Os segredos sobre o nosso cérebro revelados por um dos estudos mais originais e ambiciosos já realizados:o'que é betnacional

Mas o que surpreendeu Snowdon foi que a Irmã Mary, aos 101 anos, tinha uma boa memória.

O cientista ainda não sabia que havia algoo'que é betnacionalextraordinário nela, algo que a distinguia das outras freiras.

Desde 1986, Snowdon estava imersoo'que é betnacionalum dos projetos mais singulares e ambiciosos já realizados, que começou na Universidadeo'que é betnacionalMinnesota e foi transferido para a Universidadeo'que é betnacionalKentuckyo'que é betnacional1990.

Como'que é betnacionalequipe, ele viajou pelos Estados Unidos, visitando conventos da congregação das Irmãs Escolareso'que é betnacionalNossa Senhora, convencendo 678 freiras a participar do experimento.

“Normalmente não se juntaria um convento e ciência, mas isso vale ouro”, disse a neurocientista Julia Ravey à BBC.

“O que realmente existe [num convento] é uma populaçãoo'que é betnacionalcontrole [com condições menos variáveis], que é o objetivo da ciência. Queremos controlar tudo, queremos controlar o incontrolável.”

O estudo com as freiras

Para o agora famoso “Estudo das Freiras”, cada irmã concordouo'que é betnacionalrealizar uma sérieo'que é betnacionaltestes que repetiriam ano após ano até morrerem, na esperançao'que é betnacionalque revelassem segredos da longevidade.

Quando é que os seus cérebros começariam a falhar e com que rapidez poderiam declinar?

“As irmãs receberam algo que chamamoso'que é betnacional'miniexame do estado mental'”, explica Ravey.

Depoiso'que é betnacionalconcluído, cada freira recebeu uma pontuação: quanto maior a pontuação, mais saudávelo'que é betnacionalmente.

A maioria das pessoas obteria 30o'que é betnacional30 se tivessem uma cognição completamente sólida.

A ideia era ver como essa pontuação mudava ao longo do tempo.

Depoiso'que é betnacionalmonitorar centenaso'que é betnacionalmulheres ao longoo'que é betnacionalmuitos anos, Snowdon tinha um magnífico conjuntoo'que é betnacionaldados.

Mas a joia desta coroa era um gráfico notável indicando a idade, na parte inferior, e a capacidade cognitiva medidao'que é betnacional0 a 30 pontos na lateral.

A equipeo'que é betnacionalSnowdon compilou todas as pontuaçõeso'que é betnacionaluma página com resultados surpreendentes.

"Depoiso'que é betnacionaltraçar todos esses pontoso'que é betnacionalum gráfico, você terá linhas e mais linhaso'que é betnacionalpontos e poderá ver muitos aglomerados no canto superior esquerdo do gráfico."

Correspondiam às que tiveram melhor desempenho, centenaso'que é betnacionalfreiras na faixa dos 70 e 80 anos que obtiveram entre 25 e 30 pontos nas suas provas. Um forte sinalo'que é betnacionalque seus cérebros estavam funcionando bem.

Como confete na página, um grupoo'que é betnacionalpontos se posicionava abaixo.

Eram as pessoas que não conseguiam se lembraro'que é betnacionalacontecimentos muito recentes.

"Eles podem ter se lembradoo'que é betnacionalcoisas do passado, mas seu sensoo'que é betnacionaltempo e lugar era ruim; eles não conseguiam responder a perguntas muito simples que você esperaria que as pessoas soubessem."

Algumas dessas mulheres tinham entre 80 e 90 anos, então talvez o declínio cognitivo seja esperado, mas algumas tiveram uma pontuaçãoo'que é betnacional0.

Snowdon conhecia a teoria do “use, senão você perde” e havia evidênciaso'que é betnacionalque a função cerebral, uma vez não trabalhada, era irrecuperável.

Mas o gráfico mostrou outra coisa. Algo incomum.

Um mistério surpreendente

Um único ponto se destacou naquele gráfico, muito acima dos demais.

“Irmã Mary está bem no canto superior direito do gráfico. E é aqui que eu realmente fico animado, porque ela é uma exceção à tendência geralo'que é betnacionalque quanto mais velho você fica, menoro'que é betnacionalpontuação”, observa Ravey.

Ela sempre estaria no lado direito do gráfico por causao'que é betnacionalsua idade: ela era uma das únicas duas participanteso'que é betnacionaltodo o estudo com maiso'que é betnacional100 anoso'que é betnacionalidade.

