Os animais cometem suicídio?:como se cadastrar no pixbet

  • Melissa Hogenboom
  • BBC Earth
Legenda do áudio, Os animais cometem suicídio?

como se cadastrar no pixbet Em 1845, uma história curiosa apareceu nas páginas do como se cadastrar no pixbet Illustrated London News como se cadastrar no pixbet , um jornal da capital britânica.

Um cachorro preto, descrito como "fino, bonito e valioso", teria "se jogado na água",como se cadastrar no pixbetuma provável tentativacomo se cadastrar no pixbetsuicídio. Suas pernas e patas estavam "perfeitamente imóveis" - algo incomum para um cãocomo se cadastrar no pixbetum rio.

Mais estranho ainda: após ser retirado da água, o cachorro "rapidamente correu para a água e tentou afundar mais uma vez".

O cão acabou morrendo.

A julgar pelos relatos da imprensa da época, ele estava longecomo se cadastrar no pixbetser o único nessas tentativas. Pouco tempo depois, outros dois casos apareceramcomo se cadastrar no pixbetjornais populares: um pato que teria se afogadocomo se cadastrar no pixbetpropósito e uma gata que se enforcoucomo se cadastrar no pixbetum galho após seus filhotes morrerem.

O que hácomo se cadastrar no pixbetverdade nesses episódios?

Sabemos que animais podem sofrer problemascomo se cadastrar no pixbetsaúde mental como humanos: sobretudo estresse e depressão, mas animais realmente tentam suicídio?

Cão no mar

Crédito, Alflo/Naturepl.com

Legenda da foto, Alguns cães morrem logo após os donos

Pergunta antiga

A questão não é nova: os gregos antigos também a consideravam. Há maiscomo se cadastrar no pixbet2 mil anos, Aristóteles citou um cavalo que se jogaracomo se cadastrar no pixbetum abismo após ter sido obrigado a se acasalar com a própria mãe.

No século 2 d.C., o estudioso grego Claudius Aelian dedicou um livro inteiro ao tema. Citou 21 supostos casoscomo se cadastrar no pixbetsuicídio animais, incluindo um golfinho que se deixou capturar, diversos cães que morreramcomo se cadastrar no pixbetfome após a morte dos donos e uma águia que "se sacrificou por combustão na pira (em que queimava o corpo)como se cadastrar no pixbetseu falecido dono".

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Fim do WhatsApp

Como o "cão bonito" que se afogou, a ideiacomo se cadastrar no pixbetsuicídio animal continuou popular no século 19. O psiquiatra William Lauder Lindsay disse que animais nessa condição sofriamcomo se cadastrar no pixbet"melancolia suicida" e descreveu como poderiam ser "literalmente estimulados à fúria e paranoia" antescomo se cadastrar no pixbetum suicídio.

Naquela época, essas ideias eram acolhidas por gruposcomo se cadastrar no pixbetdireitos dos animais. Ativistas buscavam humanizar as emoções dos bichos, explica o historiador da medicina Duncan Wilson, da Universidadecomo se cadastrar no pixbetManchester, na Inglaterra, que analisou referências históricas ao suicídio animalcomo se cadastrar no pixbetum artigocomo se cadastrar no pixbet2014.

Os ativistas faziam isso, afirma o especialista, para mostrar que os animais "compartilhavam a capacidadecomo se cadastrar no pixbetautorreflexão e intencionalidade, que incluía a possibilidadecomo se cadastrar no pixbettentar tirar a própria vida por sofrimento ou fúria."

Um exemplo: uma ediçãocomo se cadastrar no pixbet1875 da publicação científica Animal World trazia na capa um cervo selvagem saltando para um provável suicídio. O texto dizia que "um cervo selvagem, para não ser capturado por seus perseguidores, irá cair nas garrascomo se cadastrar no pixbetuma morte terrível."

