'Cadê meu avião?': a campanha da Pepsi que foi parar na Justiça por 'promessa' não cumprida:caça níqueis de graça

Duas décadas e muitos comerciais depois, ela investiu na campanha promocional "Pepsi Stuff", cujo slogan era: "Beba Pepsi e ganhe coisas".

Se os consumidores guardassem tampas ou embalagenscaça níqueis de graçagarrafas ou latascaça níqueis de graçaPepsi, acumulavam pontos que poderiam ser trocados por mercadorias, como camisetas, bonés, jaquetas jeans ecaça níqueis de graçacouro, bolsas e mountain bikes.

Esta foi a estratégia mais bem-sucedida na disputa entre os dois refrigerantes.

Mas o que a fabricantecaça níqueis de graçabebidas não esperava foi a pedra que surgiucaça níqueis de graçaseu caminho, e que, por pouco, não se tornou um enorme obstáculo.

O avião

As lojas divulgavam a promoçãocaça níqueis de graçapontoscaça níqueis de graçavenda com fotos da supermodelo Cindy Crawford. Mas os catálogoscaça níqueis de graçasi eram pouco atraentes, particularmente para a chamada "Geração Pepsi" que eles queriam conquistar.

Para aumentar seu impacto, a campanha precisava ser reforçada no grande campocaça níqueis de graçabatalha da publicidade — as telascaça níqueis de graçacinema e televisão.

Os profissionaiscaça níqueis de graçacriação idealizaram então um comercial mostrando um menino se arrumando para ir à escola.

Conforme ele vestia alguns dos itens oferecidos pela companhia, aparecia a quantidadecaça níqueis de graçapontos necessários para adquiri-los: "camiseta, 75 pontos Pepsi"; "jaqueta, 1.450 pontos Pepsi".

"Agora, quanto mais Pepsi você beber, mais coisas geniais você vai ganhar", dizia o narrador.

Quando estava pronto, o menino saíacaça níqueis de graçacasa e subiacaça níqueis de graçaum aviãocaça níqueis de graçacombate para ir à escola. Na tela, surgiam os dizeres:

"Aviãocaça níqueis de graçacombate Harrier, 7.000.000 pontos Pepsi", seguidos pelo slogan da campanha.

Em nenhum momento no comercial, originalmente lançado nos Estados Unidos, apareceram as tradicionais legendascaça níqueis de graçaletras pequenas alertando sobre as condições da promoção, e, neste caso específico, que este último item não estava incluído na promoção.

Questão matemática

É claro que ninguém na empresa pegou lápis e papel para fazer as contas antescaça níqueis de graçadeterminar o preço do aviãocaça níqueis de graçacombatecaça níqueis de graçapontos Pepsi. Afinal, quando se tratacaça níqueis de graçagrandes números, tudo o que vem depoiscaça níqueis de graçaum certo ponto indica apenas que o número é "bastante grande" ou "grande demais".

Neste caso, o número 7 milhões atendia a este propósito, especialmente considerando o quanto seria difícil obter os pontos necessários para chegar a essa quantia.

Cada garrafacaça níqueis de graçarefrigerante equivalia a apenas um ponto. No caso das latas, a situação era pior: um packcaça níqueis de graça24 latas, por exemplo, valia quatro pontos.

Ou seja, era preciso tomar muita Pepsi para ganhar a camiseta do comercial... e a quantidade para resgatar o avião era absurda.

Na verdade, os responsáveis pelo comercial nunca pararam para pensar na quantidade. Para eles, era apenas um truque para chamar a atenção dos espectadores.

Até que alguém fez as contas. E, mais do que isso, conseguiu os pontos necessários para ganhar o avião.

John Leonard

John Leonard era estudante universitário. Ele estava semprecaça níqueis de graçabuscacaça níqueis de graçaoportunidades para ganhar dinheiro e, assim, financiar suas aventuras — particularmente,caça níqueis de graçapaixão pelo alpinismo.

Ele tinha 20 anos e uma longa listacaça níqueis de graçatrabalhos que havia feito desde pequeno com este objetivo.

Um dia, ele ouviu falarcaça níqueis de graçaum comercial que oferecia a possibilidadecaça níqueis de graçaganhar um avião. Ao assistir, reparou que não havia um aviso legalcaça níqueis de graçaisençãocaça níqueis de graçaresponsabilidade — e decidiu fazer o devercaça níqueis de graçacasa que a Pepsi não havia feito.

