Por que nenhum país da América Latina tem armas nucleares – e o papel do Brasil nisso:agua e fogo jogo

Uma das ogivas originais criadas para "Little Boy", a bomba lançada sobre Hiroshima

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Legenda da foto, As bombasagua e fogo jogoHiroshima e Nagasaki deram início à era do terror nuclear

Essas iniciativas, no entanto, não foram capazesagua e fogo jogoimpedir queagua e fogo jogopraticamente todas as regiões do mundo exista pelo menos um país que tenha desenvolvido armas nucleares.

Aos Estados Unidos e à Rússia (herdeira do arsenal soviético) somaram-se países da Europa (Reino Unido e França); da Ásia (China, Coreia do Norte, Índia e Paquistão); do Oriente Médio (Israel, que não admite formalmente ter a bomba) e da África (África do Sul, único país que desenvolveu a bomba e depois voluntariamente se desfez dela).

Assim, Estadosagua e fogo jogopraticamente todas as partes do mundo têm ou tiveram armas nucleares com uma notável exceção: a América Latina, onde não apenas não há potências nucleares, como foi a primeira região densamente povoada do mundo a se declarar uma zona livreagua e fogo jogoarmas nucleares.

Como isso aconteceu? As razões são várias, mas as primeiras razões são encontradas há seis décadas.

O impacto da crise dos mísseis

"A históriaagua e fogo jogopor que a América Latina não tem armas nucleares remonta à crise dos mísseisagua e fogo jogooutubroagua e fogo jogo1962, quando a União Soviética posicionou mísseisagua e fogo jogoCuba, dando origem a uma crise entre os Estados Unidos e a União Soviética", explica Luis Rodríguez, pesquisadoragua e fogo jogopós-doutorado do Centroagua e fogo jogoSegurança e Cooperação Internacional da Universidadeagua e fogo jogoStanford, na Califórnia (EUA).

Manifestação à época da crise dos mísseis

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Legenda da foto, A crise dos mísseisagua e fogo jogo1962 levou o mundo à beira da Terceira Guerra Mundial

"Como resultado, vários países da América Latina decidiram começar a formar uma resposta multilateral para evitar que outra criseagua e fogo jogomísseis aconteça na região. Essa foi a primeira vez que países da América Latina viram riscos nucleares tão próximosagua e fogo jogocasa", acrescenta o especialista sobre o episódio considerado o ponto mais próximo que a humanidade esteveagua e fogo jogouma Terceira Guerra Mundial.

Rodríguez explica que, desde o final da décadaagua e fogo jogo1950, surge a preocupaçãoagua e fogo jogoimpedir que outro país fizesse aquilo que os Estados Unidos fizeramagua e fogo jogoHiroshima e Nagasaki. Na Europa, a Irlanda foi um dos países que promoveram essa ideia e, na América Latina, foi a Costa Rica. No entanto, até então, esse risco era visto como algo distante.

Ryan Musto, da Faculdadeagua e fogo jogoWilliam e Mary (Virgínia, EUA), concorda que a ideiaagua e fogo jogobanir a bomba existia na América Latina desde antesagua e fogo jogo1962, mas avalia que então tudo mudou.

"A Crise dos Mísseisagua e fogo jogoCuba foi um catalisador, e o Brasil então propõe tornar a América Latina uma zona livreagua e fogo jogoarmas nucleares como uma possível solução para essa crise, porque poderia facilitar a retiradaagua e fogo jogomísseisagua e fogo jogoCuba, ao mesmo tempoagua e fogo jogoque permitia livrar a cara tanto dos Estados Unidos, como da União Soviética ", diz Musto à BBC News Mundo, serviçoagua e fogo jogoespanhol da BBC.

Essa iniciativa não prosperou e a crise dos mísseis foi resolvida através do diálogo direto entre Washington e Moscou. Mas muitos países latino-americanos continuaram a ver a criaçãoagua e fogo jogouma zona livreagua e fogo jogoarmas nucleares como uma formaagua e fogo jogoevitar que uma crise semelhante voltasse a acontecer no futuro.

Assim, a região iniciou um processoagua e fogo jogonegociações que culminouagua e fogo jogofevereiroagua e fogo jogo1967 com a criação do Tratadoagua e fogo jogoTlatelolco (bairro da Cidade do México onde foi celebrado o acordo) que proíbe o desenvolvimento, aquisição, teste e instalaçãoagua e fogo jogoarmas nucleares na América Latina e Caribe.