Ciência e cultura

Contudo, com o avanço da medicina no século 20, a atitude humana diante do suicídio se tornou mais científica, e esse tipocomo se cadastrar no pixbetretrato "heroico"como se cadastrar no pixbetanimais suicidas perdeu espaço.

O foco mudou para possíveis suicídioscomo se cadastrar no pixbetpopulações maiores, por um aparente tipocomo se cadastrar no pixbetpressão social dentro da espécie, diz Duncan Wilson. Pegue os exemploscomo se cadastrar no pixbetlemingues, roedores que vivemcomo se cadastrar no pixbetregiões árticas, que aparentemente marcham para se jogarcomo se cadastrar no pixbetpenhascos, ou encalhes coletivoscomo se cadastrar no pixbetbaleias.

Wilson não procurou responder se os animais realmente tentam suicídio. Em vez disso,como se cadastrar no pixbetpesquisa revelou que mudanças nas atitudes diante do suicídio humano se refletiramcomo se cadastrar no pixbetnossas histórias sobre bichos.

lemingues

Crédito, Benoitb/Istock

Legenda da foto, Apesarcomo se cadastrar no pixbetrelatos nesse sentido, lemingues não se jogamcomo se cadastrar no pixbetmorroscomo se cadastrar no pixbetsuicídios coletivos

Mas um outro pesquisador tentou encontrar essa resposta.

Antonio Petri, psiquiatra na Universidadecomo se cadastrar no pixbetCagliari, na Itália, revisou a literatura sobre suicídio animal e concluiu que não deveríamos deixar nos iludir pelas histórias dos jornais do século 19.

Ele analisou cercacomo se cadastrar no pixbetmil estudos publicadoscomo se cadastrar no pixbet40 anos e não encontrou provascomo se cadastrar no pixbetque um animal selvagem conscientemente pratique suicídio. Casos como o do livro do grego Claudius Aelian são "fábulas antropomórficas (cuja forma aparente evoca seres humanos)", diz ele.

Pesquisadores hoje sabem que a morte coletivacomo se cadastrar no pixbetlemingues são um consequência tristecomo se cadastrar no pixbetuma população densacomo se cadastrar no pixbetcriaturas emigrando juntas ao mesmo tempo.

Nos casoscomo se cadastrar no pixbetque um animalcomo se cadastrar no pixbetestimação morre após o dono, isso se explica pelo rompimentocomo se cadastrar no pixbetum laço social, afirma Preti. O animal não toma uma decisão conscientecomo se cadastrar no pixbetmorrer - ele era tão acostumado ao dono que passa a não aceitar mais comidacomo se cadastrar no pixbetninguém.

"Pensar que um animal desse morreucomo se cadastrar no pixbetsuicídio como uma pessoa é apenas uma projeçãocomo se cadastrar no pixbetum estilocomo se cadastrar no pixbetinterpretação (romântica) humana."

Estresse animal

Esse exemplo chama a atenção a um fato importante: o estresse pode alterar o comportamentocomo se cadastrar no pixbetum animalcomo se cadastrar no pixbetmodo a ameaçarcomo se cadastrar no pixbetvida.

Isso ocorreu no parque SeaWorldcomo se cadastrar no pixbetTenerife, na Espanha,como se cadastrar no pixbetmaiocomo se cadastrar no pixbet2016.

Um vídeo que se tornou viral mostra uma orca selvagem aparentemente tentando se manter fora do tanque por cercacomo se cadastrar no pixbetdez minutos. Dezenascomo se cadastrar no pixbetreportagens afirmaram que o mamífero tentara suicídio.

Sabemos que orcas se comportamcomo se cadastrar no pixbetmaneira diferentecomo se cadastrar no pixbetcativeiro do quecomo se cadastrar no pixbetliberdade, o que não surpreende, já que um tanque representa uma fração ínfimacomo se cadastrar no pixbetum oceano.

Ambientes artificiais costumam estressar orcas, desencadeando comportamentos repetitivos como rangercomo se cadastrar no pixbetdentes.

