'Usar véu muçulmano não significa que sejamos oprimidas':

Estudantes da Universidade Aliah protestam contra a proibição do hijabalgumas escolasKarnataka, Calcutá, na Índia

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Legenda da foto, Mulheres muçulmanas afirmam que elas sentem raiva quando precisam explicardecisãousar o hijab

O hijab é amplamente usado na Índia, onde as demonstrações públicasfé são comuns. Mas,janeiro2022, alunasuma escola no EstadoKarnataka, no sul do país, protestaram por terem sido proibidasusar o hijab na salaaula e deram ao véu uma visibilidade inédita.

Muzna, Nabeela e Sarah

Crédito, Muzna Shaikh

Legenda da foto, Muzna, Nabeela e Sarah começaram a usar o hijabdiferentes momentos da vida

A questão - se as meninas muçulmanas têm o direitousar o hijab na salaaula - agora está na justiça. A disputa despertou violência, dividiu as escolas e impediu diversas meninas muçulmanasKarnatakacomparecer às aulas.

A BBC falou com mulheres muçulmanastoda a Índia, que afirmam sentir raiva pela "natureza intrusiva" do debate.

"Somos constantemente lembradasque, para sermos aceitas, precisamos abrir mão da nossa religião", disse uma mulher da capital indiana, Nova Déli. As mulheres afirmam que o clamor popular oculta a natureza intensamente pessoal daescolha.

Aquelas que decidem usar o hijab afirmam que a decisão não é apenas religiosa, mas sim tomada após reflexão. E as que preferem não usar o hijab dizem que seus cabelos não são o termômetro dafé.

'Eu não sou oprimida'

"As pessoas não entendem por que alguém pode se sentir empoderada usando um véu", afirma Nabeela, rindo. "Elas ficam confusas e, por isso, elas nos julgam."

"Oprimida" é uma palavra comumente lançada contra as mulheres que usam o hijab, mas muitas salientam que desconsiderar os seus motivos para usar o véu também não é liberador, nem manter as meninas fora da escola porque elas se recusam a retirar o hijab.

"As jovens muçulmanas estão nas ruas protestando pelos seus direitos. E você ainda me diz que [essas] mulheres não conseguem pensar por si próprias?", afirmou Naq, com 27 anosidade, da cidadeBangalore (capitalKarnataka), que se identifica apenas pelo seu primeiro nome.

Mulheres muçulmanasThane Mumbra fazem manifestação contra o governoKarnataka e organizam manifestaçãoapoio ao hijabprotesto à proibição do hijabfaculdades no estadoKarnataka,13fevereiro2022

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Legenda da foto, A disputa sobre o hijab desencadeou protestostodo o país

Quando Naq decidiu usar o hijab, cinco anos atrás, ela conta que encontrou as reações "mais bizarras".

"Meu véu revelou muitos pensamentos das pessoas", segundo ela. "As pessoas sussurravam para mim: Você é oprimida? Você está com calor? Qual xampu você usa? Algumas pessoas chegaram até a me perguntar se eu tinha cabelo - elas pensavam que eu tinha câncer."

Para ela, o hijab era também um experimentovestuário. Ela vê glamourcada prega e dramacada cor.

"As pessoas acham que meu hijab não combina com minhas roupas da moda e a maquiagem. Mas combina, sim", segundo ela. "Se eu entraruma sala, quero que as pessoas olhem para mim e pensem: 'esta é uma mulher muçulmana atingindo seus objetivos, viajando pelo mundo e desabrochando'."

Já outras mulheres muçulmanas - como Wafa Khatheeja Rahman, advogadaMangalore, no sul da Índia - afirmam que não vestir o hijab não as torna menos muçulmanas.

"Eu não uso porque não estáacordo com quem eu sou - e ninguém pode me dizer para usar", afirma ela. "Mas, da mesma forma, ninguém pode me dizer que eu não deveria usar."

Estudantes muçulmanas indianas saem após não serem autorizadas a entrarcurso pré-vestibular usando hijab, na cidadeUdupi, no estadoKarnataka, no sul da Índia,16fevereiro2022

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Legenda da foto, Diversas mulheres afirmam que enfrentam discriminação na escola devido ao hijab

A mãeRahman também nunca usou o hijab, mas ela conta que cresceu com fé àvolta, ouvindo histórias do Profeta e tambémmulheres do Islã. "A primeira esposa do Profeta era comerciante e a segunda foi para a batalhaum camelo. Somos então realmente tão oprimidas como o mundo quer que acreditemos?", pergunta ela.

