A surpreendente amizade entre as famíliasbetboo 356um assassino ebetboo 356sua vítima:betboo 356

Azim Khamisa e Ples Felix

Crédito, Tariq Khamisa Foundation

Legenda da foto, Azim Khamisa e Ples Felix são hoje grandes amigos

betboo 356 Azim Khamisa ficou devastado quando perdeu o filhobetboo 356forma trágica, mortobetboo 356uma tentativabetboo 356assalto por um jovembetboo 356apenas 14 anos, membrobetboo 356uma gangue nos EUA.

Após a perda do filho, ele iniciou uma campanha educativa contra a violência armada, junto a um aliado improvável: Ples Felix, o avô do assassino.

Maisbetboo 35620 anos depois, os dois são hoje melhores amigos.

Em entrevista ao programabetboo 356rádio Outlook, do serviço mundial da BBC, Azim e Ples contam como a tragédia deu origem a essa amizade.

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Aos 20 anos, Tariq Khamisa era aluno da Universidade Estadualbetboo 356San Diego, na Califórnia, e trabalhava como entregadorbetboo 356pizza às sextas e sábados.

"Ele era uma grande alma, eu diria um espírito antigobetboo 356um corpo jovem. Abençoado com um grande sensobetboo 356humor, era uma alegria estar perto dele. Ele tinha a habilidadebetboo 356descontrair qualquer situação com uma piada", recorda o pai.

Na noitebetboo 35621betboo 356janeirobetboo 3561995, ele saiu para entregar uma pizzabetboo 356um bairrobetboo 356classe média da cidade. Mas não podia imaginar que havia sido atraído para um endereço falso por uma gangue juvenil.

Tariq Khamisa

Crédito, Tariq Khamisa Foundation

Legenda da foto, Tariq era estudante universitário e trabalhava como entregadorbetboo 356pizza

"Deram o endereço certo, mas o número do apartamento errado. Ele bateubetboo 356várias portas tentando descobrir quem tinha pedido a pizza, mas claro que ninguém tinha pedido", conta Azim.

Quando voltou para o carro, Tariq foi abordado por um grupobetboo 356quatro jovens: trêsbetboo 35614 anos e umbetboo 35618. Era uma tentativabetboo 356assalto, mas ele se recusou a entregar as pizzas.

O mais velho, apontado como o líder da gangue, entregou então uma arma a um dos menores, no que seria partebetboo 356um ritualbetboo 356iniciação, e pediu que atirasse.

"Quando meu filho estava tentando dar ré com o carro, o jovembetboo 35614 anos puxou o gatilho. Foi uma única bala, que entrou pela janela do motorista e acertou meu filho."

"Tariq morreu alguns minutos depois, afogadobetboo 356seu próprio sangue por causabetboo 356uma mísera pizza, aos 20 anos", diz o pai.

Infância conturbada

O menorbetboo 356idade que matou Tariq foi identificado como Tony Hicks. Ele morava com o avô, Ples Felix, a quem considera até hoje como pai.

"(Tony) foi criado como filhobetboo 356uma meninabetboo 35614 anos, minha filha. E sempre foi o tipobetboo 356criança que era levadabetboo 356um lado para o outro, ora estava na casa da minha mãe, ora na casa da avó, e sempre tinha um montebetboo 356gente lá. Os primos da minha filha eram todos envolvidos com gangues", conta Ples.

Tony Hicks, Azim Khamisa e Ples Felix

Crédito, Tariq Khamisa Foundation

Legenda da foto, Tony Hicks (ao centro) foi condenado a 25 anosbetboo 356prisão pela mortebetboo 356Tariq

Quando o primo favoritobetboo 356Tony foi brutalmente assassinado por uma gangue rival, a família decidiu que o menino, com sete anos na época, deveria sairbetboo 356Los Angeles e ir morar com o avôbetboo 356San Diego.

"Ele era um garoto traumatizado, precisandobetboo 356toda ajuda e apoio que nunca havia tido. E eu realmente não estavabetboo 356condiçõesbetboo 356dar toda a ajuda que ele precisava, mas com certeza eu tentei", diz.

Más companhias

Apesar da dificuldadebetboo 356se adaptar a San Diego, Tony se esforçava para ser um bom aluno na escola e corresponder às expectativas do avô. Mas, à medida que foi crescendo, as amizades começaram a ter uma influência cada vez mais forte sobre ele.

Até que, no dia do crime, Tony fugiubetboo 356casa.

"Tony era um caso clássicobetboo 356juventude transviada por andar com pessoas que ele pensava que eram seus amigos."

"(Os colegas) o levaram até um rapazbetboo 35618 anos que ofereceu álcool e drogas a eles. E depoisbetboo 356consumirem álcool e drogas, esse rapaz convidou Tony e outros dois meninosbetboo 35614 anos para participarembetboo 356um assalto a um entregadorbetboo 356pizza", revela.

Ples estava assistindo ao telejornal quando viu a notícia do assassinato.

"Um sentimento muito ruim tomou contabetboo 356mim naquele momento, porque era a primeira vez que Tony não estava na cama àquela hora da noite. E eu sabia que ele estava pelas ruasbetboo 356algum lugar."

