Como a prisão muda a personalidadeskybettingdetentos:skybetting

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Ou, como resumem as palavrasskybettingum preso entrevistado para uma pesquisa publicada nos anos 1980, depoisskybettingalguns anos na prisão, "você não é o mesmo".

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No campo da psicologia da personalidade, acreditava-se que nossa personalidade permanecia inalterada na vida adulta.
Mas estudos recentes têm mostrado que, na verdade, apesar da relativa estabilidade, nossos hábitosskybettingpensamento, comportamento e emoção mudam, sim,skybettingforma significativa – especialmenteskybettingresposta a diferentes papéis adotados ao longo da vida.
É quase inevitável, portanto, que o tempo passado na prisão –skybettingum ambiente altamente estruturado, mas ameaçador – provoque mudanças na personalidade.
Especialmente para as pessoas preocupadasskybettingcomo reabilitar o prisioneiro, o problema é que essas mudançasskybettingpersonalidade, embora ajudem o indivíduo a sobreviver à prisão, são contraproducentes paraskybettingvida após a soltura.
Características comuns do ambiente prisional que podem mudar a personalidadeskybettingalguém incluem a perda crônica do livre arbítrio eskybettingprivacidade, o estigma diário, o medo constante, a necessidadeskybettingvestir constantemente uma máscaraskybettinginvulnerabilidade e a apatia emocional (para evitar a exploração por outros), além da necessidade, dia após dia,skybettingseguir rigorosas regras ou rotinas impostas.
'Prisionização'
Há pouca pesquisa sobre como as características crônicas do ambiente podem mudar a personalidade do presidiário nos termos do Modelo dos Cinco Grandes Fatores (ou Big Five).
Trata-seskybettingum modelo usado amplamente na psicologia para avaliar a personalidade da populaçãoskybettinggeral (não carcerária) com base nos traços de: neuroticismo (que mede a instabilidade emocional), extroversão, agradabilidade (ou simpatia), abertura a experiências e a conscienciosidade (relacionado à disciplina).

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No entanto, há um reconhecimento disseminado entre psicólogos e criminalistasskybettingque presidiários se adaptam ao ambiente, o que eles chamamskybetting"prisionização". Isso contribui para uma espécieskybetting"síndrome pós-encarceramento" quando eles são libertados.
Como exemplo, há os resultadosskybettingentrevistasskybettingprofundidade conduzidas com 25 ex-condenados à prisão perpétua (incluindo duas mulheres)skybettingBoston, nos EUA, que passaramskybettingmédia 19 anos na prisão.
Ao analisar suas narrativas, a psicóloga Marieke Liema e o criminologista Maarten Kunst descobriram que o grupo desenvolveu "traçosskybettingpersonalidade institucionalizados", como "desconfiar dos outros, dificuldadeskybettingse relacionar eskybettingtomar decisões".
Um ex-presidiárioskybetting42 anos disse: "Eu ainda meio que ajo como se estivesse na prisão. E, assim, você não é como um interruptor ou uma torneira. Não dá para simplesmente se desligar. Quando você faz algo por um período longo… isso se torna parteskybettingvocê".
A mudança na personalidade predominante foi a inabilidadeskybettingconfiar nos outros – uma espécieskybettingconstante paranoia. "Você não consegue confiarskybettingninguém na prisão", disse outro entrevistado, um homemskybetting52 anos. "Tenho problemasskybettingconfiança, simplesmente não confioskybettingninguém."
Entrevistas com centenasskybettingpresidiários britânicos realizadas por Susie Hulley e seus colegas do InstitutoskybettingCriminologia mostraram um quadro parecido. "Muitos (...) nos disseram que passaram por grandes – e às vezes completas – transformações pessoais", escreveram os estudiososskybetting2015.

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Os presidiários descreveram um processoskybetting"anestesia emocional". "Isso te endurece. Isso te deixa um pouco mais distante", disse um, explicando como as pessoas na penitenciária deliberadamente escondem e abafam suas emoções. "É o que você se torna, e se você já é duro no início, então você fica ainda mais duro, você fica ainda mais frio, ainda mais desinteressado".
Outro afirmou: "É… eu meio que não tenho mais sentimento pelas pessoas".
Em relação ao Modelo dos Cinco Grandes Fatores da personalidade, pode-se caracterizar isso como uma formaskybetting"neuroticismo" extremamente baixo (ou alta apatia emocional), combinado com baixas extroversão e agradabilidade. Em outras palavras, não é uma mudançaskybettingpersonalidade ideal para o retorno ao mundo exterior.
Essa é, sem dúvida, uma preocupaçãoskybettingHulley e seus colegas. "Um presidiárioskybettinglongo prazo se torna 'adaptado' aos imperativosskybettingum período longoskybettingconfinamento; ele ou ela se torna mais apático emocionalmente, mais isolado e socialmente retraído, e talvez menos ajustado à vida após a soltura", alertaram.
Esses estudos com entrevistados envolveram presidiários encarcerados há muito tempo. Mas um artigo exploratório realizadoskybettingfevereiroskybetting2018 aplicou testes neuropsicológicos para mostrar que passar mesmo um período curto na prisão provoca um impacto na personalidade.
Os pesquisadores liderados por Jesse Meijers, da Universidade Vrije,skybettingAmsterdã, na Holanda, fizeram dois testes - com diferençaskybettingtrês meses entre eles - com 37 prisioneiros. No segundo teste, houve aumento da impulsividade e redução do controle da atenção. Essas mudanças cognitivas podem indicar queskybettingconscienciosidade foi prejudicada.

