Protestos na Colômbia: o que cenário sem precedente indica sobre futuro do país:basquete betboo

O que parece claro, segundo especialistas consultados pela BBC News Mundo, é que a situação atual é inédita. E isso se explica muito porque o processobasquete betboopaz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC)basquete betboo2016 abriu uma caixabasquete betbooPandorabasquete betboodemandas e problemas que antes eram estavam fora do alcance dos colombianos por causa da guerra.

"Tenho 74 anos e digo que nunca vi uma elite política tão incapazbasquete betbooencontrar soluções", diz o historiador Carlos Caballero Argáez.

O governobasquete betbooIván Duque lançou uma nova mesabasquete betboonegociações para reduzir as tensões e buscar soluções consensuais. Foi o que fezbasquete betboonovembrobasquete betboo2019, quando os protestos foram mais pacíficos e pontuais e a situação no país menos grave.

Hoje o presidente enfrenta desafiosbasquete betbootodos os lados:basquete betbooseu partido, nas ruas, nas Forças Armadas,basquete betbooquestões fiscais e na política.

Em exatamente um ano, a Colômbia realizará eleições gerais e presidenciais. E todos os desdobramentos deste momento têm uma relevância eleitoral.

A BBC News Mundo conversou com vários especialistas para tentar entender o que está acontecendo.

Uma greve ampla e sustentada

Um primeiro novo elemento desta crise é o tamanho do protesto social.

"A amplitude e a sustentabilidade [dos protestos] são inéditas", afirma Mauricio Archila, especialistabasquete betboomovimentos sociais.

Os protestos desta vez atingiram municípiosbasquete betboopequeno e médio porte. Foram convocados por jovens, mas contam com o apoiobasquete betbooidosos ebasquete betboopopulações minoritárias. Eles paralisaram a produção, o abastecimento e o transportebasquete betboolugares inesperados.

"Esta greve atingiu lugares onde os protestos não aconteciam ​​antes e continuou por vários dias sem parar", acrescenta Archila.

E conclui: "Sou muito céticobasquete betboorelação às comparações, e não quero entrar no assunto Bogotazo (o protestobasquete betboo1948) ou da greve cívicabasquete betboo1977, mas a verdade é que esta greve produziu uma aliança trabalhador-camponês-indígena que talvez nunca tivesse sido tão equilibrada."

A Greve Nacional é um movimento heterogêneo cheiobasquete betboocontradições e conflitos internos. Não existe uma liderança clara e há representaçõesbasquete betbooquase todos os setores. O futuro do movimento dependebasquete betboocomo essa diversidade vai trabalhar junta.

"Mas o que é evidente é que a força da greve surpreendeu toda a classe política", diz Daniel Hawkins, pesquisador da Escola Sindical Nacional.

"No meio da terceira e mais forte ondabasquete betboocontágio (da covid) e após a ordem do tribunalbasquete betbooCundinamarca que proibiu multidões, os políticos não imaginavam que as pessoas iriam para as ruasbasquete betbooforma massiva", diz Hawkins.

Os protestos já tiveram dois efeitos inesperadosbasquete betbooum país onde a mobilização social, que é esporádica e costuma ser rotuladabasquete betboo"subversiva", raramente teve consequências políticas: a retirada da reforma tributária da pauta e a queda do ministro da Fazenda, Alberto Carrasquilla.

O que é difícil prever é se esse movimento, que parece novo e original, terminarábasquete betboouma situação que tem precedentes na Colômbia: abasquete betboouma violência avassaladora.

Uma economia desestabilizada

A economia colombiana é há décadas a mais estável da América Latina: a que teve menos recessões no século 20, a que não apresentou hiperinflação e a que não deixoubasquete betboocumprir seus compromissosbasquete betboodívidabasquete betboo80 anos.

Mas agora a situação é diferente.

"Poucas vezes — para não dizer nunca — tinha visto o paísbasquete betboouma situação tão difícil como a que vivemos hoje", escreveu embasquete betboocoluna o prestigioso economista e ex-ministro Mauricio Cárdenas.

E Caballero Argáez acrescenta: "A última vez que a responsabilidade fiscal do país foi questionada foi durante a crise da dívida latino-americana (início dos anos 1980), mas naquela ocasião a Colômbia conseguiu refinanciar a dívida e um acordobasquete betboomonitoramento com o FMI que nos permitiu ser o único país latino-americano que não entroubasquete betboorecessão nem precisou reestruturar dívidas."

