Para ascender, mulher tem que ser melhor do que o homem, diz ministra:bet 3.5

Ministra Eleonora Menicucci (Ag. Brasil)
Legenda da foto, Eleonora Menicucci lembra que a pobreza é majoritariamente negra e feminina no Brasil
  • Author, Paula Adamo Idoeta
  • Role, Da BBC Brasilbet 3.5São Paulo

bet 3.5 Para ascender profissionalmente, a mulher "precisa ser melhor do que o homem", diz Eleonora Menicucci, 69 anos, desde 2012 a ministrabet 3.5Políticas para as Mulheres. Em entrevista à BBC Brasil, Menicucci destaca que, apesarbet 3.5mais escolarizadas, as mulheres ainda enfrentam uma sériebet 3.5barreiras.

Série da BBC aborda anseios e conquistas das mulheres atuais
Legenda da foto, Série da BBC aborda anseios e conquistas das mulheres atuais

bet 3.5 Um exemplo: no ano passado, o maior aumento salarial registrado, segundo a pesquisabet 3.5amostra domiciliar do IBGE, foi o das domésticas - as com carteira assinada tiveram aumentobet 3.5salário realbet 3.510,8%, muito superior aos demais trabalhadores,de 4,6%.

São os governos que definem o percentual mínimobet 3.5correção salarial para esta categoria, uma das portasbet 3.5entradabet 3.5mulheres pobres no mercadobet 3.5trabalho.

No entanto, o quadro geral ainda permanece o mesmo. Em média, as mulheres receberem apenas 72,9% do salário dos homens no país, segundo o IBGE.

Militante feminista, a ministra Eleonora Menicucci é formadabet 3.5ciências sociais, divorciada e tem dois filhos e três netos.

bet 3.5 BBC Brasil - Mesmo com avanços notáveis no mercadobet 3.5trabalho, vemos poucas mulheresbet 3.5posiçõesbet 3.5chefia e,bet 3.5geral, elas ganham cercabet 3.570% do salário dos homens. Que passo falta para elas estarembet 3.5nívelbet 3.5igualdade profissional?

bet 3.5 Eleonora Menicucci - São muitos desafios. O primeiro deles é quebrar o paradigma patriarcal,bet 3.5valores e costumes, e olhar a mulher como protagonista,bet 3.5capacidade e autonomia no mercadobet 3.5trabalho.

Elas são mais escolarizadas que os homens, mas quando entram no mercadobet 3.5trabalho, salvo no serviço público, a ascensão na carreira é dificultada enormemente. Tem um ciclobet 3.5barreiras - entre uma mulher e um homem, opta-se pelo homem. Isso faz com que elas realmente ainda ganhem menosbet 3.5várias áreas.

A única área profissionalbet 3.5que o salário das mulheres subiu (mais) foi o das empregadas domésticas.

O segundo desafio é que, alémbet 3.5mostrar competência no mercadobet 3.5trabalho, ela tem que ser melhor do que o homem.

Mas temos 85 empresas que aderiram a um programa (do governo federal)bet 3.5boas práticasbet 3.5gênero. Ao apresentar relatório do impacto da adesão ao programa, elas recebem um selo.

E na política há desafios também. Embora tenhamos a primeira presidente mulher, só temos 600 prefeitas e 12%bet 3.5parlamentares mulheres (o que equivale a 45 legisladoras). Também há um patriarcado.

bet 3.5 Isso dificulta o avançobet 3.5políticas femininas?

Sem dúvida. As mulheres, na política como no trabalho, sabem o peso que é ser mulher. Têm que batalhar.

bet 3.5 Temos também um Congresso conservador, uma bancada religiosabet 3.5expansão. Isso não é outro empecilho?

Acho que não. Quem vota é o povo. Ele é mais do que conservador. Ele é (resultado)bet 3.5séculosbet 3.5preconceito sobre a mulher. Historicamente, sóbet 3.51932 que elas conquistaram direito ao voto e nos anos 1960 entraram no mercadobet 3.5trabalho.

A nossa democracia é realmente consolidada por 25 anosbet 3.5uma Constituição participativa, (mas) agora precisamos dar um salto, para uma democracia mais representativa, por meiobet 3.5uma reforma eleitoral.

bet 3.5 Em que termos?

Começando pelos partidos, que têm que colocar uma lista alternada (uma candidata mulher para cada homem) e realmente investir o percentualbet 3.55% dos recursos financeiros nas candidaturas femininas - algo que já é lei.

(Mas) pela primeira vez na história, nas últimas eleições, a ministra Carmen Lucia, do Supremo Tribunal Federal, devolveu a listabet 3.5partidos (pelo não cumprimento). Então, como militante histórica, tenho certezabet 3.5que as políticas públicasbet 3.5igualdadebet 3.5gêneros têm feito a diferença.

bet 3.5 Recentemente, uma pesquisa divulgada pelo Ipea (Institutobet 3.5Pesquisas Aplicadas, ligado ao governo) mostrou que os homicídiosbet 3.5mulheres não diminuíram após a aprovação da lei Maria da Penha.

Os dados com que a pesquisa trabalha são subnotificados. Não se pode dizer que uma leibet 3.5(apenas) sete anos fracassou. Discordo dessa conclusão.

Ao contrário, a lei reforçou a articulação entre os Poderes, prendeu 32 mil agressores, e (permitiu que) os juizados emitissem maisbet 3.5300 mil medidasbet 3.5proteção (para mulheres ameaçadasbet 3.5agressões). A lei é um sucesso e um desafio, porque temos que implementá-la no Brasil inteiro e porque só com campanhasbet 3.5sensibilização e mobilização mudaremos a mentalidade da sociedade.

bet 3.5 O que hoje mais dificulta a proteção das mulheres?

É um conjuntobet 3.5fatores. Há o resquício do patriarcado, havia pouca denúncia das mulheres - havia, não há mais, porque isso mudou -, (é preciso) facilitar o acesso das mulheres aos serviços (de atendimento) e propor medidas efetivasbet 3.5autonomia econômica, inserção e emprego para que elas saiam do ciclo (de submissão).

bet 3.5 Diz-se que a pobreza no Brasil é feminina, negra e jovem. Isso ainda vale?

Vale. Dados recentes do Bolsa Família mostram que 92% das famílias beneficiadas são dirigidas por mulheres. Dessas, 72% são negras. Então ela é pobre. É a cara da pobreza no Brasil.

bet 3.5 Os valores feministas também estão mudando? Os da próxima geração são diferentes dos dabet 3.5geração?

Tenho convicção que estão mudando. A sociedade não aceita mais a impunidade, a discriminaçãobet 3.5gênero e raça e orientação sexual. A sociedade quer respeito e quer conviver com a diversidade.