Origens das Guerras Culturais.
Dois anos depois,aposta vermelho ou preto1983, ela fez uma cirurgiaaposta vermelho ou pretoredesignaçãoaposta vermelho ou pretogênero. E, sete anos depois, viajou 30 horas acompanhada da amiga Laura para se juntar a milharesaposta vermelho ou pretomulheres no MichFest.
"A gente se divertiu muito", diz Nancy.
"A gente se sentia totalmente segura... você estava cercadaaposta vermelho ou pretomulheres eaposta vermelho ou pretoenergiaaposta vermelho ou pretomulheres. Toda a psique do lugar fazia a gente se sentir muito confortável — sentada pertoaposta vermelho ou pretoalguém, não importando se você está nua ou sem blusa ou o que for, é parteaposta vermelho ou pretoestar ali. As conversas… tudo parecia apenas como estar fazendo parteaposta vermelho ou pretoum grupoaposta vermelho ou pretopessoas com quem você tem muitoaposta vermelho ou pretocomum."
Elas se divertiram tanto que voltaram no ano seguinte.
Mas desta vez, logo na primeira noite, algo inesperado aconteceu. Nancy foi abordada por duas mulheres — e compartilhou no podcast o diálogo que se deu na sequência:
"A primeira coisa que essas pessoas disseram para mim foi: 'Você sabe que o festivalaposta vermelho ou pretomulheresaposta vermelho ou pretoMichigan é só para mulheres'. E eu digo: Sim. E daí ela me pergunta: 'Você é uma mulher?' Eu digo: Sim. E ela me pergunta se eu sou transexual. E eu digo: Bom, meu histórico médico não é daaposta vermelho ou pretoconta, eu tenho uma carteiraaposta vermelho ou pretomotorista, eu tenho certidãoaposta vermelho ou pretonascimento. Sou legalmente mulher como qualquer outra mulher."
"Mas então ela disse: 'Bom, Michigan é só para mulheres que nasceram mulheres e você tem que ir embora.. Você tem que sair, tem que sair agora'."
Passava da meia-noite quando Nancy foi expulsa do festival.
"Comecei a sentir tipo uma devastação dentroaposta vermelho ou pretomim, tipo 'não consigo acreditar no que está acontecendo'."
"A Laura voltou, pegamos o carro e fomos embora por voltaaposta vermelho ou pretouma e meia da manhã, eles tinham pago para ficarmosaposta vermelho ou pretoum quartoaposta vermelho ou pretomotel a maisaposta vermelho ou preto15 quilômetrosaposta vermelho ou pretodistância. Na manhã seguinte, reservei duas passagens para voaraposta vermelho ou pretovolta pra New Hampshire", relembra.
Na volta, Nancy publicou um artigoaposta vermelho ou pretoopinião no Bay Windows, um jornal LGBTaposta vermelho ou pretoBoston. E,aposta vermelho ou pretoacordo com seu relato, não havia nada nos materiais impressos do festival que indicassem que mulheres trans não eram bem-vindas.

Crédito, Davina Anne Gabriel e Skyclad Publishing Co/Digita
Capa do jornal TransSisters, que mostra fotografia do Camp Trans
Quando ela disse para a mulher que a expulsava "que havia outras trans no festival", ela reconheceu que era verdade. E acrescentou: "A gente não pegou elas ainda. Mas a gente pegou você".
"Quem tem o ouro faz as regras, e acho que no ano seguinte colocaram algo sobre 'mulheres nascidas mulheres' no material do festival. E todas sabíamos que esse era um código para dizer que pessoas trans não eram bem-vindas", diz Nancy.
Os organizadores do MichFest afirmaram que, embora o festival fosse para mulheres nascidas mulheres, eles não tinham o hábitoaposta vermelho ou pretoficar perguntando qual era o gênero das pessoas — e que Nancy foi a única mulher trans expulsa da propriedade na história do festival.
