Contra epidemiafazer aposta no betanocesáreas no Brasil, projeto consegue aumentar númerofazer aposta no betanopartos normais:fazer aposta no betano

Mulher grávida

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Legenda da foto, Em menosfazer aposta no betanoum ano, maternidades fizeram médiafazer aposta no betanocesarianas cairfazer aposta no betano78% para 69%

Segundo os profissionais ouvidos pela BBC Brasil, ligadas ou não ao Parto Adequado, o sucesso estáfazer aposta no betanoatacarfazer aposta no betanovárias frentes, inclusive nas mais polêmicas.

"É claro que não íamos mudar nada para valer se não discutíssemos novos modelosfazer aposta no betanoremuneração dos obstetras. E isso passa por resgatar o papel fundamental das enfermeiras nos partosfazer aposta no betanobaixo risco, ainda que isso signifique enfrentar a resistênciafazer aposta no betanoalguns médicos", diz Ritafazer aposta no betanoCássia Sanchez, obstetra e especialistafazer aposta no betanomedicina fetal do Einstein.

A diretorafazer aposta no betanoDesenvolvimento Setorial da ANS, Martha Oliveira, diz que é preciso reorganizar todo o sistema. "Trabalho há maisfazer aposta no betano10 anos com o tema parto na ANS, mas nada dava certo. Isso porque nosso sistemafazer aposta no betanosaúde nesse setor está preparado para (que partos) tenham como desfecho uma cesariana. Precisamos mudar isso."

Criança faz carinhofazer aposta no betanobebê

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Legenda da foto, Seis hospitais do projeto conseguiram reduzir as admissõesfazer aposta no betanoUTI neonatal decorrentesfazer aposta no betanocesáreas prematurasfazer aposta no betanoaté 67%.

Horafazer aposta no betanomexer no bolso

E por que é necessário mexer no bolso tantofazer aposta no betanomédicos, comofazer aposta no betanohospitais e planosfazer aposta no betanosaúde? Segundo as especialistas, o modelo atualfazer aposta no betanoremuneração é totalmente ineficiente.

Hoje, grande parte das gestantes faz seu parto com seu médicofazer aposta no betanoconfiança, e não com a equipe plantonista. Além disso, o planofazer aposta no betanosaúde paga o médico por parto acompanhado, e não por turno trabalhado - o que acontecefazer aposta no betanooutros países, como a Inglaterra.

"Esse sistema é insustentável", diz Raquel Marques, presidente da ONGfazer aposta no betanodireitos da mulheres Artemis.

"Ter uma grávida atrelada a apenas um profissional não funciona, pois não se tem como aumentar a remuneração ao ponto que valha a pena para o médico ficar horas e horas no hospital a acompanhando. Ele tem outras pacientes, tem o consultório - onde ganha mais -, ou não tem disponibilidade para ficar o dia todo."

Rita concorda: "O médico da grávida que entroufazer aposta no betanotrabalhofazer aposta no betanoparto não vai ficar lá 10, 12 horas para acompanhá-la. Ele vai querer embora rápido e por isso indica cesárea."

A diretora da ANS, Martha Oliveira, vai além e diz que o sistemafazer aposta no betanofinanciamento atual é a causa e a consequência da epidemia desse tipofazer aposta no betanoparto: "Hoje, o que importa é o volumefazer aposta no betanopartos. E sempre vai dar errado se você tiverfazer aposta no betanofazer um volume grande para ganhar o que merece".

Médicos realizam uma cesárea

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Legenda da foto, Brasil ostenta triste títulofazer aposta no betanopaís com mais cesáreas no mundo

Para ela, o esquemafazer aposta no betanopagar o obstetra por turnofazer aposta no betanotrabalho, por si só, também não é suficiente. "Quanto custaria um acompanhamentofazer aposta no betanoparto normal, se eu desmarquei todas as consultas do dia que eu tinha agendadas no meu consultório?"

Diante desse impasse, o projeto está fazendo testesfazer aposta no betanonovas propostasfazer aposta no betanoremuneração. Uma delas sugere a remuneração pelo desfecho - o parto adequado àquela gestante e ao seu bebê. Há debates sobre uma divisãofazer aposta no betanopagamento envolvendo o valor do procedimentofazer aposta no betanosi, mas também o trabalho por turno.

Enfermeiras no parto

A alteração no pagamento envolve ainda mudanças no esquemafazer aposta no betanotrabalho nos hospitais.

Entre os modelos testados no projeto-piloto está aquelefazer aposta no betanoque o parto é realizado pelo plantonista da maternidade e ponto final. Em outra proposta, uma equipe multidisciplinarfazer aposta no betanoplantão apoia a gestante até a chegadafazer aposta no betanoseu médico.

