Unidas pela dor: mães que perderam filhos para a violência encontram amparocasa de apostas sem depósitogrupo no RJ:casa de apostas sem depósito

  • Júlia Dias Carneiro
  • Da BBC Brasil no Riocasa de apostas sem depósitoJaneiro
Grupocasa de apostas sem depósitomães olha para quadro com fotoscasa de apostas sem depósitofamiliares
Legenda da foto,

Mães do grupocasa de apostas sem depósitoapoio dizem que encontros as transformaramcasa de apostas sem depósitouma família

casa de apostas sem depósito "No começo eu só ficavacasa de apostas sem depósitocasa chorando. Não queria mais viver. A dorcasa de apostas sem depósitoperder um filho é insuportável." Elisângela tem 45 anos, mas há quase dois não paracasa de apostas sem depósitose perguntar: por que mataram,casa de apostas sem depósitovezcasa de apostas sem depósitoprender?

Seu filho, Iago,casa de apostas sem depósito16 anos, foi morto por policiais durante uma operaçãocasa de apostas sem depósitouma favela da zona norte do Rio,casa de apostas sem depósito2016, ao ladocasa de apostas sem depósitooutros quatro "suspeitos mortoscasa de apostas sem depósitoconfronto", como noticiaram jornais na época. Ele atuavacasa de apostas sem depósitouma facção criminosa - mas era "praticamente uma criança", diz a mãe.

"Ele era viciado? Era. Fumava maconha? Fumava. Estavacasa de apostas sem depósitomá companhia? Estava. Eu preferia que eles prendessem, não matassem. Os policiais falaram que, se prendessem o meu filho, ele ia sair da cadeia e matá-los. Mas ninguém tem o direitocasa de apostas sem depósitotirar a vidacasa de apostas sem depósitoalguém", diz, aos prantos.

Elisângela desabafa sentada ao ladocasa de apostas sem depósitooutras mães que, como ela, perderam os filhos jovens para a violência do Rio. Todas elas são moradorascasa de apostas sem depósitofavelas conflagradas, com alto potencialcasa de apostas sem depósitoconfrontos violentos, na zona norte da cidade.

Quando os encontros entre o grupocasa de apostas sem depósitomães começaram, há nove meses, no Centrocasa de apostas sem depósitoReferênciacasa de apostas sem depósitoAssistência Social (Cras) Rubens Correa,casa de apostas sem depósitoIrajá, zona norte do Rio, ela mal conseguia falar - só chorava. Com o atendimento psicossocial do serviço público, a proposta era que ela e outros parentescasa de apostas sem depósitovítimascasa de apostas sem depósitoviolência pudessem deixarcasa de apostas sem depósitoviver suas históriascasa de apostas sem depósitosilêncio e na solidão.

Criado por quatro servidoras municipais da assistência social, o grupo foi frutocasa de apostas sem depósitoum curso para capacitar agentes da rede pública para atender vítimascasa de apostas sem depósitoviolência do Estado, promovido pela ONG Institutocasa de apostas sem depósitoEstudos da Religião (Iser)casa de apostas sem depósitoparceria com a Equipe Clínico-Política.

O objetivo era oferecer um serviço públicocasa de apostas sem depósito saúde e assistência social, incentivando políticascasa de apostas sem depósitoprol da reparação psíquicacasa de apostas sem depósitofamílias que tiveram pessoas mortas por policiais, agentes estatais ou para-estatais.

Elisângela conta que Iago começou a se envolver com o tráfico pouco depois que a família se mudoucasa de apostas sem depósitoBangu para um morro da zona norte. Ele tinha só 11 anos quando começou a entregar "quentinhas" para bandidos. "Aí começou a se viciarcasa de apostas sem depósitomaconha. E nisso fugiacasa de apostas sem depósitocasa, sumia, e eu ficavacasa de apostas sem depósitocasa desesperada. Quando ele chegava, respondia que estava com amigos. Que amigos são esses?", questionava Elisângela.

Ela teve cinco filhos, e diz ter dado a mesma educação para todos. "Só um foi para a banda podre. Aí as pessoas me questionam, dizem que eu não soube educar, que eu trouxe ele para o morro para morrer. Eu só trouxe ele para onde eu tinha condiçãocasa de apostas sem depósitocomprar uma casinha", lamenta. "É uma dor que vai ficar para o resto da vida."

'Alguma culpa ele devia ter'

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Histórias como acasa de apostas sem depósitoElisângela fazem parte do dia a dia do grupo que se reúne quinzenalmente no Cras.

