Como foi criada a heterossexualidade como a conhecemos hoje:6 holdem

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O entrevistador então fazia outra pergunta na sequência, fundamental ao experimento: "Quando você decidiu ser hétero?" A maioria confessou nunca ter pensado nisso.
Ao sentir que seus preconceitos ficaram à mostra, as pessoas acabavam concordando com o ponto do entrevistador: as pessoas nascem gays, assim como nascem heterossexuais.
O vídeo parecia sugerir que todas as sexualidades "simplesmente estão aí", ou seja, não precisamos6 holdemuma explicação para a homossexualidade assim como não precisamos6 holdemuma para a heterossexualidade.
Parece não ter passado pela cabeça dos produtores do vídeo, ou das milhões6 holdempessoas que o compartilharam, que precisemos6 holdemuma explicação para ambas.

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Há trabalhos muitos bons, tanto acadêmicos quanto populares, sobre a construção social do desejo e da identidade homossexuais. Na verdade, a maioria6 holdemnós aprendeu que a identidade homossexual passou a existir6 holdemum momento específico da história humana. O que não aprendemos porém, é que um fenômeno parecido aconteceu com o surgimento da heterossexualidade.
Há várias razões para essa omissão educacional, incluindo viés religioso e outros tipos6 holdemhomofobia. Mas a principal razão pela qual não fazemos perguntas sobre a origem da heterossexualidade é provavelmente porque ela parece natural. Normal.
Mas a heterossexualidade não "estava simplesmente presente" desde sempre. E não há por que imaginar que sempre estará.
Quando a heterossexualidade era anormal
A primeira contestação6 holdemque a heterossexualidade foi inventada geralmente envolve um apelo à reprodução: parece óbvio que o sexo entre genitais diferentes existiu desde o início da humanidade - e não teríamos sobrevivido até aqui sem isso. Mas essa contestação presume que heterossexualidade é a mesma coisa que sexo reprodutivo. Não é.
"O sexo não tem história", escreve o teórico queer David Halperin, professor da Universidade6 holdemMichigan, "porque é baseado no funcionamento do corpo". A sexualidade, por outro lado, tem uma história, precisamente porque é uma "construção cultural".
Em outras palavras, enquanto o sexo parece ser algo programado na maioria das espécies, a nomeação e classificação desses atos e6 holdemquem os pratica é um fenômeno histórico que pode e deve ser estudado como tal.
Em outras palavras: sempre houve instintos sexuais no mundo animal (sexo). Mas6 holdemum momento específico na história, os humanos criaram significados para esses instintos (sexualidade). Quando humanos falam sobre heterossexualidade, estamos tratando da segunda definição.
Hanne Blank trouxe uma maneira útil6 holdemdiscutir isso6 holdemseu livro Hétero: A Surpreendentemente Curta História da Heterossexualidade, com uma analogia da história natural.
Em 2007, o Instituto Internacional para Exploração das Espécies listou o peixe Electrolux addisoni na lista das "top 10 novas espécies" do ano. Mas é claro que essas espécies não passaram simplesmente a existir havia dez anos - foi apenas quando elas foram descobertas e cientificamente nomeadas.
"Documentos escritos6 holdemum certo tipo, por um certo tipo6 holdemautoridade, transformaram o Electrolux de uma coisa que já existia para uma coisa que ficou conhecida", conclui Blank.

