Nicósia: Como é viver na última capital dividida do mundo:bet roulette

Dois homens na ruabet rouletteLedrabet rouletteNicósia, Chipre.

Crédito, Angelo Attanasio/BBC Mundo

Legenda da foto, Todas as tentativas diplomáticasbet roulettereunificar a ilha fracassaram

Judiabet roulettepais austríacos e com um passaporte americano que a salvou do Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial, essa mulher elegantebet roulette101 anos testemunhou alguns dos eventos mais importantes do século 20.

E ainda vive um deles.

Elsie Slonim

Crédito, Angelo Attanasio/BBC Mundo

Legenda da foto, Elsie Slonim tem 101 anos se dedica a escrever contos infantis e livrosbet roulettememórias

Quando se casou - pela segunda vez - com um proprietáriobet rouletteterras turco-cipriota, ambos decidiram se estabelecerbet rouletteNicósia.

Desde então, Elsie é uma testemunha privilegiada da história da atual capital do Chipre.

Ela é a única civil que reside na zona militarizada que divide essa cidadebet rouletteduas, a última capital dividida do mundo.

Nicósia dividida
Legenda da foto, Mapa mostra a divisãobet rouletteNicósia

Dividida por maisbet roulettemeio século

Em 30bet roulettedezembrobet roulette1963, o oficial do Exército britânico Michael Perrett-Young desenhou com um lápis uma linha verde no mapabet rouletteNicósia, do extremo ao outro.

Seu objetivo era frear os confrontos entre as duas comunidades, cipriotas gregos e cipriotas turcos, quebet rouletteum mês deixaram maisbet roulettecem mortos nas ruasbet rouletteum território sob controle britânico.

As disputas étnicas duraram 11 anos. Até que,bet roulettejulhobet roulette1974, a Turquia respondeu à tentativabet roulettegolpe no Chipre, financiada pela Grécia, com uma invasão militar da ilha.

Ruabet rouletteNicósia coberta por barreiras
Legenda da foto, Chipre foi colônia britânica até 1960; até hoje Reino Unido mantém bases navais na ilha

No final daquele verão, cercabet roulette180 mil pessoas, um terço da população gregabet rouletteChipre, foram forçadas a deixar suas casas e se mudar para o sul. Ao mesmo tempo, cercabet roulette40 mil cipriotas turcos passaram para o norte ocupado.

O conflito terminou com maisbet roulette4.000 pessoas mortas dos dois lados. O destinobet rouletteoutros 494 cipriotas turcos e 1464 cipriotas gregos, no entanto, deve permanecer desconhecido por muitos anos. Oficialmente, eles foram declarados desaparecidos.

Desde então, a maior parte da ilha é administrada pela Repúblicabet rouletteChipre, membro da União Europeia desde 2004, onde vive 80% da população,bet rouletteorigem grega.

Por outro lado, a República Turcabet rouletteChipre do Norte (RTCN), reconhecida apenas pela Turquia, ocupa um terço dabet rouletteextensão.

A fina linha verde desenhada por Perrett-Youngbet rouletteNicósia, uma zona provisóriabet rouletteproteção com uma largura máximabet roulettedoze metros, foi alargada a toda a ilha, com uma extensãobet roulettecercabet roulette180 quilômetros, e tornou-se a fronteira que há 55 anos divide a capital entre a turco-cipriota Lefkoşa, ao norte, e a greco-cipriota Lefkosia, ao sul.

A parte sul da cidade velha é um labirintobet roulettebecos, lojasbet roulettecrochê para turistas e jardinsbet roulettepalmeiras e buganvílias.

Trincheirabet rouletteuma ruabet rouletteNicósia, no Chipre

Crédito, EPA

Legenda da foto, Muitas ruasbet rouletteNicósia continuam divididas por trincheiras desde 1963

Em todas as horas do dia, as mesas dos bares estão cheiasbet roulettepessoas tomando café, a bebida favorita deste lado do Mediterrâneo e que permeia praticamente todas as interações sociais.

O silêncio é interrompido apenas pelos chamados à oração do muezimbet rouletteSelimiye, a antiga Catedralbet rouletteSanta Sofia, convertida na principal mesquita da parte cipriota turca da cidade antiga.

E é lá a que eu me dirijo, depois do controle rotineiro do passaporte.

