'Os piores dias da minha vida': o drama dos que cruzam a selvajogo mahjongbuscajogo mahjongrefúgio:jogo mahjong

Mohamed
Legenda da foto, Mohamed trabalhava como médico no Iêmen antesjogo mahjongter que fugir da guerra | Foto: Camilo Estrada Isaza/BBC
Legenda do vídeo, O drama dos migrantes que atravessam a selva no Panamá

Ele caminhava rumo à América do Norte e foi surpreendido depoisjogo mahjongquatro dias vagando através do territóriojogo mahjongselva densa, considerado uma das regiões mais intransitáveis e perigosas do planeta.

Esgotado, rendeu-se. Foi conduzido até a base militarjogo mahjongMetetí, 250 km a leste da Cidade do Panamá.

Os iemenitas "encalhados" nessa região são só um sintomajogo mahjonguma condição crônica.

Nos últimos três anos, o Panamá recebeu da Colômbia ondasjogo mahjongmigrantesjogo mahjongpaíses tão diversos como Cuba, Haiti, Bangladesh ou Somália - todos decididos a se aventurar pela selva para chegar, muitos quilômetros depois, aos Estados Unidos.

O fim dos "pés secos"

Coordenadorjogo mahjongtemas migratórios do Senafront, Jorge Gobea parece ser jovem parajogo mahjongcondiçãojogo mahjongcomandante. É alto, tem o uniforme limpo e impecável como se acabassejogo mahjongsairjogo mahjongum desfile militar.

Atrás dele, embaixojogo mahjongum enorme toldo branco, estão 42 migrantes.

As autoridades panamenhas dão a esses hóspedes alimentação, alojamento e primeiros socorros, alémjogo mahjongregistrar seus dados pessoais. Batizaram o local, no estilo da burocracia latinoamericana,jogo mahjongEstação Temporáriajogo mahjongAuxílio Humanitário.

Ali, todos o conhecem como "Etah".

Segundo Gobea, a maioria dos 27 mil casos (quantidade recorde) recebidosjogo mahjong2016 foijogo mahjongcidadãos cubanos que queriam aproveitar as vantagens da políticajogo mahjong"Pés secos, pés molhados", que lhes possibilitava a residência legal se conseguissem chegar ao território americano.

Muitos especialistas concordam que as mudanças adotadas por Barack Obama nas relações com Cuba, no finaljogo mahjong2014, tiveram a ver com esse êxodo massivo.

"Muitos (migrantes) me disseram que suspeitavam que, com a nova atitude diplomáticajogo mahjongObama, que os privilégios que ganharam iriam acabar. E se apressaram a pegar a rotajogo mahjongDarién antes que fosse tarde", disse o diácono Víctor Berrío, presidente da filial panamenha da organização Cáritas, que atendeu os migrantes na capital.

Gobea diz que nos momentos mais críticos da crise, chegavam ali a pé, diariamente, entre 20 e 30 cubanos, alguns abandonados pelos coiotes que eles mesmos haviam contratado para que os ajudassem a atravessar a selva.

Iemenitasjogo mahjongMetetí, Panamá
Legenda da foto, Oito cidadãos iemenitas ficaram meses no abrigo do Senafront | Foto: Camilo Estrada Isaza/BBC

Agora não há mais cubanos, desde que Obama extinguiu a política "Pés secos, pés molhados" no fimjogo mahjong2016.

Mas há africanos e asiáticos. E expatriados iemenitas, fugindo da feroz guerra civil que destrói o país desde 2015, com maisjogo mahjong12 mil mortos, 1 milhãojogo mahjongdeslocados e uma sagajogo mahjongfome e cólera. Eles também caem nas patrulhas do Senafront.

Segundo a Direção Nacionaljogo mahjongMigrações da Colômbia,jogo mahjong2016, só dois cidadãos iemenitas receberam salvo-conduto temporário na cidadejogo mahjongTurbo para sair do paísjogo mahjongdireção ao Panamá. Em 2017, foram oito.