Quando essas situações ocorrem, afirma Barbara King, do William & Mary College (EUA), é importante entender o quanto são profundas as emoções vivenciadas por esses animais. Isso pode revelar por que eles podem agircomo se cadastrar no pixbetmaneira tão autodestrutiva.

Baleias

Crédito, Tim Cuff/Alamy Stock Photo

Legenda da foto, Baleias não estão tentando suicídio quando encalham

"Até onde sei, a maioria desses casos tem algum tipocomo se cadastrar no pixbetintervenção humana, seja caça ou confinamento", afirma King, que já escreveu muito sobre sofrimento animal e suicídio.

Vários animais mantidoscomo se cadastrar no pixbetcondições traumáticas também vivenciam situações similiares ao estresse, transtornocomo se cadastrar no pixbetestresse pós-traumático e depressão.

Uma ursa mantidocomo se cadastrar no pixbetuma fazenda na China sufocou seu filhote e depois se matou. Isso ocorreu depoiscomo se cadastrar no pixbetuma dolorosa injeçãocomo se cadastrar no pixbetum cateter no abdome do filhote para extrair bile, que às vezes é usadacomo se cadastrar no pixbetremédios na medicina chinesa. Relatos na imprensa sugeriram que a ursa teria matado o filhote e cometido suicídio para evitar mais anoscomo se cadastrar no pixbettortura.

Esse talvez seja outro exemplocomo se cadastrar no pixbetum comportamento não-natural desencadeado pelo estresse e pelo confinamento por longo período. Também pode ser visto como reflexocomo se cadastrar no pixbet"um animal tentando fugircomo se cadastrar no pixbetseu cativeiro", diz Petri.

Destino conjunto

Outros animais que costumam ser citados como suicidas são baleias que encalhamcomo se cadastrar no pixbetconjunto.

A causa desses encalhes não é clara até hoje. Uma hipótese é que possam ser causados por um indivíduo doente buscando segurançacomo se cadastrar no pixbetáguas mais rasas. Como baleias formam grupos sociais, outros seguem esse indivíduo e também encalham. A ideia é conhecida como "hipótese do integrante doente", mas não é considerada suicídio.

Há uma outra possível explicação para o que parece ser um comportamento autodestrutivo. Há certos parasitas que infestam o cérebro dos hospedeiros, causando atitudes incomuns que ajudam os parasitas a sobreviver. O hospedeiro costuma morrer nesses casos.

Por exemplo, o parasita Toxoplasma gondii infesta ratos e "desliga" o medo inato que possuemcomo se cadastrar no pixbetgatos. Um estudocomo se cadastrar no pixbet2013 indicou que uma infecção por T. gondii acaba com esse medocomo se cadastrar no pixbetmaneira permanente, mesmo se o parasita for eliminado.

Do mesmo modo, o fungo parasita Ophiocordyceps unilateralis pode controlar a mentecomo se cadastrar no pixbetformigas, deixando-as como zumbis. Os insetos acabam sendo levados a morrercomo se cadastrar no pixbetlocais mais propícios ao desenvolvimento desses fungos.

Baleia

Crédito, Imagebroker/Alamy Stock Photo

Legenda da foto, Orca no SeaWorld vivemcomo se cadastrar no pixbetambientes reduzidos e pequenos

Há ainda o casocomo se cadastrar no pixbetaranhas que deixam os filhotes comê-las. Embora elas morram no processo, esse sacrifício não é um suicídio, mas um ato extremocomo se cadastrar no pixbetcuidado materno. A mãe aranha fornece seu próprio corpo como uma importante e nutritiva primeira refeição, que garante a sobrevivência do filhote.

Definindo suicídio

Para afirmar que tal comportamento não se enquadra como suicídio é preciso ter uma definiçãocomo se cadastrar no pixbetsuicídio. O ato costuma ser definido como "açãocomo se cadastrar no pixbetse matar intencionalmente".

