A volta do nazismo? Por que livroblaze jetxHitler virou best-seller após 70 anosblaze jetxproibição:blaze jetx

  • Thomas Weber
  • Universidadeblaze jetxAberdeen
"Edição crítica" do Mein Kampf

Crédito, Getty Images

Legenda da foto,

Mesmo chamadablaze jetx'tediosa', nova ediçãoblaze jetx'Mein Kampf' ('Minha Luta') está na lista dos mais vendidos da Alemanha há meses

blaze jetx Pouco antesblaze jetxo livroblaze jetxAdolf Hitler entrarblaze jetxdomínio público, no ano passado, a Alemanha se deparou com o dilema sobre como lidar com os escritos do homem que está no centro do capítulo mais sombrio da história do país.

Nos 70 anos anteriores, o Ministério das Finanças do Estado da Baviera manteve o controle sobre os direitos autorais da obra - e, assim, impediu a republicação da notória obra antissemita Mein Kampf (Minha Luta) na Alemanha.

A Alemanha tinha como opçãoblaze jetxseguir o caminho mais liberal adotado nos EUA, no Reino Unido, Canadá e Israel, que deixam a sociedade civil lidar com o Mein Kampf. Outra opção era fazer como a Áustria e outros países no passado, proibindo o livroblaze jetxHitler.

Mas a Alemanha rejeitou ambas as opções e optou por uma abordagem altamente paternalista.

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O que é o Mein Kampf?

Historic copies of Adolf Hitler's "Mein Kampf"

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  • Publicado originalmenteblaze jetx1925 - oito anos antes da chegadablaze jetxHitler ao poder
  • Editado pelo vice-líderblaze jetxHitler, Rudolf Hess, o livro abordablaze jetxideologia política
  • Inclui os futuros planos dele para o país, como o Lebensraum, a necessidadeblaze jetxcolonizar territórios vizinhos para permitir que a Alemanha alcançasse seu potencialblaze jetxforma plena
  • O direito autoral sobre a obra, após a Segunda Guerra Mundial, foi dado ao Estado da Baviera, que se recusou a permitir a republicação do livro por temer seu poderblaze jetxincitar ódio
  • O livro caiublaze jetxdomínio público no fimblaze jetx2015 e a nova edição vendeu milharesblaze jetxcópias

O Estado da Baviera deu meio milhãoblaze jetxeuros para o Institutoblaze jetxHistória Contemporânea (IfZ, na siglablaze jetxalemão), com sedeblaze jetxMunique e parcialmente controlado pelo governo, para produzir uma edição crítica comentada do livroblaze jetxHitler.

Ao mesmo tempo, disse que processaria qualquer pessoa que publicasse edições não comentadas. Mas depois,blaze jetxuma reviravolta, o governo da Baviera deu a entender que havia retirado o apoio financeiro para a edição comentada, deixando o IfZ sozinho no centro da polêmica.

Estratégia fracassada

Enquanto a data limiteblaze jetxjaneiroblaze jetx2016 se aproximava, e, com ela, a publicação da nova versão do Mein Kampf, o institutoblaze jetxMunique e autoridades do governo começaram a manifestar preocupação com possíveis consequências do lançamento.

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O instituto disse, na época, que seria perigoso se o Mein Kampf se tornasse um best-seller na Alemanha.

Mas, ao mesmo tempo, ele garantia ao público que isso nunca aconteceria. O diretor do instituto, Andreas Wirsching, declarou que seria irresponsável liberar o Mein Kampf para publicação sem comentários, porque neste caso todo mundo poderia fazer o que quisesse com o livroblaze jetxHitler.

O IfZ produziu uma ediçãoblaze jetxpouco apelo comercial, pesando 5,4 kg, incluindo 3.700 notasblaze jetxrodapé e mais parecendo um tratado acadêmico.

Até especialistas consideraram a leitura é extremamente tediosa.

Por várias semanas foi quase impossível achá-lo nas livrarias, já que o instituto havia optado por fazer uma edição inicial com tiragem baixíssima. E mesmo as edições impressas demoraram - estranhamente - a chegar às lojas.

Mesmo assim, a abordagem paternalista defendida pelo institutoblaze jetxMunique e autoridades alemãs fracassou completamente na tentativablaze jetximpedir que o Mein Kampf se tornasse um best-seller.