A guerra contra as moscas

A "Etah",jogo mahjongMetetí, fica nos fundosjogo mahjongum complexo militar.

Os migrantes passam os diasjogo mahjongcolchões finos e sujos. Aguardam por uma resposta enquanto se escondemjogo mahjongum inimigo: as moscas.

Golpeiam esses insetos com toalhas, mas são muitos. Alguns tentam matá-los com golpes contra a parede para talvez suprimir a frustração da espera.

Gobea se posiciona diante da plateia e pede por alguém que fale inglês. Mohamed se levanta e se aproxima. Caminha tão lentamente quanto fala.

A intenção, diz a ele o comandante, é que conte "o quão bem" foi tratado no Panamá.

Tenda
Legenda da foto, A tenda onde ficam os migrantes no Panamá | Foto: Camilo Estrada Isaza/BBC

Mohamed é um interlocutor entre os militares e seus compatriotas que estão no refúgio coletivo. Todos são homens, vestem jeans azuis opacos, camisetas que parecem ter sido lavadas uma ou outra vez.

Um deles, diz Mohamed, está bastante doente.

"Está com febre. E ninguém nos atende adequadamente. Dão apenas alguns remédios", explica murmurando, enquanto revela uma protuberância infectada que seu colega tem no tornozelo esquerdo.

Antesjogo mahjongo conflito no Iêmen estourar, Mohamed exercia a profissãojogo mahjongmédicojogo mahjongSanaa, a capital do país. Como os textos que tinha que ler na faculdade eramjogo mahjonginglês, aprendeu o idioma. Seus companheiros, no entanto, só falam árabe.

Agora, dirigem-se a um país onde o governo os rechaça: no começojogo mahjongseu mandato, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criou um veto migratório a cinco paísesjogo mahjongmaioria muçulmana. Entre eles, o Iêmen.

Iemenitas no Panamá
Legenda da foto, Os oito cidadãos iemenitas queriam chegar ao Canadá, onde acreditavam que seria mais fácil serem recebidos como refugiados | Foto: Camilo Estrada Isaza/BBC

Uma rota interminável

"Como chegaram até aqui?", pergunto a Mohamed.

"Voei até o Equador, que é um dos poucos países que não nos pedem visto. Ali, encontrei com vários (migrantes). Depois, pegamos um ônibus até Turbo, na Colômbia, e ali atravessamos a selva."

Os migrantes utilizam duas rotas: a do norte, que passa por Turbo, Sapzurro e Yaviza. E a segunda por Juin Phubuur, Paya e Yaviza.

Mapa

"E como foi o trajeto no Darién?"

Mohamed passa a camiseta na cara para enxugar o suor. A umidade sob o toldo é asfixiante. Do ladojogo mahjongfora, o sol castiga.

"Foram os piores quatro dias da minha vida", responde sem hesitar.

Mapa 2

"Não tínhamos muitos recursos. Vi gente afundando na água porque queria cruzar o rio, mas não sabia nadar. Depois encontrei vários jovens, muito jovens, que choravam desconsolados porque não podiam seguir mais."

Na selva, qualquer um é alvo fácil das cobras e dos jaguares. Além disso, existe uma operação sigilosajogo mahjongum carteljogo mahjongtráfico humano cujas dimensões são difíceisjogo mahjongse quantificar.

Em meados do ano passado, a Interpol e a Polícia Nacionaljogo mahjongColômbia publicaram um informe que dizia que o negócio do tráficojogo mahjongmigrantes através do Darién fatura semanalmente cercajogo mahjongUS$ 1 milhão (R$ 3,19 milhões).

Muitos que entregam suas economias a coiotes são abandonados na metadejogo mahjongcaminho e vagam sem água e sem comida até que são detectados pelos soldados do Senafront.

