A clínica nos EUA onde milionários 'desconectam’ filhos viciadosbwin oficialcelulares e internet:bwin oficial

Sem placasbwin oficialidentificação e acessível sóbwin oficialcarro, a Paradigm hospeda apenas oito jovens simultaneamente,bwin oficialinternações compulsórias que durambwin oficialmédia 45 dias, podendo chegar a 60, dependendo do graubwin oficialdependência ebwin oficialfatores associados, como depressão, ansiedade e agressividade.
O valor da diária impressiona tanto quanto os salões luxuosos e a banheirabwin oficialhidromassagem com vista para o sol nascente na baía: US$ 1.633 dólares (R$ 5,4 mil) por noite.

Dentro do casarão, celulares, laptops e tablets são proibidos e o acesso a computadores é limitado a aulasbwin oficialreforço escolar, nas quais o acesso a redes sociais, aplicativosbwin oficialmensagens instantâneas e pornografia é bloqueado - e qualquer tentativa é acompanhadabwin oficialperto por professores e psicólogos.
Com hora certa para acordar, estudar, fazer refeições e participarbwin oficialuma bateriabwin oficialterapias coletivas e individuais, a promessa da clínica é "reprogramar" os jovens para que eles possam reconstruirbwin oficialrelação com a tecnologia e se reaproximarbwin oficialfamiliares, estudos, amigos e tarefas "offline".
"Nós os desconectamos. Essa é a regra", resume Danielle Kovac, diretora da clínica, à BBC Brasil.
Oficialmente, a clínica ficabwin oficialuma cidade vizinha a San Francisco, chamada San Rafael.
"Eu diria que é um períodobwin oficialajuste para as crianças. O mais bacana é ouvir muitas dizendo no final do tratamento: 'Obrigado, obrigado por não permitir que eu ficasse com meu telefone oubwin oficialredes sociaisbwin oficialum computador, eu fui capazbwin oficialrealmente me concentrarbwin oficialmim'."
Sintomas e controvérsias
Citado pela primeira vez por um psiquiatrabwin oficialNova York durante os primórdios da rede,bwin oficial1995, o víciobwin oficialinternet não é uma doença oficialmente reconhecida nos Estados Unidos.
Psicólogos e psiquiatras americanos se dividem: para alguns, o vício seria apenas um sintomabwin oficialoutras síndromes, como paranoia e depressão, e não a causa delas. Para outros, ele seguiria características idênticas àsbwin oficialoutras dependências já reconhecidas, como álcool e drogas.
Mas países como Austrália, China, Itália e Japão reconhecem oficialmente o problema - na Coreia do Sul, por exemplo, a dependência pela internet foi classificada como "problemabwin oficialsaúde pública" e é tratadabwin oficialhospitais públicos.
No Brasil, o Sistema Únicobwin oficialSaúde (SUS) oferece tratamento integral e gratuito para transtornos como depressão e víciosbwin oficialálcool e outras drogas, mas não tem serviços específicos sobre questões mentais ligadas à tecnologia.

Para os diretores da Paradigm,bwin oficialSão Francisco, a internet pode agravar transtornosbwin oficialhumor e saúde mental, e serve como um "refúgio seguro e anônimo" que afasta os jovensbwin oficialsuas relações com o mundo realbwin oficialum ciclo vicioso.
"Muitas vezes, vemos famílias contando que não tiveram nem refeição sequer com os filhos porque eles estão no Snapchat", diz a diretora da clínica, citando jovens que passam até 20 horas diáriasbwin oficialredes sociais.
Ela diz que o diagnósticobwin oficialdependênciabwin oficialinternet repete o padrãobwin oficialoutros vícios.
"(É) quando começa a afetar outras áreas da vida, comobwin oficialvida social ou escola. Muitas vezes, vemos notas caindo porque as crianças estão no Facebook ou no Instagram durante a noite toda, então eles não conseguem acordar para ir o colégio nem se focar nos trabalhos escolares", afirma.
Ela conta que parte dos pacientes chega à clínica depoisbwin oficialabandonar a escola por causa do vício.
Comportamentos como irritação quando o sinal da internet é interrompido, mentir ou esconder o usobwin oficialredes sociais e isolamento e distância da família, segundo a Paradigm, também seriam sinaisbwin oficialalerta.