De início, o foco da capacitação oferecida pelo Iser seria no atendimento a vítimascasa de apostas sem depósitoviolência estatal. Mas as Mães Unidas pela Dor, como elas se autodenominaram, perderam seus filhos para os confrontos urbanos generalizados na cidade - nas mãos da polícia, sim, mas tambémcasa de apostas sem depósitotraficantes,casa de apostas sem depósitomilícias ou por balas perdidas.

Elas concordaramcasa de apostas sem depósitoreceber a BBC Brasil no espaço onde os encontros são realizados, escolhido por ser central para famílias atendidas e também por ser um território neutro - já que comunidades diferentes da área são dominadas por facções rivais.

A sala simples, com carteirascasa de apostas sem depósitosalacasa de apostas sem depósitoaula, fica mais acolhedora com as contribuições que elas trazem para um café da manhã coletivo. Há bolo, croissant, cream-cracker e requeijão sobre a toalhacasa de apostas sem depósitoplástico imitando renda.

Mas é na parede que está o centro das atenções: o quadrocasa de apostas sem depósitoavisos que é sempre viradocasa de apostas sem depósitotrás para frente quando elas entram na sala.

Fotocasa de apostas sem depósitomeninocasa de apostas sem depósitoquadrocasa de apostas sem depósitocortiça
Legenda da foto,

Quadro traz fotos dos filhos que as pacientes perderam, com palavrascasa de apostas sem depósitoconforto

No verso do quadro, as mães elaboraram uma espéciecasa de apostas sem depósitorelicário para seus filhos. Cada uma decorou uma folhacasa de apostas sem depósitopapel com uma fotocasa de apostas sem depósitoseu filho oucasa de apostas sem depósitofilha, emoldurando o retrato com brilhos, flores, corações, e palavras como "amor", "paz", e "eterno".

"Aqui é um espaçocasa de apostas sem depósitoque podemos falar sobre o que aconteceu com os nossos filhos sem julgamento", diz Ana Paula, mãecasa de apostas sem depósitoJuan, que foi assassinado há quatro anos por traficantes, aos 16 anos, e teve o corpo largado na Avenida Brasil.

No mundo "lá fora", as circunstânciascasa de apostas sem depósitomorte dos seus filhos, todos jovens, despertam olhares desconfiados.

Ana Paula elenca frases que todas já ouviram. "Alguma coisa fezcasa de apostas sem depósitoerrado." "Estava envolvido." "Alguma coisa estava devendo." "A mãe não educou direito." De vítimas da violência, elas se veem na miracasa de apostas sem depósitoolhares acusadores, responsabilizadascasa de apostas sem depósitoalguma forma pelo que aconteceu.

"Antes não tinha com quem desabafar", resume Ana Paula. "Falam que não ensinamos o caminho certo para nossos filhos. Como se fosse por faltacasa de apostas sem depósitofalar", diz Ana Paula. "O jovem não ouve" é uma frase recorrente entre as mães.

"As pessoas não entendem o seu lado, não respeitam acasa de apostas sem depósitodor", diz Ana Kelly. "Para prejulgar é um montão. Para te abraçar são poucos."

'Estoucasa de apostas sem depósitopé por causa desse grupo'

Ana Kelly,casa de apostas sem depósito30 anos, perdeu a mais velhacasa de apostas sem depósitoseus cinco filhos há 10 meses. Ana Késsia tinha 14 anos e saiucasa de apostas sem depósitocasa escondida para ir a uma comunidade dominada pelo tráfico na zona norte. Foi morta por um disparo aparentemente acidental após tirar fotos com a armacasa de apostas sem depósitoum traficante. Ficou agonizando no chão até que um morador tomou coragemcasa de apostas sem depósitolevá-la para o hospital, mas ela não resistiu à cirurgia.

"Na primeira reunião, a gente não tinha nem palavra. Derramava as nossas palavrascasa de apostas sem depósitolágrimas", diz Ana Kelly. "Hoje, eu estoucasa de apostas sem depósitopé por causa desse grupo e da força que criamos juntas", afirma. Ela é mãe solteira e cuida dos filhos sozinha, e nesta manhã no Cras está com a filha Esther,casa de apostas sem depósito3 anos, no colo, e Samuel,casa de apostas sem depósito6, sentado ao seu lado. O menino estica a mão para secar a lágrima que escorre pelo rosto da mãe.

O objetivo inicial não era formar um grupo exclusivamentecasa de apostas sem depósitomulheres ou mães. Mas o mapeamento das famílias foi feito a partir dos cadastros para receber o Bolsa Família, que, segundo a assistente social Maria da Glória Alves, costuma ser atualizado no Cras pelas mães - não raro pela ausência da figura paternacasa de apostas sem depósitocasa. A equipe soube da morte dos filhoscasa de apostas sem depósitoAna Kelly ecasa de apostas sem depósitoIvonete, por exemplo, quando elas foram retirar o nome deles do Cadastro Único para receber o benefício. Ivonete teve o filhocasa de apostas sem depósito13 anos morto por um policial miliciano.