Sabemos que alguns animais se matam. A questão é saber se tiveram essa intenção. A mãe aranha, por exemplo, pode se comportar dessa forma para prover comida, não para morrer. A ursa pode ter agido por estresse, não com o propósitocomo se cadastrar no pixbetmatar a si e ao filhote.

Alguns especialistas acreditam que essa pergunta seja impossívelcomo se cadastrar no pixbetresponder.

"Não estou convencidocomo se cadastrar no pixbetque (suicídio animal) seja uma questão que a ciência possa responder", afirma King. "Podemos analisar seu comportamento visível, como fazemos quando sofrem, mas não podemos saber se é algo intencional ou não."

Outros discordam. Afirmam que algumas pessoas tentam se matar, mas animais não, por diferenças nas habilidades cognitivas. A diferença-chave, afirmam, é nossa habilidadecomo se cadastrar no pixbetpensar bem à frente, no futuro.

Muitos animais podem fazer planejamentos. Alguns pássaros juntam alimentos para comer depois. Primatas como orangotangos e bonobos armazenam ferramentas para uso no futuro. Mas isso não demanda consciência sobre o que significa estar vivo.

Planejar um suicídio demanda um entendimento detalhado sobre nosso lugar no mundo e uma habilidade para imaginar a própria ausência. Isso exige imaginação.

Cervo

Crédito, Paul Brough/Alamy Stock Photo

Legenda da foto, Em 1875, um cervo teria se lançadocomo se cadastrar no pixbetum penhasco para evitar ser caçado por cães

"Humanos têm a capacidadecomo se cadastrar no pixbetimaginar cenários, refletir sobre eles e associá-los a narrativas mais amplas", afirma Thomas Suddendorf, psicólogo evolucionista na Universidadecomo se cadastrar no pixbetQueensland, na Austrália.

A maioriacomo se cadastrar no pixbetnós supera essas preocupações. Temos um viés otimista inato, que nos dá uma visão mais positiva sobre o futuro, mas isso não ocorre com quem tem depressão - para essas pessoas, o futuro parece sombrio.

Pessoas deprimidas apreciam verdadeiramente a realidade, diz Ajit Varki, da Universidade da Califórnia, que tem escrito sobre a singularidade humana e nossa capacidadecomo se cadastrar no pixbetignorar ou mesmo negar que vamos morrer.

"Uma das realidades é que você vai morrer." O restocomo se cadastrar no pixbetnós tem uma habilidade extraordinária para ignorar esta eventualidade, algo que Varki classifica como "um capricho evolucionário".

Varki sugere que todos os possíveis casoscomo se cadastrar no pixbetsuicídio animal possam ser explicados por outros meios. Animais choram, reconhecem seus mortos e têm medocomo se cadastrar no pixbetcadáveres, por exemplo, mas não temem a morte inevitável "como uma realidade".

"É um medocomo se cadastrar no pixbetsituações perigosas que potencialmente podem levar à morte", avalia Varki.

Pensar assim faz mais sentido. Se animais negassem os riscoscomo se cadastrar no pixbetmorte como fazem muitos humanos, zebras iriam passear pertocomo se cadastrar no pixbetleões, peixes nadariam ao ladocomo se cadastrar no pixbetcrocodilos e ratos encarariam cobras.

Se fossem tão autoconscientes como nós, talvez parassemcomo se cadastrar no pixbetdefender seus territórios ou buscar comida. Eles possuem uma resposta inata ao medo por uma boa razão: ficar vivo.

Somos o único animal capazcomo se cadastrar no pixbetentender e lidar com nossa própria mortalidade, diz Varki, precisamente porque somos essas criaturas otimistas com um nível sofisticadocomo se cadastrar no pixbetautoconsciência.

"O que é suicídio?", questiona o pesquisador. "É induzir a própria mortalidade, mas como você pode induzi-la se não sabe que é mortal? É (portanto) bem lógico que o suicídio seja algo unicamente humano."