Mas a Irmã Mary está num quadrante só para si, flutuando sozinha muito acimao'que é betnacionalmuitos outros pontos.

O gráfico dizia a Snowdon que aos 101 anos ele tinha a função cerebralo'que é betnacionalalguém 20 anos mais novo.

"O que estava acontecendoo'que é betnacionalseu cérebro?"

Voltemos àquelas fileiraso'que é betnacionalpoteso'que é betnacionalvidro no freezer subterrâneo, porque todos esses cérebros fazem parte da pesquisao'que é betnacionalSnowdon.

Para realmente entender como um cérebro é diferente do outro, você precisa segurá-lo nas mãos.

“Para algumas pessoas, a ideiao'que é betnacionaldoar um cérebro pode ser um pouco desconfortável, embora seja tecnicamente apenas mais um órgão", explica a neurocientista Ravey.

Isso ficou evidente quando Snowdon fez o pedido dianteo'que é betnacionaluma grande congregaçãoo'que é betnacionalfreiras. Houve um grande silêncio até que uma voz soou alta e clara.

“Claro, vou te dar meu cérebro.”

E assim, quando a Irmã Mary morreu às 18h45 do dia 13o'que é betnacionaljunhoo'que é betnacional1994, Snowdon eo'que é betnacionalequipe reservaram um momento para prestar suas condolências e lamentar a perda da mulher cuja mente permaneceu praticamente intacta até o diao'que é betnacionalsua morte, anteso'que é betnacionaliniciar o trabalhoo'que é betnacionalentender o que a tornava tão especial.

“Imediatamente, os pesquisadores notaram algo muito diferente no cérebro da Irmã Mary.

“Pesava 870 gramas, um dos cérebros mais leves: apenas cinco dos 117 que tinham naquela época pesavam menos.

“O que um baixo peso cerebral nos diz”, explica Ravey, “é que houve muita morteo'que é betnacionalcélulas cerebrais e foram encontradas placas e também emaranhados [indicadoreso'que é betnacionaldoenças neurodegenerativas]”.

Snowdon e a equipe ficaram surpresos ao ver que o cérebro estava profundamente danificado, e as placas retorcidas e os emaranhadoso'que é betnacionaltecido proteico indicavam que a Irmã Mary tinha demência avançada.

Mas como isso poderia ser possível?

Como alguém poderia não mostrar sinaiso'que é betnacionaldeclínio cognitivoo'que é betnacionalidade avançada, apesaro'que é betnacionalter um cérebro fisicamente devastado pela doença?

Autobiografia como preditor

Uma teoria para explicar todo esse caso é a chamada reserva cognitiva.

Os cérebros estão ligados por um conjuntoo'que é betnacionalneurônios protetores que, se exercitados através da aprendizagem ao longo da vida, poderão compensar os danos causados ​​pela doençao'que é betnacionalAlzheimer.

Esses neurônios,o'que é betnacionalcerta forma, funcionam como manchas ao redoro'que é betnacionalplacas prejudiciais e emaranhadoso'que é betnacionaldoenças.

Mas tudo isto levanta outra questão: se alguns cérebros estão fisicamente preparados para proteger contra sinaiso'que é betnacionaldeclínio cognitivo e outros não, será possível determinar quem irá desenvolver demência muito antes do aparecimento dos sintomas?

Suzanne Tyas é agora professora associada na Universidadeo'que é betnacionalWaterloo, mas era estudanteo'que é betnacionalpós-graduação quando se juntou à equipeo'que é betnacionalSnowdon para trabalharo'que é betnacionalalgo novo e empolgantes, algo que havia sido descoberto no porãoo'que é betnacionalum convento,o'que é betnacionalduas arquivos enferrujadoso'que é betnacionalcor verde oliva.

Do ladoo'que é betnacionalfora, pareciam modestos, mas por dentro continham uma minao'que é betnacionalouro para pesquisa.

“Isso incluía coisas como boletins escolares, o númeroo'que é betnacionallínguas que falavam. Mas principalmente alguns ensaios autobiográficos que essas jovens escreveram anteso'que é betnacionalfazerem seus votos finais para entrar no convento”.

Escondidas entre as redações havia pistas sobre as freiras, seu nívelo'que é betnacionaleducação, vocabulário e conhecimentos gerais.

É claro que não havia medidas diretas que pudessem ser traçadas, mas a equipe decidiu avaliá-las pelo que chamaramo'que é betnacionaldensidadeo'que é betnacionalideias: o númeroo'que é betnacionalideias distintas por 10 palavras escritas.