Primeira posição

O máximo que conseguiram foi adiar o aparecimento do livroblaze jetxHitler na listablaze jetxmais vendidos da Alemanha.

O interesse do público parece na verdade ter aumentado,blaze jetxforma desnecessária, nesta tentativablaze jetxocultar o livro, que manteve vivablaze jetxaura do "obra proibida".

Pelo meioblaze jetxabril, o Mein Kampf havia chegado aos primeiros lugares da famosa listablaze jetxbest-sellers da Spiegel, onde ficou por várias semanas.

Até agora ele está lá, na 14ª posição, apesarblaze jetxmuitas livrarias não terem o livro à mostra e outras só venderem sob encomenda.

A abordagem pode ter falhado mas, pelo visto, a preocupação com as possíveis consequências do livroblaze jetxHitler também se mostraram infundadas.

Não há sinaisblaze jetxque as pessoas que compram o livro o estejam fazendo por outra razão senão curiosidade e interesse genuíno.

Também não há nenhuma razão para pensar que,blaze jetxum ano, mais ou menos, esta primeira empolgação com todo o caso tenha desaparecido, e o Mein Kampf seja mais popular na Alemanha do que na Inglaterra ou nos EUA.

Muitos devem se perguntar, como eu mesmo o fizblaze jetxum texto para o jornal alemão Die Welt, se não teria sido melhor seguir a abordagem liberal do mundo anglosaxônico,blaze jetxvez do tratamento paternalista que desconfia da sociedade civil.

Na verdade, alguém poderia até questionar se o sucessoblaze jetxMein Kampf - e o fato e ele levar os alemães a se engajar com seu passado - é tão ruim assim,blaze jetxum momentoblaze jetxque políticos do mundo todo são constantemente comparados a Hitler e que ressurge um populismo parecido com os dos anos 1920.

O medo expresso na Alemanha eblaze jetxoutros lugarres, claro, éblaze jetxque o livro possa dar início a uma nova ondablaze jetxantisemitismo e que permita o fortalecimento da direita radical.

Jornal Il Giornale na banca com livroblaze jetxHitler

Crédito, AP

Legenda da foto,

O jornal italiano Il Giornale foi criticado por distribuir cópias gratuitas do Mein Kampf na semana passada

A preocupação cresceu com o anúncio da editorablaze jetxextrema-direita alemã Schelmblaze jetxque publicaria uma versãoblaze jetxMein Kampf sem comentários. O Estado da Baviera pediu a promotores que processassem a editora.

O anúncio da Schelm deve ser visto como uma jogadablaze jetxmarketing, assim como a decisão, anunciada na semana passada, do jornal italiano Il Giornaleblaze jetxdistribuir cópias gratuitas do livroblaze jetxHitler.

Mas esses lances só se tornam possíveis porque o governo da Baviera decidiu impedir publicações do livro por 70 anos e é improvável que tenham um efeito duradouro.

Neonazistas e seus simpatizantes tinham acesso fácil ao livro pela internet por anos e, por isso, é improvável que sejam afetados pelo volta do Mein Kampf impresso.

Na verdade, não há correlação entre a forma com que os países lidaram com o livro no passado e a forçablaze jetxmovimentos extremistas nesses locais.

Pode-se argumentar que o perigo estáblaze jetxoutro lugar: que é o paternalismo da abordagem alemã na republicaçãoblaze jetxMein Kampf, mais do que o livroblaze jetxsi, que está fortalecendo o populismoblaze jetxdireita.

Como o intelectual alemão Nils Minkmar alertou na Der Spiegel, a arrogância cultural e a "soberbablaze jetxrelação a classes menos educadas" está levando à "alienação das classes baixas da sociedade liberal", e assim ao reaparecimento do populismoblaze jetxdireita no país que Hitler uma vez liderou.

Thomas Weber é professorblaze jetxHistória e Assuntos Internacionais na Universidadeblaze jetxAberdeen. Seu livro Wie Adolf Hitler zum Nazi Wurde (Como Hitler virou um nazista - Propyläen, 2016), será publicadoblaze jetxinglês pela Oxford University Press and Basic Books. @Thomas__Weber