Ele fez alguns cálculos para saber quantos refrigerantes ele precisaria comprar para ganhar o aviãocaça níqueis de graçacombate. Depois, calculou o custo do armazenamento e retirada das tampascaça níqueis de graçamilhõescaça níqueis de graçagarrafas. E concluiu que, embora os números fossem altos, a oferta era, na verdade, uma pechincha.

Custaria a ele cercacaça níqueis de graçaUS$ 4 milhões para adquirir um avião com valor aproximadocaça níqueis de graçaUS$ 23 milhões.

Leonard apresentou seu plano ao milionário Todd Hoffman, com quem havia feito amizade durante uma viagemcaça níqueis de graçaque trabalhou como guiacaça níqueis de graçaalpinismo.

Hoffman, vários anos mais velho do que ele e muito mais experiente, fez as perguntas necessárias para determinar a viabilidade do plano.

Até que uma dessas perguntas fez o plano ruir: o que aconteceria se a promoção terminasse quando estivessem a pontocaça níqueis de graçareunir todos os rótulos? O que fariam com milhõescaça níqueis de graçagarrafascaça níqueis de graçarefrigerante sem tampa?

Pingue-pongue

Decepcionado, Leonard se deu por vencido. Mas, um dia, folheando o catálogo da Pepsi, encontrou outro caminho.

A Pepsi oferecia a venda dos pontoscaça níqueis de graçadinheiro — por US$ 0,10 cada, o que significava que os sete milhõescaça níqueis de graçapontos necessários para resgatar o avião custariam US$ 700 mil.

Hoffman fez o cheque, e eles o enviaram para a Pepsi. Ali começou o que mais parecia uma partidacaça níqueis de graçapingue-ponguecaça níqueis de graçacâmera lenta.

A primeira resposta da Pepsi foi na linha "Que engraçado! Aqui está seu chequecaça níqueis de graçavolta e alguns cuponscaça níqueis de graçabrinde".

Leonard e Hoffman responderam da seguinte forma:

"Se não recebermos as instruçõescaça níqueis de graçatransferênciacaça níqueis de graçaaté 10 dias úteis a partir da data desta carta, não teremos escolha a não ser iniciar um processo judicial contra a Pepsi."

Mas a empresa se adiantou, apresentando uma petiçãocaça níqueis de graçaNova York, garantindo que um eventual processo legal ocorreriacaça níqueis de graçaum local conhecido por favorecer as empresas.

Com a petição, a Pepsi tentava obter "uma declaração judicial que determinasse que ela não tinha a obrigaçãocaça níqueis de graçafornecer um jato Harrier ao solicitante", segundo consta no parecer final.

O caso gerou um frenesi na imprensa, que inicialmente retratava Leonard como um Davi lutando contra um Golias ( no caso, a Pepsi). Mas, com o tempo, Leonard acabou sendo rotuladocaça níqueis de graçaoportunista, como alguém que quis se aproveitarcaça níqueis de graçauma bobeada da multinacionalcaça níqueis de graçarefrigerantes.

Leonard x PepsiCo

A disputa judicial se estendeu por anos.

Ao longo do processo, Leonard chegou a recusar um acordo oferecido pela fabricantecaça níqueis de graçarefrigerantes.

Como Leonard e Hoffman também deram entradacaça níqueis de graçauma ação no Estado da Flórida, as faculdadescaça níqueis de graçadireito americanas ensinam o caso até hoje como "Leonard x PepsiCo" — e não o inverso.

Em certo momento, a disputa recebeu o apoio do advogado Michael Avenatti que, anos depois, ficaria famoso defendendo a atriz pornô Stormy Daniels emcaça níqueis de graçabatalha judicial contra Donald Trump. Em 2022, Avenatti foi condenado por enganar quatro dos seus clientes, incluindo a própria Daniels.

Mas quando Avenatti propôs ameaçar a Pepsi usando um caso anteriorcaça níqueis de graçaque a companhia não honrou a promessacaça níqueis de graçaum prêmio milionário a seus consumidores nas Filipinas, alegando um errocaça níqueis de graçainformática, Hoffman se recusou porque pareceu a ele que a estratégia seria uma chantagem.