Jorge Gobea
Legenda da foto, Jorge Gobea, o encarregadojogo mahjongcoordenar os migrantes na fronteira entre o Panamá e a Colômbia | Foto: Camilo Estrada Isaza/BBC

Por que escolhem essa rota, tão lenta e violenta, se a Europa está muito mais próxima?

"Porque aqui temos mais chancejogo mahjongsermos recebidos como refugiados. Na Europa nos seguirão tratando como migrantes, não como refugiados. E nosso país está pegando fogo. Não podemos voltar para lá. Vamos para o Canadá."

Iemenitas no Panamá
Legenda da foto, Os cidadãos iemenitas na longa espera até que as autoridades panamenhas os deixassem seguir viagem | Foto: Camilo Estrada Isaza/BBC

Tratamento

Gobea diz que a única intenção do Panamá "é coordenar o fluxojogo mahjongmigração irregular". Diz que tentam lhes dar um bom tratamento.

O Serviço Nacionaljogo mahjongMigração do país, ao ser consultado sobre o caso pela BBC, disse que "neste momento não falará sobre o tema por políticajogo mahjongsegurança".

Mas Mohamed está certojogo mahjongque há algo mais. "A grande pergunta é por que não nos deixam sair daqui. Estão fazendo um favor aos Estados Unidos? Os migrantesjogo mahjongoutras nacionalidades vêm, ficam alguns dias e depois seguem até a fronteira com a Costa Rica."

Mohamed levanta a mão e mostra uma fita brilhante amarradajogo mahjongseu pulso. Tem o número "3.405". Colocaram-na no diajogo mahjongque ele chegou ao acampamento. Os outros ocupantes da tenda, emjogo mahjongmaioriajogo mahjongBangladesh e da África Oriental, pertencem à sériejogo mahjong4.000. "E nós, os do Iêmen, seguimos aqui."

Mohamed e seus companheiros ficaram ali por umas duas semanas. E depois foram levados à Cidade do Panamá, para serem devolvidos a seu paísjogo mahjongorigem.

'Não faça isso'

Na saída da base militar, encontramos um ônibus repletojogo mahjongmigrantesjogo mahjongdistintos países africanos, que chegaram ao Panamá depoisjogo mahjongatravessar duas selvas: a do Amazonas, no Brasil, e ajogo mahjongDarién.

Estão saindo. Dentro do ônibus, é possível sentir a urgência. Quando entramos, ninguém está disposto a falar. Só querem seguirjogo mahjongfrente.

Um deles, por fim, levanta a mão. É Ibrahim. Veste uma camisajogo mahjongfutebol que denunciajogo mahjongorigem: Serra Leoa. Conversa conosco sobre futebol, Falcao, Messi. Sobre seu sonhojogo mahjongchegar aos Estados Unidos.

"Minha irmã me disse para eu não voltar ao país. 'Aconteça o que acontecer, não volte para cá, porque a situação é terrível'".

Quando a reportagem da BBC conta que vai atravessar a regiãojogo mahjongDarién, pela selva, ele arregala os olhos.

"Não faça isso. Se eu soubesse que teria sido como foi, não teria vindo para cá. Fomos sem guia e nos perdemos. Tivemos que dormir pensando que um jaguar ia nos comer. Atravessamos rios nadando. Os mosquitos… Caminhar pela lama durante horas…", detalha, alarmado.

"Aguentei porque sou homem e jovem, mas ela quase não conseguiu", disse, apontando para a mulher a seu lado.

Ela, que logo dirá que vemjogo mahjongGana, emerge do fundo do assento. Não sorri, embora seu acompanhante, que conheceu nas aflições da selva, lhe diga entre sorrisos um parjogo mahjongfrases bonitas.

"Não faça isso", ela repete, erguendo o pé direito. No calcanhar, uma marca do rigor do Darién: os sapatos que usou durante seis diasjogo mahjongtravessia lhe deixaram uma chaga do tamanhojogo mahjonguma moeda, e que não parajogo mahjongsangrar.

"Lá é um inferno. Nós não tivemos opção."