Aqui está um exemploo'que é betnacionalque duas freiras descrevem suas circunstâncias.

Uma escreveu, descrevendoo'que é betnacionalfamília: “Há 10 crianças na minha família, 6 são meninos, duas são meninas. Dois dos meninos estão mortos”.

A sintaxe é simples. Vai direto ao ponto, não é muito expressiva e é compacta.

Compare-a com esta outao, que transmite o mesmo tipoo'que é betnacionalinformação, maso'que é betnacionaluma forma dramaticamente diferente.

Começa dizendo: "O dia mais feliz da minha vida até agora foi a minha primeira comunhão". E termina com a frase: "Agora estou vagando por Dove's Lane esperando apenas mais três semanas para seguir os passos do meu esposo, ligada a ele pelos votos sagradoso'que é betnacionalpobreza, castidade e obediência.'"

Há uma diferença na forma como estas e outras mulheres se expressaram na juventude. Alguns descreviam vidas interiores complexas e ricas, enquanto outros eram monótonos e incolores.

E agora vem a parte incrível.

“Aquela primeira irmã com uma linguagem muito simples passou a desenvolver Alzheimer. Enquanto a segunda irmã isso não ocorreu.”

Quando Snowdon e ao'que é betnacionalequipe começaram a comparar pontuações mais elevadas nestes primeiros escritos com o desenvolvimento da doençao'que é betnacionalAlzheimer mais tarde na vida, um padrão começou a emergir.

As irmãs que escreveram ensaios com alta densidadeo'que é betnacionalideias e complexidade gramatical pareciam evitar os sintomas mais tarde na vida.

Suas memórias e habilidades linguísticas permaneceram intactas.

À medida que a equipe examinava essas páginas maiso'que é betnacionalperto, o espanto só aumentava.

Ensaios escritos por estas irmãs quando tinham cercao'que é betnacional20 anoso'que é betnacionalidade poderiam ser usados ​​para prever com 85 a 90%o'que é betnacionalprecisão quais cérebros desenvolveriam Alzheimer décadas mais tarde.

“Tenho vontadeo'que é betnacionaldesenterrar minhas antigas redações do ensino médio e da faculdade que estão no porão da casa dos meus pais, mas estou quase com medoo'que é betnacionalolhar”, confessa Tyas.

Para a posteridade

Parecia que a autobiografia da juventude poderia ter um poder profético inimaginável, mas também representava o dilema do ovo e da galinha .

A reserva cognitiva protegeu alguns cérebros dos sintomaso'que é betnacionalAlzheimer ou a redação medíocre destacou os primeiros sinaiso'que é betnacionalum cérebro predisposto a declinar mais tarde?

“Ainda não sabemos como todas essas mudanças se desenvolvem no cérebro", afirma Tyas.

“No entanto, sabemos que níveis mais elevadoso'que é betnacionaleducação reduzem o riscoo'que é betnacionaldesenvolver a doençao'que é betnacionalAlzheimer."

Portanto, segundo a cientista, esta peça única que analisa as habilidades da linguagem escrita e as característicaso'que é betnacionalexpressão pode realmente ampliar a visãoo'que é betnacionalsaber o que aconteceu com elas maiso'que é betnacionalmeio século depois.

“O que descobrimos no estudo das freiras é que estas alterações no cérebro nem sempre levam a sintomaso'que é betnacionalAlzheimer ao longo da vida. E para mim, isso é extremamente encorajador.”

Grandes avanços estão sendo feitos na forma como detectamos essas mudanças no cérebro.

As ressonâncias magnéticas e até mesmo os exameso'que é betnacionalsangue estão abrindo caminho para a detecção precoce.

A questãoo'que é betnacionalcomo tratá-las permanece sem resposta, mas talvez não por muito tempo.

Muitos pesquisadores acreditam que estamos a apenas alguns anoso'que é betnacionaldescobrir um soro que possa remover essas placas e emaranhados do nosso cérebro à medida que se desenvolvem.

Mas por enquanto, só temos que esperar.

David Snowdon se aposentou e suas 678 freiras morreram. Mas aqueles poteso'que é betnacionalvidro na câmara fria ainda estão lá.

E graças a essa doação extraordinária das freiras, o estudo continua vivo no Centroo'que é betnacionalCiências da Saúde da Universidade do Texas, na cidadeo'que é betnacionalSan Antonio.

*Se quiser ouvir o episódio "In the Habit" da série "Uncharted", da BBC, clique aqui.