"A gente não buscou fazer um grupo sócasa de apostas sem depósitomulheres. A ideia era fazer um grupocasa de apostas sem depósitofamílias. Mas acabou se criando esse foco", conta Alves.

"Para nós mulheres, acho que é mais fácil a gente vir chorar uma do lado da outra", diz Ana Paula. "Já chamei o meu esposo, e ele falou: 'E vou para ficar lá chorando no meiocasa de apostas sem depósitoum montecasa de apostas sem depósitomulher?'", conta.

Na primeira reunião, a educadora social Ana Lúcia Ribeiro conta que as mães só choravam, deixando a equipe insegura sobre a ideia. "Ficamos arrasadas. Mas uma foi fortalecendo a outra, e isso vale tanto para as mães quanto para a equipe."

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'Aqui podemos falar sobre o que aconteceu com os nossos filhos sem julgamento', diz uma das mães

No encontro seguinte, só uma das mães voltou. Mas, aos poucos, o grupo foi se consolidando.

"Essas mães não tinham com quem falar sobre suas trajetórias, seu sofrimento, suas agruras", diz Alves.

"O grupo se tornou um espaço coletivo para trocas, um lugarcasa de apostas sem depósitoescuta,casa de apostas sem depósitoreconhecimento das potencialidadescasa de apostas sem depósitocada uma. Elas se identificaram e desenvolveram uma sensaçãocasa de apostas sem depósitopertencimento,casa de apostas sem depósitoserem donas do grupo."

A psicóloga Giovana Albuquerque e a assistente social Simone do Nascimento completam o quarteto que atende o grupocasa de apostas sem depósitomães. A equipe reúne funcionárias do Cras Rubens Correa e do Centrocasa de apostas sem depósitoReferência Especializadocasa de apostas sem depósitoAssistência Social (Creas) Wanda Engel Aduan.

Fococasa de apostas sem depósitoAcari e arredores

Ana Lúcia, Maria da Glória, Giovana e Simone estão entre os maiscasa de apostas sem depósito30 agentes municipais que participaram da capacitação oferecida pelo Iser e pela Equipe Clínico-Política. O treinamento integra um projeto batizadocasa de apostas sem depósitoCentrocasa de apostas sem depósitoEstudoscasa de apostas sem depósitoReparação Psíquica (Cerp), e teve financiamento do Fundo Newton, do British Council. A iniciativa é um desdobramentocasa de apostas sem depósitoprojetos voltados para a reparação psíquicacasa de apostas sem depósitovítimascasa de apostas sem depósitotortura durante a ditadura militar - agora buscando a reparação para casoscasa de apostas sem depósitoviolência cometidos pelo Estado nos diascasa de apostas sem depósitohoje.

O foco foi no treinamentocasa de apostas sem depósitoagentescasa de apostas sem depósitosaúde e assistência socialcasa de apostas sem depósitoatenção básica, e que atuassem na regiãocasa de apostas sem depósitoAcari e arredores,casa de apostas sem depósitoIrajá até a Pavuna.

De acordo com a psicóloga Olívia Françozo, coordenadora do Cerp-RJ, essa região da zona norte carioca foi escolhida por ter altos índicescasa de apostas sem depósitoviolência policial, mas ser menos assistida que outras regiões igualmente violentas, como os complexos do Alemão e da Maré.

"Essa região não é tão acessada por serviços públicos nem por ONGs e projetos sociais. Então, é muito carentecasa de apostas sem depósitoserviços", explica a psicóloga.

A maior parte da área é coberta pelo 41º Batalhão da Polícia Militar, que foi denunciado pela vereadora Marielle Franco nas redes sociais como o "batalhão da morte" poucos dias antescasa de apostas sem depósitoseu assassinato,casa de apostas sem depósitomarço, no crime que também custou a vidacasa de apostas sem depósitoseu motorista, Anderson Gomes.

A área é recordista dos chamados "homicídios decorrentescasa de apostas sem depósitooposição à intervenção policial", antes conhecidos como autoscasa de apostas sem depósitoresistência. Segundo dados do Institutocasa de apostas sem depósitoSegurança Pública (ISP), autarquia ligada à Secretariacasa de apostas sem depósitoSegurança do Rio, 112 pessoas foram mortas na área do batalhãocasa de apostas sem depósito2017 - o equivalente a 10% dos 1.127 autoscasa de apostas sem depósitoresistência ocorridos no Rio ano passado.