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Os pesquisadores acreditam que as mudanças se devem provavelmente ao pobre ambiente prisional, com faltaskybettingdesafios cognitivos e perda da autonomia. "Essa é uma descoberta significativa e socialmente relevante", concluíram, "já que presos libertos podem ter uma capacidade menorskybettingviver dentro da lei do que antes do período na prisão".
No entanto, outras descobertas oferecem um poucoskybettingesperança. Em outro estudo recente - um dos primeiros a aplicar o Modelo dos Cinco Grandes Fatores às mudançasskybettingpersonalidade dos prisioneiros -, pesquisadores compararam os perfisskybettingpersonalidadeskybettingprisioneirosskybettingsegurança máxima na Suíça com vários grupos-controle, como estudantes universitários e guardas prisionais.
E descobriram que, enquanto os prisioneiros tinham pontuação menorskybettingextroversão, abertura para experiências e agradabilidade, como esperado, eles pontuaram maisskybettingconscienciosidade, principalmente nos "subtraços"skybettingordenamento (busca pela ordem) e autodisciplina.
Os pesquisadores, liderados por Johanna Masche-No, da Universidade Kristianstad, da Suíça, acreditam que os achados podem refletir um ajuste positivo da personalidade à situação da prisão: "O ambiente na prisão é muito rígido com respeito a regulações e normas, e o espaço privado é limitado", concluíram. "Tal ambiente cria demandasskybettingordenamento aos presos para evitar tanto punições formais como atos negativosskybettingseus copresidiários".
Em outras palavras, a conscienciosidade pode ajudá-lo a evitar problemas.

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Embora os resultados da pesquisa suíça pareçam contradizer a holandesa, é válido notar que enquanto os prisioneiros holandeses ficaram mais impulsivos e menos atentos, eles também melhoraram seu planejamento espacial, o que poderia ser visto como relacionado ao ordenamento (Meijers e seus colegas não se aprofundaram nesse ponto porque pensaram que eles pudessem ter pontuado melhor na segunda vez por uma questãoskybettingprática).
Outra possibilidade é que a alta conscienciosidade vista nos prisioneiros suíços se deva ao sistema prisional do país, onde há mais ênfase no tratamento e na reabilitação do queskybettingoutros países.
Também esperançosas, eskybettingalguma formaskybettinglinha com a descoberta dos suíços, são duas pesquisas recentes envolvendo prisioneiros interagindoskybettingjogos financeiros usados para estudar cooperação, tomadaskybettingrisco e punição (um dos jogos é por acaso O Dilema do Prisioneiro). Elas mostraram que os prisioneiros se engajaram com níveis normais ou mesmo elevadosskybettingcooperação.
As descobertas têm implicaçõesskybettingdebates sobre a reintegraçãoskybettingcriminosos na sociedade, diz Sigbjørn Birkeland, da EscolaskybettingEconomia Norueguesa NHH, que conduziu um desses estudos com colegas.
"Uma percepção comum (…) é que criminosos são homens maus sem motivação pró-social (o desejoskybettingbeneficiar outras pessoas ou grupos), e essa percepção pode ser usada para justificar sentenças mais rígidas aos criminosos", escreveram. Mas os estudos mostram que os criminosos podem ser "pró-socialmente motivados como a populaçãoskybettinggeral".
À medida que cresce a conscientizaçãoskybettingque a personalidade é maleável, espera-se que isso aumente os esforços para avaliar como o ambiente prisional pode moldar o caráter do condenado, o que certamente poderia afetar seu retorno à sociedade.

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Atualmente, há poucas pesquisas com esse objetivo específico. As últimas evidências sugerem que a vida na prisão provoca mudançasskybettingpersonalidade que podem prejudicarskybettingreabilitação e reintegração. Em certa medida isto é inevitável, devido à perdaskybettingprivacidade e liberdade.
Mas dito isso, as descobertas com relação à conscienciosidade e cooperação do prisioneiro mostram que nem todas as esperanças estão perdidas, e elas destacam alvos potenciais para programasskybettingreabilitação.
Essas não são questões meramente abstratas para os estudiosos: elas têm profundas implicaçõesskybettingcomo nós, como sociedade, pretendemos lidar com as pessoas que desobedecem as leis.
As evidências atuais sugerem que quanto mais longa e severa for a sentença prisional -skybettingrelação à liberdade, escolha e oportunidadeskybettingter relacionamentos seguros e significativos - mais provável será que a personalidade dos prisioneiros mudaráskybettingforma a tornar a reintegração difícil e a aumentar o riscoskybettingreincidência ao crime.
Em última análise, a sociedade deve ser confrontada com uma escolha. Podemos punir os ofensores mais severamente e arriscar mudá-los para pior, ou podemos desenvolver regrasskybettingsentença e prisõesskybettingforma a ajudar os ofensores a se reabilitar e a mudar para melhor.
Christian Jarrett é psicólogo e edita o blog Research Digest da Sociedade Psicológica Britânica. Seu próximo livro, "Personology", será publicadoskybetting2019.
- Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.