"Esse modelo pode ser eficiente porque,fazer aposta no betanovezfazer aposta no betanopassar muitas horas acompanhando o parto, o médico é chamado quando a gestante já estiver mais próximafazer aposta no betanodar à luz - e assim não se sente pressionado a fazer uma cesárea", diz Rita Sanchez, obstetra do Einstein.

Outro modelo prevê que o parto (sem risco) seja assistido por uma enfermeira obstetra, e não por um obstetra - o que já acontece no SUS, mas ainda não é regulamentado no sistema privado.

É nesse ponto que entra outro aspecto do projeto: a valorizaçãofazer aposta no betanouma equipe multidisciplinar, incluindo dar mais protagonismo à enfermagem.

"Essa mudançafazer aposta no betanochave só vai acontecer quando valorizarmos mais a enfermeira obstetra e a obstetriz. A enfermagem sabe cuidar muito melhor dos pacientes - incluindo as gestantes - do que um médico", diz Martha, da ANS.

Mãe e recém-nascido

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Legenda da foto, Quando não tem indicação médica, a cesárea ocasiona riscos desnecessários à saúde da mulher e do bebê

"O médico estuda patologia, condutas. A enfermeira está mais preparada para ficar com a paciente no chuveiro, na bola (usada para amenizar os sintomas)... e com isso fazer com que o trabalhofazer aposta no betanoparto evolua mais confortavelmente e adiar a analgesia."

Segundo Martha, outro ponto importante é a capacitação da equipe médica para fazer um parto normal.

"Ao longofazer aposta no betanotodos esses anos, eles foram treinados para fazer cesarianas. Precisam reaprender a assistir a mulherfazer aposta no betanoum parto normal. E o médico também precisa reaprender a trabalharfazer aposta no betanoequipe, valorizando a importância dos outros profissionais."

Menos prematuros, menos UTI

O projeto também teve um impacto positivofazer aposta no betanoum dos principais problemas causados pela epidemia: bebês prematuros.

Isso porque no casofazer aposta no betanocesáreas agendadas sem necessidade (antesfazer aposta no betanoa mulher entrarfazer aposta no betanotrabalhofazer aposta no betanoparto e sem razões médicas) há um riscofazer aposta no betanoo bebê nascer antesfazer aposta no betanoestar "pronto".

Seis hospitais integrantes do Parto Adequado conseguiram reduzir as admissõesfazer aposta no betanoUTI neonatal decorrentesfazer aposta no betanocesáreas prematurasfazer aposta no betanoaté 67%.

Esse aspecto também é um dos pilares do projeto, que prevê uma reestruturação da infraestrutura do hospital, com menos UTI neonatal (já que, sem tantas cesáreas, o índicefazer aposta no betanointernações cai) e mais áreas para itens que ajudam o parto normal, como bolas, banquetas para o parto e chuveiro.

Pagando o dobro

Doutorfazer aposta no betanoginecologia e obstetrícia pela USP, o gerente médico do hospital Nipo-Brasileiro Rodrigo Borsari conta que a instituição implementou diversas mudanças que fizeram o númerofazer aposta no betanopartos normais subirfazer aposta no betano15% para 40%fazer aposta no betanomenosfazer aposta no betanoum ano.

Na remuneração dos médicos, são duas mudanças básicas - uma jáfazer aposta no betanovigor e outra sob análise.

Bebêfazer aposta no betanoincubadora

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Legenda da foto, Hospitais do projeto conseguiram reduzir as admissõesfazer aposta no betanoUTI neonatal decorrentesfazer aposta no betanocesáreas prematuras

"Com o Parto Adequado, fechamos um contrato com uma operadorafazer aposta no betanosaúde, que agora paga aos médicos o dobro pelo parto normal do que pela cesárea", diz Borsari.

"Na segunda medida, temos uma sériefazer aposta no betanometas que, se atingidas, aumentam a remuneração. Um exemplo é a UTI neonatal: se reduzirmos a internaçãofazer aposta no betano10%, o planofazer aposta no betanosaúde vai pagar mais tanto para o hospital quanto para o médico. Já temos menos internações, mas faremos uma análise detalhada nos próximos meses e esses valores serão pagos retroativamente."

Esse indicador é importante porque mostra uma formafazer aposta no betanoo hospital continuar obtendo renda mesmo com menor uso dessa UTI - hoje, muitas maternidades dependem dos altos valores pagos pelas operadoras por internaçõesfazer aposta no betanorecém-nascidos.