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Algo parecido aconteceu com os heterossexuais, que, ao final do século 19, passaram da mera existência para o conhecimento público. "Antes6 holdem1868, não havia nenhum heterossexual", escreve Blank. Nem homossexuais.
Os humanos não haviam pensado ainda que eles poderiam ser diferenciados entre si6 holdemacordo com o tipo6 holdemamor ou desejo sexual que sentiam. Comportamentos sexuais, é claro, haviam sido identificados e catalogados, e até proibidos6 holdemcertos momentos. Mas a ênfase estava no ato, não6 holdemquem o praticava.
Então o que mudou?
A linguagem. No final dos anos 1860, o jornalista húngaro Karl Maria Kertbeny criou quatro termos para descrever experiências sexuais: heterossexual, homossexual e dois termos que hoje não são usados mas que na época descreviam masturbação e bestialidade, monossexual e heterogenit.
Kertneby usou o termo heterossexual uma década depois quando foi convidado a escrever um capítulo6 holdemum livro a favor da descriminalização da homossexualidade. O editor do livro, Gustav Jager, decidiu não publicá-lo, mas acabou usando os termos6 holdemKertneby6 holdemum livro que ele publicou6 holdem1880.
A vez seguinte6 holdemque a palavra foi publicada foi6 holdem1889, quando o psiquiatra austríaco-alemão Richard von Krafft-Ebing a incluiu6 holdemum catálogo6 holdem"doenças sexuais" chamado Psicopatia Sexualis. Mas,6 holdemquase 500 páginas, a palavra "heterossexual" é usada apenas 24 vezes, e nem sequer consta no índice.
Isso se deu porque Krafft-Ebing estava mais interessado6 holdem"instinto sexual contrário" ("perversões") do que6 holdem"instinto sexual", sendo que o último é o que ele considerava "normal"6 holdemtermos6 holdemdesejo sexual6 holdemhumanos.
"Normal" é uma palavra cheia6 holdemsignificado, e foi usada6 holdemmaneira errônea na história. A ordenação hierárquica6 holdemraças que levou à escravidão já foi aceita como normal, assim como a cosmologia geocêntrica. Os fundamentos desses consensos vistos como fenômenos normais perderam suas posições6 holdemprivilégio apenas após serem alvo6 holdemquestionamentos.
Para Krafft-Ebing, desejo sexual normal estava situado6 holdemum contexto maior6 holdemutilidade6 holdemprocriação, uma ideia que combinava com as teorias dominantes sobre sexo no Ocidente. No mundo ocidental, muito antes dos atos sexuais serem divididos6 holdemhétero e homo, já havia uma ordem binária: sexo procriativo e não-procriativo.
A Bíblia, por exemplo, condena o sexo homossexual pela mesma razão que condena a masturbação: porque a "semente" é desperdiçada no ato.
Enquanto essa visão foi amplamente ensinada, mantida e reforçada pela Igreja Católica e depois por outras religiões cristãs, é importante sublinhar que ela não vem originalmente das escrituras judaicas ou cristãs, mas do estoicismo - doutrina fundada por Zenão6 holdemCício (335-264 a.C.) que se caracteriza por uma ética6 holdemque a eliminação das paixões e a aceitação do destino são características do homem sábio.

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Como a teórica católica Margaret Farley explica, os estoicos "tinham fortes pontos6 holdemvista sobre o poder dos humanos6 holdemregular emoções e sobre o desejo dessa regulamentação para encontrar a paz interior". O filósofo estoico Musonius Rufus, por exemplo, argumentava que as pessoas deveriam se proteger contra autoindulgências, incluindo excesso sexual.
Para evitar6 holdemindulgência sexual, diz o teólogo Todd Salzman, Rufus e outros estoicos tentaram classificá-la6 holdem"um contexto mais amplo6 holdemsignificado humano" - argumentando que o sexo só poderia ser moral se buscasse a procriação. Antigos teólogos cristãos adotaram essa ética conjugal-reprodutiva e o sexo reprodutivo virou a única forma normal6 holdemsexo já época6 holdemAgostinho (354-430).
Apesar6 holdemKrafft-Ebing tomar essa lógica procriativa como natural, ele a expandiu bastante. "No amor sexual, o verdadeiro propósito do instinto, a reprodução da espécie, não é consciente", escreveu.
Em outras palavras, o instinto sexual contém algo como um objetivo reprodutivo programado - um objetivo que está presente até mesmo nos que fazem "sexo normal" e não o percebem.
Em seu livro A Invenção da Heterossexualidade, Jonathan Ned Katz vê um grande impacto na abordagem6 holdemKrafft-Ebing. "Ao colocar o reprodutivo separado do inconsciente, Krafft-Ebing criou um espaço pequeno e obscuro onde uma nova forma6 holdemprazer começou a se desenvolver."
A importância desse movimento -6 holdeminstinto reprodutivo para desejo erótico - não pode ser diminuída, já que é crucial para as noções modernas6 holdemsexualidade.
Em geral, quando as pessoas hoje pensam6 holdemheterossexualidade, imaginam algo como: João sabe desde muito pequeno que é eroticamente atraído por garotas. Certo dia ele canaliza essa energia erótica6 holdemSuzana e ele a conquista. O casal se apaixona, dá expressões sexuais e físicas aos seus desejos eróticos e os dois vivem felizes para sempre.