"É muito importante que pais sejam capazesbwin oficialdeterminar parâmetros. Talvez cortar o acesso a telas, computadores, iPads ou telefones antes da horabwin oficialdormir, ou das refeições, ou durante a escola", diz Kovac, que defende a internação como melhor tratamento se as tentativas dos pais falharem.
"É certamente uma sensação diferente do atendimento sem internação,bwin oficialque os jovens são levados ou dirigem até a terapia uma vez por semana, por uma hora. Aqui nós conseguimos viver o dia deles com eles e perceber quais são seus comportamentos-padrão. Isso nos traz informações úteis para os tratamentos."
Luxo
Os cômodos na clínicabwin oficialSan Rafael são amplos e extremamente luxuosos - reproduzindo as características encontradas nas próprias casas da maioria dos jovens internados.
Em um dos quartos, no entornobwin oficialuma lareira, três camasbwin oficialcasal se espalham cercados por janelões virados para o mar.
"A sensaçãobwin oficial'estou sozinho nessa' é muito assustadora. Então, para eles (pacientes), saber que 'meu colegabwin oficialquarto também está aqui, talvez por outra razão, mas podemos nos ajudar' é muito, muito positivo", diz Kovac.
"Se eles estiverem com dificuldades e não tiverem a melhor estruturabwin oficialapoiobwin oficialcasa - não é sempre este o caso, mas acontece às vezes -, aqui eles estãobwin oficialuma espéciebwin oficialfamília construída, que poderão acessar quando saírem daqui como apoio contínuo."
A clínica também oferece atividades para ex-pacientes e para familiares, "reforçando laços" e a continuidade do tratamento.

Em relação ao processo terapêutico, a reportagem não conseguiu conversar com nenhum dos pacientes. Durante a visita à clínica, no entanto, uma jovem acabavabwin oficialser internada - o que foi percebido por gritos e choro alto se espalhando pelo casarão.
Ao mesmo tempo, um rapazbwin oficial17 anos tocava piano e um pequeno grupo se reunia numa das varandas para tomar café da manhã.
A reportagem pergunta sobre eventuais sinaisbwin oficialabstinência da internet durante o tratamento.
"Há um nívelbwin oficialdesconforto no começo, como aconteceria com qualquer umbwin oficialuma situação nova, mas nós temos tanto apoio nesse lugar que usamos isso como informação para sermos capazesbwin oficialajudá-los: 'Por que você não me diz por que isso é desconfortável?'. Usamos essas respostas como informação terapêutica", diz Kovac.
A diretora diz que a internação funciona como um botãobwin oficial"reset" (ou reinício, reconfiguração) nas mentes dos pacientes.
"Depois que eles se desconectarem, vão voltar a acessar Facebook, Instagram, Twitter ou que sejabwin oficialnovo?", pergunta Kovac, quando questionada sobre os objetivos do tratamento.
Ela mesma responde:
"Bem, provavelmente. Mas, se eles estão aqui, um local que afeta as suas vidas, nossa expectativa é que se desconectem por tempo suficiente para que, quando voltarem para casa, estejam prontos para estabelecer limites para si mesmos e para suas famílias também."