'O que háerradoser muçulmana?'

Houve uma épocaque Falak Abbas odiava a ideiacobrir seus cabelos - uma escolha incomumVaranasi, cidade conservadora no norte da Índia. Mas, quando tinha 16 anos, ela viu na TV Malala Yousafzai - a paquistanesa vencedora do Prêmio Nobel da Paz, que a fez mudaropinião.

"A cabeça dela estava coberta, mas ela parecia tão poderosa. Ela me inspirou e decidi também cobrir minha cabeça", conta Abbas.

Mas a escolafreiras que ela frequentava não concordou, dizendo que o hijab era incompatível com o uniforme, que era compostouma túnica longa e calças. Abbas afirma que, por três dias, ela foi proibidafrequentar as aulas - chegando a perder um examebiologia. E, quando ela protestou, a escola chamou os seus pais e a acusoumau comportamento.

"Eles disseram que, se eu usasse o hijab, causaria problemas não só para mim, mas também para a escola, pois todos descobririam que sou muçulmana", relembra ela. "O que háerradoser muçulmana?"

Manequins com hijabloja no Dia Mundial do HijabSrinagar, Caxemira,01fevereiro2022

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Legenda da foto, Existem diversas formasusar o hijab islâmico

Mas ela cedeu depois que seus pais disseram a ela que não "prejudicasseeducação por causa do hijab". E, oito anos depois, assistindo às cenas dos protestosKarnataka, Abbas conta que está novamente dominada por "profunda raiva".

Khadeeja Mangat, do EstadoKerala, no sul da Índia, também está indignada com esse policiamento. Sua escola proibiu o hijab do dia para a noite1997. A proibição acabou sendo revogada, mas Mangat se pergunta o que aconteceráKarnataka.

"Tudo é muito claro - a constituição, seus valores e nossas manifestações", afirma ela. "Mas ainda precisamos nos defender incansavelmente, mesmo às custas da nossa educação."

'A forma como as pessoas veem você pode ser muito desgastante'

Embora as audiências na justiça tenham se concentrado ostensivamente no uso do hijab na salaaula, as mulheres muçulmanas estão ansiosas para saber qual será o vereditoum país altamente polarizado como a Índia, com o governo nacionalista hindu do primeiro-ministro Narendra Modi.

Simeen Ansar, da cidadeHyderabad, no sul da Índia, afirma que o hijab está sendo transformadoum símbolo subversivo para "ganhos políticos".

"Cresci com meninas hindus que cobriam suas pernas com as saias da escola, o que não parecia mais surpreendente para mim na época que ver os meninos sikh usando turbantes", afirma ela. "Mas, com relação ao hijab, as mulheres muçulmanas são reduzidas a duas situações. Se uso o hijab, sou tradicional e oprimida. Se não uso, sou moderna e liberada."

Duas meninas rindovilarejo na Índia

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Legenda da foto, O hijab é muito usado na Índia

Ela conta queirmã e ela começaram a usar o hijab, mas logo desistiram porquedecisão nunca foi totalmente aceita. Enquantoirmã era discriminada no trabalho, Simeen conta que as pessoas a encaravamlugares onde não se esperava ver uma mulher com hijab, como academiasginástica, bares ou festas.

"A forma como as pessoas veem você pode ser muito cansativa", afirma ela.

E muitas mulheres muçulmanas compartilham esse medo -que, agora, mais do que nunca, o hijab será a única coisa que as pessoas enxergarão. Essa ansiedade está fazendo com que Wafa Rahman, que nem mesmo usa o hijab, acompanhe atentamente as audiências.

"Mesmo quando estou no trabalho, coloco meus fonesouvido e acompanho o processo [judicial]", ela conta.

Ela agora se preocupa se isso afetará suas amigas e familiares que usam o hijab. "Você tira o meu hijab e o que vem depois? Eu ainda tenho um nome árabe. Terei também que mudarnome para que você me respeite?"

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