"Nossa equipe vem trabalhando há muito tempo para que o governo se responsabilize pela reparação dos afetados por violência do Estado", explica Françozo. "A reparação integral passa pela reparação psíquica. E o fatocasa de apostas sem depósitoo atendimento ser oferecido pelo próprio Estado perpetrador da violência é muito significativo. Por isso é tão importante capacitar os agentes públicos."

A capacitação não prescreveu um modelocasa de apostas sem depósitoatendimento aos agentes públicos, e o grupo formado no Cras Rubens Correa optou por não focar apenascasa de apostas sem depósitovítimascasa de apostas sem depósitoviolência do Estado. Segundo a assistente social Maria da Glória Alves, no panoramacasa de apostas sem depósitoviolência do Rio, é difícil delimitar onde começa e termina a responsabilidade do Estado.

"Temos mortes por açãocasa de apostas sem depósitouma polícia truculenta, mas também temos assassinatos cometidos por traficantescasa de apostas sem depósitouma situaçãocasa de apostas sem depósitoviolência urbana que reflete a ausência do Estado", pondera Alves.

Em nota, a Secretariacasa de apostas sem depósitoSegurança do RJ afirma que os homicídios decorrentescasa de apostas sem depósitooposição à intervenção policial apresentaram quedacasa de apostas sem depósito11,4%casa de apostas sem depósitomarçocasa de apostas sem depósitocomparação ao mesmo período do ano anterior, e que a Divisãocasa de apostas sem depósitoHomicídios da Polícia Civil investiga as mortes nestas condições "em buscacasa de apostas sem depósitoelucidação e transparência". O governo estadual do Rio está sob intervenção federal desde fevereiro na áreacasa de apostas sem depósitosegurança pública.

A secretaria não comentou se teria responsabilidade sobre casoscasa de apostas sem depósitoassassinatos associados a uma ausência do Estado, mas destaca a determinação do secretário Richard Nunes, que assumiu a pasta após a intervenção federal,casa de apostas sem depósitoque as polícias atuem "para combater os delitos com o objetivocasa de apostas sem depósitoum atuação mais preventiva e qualificada das forçascasa de apostas sem depósitosegurança".

A pasta frisa ainda que publicou, no ano passado, resolução normativa para "preservar a vida dos moradores das comunidade e das forças policiais", estabelecendo protocolos para operações policiais "em áreas sensíveis onde há elevado riscocasa de apostas sem depósitoconfronto com infratores da lei".

Grupocasa de apostas sem depósitomães sentado
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Além dos encontros quinzenais, mães mantêm contato por meiocasa de apostas sem depósitogrupo no WhatsApp

Dia da maquiagem, dia da fotografia

Além dos encontros quinzenais, as mães mantêm contato regular por meiocasa de apostas sem depósitoum grupocasa de apostas sem depósitoWhatsApp. Foi aí que surgiu o nome Mães Unidas Pela Dor.

A amizade e o entrosamento que demonstram hoje dá gosto à equipecasa de apostas sem depósitoassistência. O início foi difícil. Nem todas as famílias procuradas atenderam ao chamado, e nem todas as mães que apareceram nas reuniões retornaram.

A metodologia e as dinâmicas dos encontros foram sendo desenvolvidas ao longo do percurso, fortalecendo as mães a partir dos temas trazidos por elas.

Uma relatava dificuldadescasa de apostas sem depósitover fotos do filho. O debate iniciado a partir daí levou à ideiacasa de apostas sem depósitopromover um "dia da fotografia", onde cada uma traria retratos dos filhos para mostrar às outras. Outra falou que não se sentia feminina porque não se maquiava. A conversa foi a deixa para um "dia da beleza", com sessãocasa de apostas sem depósitomanicure, pedicure e maquiagem.

No fim do ano, a equipe levou as mães para um passeiocasa de apostas sem depósitovan pela Lapa, no Centro, e pela Urca, com vista para o Pãocasa de apostas sem depósitoAçúcar. "Foi maravilhoso. Elas viraram criançascasa de apostas sem depósitonovo", conta Alves. "A mobilidade é uma grande questão para moradores dessa região. Uma das mulheres do grupo nunca tinha saído dos arredorescasa de apostas sem depósitoIrajá."

Hoje, as mães reclamam quando não há encontros, e se queixaram que o recessocasa de apostas sem depósitofimcasa de apostas sem depósitoano foi longo demais. Para a equipe, não há queixa melhor a se receber.

"Que cobrança deliciosa", brinca a assistente social. "É sinalcasa de apostas sem depósitoque os encontros são realmente importantes. Dá sentido ao nosso trabalho."