Em torno dos altos minaretes, dos bazaresbet roulettecamisas turísticas e das tavernasbet rouletteshawarma, a vida cotidiana se desenrola com a mesma tranquilidade da do outro lado.

Apenas as bandeiras vermelhas e brancas quase onipresentes penduradas nas casas, nas oficinas mecânicas dos imigrantes turcos ebet roulettequaisquer edifícios públicos me lembram insistentemente que estou na parte cipriota turcabet rouletteNicósia.

Mas nada me faria pensar que estou pisandobet rouletteum territóriobet rouletteconflito há maisbet roulettemeio século.

Quartel militarbet rouletteNicósia, no Chipre

Crédito, Angelo Attanasio/BBC Mundo

Legenda da foto, Nicósia, capitalbet rouletteChipre, está dividida desde 13 dezembrobet roulette1963

Um cessar-fogobet roulettemaisbet roulette44 anos

A elegante casabet roulettedois andares onde Elsie Slonim passa seus dias tornou-se, ao longo dos anos, um museubet rouletteuma vida outrora agitada.

Uma imensa biblioteca cheiabet roulettelivrosbet roulettealemão, iídiche e inglês ocupa o vasto salão onde, diantebet rouletteum uma xícarabet roulettecafé cipriota, ela descreve o sentimentobet roulettealegria e arrependimento que a dominou na primeira vez que viu a costa cipriota.

Era o verãobet roulette1939 e Elsie e seu marido estavam prestes a desembarcar na ilha após uma viagembet roulettenavio dos Estados Unidos que durou várias semanas.

O antissemitismo assolava a Europa e a Segunda Guerra Mundial começariabet roulettebreve.

"Perdi vários tios e primos no campobet rouletteconcentraçãobet rouletteAuschwitz", lamenta. "Tive sorte porque cheguei a tempo."

A ilha era uma colônia do Reino Unido desde 1879 e permaneceria assim até 1960. Quando os britânicos se retirarambet roulettelá, deixaram como legado a condução do lado esquerdo e duas enormes bases navais militares ainda ativas, que ocupam 3% do território.

Cercabet rouletteNicósia
Legenda da foto, A missãobet roulettepaz da ONUbet rouletteChipre - chamada UNFICYP - começoubet roulettemarçobet roulette1964 e desde então foi renovada todos os anos até hoje

Profunda desconfiança

A principal herança, contudo, não é tangível: uma profunda desconfiança entre as elites cipriotas grega e turca.

Essa desconfiança mútua e a interferência política da Grécia e da Turquia levariam a confrontos violentos entre as duas comunidades e a divisãobet rouletteNicósia para tentar detê-los. Sem sucesso.

Cinquenta e cinco anos depois, a poucos metros das buganvílias que desabrocham no jardimbet rouletteElsie Slonim, estende-se uma das áreas mais militarizadas do mundo.

De suas torres, maisbet roulette40 mil soldados cipriotas turcos guardam a RTCN (República Turcabet rouletteChipre do Norte). Em frente, cercabet roulette12 mil soldados da Guarda Nacional Cipriota grega controlam a fronteira da República do Chipre.

"Sem foto! Sem foto!", grita um deles, debruçando-se para forabet rouletteuma antiga guarita pintada com as cores azul e branca da bandeira da Grécia.

Guarita militarbet rouletteruabet rouletteNicósia, no Chipre

Crédito, Angelo Attanasio/BBC Mundo

Legenda da foto, Fronteiras entre as duas partesbet rouletteNicósia ficaram hermeticamente seladas até 2003, quando foi aberto o primeiro check-point

Sua expressão revela tédio e insatisfação por uma tarefa que ele deve repetir várias vezes ao dia: afastar os turistas que querem lembrar-se dessa tediosa trincheira.

Atrás da guarita, guardada zelosamente por ambos os exércitos, estende-se uma faixa estreitabet rouletteestradas malcuidadas e casasbet rouletteruínas; uma terrabet rouletteninguém onde só a cor dos capacetes azuis da ONU quebra a monotonia.

O acesso a essa zona ébet rouletteresponsabilidade exclusiva das forçasbet roulettemanutenção da paz da ONU.

Desde a divisão da cidade, os soldados da missão UNFICYP - uma das mais antigas da Organização das Nações Unidas -, espalhadosbet roulettetoda a ilha, asseguram que nenhum dos exércitos acrescente "nem mais um sacobet rouletteareiabet roulettesuas posições na linhabet roulettecessar-fogo", explica um oficial argentino desta missão.