O julgamento ocorreu, finalmente,caça níqueis de graça1999, na jurisdiçãocaça níqueis de graçapreferência da Pepsi: Nova York.

O julgamento

Para Leonard e Hoffman, a possibilidadecaça níqueis de graçaganhar a disputa contra o exércitocaça níqueis de graçaadvogados da Pepsi, suas seguradoras e a agênciacaça níqueis de graçapublicidade era remota. Mas eles teriam alguma chance se a decisão fosse tomada por um júri formado por pessoas comuns.

Infelizmente para eles, a juíza, Kimba Wood, descartou a possibilidadecaça níqueis de graçafazer um julgamento com júri. E decidiu por um julgamento sumário.

Outra possibilidade que poderia ter sido vantajosa para Leonard eram os depoimentos —caça níqueis de graçaque cada uma das partes faz perguntas à outra parte ou a testemunhas sob juramento.

Leonard havia descoberto que o mesmo comercial havia sido lançado no Canadá, mas incluindo as legendascaça níqueis de graçaletra pequena informando sobre os limites da promoção abaixo da expressão "jatocaça níqueis de graçacombate Harrier: 7.000.000 pontos Pepsi".

Além disso, a Pepsi já havia alterado o comercial, acrescentando zeros — eram agora 700 milhõescaça níqueis de graçapontos pelo avião – e incluindo uma legenda dizendo "é brincadeira". Essas alterações poderiam ser interpretadas como admissão do erro.

Os executivos da agênciacaça níqueis de graçapublicidade BBDO, criadora do anúncio, poderiam ser interrogados sobre estas e outras decisões — e Leonard e Hoffman poderiam defender melhorcaça níqueis de graçaposição.

Mas a juíza decidiu que já tinha os fatos relevantes,caça níqueis de graçaforma que tampouco permitiu os depoimentos.

Após a audiência, seguiu-se mais uma longa espera, até que a juíza Kimba Wood acabou decidindo a favor da Pepsi.

"Nenhuma pessoa imparcial poderia ter concluído razoavelmente que o comercial oferecia aos consumidores, na verdade, um avião Harrier", ela escreveucaça níqueis de graçaum extenso documento, incluindo observações como:

"Nenhuma escola forneceria um espaçocaça níqueis de graçapouso para o aviãocaça níqueis de graçacombatecaça níqueis de graçaum estudante, nem aprovaria a interrupção que seria causada pelo uso do avião."

O que aconteceu?

Alémcaça níqueis de graçapôr fim ao sonhocaça níqueis de graçaLeonard, a juíza Wood nos deixou sem saber por que a Pepsi cometeu o deslizecaça níqueis de graçaoferecer um avião sem alertar que se tratavacaça níqueis de graçaum exagero, uma brincadeira.

Mas o produtor cinematográfico Andrew Renzi encontrou a resposta no documentário Pepsi, Cadê Meu Avião? (2022), que fez para a Netflix.

Nele, o ex-diretorcaça níqueis de graçacriação da agênciacaça níqueis de graçapublicidade encarregada dos anúncios da Pepsi, Michael Patti, revelou que, originalmente, o númerocaça níqueis de graçapontos mencionado no comercial relativo ao avião Harrier eracaça níqueis de graça700.000.000.

Mas, quando o comercial foi apresentado à Pepsi na salacaça níqueis de graçaedição, um dos executivos da empresa disse que o número era grande demais e difícilcaça níqueis de graçaler.

Dois executivos da Pepsi que estavam presentes confirmaram no documentário que foi o que aconteceu, mas ninguém lembrava quem havia feito a observação.

Patti disse que explicou a eles que não precisava ser legível, que não era preciso saber qual era o número exato. Bastava "ver que era um 7 com muitos zeros para entender que era impossível e engraçado".

Mas ele não os convenceu.

Cortaram um zero, mas não pareceu suficiente. Depois cortaram outro, até que todos concordaram que assim era melhor.

"Deveriam ter pensado melhor. A promoção era deles. Passou pelo departamento jurídico, que revisou [o anúncio] para garantir que estava tudo certo", relembra Renzi.

Se tivesse tudo certo mesmo, o comercialcaça níqueis de graça1995 da Pepsi teria sido relegado ao esquecimento.