Até então, Ples não tinha feito nenhuma conexão entre Tony e a mortebetboo 356Tariq. Só ficou sabendo do envolvimento do neto quando recebeu um telefonema da polícia avisando que ele tinha sido preso como principal suspeito do crime.

Azim Khamisa também recebeu a notícia da morte do filho pelo telefone.

"Perdi a forçabetboo 356ambas as pernas, desabei no chão, todo encolhido, bati a cabeça na geladeira. Não tenho palavras para descrever o quão insuportavelmente dolorosa essa experiência foi para mim."

"Foi literalmente como uma bomba nuclear que detonou dentro do meu coração", descreve Azim.

De quem é a culpa?

Em um discurso emocionado, Tony confessou no tribunal ter matado Tariq. E pediu perdão à família Khamisa. Após se declarar culpado, foi condenado a 25 anosbetboo 356prisão.

"Essa audiência aconteceu dois anos e meio depois (do crime). Obviamente é fácil ver que meu filho foi vítimabetboo 356um jovembetboo 35614 anos. Mas eu também vi que o jovembetboo 35614 anos foi vítima da sociedade", afirma Azim.

"Quer dizer, quem é o inimigo aqui? É o jovembetboo 35614 anos ou é a sociedade que força muitos jovens, especialmente jovens com um histórico como obetboo 356Tony, que foram negligenciados, a escolher uma vidabetboo 356gangues, drogas, álcool e armas?"

Com issobetboo 356mente, nove meses após a morte do filho, Azim fundou a Tariq Khamisa Foundation, uma organização educacional com a missãobetboo 356"impedir que crianças matem crianças, quebrando o ciclo da violência juvenil".

"Decidi honrar a memória do meu filho. Minha família e eu lidamos com essa tragédia muito negativabetboo 356nossas vidasbetboo 356uma forma positiva", diz ele.

"A Tariq Khamisa Foundation ensina essencialmente os princípios da não violência, responsabilidade, empatia, compaixão e perdão. E o mais importante, a construção da paz", explica Azim.

O início da amizade

Mas como nasceu a amizade entre Ples e Azim?

"Meu foco na meditação e oração sempre foi conseguir uma chancebetboo 356me encontrar com a famíliabetboo 356Tariq. E soube pelo advogadobetboo 356Tony que Azim gostariabetboo 356se encontrar comigo", relembra Ples.

"Eu queria manifestar meu apoio, expressar minhas condolências, e foi realmente algo especial."

Durante o encontro, Azim contou sobre a fundação que tinha criado. E convidou Ples para participarbetboo 356uma reunião embetboo 356casa, junto combetboo 356família, para discutir a iniciativa.

A recepção foi mais calorosa do que ele podia imaginar dadas as circunstâncias. E foi só o começo.

Ples se tornou membro do conselho da Tariq Khamisa Foundation. E hoje os dois dão palestras para jovens sobre formasbetboo 356acabar com a violência armada.

"Quando vamos às escolas, somos apresentados como 'o neto deste homem matou o filho deste homem, e eles estão aqui no espíritobetboo 356compaixão, perdão e fraternidade'. E isso é algo que as crianças normalmente não vivenciam, porque o que elas basicamente veembetboo 356nossa cultura é que a violência gera mais violência", diz Azim.

Cara a cara com o assassino do filho

Já o encontrobetboo 356Azim com Tony só viria a acontecer alguns anos depois.

Tony Hicks e Azim

Crédito, Tariq Khamisa Foundation

Legenda da foto, 'Olhei nos olhos dele tentando encontrar um assassino, mas não consegui (encontrar)', diz Azim

"Eu só conheci o Tony cinco anos depois da mortebetboo 356Tariq, pois não sabia como reagiria. Mas sabia que, para completar minha jornadabetboo 356perdão,betboo 356algum momento teria que ficar cara a cara com ele", conta Azim.

Os dois conversaram por uma hora e meia.

"Olhei nos olhos dele tentando encontrar um assassino, mas não consegui (encontrar). Não esperava isso."

A Justiça americana concedeu liberdade condicional a Tonybetboo 356novembrobetboo 3562018, quase 24 anos após o crime. Ele foi soltobetboo 356abrilbetboo 3562019.

Parceria além do trabalho

O fato é que a amizadebetboo 356Azim e Ples vai muito além do trabalho.

"Ples e eu somos solteiros e saímos para jantar com frequência, ambos gostamosbetboo 356comida apimentada. Por isso, sempre pedimos tabasco para acompanhar nossos pratos", diz Azim.

Ples complementa: "Azim me ajudou a perceber o equilíbrio dos sabores, o valorbetboo 356um vinho para complementar uma refeição. Agora tenho um apreço notável por vinho."

Segundo Azim, a cumplicidade entre os dois é evidente. "Quando estamos juntos numa palestra,betboo 356que somos apresentados como 'o neto deste homem matou o filho deste aqui', mesmo se não dissermos uma palavra, é possível sentir o amor, o respeito e a confiança que temos um no outro."

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