Há várias décadas, não há registrobet rouletteepisódios violentos significativos. "Os conflitos são limitados a alguns gestos obscenos ou a uma pedra jogada pelos recrutasbet rouletteum lado oubet rouletteoutro", diz o responsável da UNFICYP, Peter Vanek, enquanto me acompanha ao aeroportobet rouletteNicósia.

Abandonadas após a invasão turcabet roulette1974, suas instalações não só se tornaram um símbolo da divisãobet rouletteChipre ao longo do tempo, mas também do fracasso das inúmeras tentativasbet roulettereunificação entre políticos cipriotas gregos e representantes do norte.

Torre da ONUbet rouletteNicósia

Crédito, Angelo Attanasio/BBC Mundo

Legenda da foto, Ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, chegou a definir missão na ilha como "um dos maiores fracassos" da organização

Desconfiança

Entre as iniciativas mais recentes, está o referendobet roulette2004 sobre a criaçãobet rouletteuma república federal, proposto pelo então secretário da ONU, Kofi Annan, que morreubet rouletteagosto deste ano.

O resultado refletiu a divisão do país: 65% dos cipriotas turcos votaram a favor da proposta, enquanto a maioria dos gregos votou "não".

Para que prosperasse, era necessário que ambas as comunidades o aprovassem.

Líder greco-cipriota Nicos Anastasiades (esq.) e seu homólogo turco-cipriota Mustafa Akinci

Crédito, AFP/Reuters

Legenda da foto, O líder greco-cipriota Nicos Anastasiades (esq.) e seu homólogo turco-cipriota Mustafa Akinci voltaram a se reunir no fim deste ano, mas não chegaram a nenhum acordo

A última tentativabet rouletteselar a paz remonta a julhobet roulette2017, quando o líder da RTCN, Mustafa Akinci, e da Repúblicabet rouletteChipre, Nicos Anastasiades, pareciam ter finalmente chegado a um acordo na cidadebet rouletteCrans-Montana, na Suíça.

Muitos cidadãosbet rouletteNicósia foram às ruas celebrar o que seria um momento histórico.

No entanto, o acordo não foi adiante e os dois políticos ficaram sem se reunir novamente por 15 meses.

Avião abandonado no aeroportobet rouletteNicósia

Crédito, Angelo Attanasio/BBC Mundo

Legenda da foto, Último encontro diplomático entre os dois líderes, Mustafa Akinci e Nicos Anastasiades, foi realizado no fimbet rouletteoutubro deste ano, mas nenhum acordo foi alcançado

Novas gerações

"Cipriotas gregos não confiam nos cipriotas turcos porque continuam pensando que eles são um cavalobet rouletteTroia para os interesses turcos", diz Harry Tzimitras, diretor do PRIO Chipre Center (PCC), um centrobet roulettepesquisa independente formado por pesquisadores das duas comunidades.

Por outro lado, "os cipriotas turcos acreditam que,bet rouletteum Estado federal hipotético, seriam considerados cidadãosbet roulettesegunda classe", acrescenta.

Ele diz acreditar que os partidos políticos que governam nas duas comunidades se beneficiam dessa disputa e não têm real interessebet roulettechegar a um acordo final.

Banderasbet rouletteTurquía ybet roulettela República Turca del Nortebet rouletteChipre en una casa del casco antiguobet rouletteNicosia.
Legenda da foto, Bandeirasbet rouletteTurquía y labet roulettela República Turca del Nortebet rouletteChipre cuelgan en las entradasbet roulettenumerosas casas y edificiosbet roulettela parte nortebet rouletteNicosia.

No entanto,bet roulettemaior preocupação é que essa faltabet rouletteconfiança contaminou os jovens da ilha, especialmente osbet rouletteorigem grega.

Em um estudo publicadobet roulette2016 pela PRIO sobre a chamada "geração pós-Annan" - ou seja, a que veio depois do referendobet roulette2004 - maisbet roulette48% dos estudantes universitários cipriotas gregos entre 18 e 23 anos disseram nunca ter cruzado a fronteira ao norte, enquanto 43% fizeram apenas algumas vezes.

"Por um lado, já faz muitos anos que as duas comunidades não estãobet roulettecontato", explica Mete Hatay, um dos autores do estudo. "Por outro,bet roulettetodos esses anos, uma narrativa muito distorcida sobre a história da divisão acabou cobrando seu preço".