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Sem o trabalho6 holdemKrafft-Ebing, essa narrativa talvez nem fosse considerada "normal". Não havia qualquer menção, mesmo que implícita, à procriação. Definir instinto sexual como normal6 holdemacordo com desejo erótico foi uma revolução fundamental para pensar sobre sexo.
O trabalho6 holdemKrafft-Ebing deu base para uma mudança cultural que aconteceu entre a definição6 holdem19236 holdemheterossexualidade como "mórbida" para a6 holdem1934 como "normal".
O sexo e a cidade
Ideias e palavras frequentemente são produtos6 holdemsua época. Esse certamente é o caso da heterossexualidade, que nasceu6 holdemum momento6 holdemque a vida americana estava ficando mais regulamentada. Segundo afirma Blank, a invenção da heterossexualidade corresponde com o surgimento da classe média.
No final do século 19, as populações nas cidades na Europa e na América do Norte começaram a explodir. Em 1900, por exemplo, a cidade6 holdemNova York tinha 3,4 milhões6 holdemmoradores - 56 vezes6 holdempopulação apenas um século antes.
Conforme as pessoas se mudavam para os centros urbanos, traziam consigo suas "perversões sexuais". Ao menos era o que parecia. "Em comparação com os vilarejos rurais, as cidades pareciam antros6 holdemexcessos sexuais", escreve Blank.
Quando as populações nas cidades eram menores, diz Blank, era mais fácil controlar esse tipo6 holdemcomportamento, assim como era mais fácil controlá-lo quando acontecia6 holdemáreas rurais onde a familiaridade entre vizinhos era uma norma. A fofoca das cidades pequenas podia ser um grande motivador.
Devido ao conhecimento maior dessas práticas sexuais6 holdemparalelo com o fluxo6 holdemclasses mais baixas às cidades, "a culpa pelo comportamento sexual urbano impróprio geralmente era jogada sobre as classes mais baixas", diz Blank.
Era importante para uma classe média emergente se diferenciar desses excessos. A família burguesa precisava6 holdemuma forma6 holdemproteger seus membros da "decadência aristocrática por um lado e dos horrores da cidade lotada do outro". Isso demandava "sistemas reproduzíveis e universalmente aplicáveis para uma administração social que pudesse ser implementada6 holdemlarga escala".
No passado, esses sistemas podiam ser baseados na religião, mas o "novo Estado secular exigia uma justificativa secular para suas leis", diz Blank. Aí entram especialistas como Krafft-Ebing, que deixou claro que a classe média ascendente não podia considerar o desvio da sexualidade normal (hétero) como simplesmente um pecado, mas como uma degeneração moral - um dos piores rótulos que alguém poderia ter então.

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"Chame um homem6 holdem'canalha' e você define seu status social", escreveu William James6 holdem1895. "Chame ele6 holdem'degenerado' e você o colocou no grupo mais repugnante da raça humana". Como diz Blank, degeneração sexual se tornou uma régua para medir as pessoas.
A degeneração, afinal6 holdemcontas, era o processo contrário do darwinismo social. Se o sexo procriador era fundamental para a evolução contínua das espécies, desviar dessa norma era uma ameaça para toda a sociedade. Por sorte, esse desvio poderia ser revertido, se fosse observado cedo o bastante, pensavam os especialistas da época.
A formação da "inversão sexual" acontecia, para Krafft-Ebing,6 holdemvários estágios e era curável já no primeiro. "Krafft-Ebing enviou uma mensagem clara contra a degeneração e a perversão. Todas as pessoas com dever cívico deveriam se tornar observadoras", escreve Ralph M. Leck, autor do livro Vita Sexualis.
E isso certamente era uma questão6 holdemcivilidade: a maioria do efetivo colonial vinha da classe média, que era grande e estava6 holdemcrescimento.
Freud
Apesar6 holdemKrafft-Ebing ter ficado relativamente conhecido, foi Freud quem deu ao público maneiras científicas6 holdempensar sobre sexualidade. Por mais que seja difícil reduzir as teorias do médico a algumas frases, seu maior legado é a teoria psicossexual do desenvolvimento, segundo a qual as crianças desenvolvem suas sexualidades por meio6 holdemuma dança psicológica elaborada dos pais.
Para Freud, heterossexuais não nascem assim, mas são feitos assim. Como diz Katz, a heterossexualidade para Freud foi uma conquista, aqueles que a conquistavam com sucesso navegavam por seu desenvolvimento infantil sem sair da linha.
Ainda assim, como diz Katz, exigia muita imaginação classificar essa navegação6 holdemtermos6 holdemnormalidade. Segundo Freud, o caminho convencional para a normalidade heterossexual é pavimentado com o tesão incestuoso do menino e da menina pelo pai ou mãe, com o desejo das crianças6 holdemassassinar seus rivais - ou seja, o pai no caso do menino e a mãe no caso da menina - e com o desejo6 holdemexterminar qualquer irmão ou irmã rivais.
Ou seja, a estrada para a heterossexualidade é pavimentada6 holdemtesão e desejo6 holdemsangue. A invenção do heterossexual, na visão6 holdemFreud, é uma criação profundamente perturbada.
O fato dessa visão6 holdemÉdipo ter sobrevivido por tantos anos, assim como a explicação para a sexualidade normal, "é uma das maiores ironias da história da heterossexualidade", diz Katz.