Sede da Agência Internacionalagua e fogo jogoEnergia Atômica

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Legenda da foto, A Agência Internacionalagua e fogo jogoEnergia Atômica foi criadaagua e fogo jogo1957

Este tratado entrouagua e fogo jogovigoragua e fogo jogo1969, mas com ele os riscosagua e fogo jogoproliferação nuclear na região não chegaram ao fim, pois havia dois Estados-chave na região relutantesagua e fogo jogoaceitá-lo plenamente.

A resistênciaagua e fogo jogoBrasil e Argentina

Embora o Brasil tenha sido um dos proponentes iniciais da criaçãoagua e fogo jogouma zona latino-americana livreagua e fogo jogoarmas nucleares, logo mudouagua e fogo jogoposição sobre o assunto, cedendo esse postoagua e fogo jogoliderança ao México.

O esforço mexicano foi recompensado com o fatoagua e fogo jogoo tratado levar o nomeagua e fogo jogoTlatelolco, sede do Ministério das Relações Exteriores daquele país, e com o Prêmio Nobel da Paz concedido ao diplomata mexicano Alfonso García Roblesagua e fogo jogo1982.

Alfonso García Robles

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Legenda da foto, Alfonso García Robles foi chamadoagua e fogo jogo'Senhor Desarmamento'agua e fogo jogoconferência da ONU

"Depois do golpe no Brasilagua e fogo jogo1964, as elites militares do país decidiram investir menos no projetoagua e fogo jogodesmilitarização da América Latina", diz Rodríguez.

Outro país da região, relevante do pontoagua e fogo jogovista da tecnologia nuclear, que se recusou a aceitar totalmente o Tratadoagua e fogo jogoTlatelolco foi a Argentina.

"Depoisagua e fogo jogo1962, o México se torna a face visível dessa iniciativa. O Brasil se distancia dela. Há cientistas que questionavam internamente: 'Queremos mesmo abrir mão do nosso direitoagua e fogo jogoter armas nuclearesagua e fogo jogotrocaagua e fogo jogonada? O que acontecerá se um dia precisarmos delas?'", diz Musto.

O especialista afirma que ambos os países apoiaram formalmente o Tratadoagua e fogo jogoTlatelolco porque "pegaria mal" não apoiar, e participaram da elaboração do acordo tentando influenciar para que fosse permitido o que então era conhecido como "explosões nucleares pacíficas".

Rodríguez explica que, naquela época, acreditava-se que a energia nuclear poderia ser um instrumento para acelerar o desenvolvimento dos países latino-americanos e que essas "explosões pacíficas" poderiam ser usadas, por exemplo, para abrir minas, canaisagua e fogo jogonavegação ou até mesmo para obrasagua e fogo jogohidrelétricas.

"Foi isso que levou países como Brasil e Argentina a desenvolver certos programas nuclearesagua e fogo jogotecnologiaagua e fogo jogouso duplo, que poderiam servir ​​para fins civis ou militares, o que gerou certas tensões, principalmente com organizações internacionais", diz Rodríguez.

Usina nuclear no Brasil

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Legenda da foto, Brasil tem duas usinas nuclearesagua e fogo jogoatividade

Rodríguez e Musto afirmam que não foi comprovado que os governos da Argentina e do Brasil tivessem planosagua e fogo jogodesenvolver armas nucleares, embora haja indíciosagua e fogo jogoque houve pessoas dentro dos governos dos dois países partidárias dessa possibilidade.

"O que Brasil e Argentina fizeram foi criar um programa nuclear fora das regulamentações da Agência Internacionalagua e fogo jogoEnergia Atômica, por isso são chamadosagua e fogo jogoprogramas secretos do Brasil e Argentina", diz Rodríguez.

"Há historiadores como Carlos Pati, um italiano que trabalha no Brasil, que não constataram que as motivações foram puramente militares ou que foram para criar armas nucleares. O que se vê é que houve uma divisão nos dois países entre facções das elites que queriam armas nucleares e facções que decidiram não tê-las", acrescenta.

Musto indica que ambos os países estavam muito preocupados com as limitações que os acordos internacionais poderiam impor às suas opçõesagua e fogo jogodesenvolvimento nuclear.