Um ano depois,aposta vermelho ou preto1992, uma amigaaposta vermelho ou pretoNancy foi ao MichFest e fez uma pesquisa informal. Segundo ela, 75% das mulheres com quem tinha conversado disseram que teriam ficado felizes com a presençaaposta vermelho ou pretoNancy.
Camp trans, um acampamentoaposta vermelho ou pretoprotesto
Então, no ano seguinte, Nancy voltou. Desta vez, para o terreno do outro lado da estrada, onde ela e algumas amigas trans e da terceira onda feminista montaram um acampamento.
"Havia talvez 10 ou 15 pessoas ali reunidas. A gente tinha uma mesa com publicações, tínhamos cartazes e convidamos as pessoasaposta vermelho ou pretoMichigan para se juntarem a nós. Voltamos no ano seguinte e fizemos a mesma coisa outra vez."
Elas chamaram o eventoaposta vermelho ou pretoCamp Trans — e centenasaposta vermelho ou pretomulheres saíam do Michfest para levar comida, água e flores para elas.
"Lembroaposta vermelho ou pretomulheres saindo e dizendo 'obrigado por fazer isso, você me ajudou a enxergar um outro pontoaposta vermelho ou pretovista', havia muito valor nisso."
Talvez a maior conquista do Camp Trans tenha sidoaposta vermelho ou preto1995, quando, com a benção do MichFest, elas entraram na propriedade acompanhadas por algumas amigas lésbicas.
O encontro que aconteceu na sequência se tornou lendário nos círculos trans, conforme documentado no curta-metragem Camp Trans,aposta vermelho ou pretoRhys Ernst.
Mas Nancy não estava entre elas naquela noite. Ela havia deixado o Camp Trans um ano antes. Em parte, por causa das divergências que vinham fermentando ali.
"Dentro do nosso próprio grupo, havia pessoas que estavam dizendo que deveríamos estar fazendo campanha para transexuais que não haviam feito a cirurgia (de redesignaçãoaposta vermelho ou pretogênero) estaremaposta vermelho ou pretoMichigan."
O argumento era que mulheres trans como Nancy eram privilegiadas — ela tinha como pagar a cirurgia. Mas e as mulheres trans que não tinham condições? Elas não deveriam ser autorizadas a entrar no MichFest?
"E eu não estava confortável com isso. Sóaposta vermelho ou pretoapareceraposta vermelho ou pretoum espaço para mulheres com sensibilidade aguçada com um pênis seria incrivelmente perturbador para as pessoas. A visãoaposta vermelho ou pretoum pênis pode ser muito desconcertante, para mim é, eu tive um por muitos anos. Então, havia um pontoaposta vermelho ou pretodivisão dentro do nosso próprio grupo. E, àquela altura, foi o último envolvimento que tivemos", explica Nancy.
Ou seja, tanto entre as ativistas do Camp Trans, como entre as frequentadoras do MichFest, havia divergências e diálogo. E talvez uma base para construção.
A origem não-ofensiva da expressão 'TERF'
Mas todas essas nuances não são claras. É só perguntar para a blogueira feminista Viv Smythe.
"Em 2008, o MichFest entrouaposta vermelho ou pretocontato comigo para pedir ajuda na promoção do festival. E eu fiz isso. Depois disso, passei a receber vários emails furiosos com o fatoaposta vermelho ou pretoque o MichFest não permitia que mulheres trans frequentassem o festival porque era para mulheres que nasceram mulheres. Então foi meio constrangedor. E eu aprendi muito falando com várias pessoas, incluindo algumas que eram apoiadoras do MichFest. E elas não aceitavam serem chamadasaposta vermelho ou pretotransfóbicas", conta Vivaposta vermelho ou pretoentrevista ao podcast As Estranhas Origens das Guerras Culturais.
Ela precisava achar então um termo para descrever no blog as mulheres do MichFest que queriam excluir as mulheres trans. E decidiu fazer uma consulta privada com cercaaposta vermelho ou pretouma dúziaaposta vermelho ou pretomulheres — algumas feministas interseccionais, outras feministas radicais e algumas poucas mulheres trans.