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Ainda assim, a explicação6 holdemFreud parecia satisfazer a maioria do público, que, continuando com6 holdemobsessão com a regulação sobre todo e qualquer aspecto da vida, aceitou6 holdembom grado a nova ciência sobre a normalidade.
Essas atitudes tiveram um novo embasamento científico com o trabalho6 holdemAlfred Kinsey, cujo estudo Comportamento Sexual do Macho Humano,6 holdem1948, classificava a sexualidade dos homens6 holdemuma escala6 holdemzero (exclusivamente heterossexual) a seis (exclusivamente homossexual).
Suas descobertas o levaram a concluir que grande parte da população masculina "tem ao menos uma experiência homossexual entre a adolescência e a idade avançada".
Enquanto o estudo6 holdemKinsey ampliou as categorias6 holdemhomo e hétero ao permitir um certo contínuo sexual, ele também "reafirmou enfaticamente a ideia6 holdemque a sexualidade é dividida entre dois polos", como diz Katz.
O futuro da heterossexualidade
Essas categorias permanecem até hoje. "Ninguém sabe exatamente por que heterossexuais e homossexuais seriam diferentes", escreveu Wendell Rickets, autor do estudo Pesquisa Biológica sobre Homossexualidade,6 holdem1984.
A melhor resposta que temos é um tanto tautológica: "Heterossexuais e homossexuais são considerados diferentes porque eles podem ser divididos6 holdemdois grupos com base na crença6 holdemque eles podem ser divididos6 holdemdois grupos".
Apesar da divisão hétero/homo parecer eterna e um fato indestrutível da natureza, ela não o é. Trata-se meramente6 holdemuma gramática recente que os humanos inventaram para falar sobre o que o sexo significa para nós.
A heterossexualidade, afirma Katz, "é inventada no discurso como algo que está fora do discurso. Ela é construída como se fosse um discurso que é universal e fora da temporalidade". Ou seja, é uma construção, mas é apresentada como se não fosse.
Como qualquer filósofo francês ou criança com um lego poderá lhe dizer, qualquer coisa que foi construída pode ser desconstruída também. Se a heterossexualidade não existia no passado, ela não precisa existir no futuro.
Jane Ward, autora6 holdemNot Gay ("Não Gay",6 holdemtradução livre), questiona o futuro da sexualidade.
"O que significaria pensar sobre a capacidade das pessoas para cultivar seus desejos sexuais da mesma maneira6 holdemque cultivam um gosto por uma certa comida?"
Apesar da preocupação6 holdemalguns com a possibilidade6 holdemuma fluidez sexual, é importante lembrar que vários argumentos na linha Born This Way ("eu nasci assim",6 holdemtradução livre) não são aceitos por boa parte dos cientistas.
Eles não sabem exatamente qual é a "causa" da homossexualidade e eles certamente rejeitam qualquer teoria que proponha uma origem simples, como um "gene gay".
Desejos sexuais, como todos os nossos desejos, mudam e são reorientados ao longo6 holdemnossas vidas - e é o que eles fazem, frequentemente nos sugerem novas identidades. Se isso for verdade, então a sugestão6 holdemWard6 holdemque podemos cultivar preferências sexuais parece fazer sentido.
Por trás da pergunta6 holdemWard há um desafio sutil: se estamos desconfortáveis com o quanto6 holdempoder temos - se é que temos algum - sobre a nossa sexualidade, qual é o motivo? Da mesma maneira, por que estaríamos desconfortáveis ao questionar a crença6 holdemque a homossexualidade, e por extensão a heterossexualidade, são verdades eternas da natureza?