Um dia na 'rehab'
Ela conta que a reação dos jovens ao se verem sem os celulares pode surpreender.
"Há pais que dizem que os filhos vão gritar quando os telefones forem tirados. Mas,bwin oficialmuitos casos, é uma surpresa agradável. Eles dizem "Ok". Muitas vezes os pais querem mudanças, mas os filhos também querem. Então vejo que nestes casos eles estão prontos para dizer 'Ok, é estranho, esquisito para mim, mas vou deixar meu telefone com minha mãe e talvez buscá-lobwin oficialnovo quando eu sair'."
Antesbwin oficialdeixar o local, entretanto, os jovens são levados a encarar uma rotina que combina conforto e muito trabalho.
O dia na clínica começa às 7h, quando todos acordam para tomar café da manhã reunidos. "Isso já pode ser um pouco diferente do que esses jovens estão acostumadosbwin oficialcasa", diz a diretora.
"Se houver medicações (prescritas pelos médicos particulares dos pacientes), nós damos as medicações neste horário", continua Kovac. "Começamos o diabwin oficialmaneira positiva, comendo um café da manhã bom e balanceado, e depois fazemos um trabalhobwin oficialgrupo,bwin oficialsuporte mútuo, conduzido pela nossa equipe.
Na sequência, os jovens fazem aulasbwin oficialreforço escolar ("as escolas podem mandar os conteúdos que querem que sejam trabalhados, para que eles possam continuar estudando enquanto estão aqui"), depois almoçam e se dividembwin oficialdiferentes gruposbwin oficialtrabalho.
"Eles podem trabalhar habilidadesbwin oficialenfrentamentobwin oficialproblemas, colaboração, comunicação, limites ou terapia artística e musical. Também há atividades recreativas, que podem ser fazer ginastica, escalada, ir à praia… fazer o sangue circular e talvez pegar um poucobwin oficialsol", diz a diretora.

O jantar é o momento para uma discussãobwin oficialgrupo sobre o dia, metas pessoais e expectativas para a manhã seguinte.
"Depois quebramos para atividades noturnas mais ligadas ao relaxamento, que podem ser ioga, acupuntura, meditações. E passamos documentários, às vezes."
Cerco ao Facebook
Para a diretora, empresas como Facebook, Twitter e Snapchat "certamente sabem o que estão fazendo para que, não apenas crianças, mas pessoasbwin oficialgeral, fiquem presas a certas coisas, com certos algoritmos para certos propósitos".
Ela pede mais atenção aos CEOs. "Não tenho a respostabwin oficialcomo eles podem fazer isso, mas é preciso ter atenção com o que está acontecendo com a sociedadebwin oficialgeral. As pessoas estão conectadas demais a seus telefones e a internet."
Há menosbwin oficialum mês, maisbwin oficialcem especialistas e organizações internacionaisbwin oficialsaúde infantil pediram ao Facebook que dê fim a seu recém-lançado aplicativobwin oficialmensagens voltado a crianças com menosbwin oficial13 anos, o Messenger Kids.
Em carta aberta a Mark Zuckerberg, o grupo classificou o aplicativo como iniciativa "irresponsável" que visa estimular crianças pequenas - que não teriam maturidade para ter contasbwin oficialredes sociais - a usar o Facebook.
O Messenger Kids foi anunciadobwin oficialdezembro como uma "solução divertida e segura" para que crianças conversem, via vídeo ou chat, com amigos e familiares. É uma versão simplificada do Messenger, que no entanto exige consentimento parental antes do uso e cujos dados gerados não são usados para publicidade dirigida.

Em resposta à carta aberta, o Facebook afirmou que "desde o lançamento,bwin oficialdezembro, temos escutadobwin oficialpais ao redor dos EUA que o Messenger Kids os ajuda a manter contato com seus filhos e que seus filhos mantenham contato com familiares, perto ou longe. Soubemos, por exemplo, que pais que trabalham à noite agora podem contar históriasbwin oficialninar para seus filhos; que mãesbwin oficialviagens profissionais estão tendo atualizações diáriasbwin oficialseus filhos enquanto estão longe".
Mas a carta aberta questiona a necessidadebwin oficialo Facebook oferecer esse serviço. "As crianças podem usar as contas dos pais no Facebook ou no Skype. Eles também podem simplesmente telefonar."
Os autores finalizam a carta apontando que "seria melhor deixar as crianças pequenasbwin oficialpaz para que se desenvolvam sem as pressões derivadas do uso das redes sociais. A criaçãobwin oficialcrianças na era digital já é difícil o bastante. Pedimos que vocês não usem os enormes alcance e influência do Facebook para tornar esse trabalho ainda mais difícil".
Enquanto a controvérsia não chega a um ponto final, o Facebook mantém suas ferramentas polêmicas ao alcancebwin oficialcrianças e adolescentes, e a clínica milionária para viciadosbwin oficialinternet continua cheiabwin oficialclientesbwin oficialSan Francisco - mas só os que têm pais ou responsáveis que podem pagar caro por isso.