"A memória do que aconteceu ainda está viva, não pode ser apagadabet rouletteum dia para o outro", acrescenta.

Verãobet roulette1974

A lembrança daquele verãobet roulette1974 também permanece na memóriabet rouletteElsie.

Aeroportobet rouletteNicósia

Crédito, Angelo Attanasio/BBC Mundo

Legenda da foto, Aeroportobet rouletteNicósia está abandonado desde agostobet roulette1974

A invasão do Exército turco e o confronto armado que se seguiu com a Guarda Nacionalbet rouletteChipre,bet roulette1974, atingiram a casa onde ela mora atualmente.

Elsie ebet roulettefamília passaram três semanas no porão, onde tinham o essencial para resistir ao conflito, que duraria até meadosbet rouletteagosto daquele ano.

Quando saíram daquele refúgio improvisado, encontraram uma imagem sombria. Todos os seus vizinhos foram expulsos do bairro e a área estava sob vigilância das tropas turcas.

"Um jovem soldado nos viu", lembra Elsie, "e pediu ao comandante que nos deixasse ficar".

O pai do menino tinha sido condutorbet roulettetrator na fazendabet rouletteDavid Slonim, o maridobet rouletteElsie. Um dia, ele sofreu um acidente enquanto trabalhava e David o encontrou, levou-o ao hospital e pagou por seu tratamento por um ano.

"Quando os militares ouviram a história, decidiram que poderíamos ficar e morarbet roulettenossa casa" , diz Elsie.

No entanto, o marido havia investido todas as suas economiasbet roulettecamposbet roulettelimões que estavam sob ocupação militar.

"Meu marido viu os limoeiros morrerem um por um", explica Elsie. "Foi a única vez na minha vida que o vi chorarbet rouletteforma inconsolável."

Ela teve que tirar o passaporte americano e, aos 57 anos, procurar trabalhobet rouletteNova York como empregada doméstica para ajudar a alimentarbet roulettefamília.

Nicósia

Crédito, Angelo Attanasio/BBC Mundo

Legenda da foto, Maisbet roulette48% dos estudantes universitários cipriotas gregos entre 18 e 23 anos disseram nunca ter cruzado a fronteira ao norte, enquanto 43% fizeram apenas algumas vezes

"Éramos uma família rica. Da noite para o dia, perdemos todo o nosso patrimônio. Só sobrou esta casa", lembra ela, enquanto seu olhar se perde nos espaçosos cômodos.

Depoisbet roulettealguns anos, quando suas forças físicas já estavam diminuindo, Elsie decidiu voltar a Nicósia e, desde então, esta casa vem sendo seu refúgio.

'Vítimas da situação'

Despeço-mebet rouletteElsie Slonim depoisbet rouletteter recebido uma aula sobre a história ocidental do século passado.

Dou uma última olhada nas buganvíliasbet rouletteseu jardim e me dirijo para fora da zona militarizada.

Achilleas Demetriades

Crédito, Angelo Attanasio/BBC Mundo

Legenda da foto, Do escritório do advogado Achilleas Demetriades, pode-se ver a enorme bandeira do RTCN iluminada todas as noites nas encostasbet rouletteuma colina na parte nortebet rouletteNicósia

Enquanto os dois recrutas,bet roulettepouco maisbet roulette20 e poucos anos, vasculham seus arquivosbet roulettebusca do meu passaporte, me passa pela cabeça a conversa que tive, recém-chegado à ilha, com Achilleas Demetriades, advogado que talvez seja o maior especialista na questão cipriota, por ter defendido dezenasbet roulettecasos perante a Convenção Europeia dos Direitos Humanos.

Além disso, durante 30 anos, até 2001, seu pai foi prefeito da zona sulbet rouletteNicósia e um dos políticos cipriotas gregos mais envolvidos na reunificação.

"Se você quer minha propostabet roulettereunificação, eis aqui uma ideia simples", provoca o advogado.

"Em vezbet rouletteconstruir monumentos para militares desconhecidos, por que as duas comunidades não se unem e constroem o monumento para os mortos desconhecidos?"

"Porque, afinalbet roulettecontas", diz Demetriades. "Todos,bet rouletteuma forma oubet rouletteoutra, somos vítimas dessa situação."

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