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Em uma entrevista ao jornalista Richard Goldstein, o romancista e dramaturgo James Baldwin disse ter fantasias boas e ruins sobre o futuro. Uma das boas era que "ninguém teria que se definir como gay", um termo para o qual Baldwin dizia não ter paciência. "Ele responde a um argumento falso, a uma acusação falsa", dizia.
Que acusação é essa?
"A6 holdemque você não tem o direito6 holdemestar aqui, que você precisa provar seu direito6 holdemestar aqui. Eu estou dizendo que não tenho o que provar. O mundo também pertence a mim."
Era uma vez6 holdemque a heterossexualidade era necessária porque os humanos modernos precisavam provar quem eram e por que eram, e eles precisavam defender seu direito6 holdemestar ali. Conforme o tempo foi passando, porém, esse rótulo parece na verdade limitar o leque6 holdemmaneiras pelas quais os humanos entendem seus desejos, amores e medos.
Talvez essa seja uma razão pela qual uma pesquisa britânica recente descobriu que menos da metade dos jovens6 holdem18 a 24 anos se identificam como "100% heterossexual".
Isso não sugere que a maioria desses jovens sejam bissexuais ou homossexuais, mas que eles não precisem mais desse termo como as gerações passadas precisavam no século 20.
Debates a respeito6 holdemorientação sexual tendem a focar6 holdemum conceito mal definido6 holdem"natureza". Porque o sexo entre genitais diferentes geralmente resulta na reprodução da espécie, damos a ele um status moral especial.
Mas a "natureza" não nos revela nossas obrigações morais - somos responsáveis por determiná-las, mesmo quando não percebemos que estamos fazendo isso. Como observou o filósofo David Hume, pular6 holdemuma observação6 holdemcomo é a natureza para uma fórmula do que a natureza deve ser é uma falácia lógica.

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Por que julgar o que é natural e ético para um ser humano6 holdemacordo com6 holdemnatureza animal? Muitas das coisas que os humanos valorizam, como medicina e arte, não são naturais. Ao mesmo tempo, humanos detestam muitas coisas que são naturais, como doenças e morte.
Se considerarmos alguns fenômenos naturais como éticos e outros como não-éticos, isso significa que as nossas mentes (os que observam) estão determinando o que fazer com a natureza (o que é observado). A natureza não existe6 holdemalgum lugar "lá fora", independentemente6 holdemnós - sempre estamos interpretando-a6 holdemdentro dela.
Até este momento da história do planeta, a espécie humana se multiplicou por meio do coito6 holdemsexos diferentes. Cerca6 holdemum século atrás, demos significados específicos a esse tipo6 holdemrelação sexual, parcialmente porque queríamos encorajá-las.
Mas o nosso mundo está bastante diferente hoje. Tecnologias como a implantação6 holdemdiagnóstico genético e fertilização in vitro (FIV) estão sendo cada vez mais desenvolvidas. Em 2013, mais6 holdem63 mil bebês nasceram a partir6 holdemFIV. Na verdade, mais6 holdemcinco milhões6 holdemcrianças nasceram através6 holdemtecnologias reprodutivas. Esse número ainda mantém esse tipo6 holdemreprodução como minoria, mas toda evolução tecnológica começou com os números contra ela.
Socialmente, também, a heterossexualidade está "perdendo terreno". Se havia um tempo6 holdemque indiscrições homossexuais eram o escândalo do dia, mudamos para um outro mundo cheio6 holdemcasos heterossexuais6 holdempolíticos e celebridades, com fotos, mensagens6 holdemtexto e vários vídeos6 holdemsexo. A cultura popular está repleta6 holdemimagens6 holdemrelações e casamentos heterossexuais disfuncionais.
Além disso, entre 1960 e 1980, a taxa6 holdemdivórcio aumentou6 holdem90%, lembra Katz. E enquanto ela caiu consideravelmente durante nas últimas três décadas, ela não se recuperou ao ponto6 holdemque seja possível falar que "instabilidade6 holdemrelacionamento" seja algo exclusivo dos homossexuais, diz Katz.
A tênue linha entre heterossexualidade e homossexualidade não é apenas borrada, como alguns interpretam a partir da pesquisa6 holdemKinsey - é uma invenção, um mito, que já está defasado, diga-se. Homens e mulheres continuarão fazendo sexo entre genitais diferentes até o fim da espécie humana. Mas a heterossexualidade enquanto marcador social, estilo6 holdemvida e identidade pode morrer muito antes disso.
- 6 holdem Leia a versão original desta reportagem 6 holdem (em inglês) no site da BBC Future 6 holdem .








