As espécies recém-descobertas no Pico da Neblina - e que já correm riscoic casinoserem 'estranguladas':ic casino


A BBC Brasil acompanhou uma expedição científica ao Pico da Neblinaic casinonovembro passado, quando nove novas espécies foram descobertas por uma equipe composta por Prates e outros 11 biólogos da Universidadeic casinoSão Paulo (USP). Cinco dessas espécies só existemic casinoambientes montanhosos.
Ele conta que um dos principais objetivos da expedição era entender como animais sem qualquer parentesco com espécies que habitam as áreas baixasic casinofloresta foram parar na montanha. A resposta ajudará a explicar como a Amazônia se tornou o ambiente mais biodiverso do globo e como poderá ser afetada pelas alterações climáticas.
Enigmas científicos
Com 2.994 metrosic casinoaltitude, o Pico da Neblina é um tepui, tipoic casinoformação montanhosa mais antigo do planeta, originado no período Pré-cambriano, entre 4,6 bilhões e 542 milhõesic casinoanos atrás. É uma formação característica do Escudo das Guianas, que engloba o sul da Venezuela, a Guiana e o extremo norte do Brasil.
A erosão ocorrida ao longoic casinomilhõesic casinoanos fez com que os tepuis se tornassem montes isolados e abruptos, com ecossistemas únicos.

Algumas das novas espécies encontradas no Pico da Neblina só têm parentesco com animais que vivemic casinooutros tepuis, separados por milharesic casinoquilômetros. Foi o casoic casinodois lagartos, apelidados pelos pesquisadoresic casinoMarrom Gigante eic casinoCéu Noturno - este, por causa dos vários pontos brancos pelo corpo que lembram estrelas.
Segundo Prates, as descobertas reforçam a teoriaic casinoque, no passado, os tepuis eram conectados.
Outro lagarto achado pelos cientistas, do grupo Anolis, só tem parentesco com espécies que existemic casinoáreas ainda mais distantes: nos Andes e numa região serranaic casinoMata Atlântica no Espírito Santo. O lagarto não habita as matas baixasic casinotorno do pico, uma indicaçãoic casinoque não é capazic casinosuportar climas quentes.
Como explicar que um lagarto do tamanhoic casinoum dedo indicador, que não se desloca mais do que algumas dezenas ou centenasic casinometros ao longo da vida, conseguiu povoar regiões montanhosas tão distantes entre si?
Como uma espécie extremamente adaptada a climas friosic casinoaltitude conseguiu atravessar amplas áreas hoje ocupadas pela Caatinga e por florestas baixas e úmidas?

"É um grande mistério", diz Prates. "Esses lagartos são uma janela para um passado completamente e desconhecido da América do Sul."
Uma das possibilidades é que, no passado, a Amazônia era mais fria e formada por uma vegetação diferente, que serviu como um corredor entre as montanhas e se estendia inclusive pelo território hoje ocupado pela Caatinga.
"Mas essa é uma hipótese frágil, pois não temos evidênciaic casinoque essa mata fria realmente existiu", afirma o zoólogo.

Outra teoria, considerada mais plausível por Prates, é que as montanhas sul-americanas já tenham sido conectadas por um gigante platô. Ao longoic casinomilhõesic casinoanos, a formação foi sendo erodida até que só sobraram as áreas mais altas.
"Os animais ficaram isolados no topo dessas montanhas e então começaram a se diferenciar. Os montes que vemos hoje são só os sobreviventes, as relíquiasic casinoum platô muito mais alto no passado."
Prates e os outros biólogos que foram ao Pico da Neblina testarão essa hipótese por meioic casinoexamesic casinoDNA dos animais coletados. As análises permitirão descobrir quando as espécies aparentadas se diferenciaram. Os dados serão então cruzados com informações geológicas.

Do passado à previsão do futuro
O zoólogo diz que os estudos também ajudarão a responder como a Amazônia se tornou tão ricaic casinoespécies e como o bioma poderá ser afetado pelas alterações climáticas.
"Se você aprende como os organismos responderam a mudanças ambientas no passado, começa a fazer inferências sobre como responderão a mudanças no futuro."
"Podemos ter uma ideia da velocidadeic casinoadaptação dos animais a ambientes novos eic casinocapacidadeic casinoocupar outros espaços", afirma.

No caso do Pico da Neblina, há indíciosic casinoque o processo responsável pela configuraçãoic casinoseu ecossistema atual poderá se inverter.
"Assim como há evidênciasic casinoque os ambientes alpinos (mais frios) desceram a montanha no passado, agora há a possibilidade oposta:ic casinoque o ambienteic casinobaixada invada a montanha", explica Prates.
"Se houver um aumento da temperaturaic casinomodo que a mata da baixada invada os ambientes alpinos, o que está previsto para aconteceric casinovárias regiões do globo, haverá uma substituiçãoic casinoboa parte da fauna desses ambientes."
"Os bichos no topo da montanha serão estrangulados", alerta.