"Foi então que chegamos à expressão 'feminista radical transexcludente', que depois foi abreviada para a siglaaposta vermelho ou pretoinglês TERF."

Crédito, Belinda Jiao/SOPA Images/LightRocket via Getty Ima
O termo TERF, feminista radical transexcludente, passou a ser usado como formaaposta vermelho ou pretoataque na guerra cultural
A intenção, segundo ela, estava longeaposta vermelho ou pretoser um insulto.
"Acho que a primeira vezaposta vermelho ou pretoque me toquei que o termo vinha sendo usado como formaaposta vermelho ou pretoagressão ou insulto foi quando vi cenasaposta vermelho ou pretoum vídeo, acho que feitoaposta vermelho ou pretoLondres...aposta vermelho ou pretoprotestos pró e contra direitos trans."
O conflito era sobre como as pessoas trans deveriam ser reconhecidas por lei no Reino Unido. Atualmente, você precisa ter maisaposta vermelho ou preto18 anos e provar a médicos que viveuaposta vermelho ou pretoseu gêneroaposta vermelho ou pretopreferência por dois anos. Se eles concordaremaposta vermelho ou pretote diagnosticar como tendo disforiaaposta vermelho ou pretogênero, entãoaposta vermelho ou pretocertidãoaposta vermelho ou pretonascimento pode ser alterada.
Mas ativistas trans queriam que estes obstáculos fossem eliminados — e que as pessoas pudessem simplesmente autodeterminaraposta vermelho ou pretoidentidadeaposta vermelho ou pretogênero.
"Acabou havendo um conflito. E houve violência. E foi tudo realmente bastante acalorado."
"Isso não era o que nenhumaaposta vermelho ou pretonós, que estávamos tentando ter um diálogo razoavelmente respeitosoaposta vermelho ou preto2008, queria que acontecesse com essa palavra", esclarece Viv.
O MichFest encerrou suas atividadesaposta vermelho ou preto2015. Por um lado, por motivos financeiros e, por outro, devido ao barulho e aos boicotes, segundo Bonnie, historiadora e devota do festival.
"A essa altura, Michigan tinha se tornado um símboloaposta vermelho ou pretoexclusão, e não uma inovação maravilhosa e radicalaposta vermelho ou pretomulheres que não tinham outras alternativas", afirma.
Nos últimos anos, algumas pessoas vêm dizendo que a terceira onda do feminismo está se transformando na quarta onda, influenciada sobretudo pelo ativismo das redes sociais.
Ronson pergunta a Rebecca no podcast se ela tem algum conselho para dar à próxima geraçãoaposta vermelho ou pretoguerreiras do movimento.
"Todo movimento social é fundamentalmente um experimento. E eu acho que todos os experimentos precisam ser rigorosamente avaliados. Se eles estiverem criando o resultado que tinham intençãoaposta vermelho ou pretocriar, então podemos seguiraposta vermelho ou pretofrente com rapidez."
Neste exato momento,aposta vermelho ou pretomeio à toda a polêmicaaposta vermelho ou pretotorno dos direitos trans, pode parecer que o tom do debate está sendo dado por algumas poucas pessoasaposta vermelho ou pretocada lado, trazendo à tona as piores maneiras (e mais nocivas)aposta vermelho ou pretodifamar seus oponentes.
No início dos anos 1990, Nancy apoiava totalmente o ativismo e a construçãoaposta vermelho ou pretopontes no Camp Trans. Mas ela diz que não tem mais estômago para lidar com todas as posições inflexíveis que fazem com que ela se afaste — e decidiu ficar totalmente fora desta guerra.
"Comecei a simplesmente viver minha vida. Aqueles dois grupos, trans e feministas, eles que briguem o quanto quiserem. Eu vou ficar sentada na arquibancada, comendo pipoca."

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