Hoje os títulos colombianos são classificados como "junk" ("lixo") nos mercados internacionais, o peso colombiano está atingindo recordesbasquete betboodesvalorização e, pela primeira vezbasquete betbooanos, a capacidadebasquete betboopagamento e emissão da dívida do país é questionada.

"A Colômbia tem um problemabasquete betbooarrecadação (fiscal) toda vez que há uma crise, porquebasquete betbooarrecadaçãobasquete betbootempos normais sempre foi baixa", diz a cientista política Mónica Pachón.

"Mas eles sempre puderam resolver isso com reformas tributárias emergenciais e com impostos temporários que conseguiram nos tirar do problema."

"A diferença agora é que uma reforma nunca gerou tamanha oposição, mesmo sem chegar ao Congresso, ebasquete betbooretirada nos deixoubasquete betboouma situação incômoda", explica Pachón, que é a reitorabasquete betbooCiência Política da Universidad del Rosario.

Duque disse quebasquete betbooprioridade é conseguir uma reforma o mais rápido possível para que seja aprovada no Congresso. Os economistas acreditam que se chegará a uma solução que provavelmente terá menor arrecadaçãobasquete betbooimpostos, mas que pelo menos tirará o país da crise.

No entanto, o famoso modelo neoliberal e ortodoxobasquete betbooestabilidade da Colômbia mostrou rachaduras pela primeira vez embasquete betboohistória.

Uma política radicalizada

Alémbasquete betbooeconomicamente estável, a Colômbia tem sido um país sem muitos altos e baixos políticos: exceto por um pequeno período na décadabasquete betboo1950, a democraciabasquete betbooseu sentido mais formal — eleições a cada quatro anos e transiçõesbasquete betboopoder sem conflitos — se manteve intacta.

Embora a violência não tenha deixadobasquete betbooser um problema desde a décadabasquete betboo1950, o bipartidarismo entre liberais e conservadores (que passaram a se alternar no poder por acordo) permitiu que se gerasse a ideiabasquete betbooque as instituições democráticas não corriam perigo.

A Colômbia sempre foi considerada, pelo menos no exterior, como uma democracia estável.

Mas, nesta crise, a classe política não tem conseguido chegar a soluções, apontam analistas. Duque convocou os militares para controlar a situação (embora vários prefeitos critiquem isso). Alguns até cogitam cenáriosbasquete betboogolpesbasquete betbooEstado e o líder nas pesquisas para as eleiçõesbasquete betboo2022 é Gustavo Petro, um candidatobasquete betbooesquerda que fez parte da guerrilha.

"A violência dos protestos, que também é seguidabasquete betboosuas redes por pessoas que sequer entendem ou se aprofundam sobre o tema, torna a política mais polarizada e ideológica, com a consequênciabasquete betbooque se chegar a soluções fica muito mais difícil", explica Pachón.

Um dos efeitos do processobasquete betboopazbasquete betboo2016 foi o estatuto da oposição, um mecanismo que dá garantias aos críticos do Executivo, mas também aumentabasquete betboocapacidadebasquete betboodificultar suas iniciativas.

"Você acrescenta a isso o fatobasquete betbooque Duque é um presidente fraco mesmo dentrobasquete betbooseu partido e você tem um terreno fértil para os problemas", diz Pachón.

Na Colômbia, comobasquete betbootoda a América Latina, sempre houve uma crisebasquete betboorepresentação política, mas talvez nunca antes a desconfiança da populaçãobasquete betboorelação à classe política tenha sido tão evidente.

"O que estamos vendo é um descontentamento generalizado e talvez irremediável, é quase uma situação pré-revolucionária", diz Caballero.

As consequências podem ser muitas: desde a renúncia do presidente, sem precedentes na Colômbia desde os anos 1950, até a eleiçãobasquete betbooum candidato, sejabasquete betbooesquerda oubasquete betboodireita, que rompa com as até então estáveis ​​instituições democráticas do país.

"Isso se resolve com um candidato que gere confiança entre as diferentes partes da população ao mesmo tempo, inclusive no establishment político", diz Pachón.

"Mas temo que, agora, estejamos mais longes disso do que nunca."

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