"Ambos os países queriam desenvolver um ciclo completo e independenteagua e fogo jogoproduçãoagua e fogo jogocombustível nuclear. Não queriam queagua e fogo jogosoberania nuclear fosse afetada", diz.

Apesaragua e fogo jogotudo, no início da décadaagua e fogo jogo1990, ambos os países renunciaram ao direito às explosões nucleares pacíficas, se integraram totalmente ao Tratadoagua e fogo jogoTlatelolco e, posteriormente, fizeram o mesmo com o Tratadoagua e fogo jogoNão-Proliferação Nuclear.

Essas decisões foram acompanhadas pelo abandono, tanto pela Argentina, quanto pelo Brasil,agua e fogo jogoseus programasagua e fogo jogodesenvolvimentoagua e fogo jogomísseis balísticos. Projetos que, combinados com seus programasagua e fogo jogodesenvolvimento nuclear fora do Tratadoagua e fogo jogoNão-Proliferação, geraram preocupação na comunidade internacional.

Rivalidades, custos e instituições internacionais

Além do impacto da crise dos mísseis, há outros fatores que contribuíram para que nenhum país da América Latina — e especialmente Brasil e Argentina, que estavamagua e fogo jogomelhor posição para isso — se equipasse com a bomba.

Ryan Musto aponta, por exemplo, para o fatoagua e fogo jogoa região não ter o tipoagua e fogo jogorivalidades intensas e conflitos que ocorremagua e fogo jogooutras partes do mundo.

Raúl Alfonsín e José Sarney, presidentes da Argentina e do brasil, respectivamente

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Legenda da foto, As transições democráticas na Argentina e Brasil facilitaramagua e fogo jogoplena incorporação ao regime internacionalagua e fogo jogoarmas nucleares

"Sim, Brasil e Argentina são rivais, mas isso nunca chegou a um ponto forte o suficiente para levar a uma corrida armamentista. Em geral, a América Latina parece ser uma região relativamente estável quando se trataagua e fogo jogoconflitos interestatais", destaca o especialista.

Outro elemento que contribuiu no caso do Brasil e da Argentina foi que ambos os países fizeram a transiçãoagua e fogo jogoditaduras militares para a democraciaagua e fogo jogomeados da décadaagua e fogo jogo1980.

O alto custoagua e fogo jogoum programa atômico também pode ter desempenhado um papel importanteagua e fogo jogodissuadir a proliferação nuclear na região.

"Desenvolver um programa nuclear é muito caro. Precisaagua e fogo jogomuita infraestrutura, especialistas e conhecimento", diz Rodríguez, da Universidadeagua e fogo jogoStanford.

Esse alto custo, além disso, não é medido apenas pela quantidadeagua e fogo jogodinheiro que o programaagua e fogo jogoarmas nucleares exige. Também são altos os custos diplomáticos eagua e fogo jogoprestígio derivadosagua e fogo jogoir contra a corrente do consenso internacional contra a proliferaçãoagua e fogo jogoarmas e também das oportunidades perdidas relacionadas ao uso pacífico da energia nuclear.

Um exemplo claro disso, segundo Musto, ocorreuagua e fogo jogo1975, quando o Brasil assinou com a Alemanha Ocidental o maior acordo da históriaagua e fogo jogotermosagua e fogo jogotransferênciaagua e fogo jogotecnologia nuclear para um país do sul global.

"O acordo deveria ajudar o Brasil a construir oito reatores nucleares. Bem, os Estados Unidos pressionaram a Alemanha Ocidental porque o Brasil não era membro do Tratadoagua e fogo jogoNão-Proliferação Nuclear e havia suspeitas sobre seu programa atômico — e talvez também devido a alguns interesses comerciais dos EUA. No fim, o acordo não se concretizou", afirma.

"Então, esses tiposagua e fogo jogoaspirações desapareceram porque Brasil e Argentina não participaram plenamente do sistemaagua e fogo jogopadrões nucleares previsto no regime do Tratadoagua e fogo jogoNão-Proliferação", acrescenta.

Assim, chegou-se a um pontoagua e fogo jogoque, para ambos os países, havia mais benefícios e oportunidades se estivessem totalmente integrados às instituições internacionais que regulam o uso pacífico da energia atômica, do que tentando preservaragua e fogo jogoliberdadeagua e fogo jogoação fora delas.

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