"Outro dado relevante é o Apgar (teste que mede a saúde do bebê ao nascer). Estamos aumentando o númerofazer aposta no betanopartos normais e o resultado do Apgar continua o mesmo. Isso é crucial para mostrar que esse tipofazer aposta no betanoparto não traz mais riscos para os bebês, como muitos médicos ainda acreditam."

Impasses e desafios

Borsari afirma, no entanto, que um dos maiores desafios é convencer os médicos que atendem no hospital apenas pelos planosfazer aposta no betanosaúde.

"Ainda há certa resistência entre os médicos que vêm aqui para acompanhar suas pacientes na hora do parto. Nesses casos, o númerofazer aposta no betanocesáreas ainda é grande. Em contrapartida, posso dizer que 100% dos partos normais são feitos pelos médicos contratados do hospital, durante seus plantões."

Para o pediatra Pierre Barker, vice-presidente do americano Institute for Healthcare Improvement, há dois desafios para fazer o projeto avançar - e o primeiro é justamente essa relutância.

"Estou extremamente otimistafazer aposta no betanorelação ao projeto. Jamais vi tamanha redução nas taxasfazer aposta no betanocesáreasfazer aposta no betanotão pouco tempo. Uma das coisas que me preocupam é como convencer os médicos independentes a trabalhar pelo que é melhor para a mãe e o bebê", disse à BBC Brasil.

"Muitos têm medofazer aposta no betanoserem processadosfazer aposta no betanocasofazer aposta no betanoproblemas com o bebê durante um parto normal. Sempre que vou ao Brasil, ouço esse argumentofazer aposta no betanoque o parto normal é arriscado, que pode causar mais problemas neurológicos para o recém-nascido. Sabemos que,fazer aposta no betanonível populacional, isso não é verdade. Há muitas pesquisas provando que o risco inclusive é menor se o parto normal for bem assessorado."

Mãe recebe seu bebê recém-nascido na maternidade

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Legenda da foto, Especialista afirma que seria interessante ver dados qualitativos da satisfação das gestantes nos hospitais que integram o projeto

Outra barreira que Barker vê é o graufazer aposta no betanoinformação das mulheres brasileiras. "É preciso valorizar o empoderamento feminino nesse cenário. Precisamos levarfazer aposta no betanoconta que é muito difícil pra uma gestante contradizer o que o obstetra está dizendo", diz.

"Se o médico dela diz 'veja, eu não estou gostando dos sinais do seu bebê', é complicado questionar. E sabemos que uma dos motivos dessa epidemiafazer aposta no betanocesárea é uma interpretação exagerada dos sinais fetais. Mas uma gestante bem informada, com ferramentas para conversar com o médico, pode mudar esse cenário. Mas o Brasil não está fazendo um bom trabalho no sentidofazer aposta no betanoinformá-las como se deve."

Com mais informações, as brasileiras voltarão a se sentir seguras como parto normal, avalia.

"Para isso, é preciso explicar com clareza os benefícios do parto normal para ela e para o bebê, falar dos riscos da cesárea e também criar ambientes hospitalares que propiciem o parto normal, mais calmos, tranquilos. Se antes do parto, elas conhecerem esses locais, entenderem que é normal doer, é natural ter medo, confiarem na equipe... o Parto Adequado vai avançar ainda mais."

Autonomia

Raquel, da ONG Artemis, afirma que gostariafazer aposta no betanover dados qualitativos dos hospitais que integram o projeto.

"Seria interessante ouvirfazer aposta no betanodetalhes essas mulheres. Os números são muito animadores, mas temosfazer aposta no betanoouvi-las para saber como foi a experiência. Seria horrível ver as taxasfazer aposta no betanocesáreas caindo se houver perdafazer aposta no betanoautonomia por parte da mulher."

A ANS informou que uma pesquisafazer aposta no betanosatisfação rápida feita com as mulheres que acabaramfazer aposta no betanoter bebês teve resultados foram empolgantes.

Segundo o Ministério da Saúde, quando não há indicação médica, a cesárea ocasiona riscos desnecessários, aumentandofazer aposta no betano120 vezes a probabilidadefazer aposta no betanoproblemas respiratórios para o recém-nascido e triplicando o riscofazer aposta no betanomorte da mãe.

Entre os hospitais privados selecionados para o projeto-piloto estão o Teresafazer aposta no betanoLisieux (Salvador), Mater Dei (Belo Horizonte), Perinatal (Rio), Nipo Brasileiro (São Paulo) e Moinhosfazer aposta no betanoVento (Porto Alegre).