Governo Bolsonaro: A aproximação entre presidente brasileiro e Israel pode afetar o mercado bilionáriosport gold betcarne halal no Brasil?:sport gold bet

A mudança tem potencialsport gold betprovocar atritos com palestinos e países árabes, rompendo com a posturasport gold betneutralidade mantida pelo Brasil desde a fundação do Estadosport gold betIsrael, há 70 anos. Fixar a embaixadasport gold betJerusalém implicaria o reconhecimento da cidade sagrada como capital israelense, enquanto palestinos também pleiteiam soberania sobre a cidade que desejam ter comosport gold betcapital.

Segundo o Itamaraty, a promessasport gold betcampanhasport gold betBolsonaro "permanecesport gold betestudo". "No entendimento brasileiro, a perspectivasport gold betmelhorar as relações com Israel não implica piora das relações com os outros parceiros do mundo árabe", afirma o Ministério das Relações Exteriores à BBC News Brasil.

Apreensão no setor

A hipótesesport gold betmudança aventada por Bolsonaro durante a campanha eleitoralsport gold bet2018 tem gerado apreensão entre entidades comerciais, representantes da indústria e funcionários do setor, que temem um possível embargo dos países árabes às exportações brasileiras se a mudançasport gold betembaixada for concretizada.

O presidente da Câmarasport gold betComércio Árabe Brasileira, Rubens Hannun, afirma que o tema é sensível, e que países árabes têm demonstrado preocupaçãosport gold betconversas, cartas e movimentações a nível diplomático.

"É arriscar desnecessariamente, algo que poderá colocarsport gold betrisco um mercado que demorou muito para ser estabelecido", considera Hannun. "Nosso medo é que essa relação (entre o Brasil e os países árabes) possa enfraquecer. Não haveria uma quebra imediata, mas a médio e longo prazo veríamos uma perdasport gold betpotencial, um retrocesso."

De acordo com a Câmarasport gold betComércio Árabe Brasileira, as exportaçõessport gold betcarnessport gold betfrango e halal para países árabes aumentaram 418% nos últimos 15 anos - pulandosport gold betUS$ 706 milhõessport gold bet2003 para US$ 3,65 bilhõessport gold bet2017.

Hoje, o Brasil ésport gold betlonge o principal fornecedorsport gold betproteína animal halal para o mundo árabe, tendo suprido 51,9% dessa demandasport gold bet2017, segundo dados do Centrosport gold betComércio Internacional (ITC) - ou seja, maissport gold betmetade do consumo.

Os países árabes e o Irã compraram maissport gold betum terço (36,3%) da proteína halal exportada pelo Brasilsport gold bet2017, e respondem por cercasport gold bet10% das exportações do setor agropecuário do Brasil, e por quase 6%sport gold bettodas as exportações brasileiras, segundo dados do Ministério da Economia.

Um embargo árabe às exportações nacionais "amplia o grausport gold betincerteza para que as empresas brasileiras realizem investimentos no território nacional voltados à expansão da produçãosport gold betprodutos halal, pois os novos investimentos podem se tornar gastos sem uso", afirma a Câmara Árabe Brasileira.

Para uma fonte diplomática árabe ouvida pela BBC News Brasil, a mudança teria implicações negativas para a estabilidade na região e para as negociações do processosport gold betpaz no Oriente Médio, e geraria prejuízos à relação com países árabes sem uma real contrapartida na relação com Israel.

"Não há qualquer razão para fazer isso a não ser envergonhar os parceiros árabessport gold betsuas relações históricas com um país amistoso como o Brasil. A questão não é quem vai ganharsport gold betrelação a importações ou exportações. A questão real é por que abrir mãosport gold betuma oportunidade genuínasport gold betcontinuar a expandir parceriassport gold bettodas as áreas com os 22 países árabes, e com os 57 Estados-membros da OIC (Organização para a Cooperação Islâmica),sport gold betvezsport gold betum (Israel)", afirma essa fonte,sport gold betconversa com a reportagem.

Abate halal

A denominação halal designa "lícito" e representa aquilo que estásport gold betconformidade com as regras estabelecidas pela lei islâmica (a sharia). As regras são aplicadas a alimentação, remédios, lazer e vestuário. Produtos halal não podem ter vestígiossport gold betitens proibidos aos muçulmanos, como álcool, carnesport gold betporco e seus derivados.

Para que a proteína seja considerada halal, o animal tem que ser abatido seguindo uma sériesport gold betespecificações. A degola precisa ser feita com um facão afiado, com cortesport gold betformasport gold betmeia lua. O degolador tem que ser necessariamente muçulmano. De um só golpe, deve cortar as jugulares, veias e traqueia do animal, imediatamente após recitar a frase "Bissmillah Allahu Akbar" - "Em nomesport gold betDeus, Deus é maior!"

"Não basta falar a frase. O abatedor precisa ter no coração o sentimentosport gold betque está fazendo o abate halal para alimentar uma pessoa, e não está matando para fazer o animal sofrer ou por maldade", descreve Kaled Zoghbi, coordenador halal da produçãosport gold betaves da Federação das Associações Muçulmanas no Brasil (Fambras), a principal certificadorasport gold betprodutos halal no país.

O golpe precisa ser rápido e certeiro, descreve, cortando as veias jugularessport gold betuma vez, causando a morte instantânea e buscando eliminar a possibilidadesport gold betliberaçãosport gold bettoxinas que contaminem a carne. O escoamento posterior do sangue tem que ser completo.

A produção seguindo os preceitos halal começou a ser implementada no Brasil a partirsport gold bet1979, com a fundação da Fambras pelo libanês Hajj Hussein Mohamed El Zoghbi. Hoje, a entidade tem maissport gold betmil degoladores espalhados pelo Brasil. Seu filho e atual presidente da Fambras, Mohammed El Zoghbi, leva o trabalho adiante.

El Zoghbi considera cedo para estimar o impacto que a mudançasport gold betpolítica externa do Brasilsport gold betIsrael teria para esse mercado.

"Nós levamos 40 anos para formatar esse mercado. As pessoas têm que enxergar isso. É um trabalho árduo, sério, que visa ao crescimento do mercado brasileiro e sempre buscou desenvolver a credibilidade do Brasil no exterior. A população islâmica consome o produto brasileiro confiando no que a gente faz", afirma.

Açaí, pãosport gold betqueijo e detergente

Presidente da Câmarasport gold betComércio Árabe Brasileira, Rubens Hannun destaca que as exportações do Brasil para países árabes cresceram sete vezes nos últimos 20 anos.

Em 2018, quase 50% das exportaçõessport gold betfrango brasileiras foram do produto halal - tanto para países árabes quanto para não árabes, somando 1,966 milhãosport gold bettoneladas, segundo a Associação Brasileirasport gold betProteína Animal (ABPA).

Já no mercadosport gold betcarne bovina, que bateu recordesport gold betexportaçõessport gold bet2018, o corte halal para consumidores árabes respondeu por 20,8% do total vendido no mundo, somando 341 mil quilos exportados, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadorassport gold betCarnes (Abiec).

Questionada sobre eventuais impactos da mudança da postura brasileirasport gold betIsrael, a ABPA afirma que o setor "prefere não especular sobre os riscos efetivos destas tratativas", dado que não foram tomadas decisões até o momento.

A associação destaca, entretanto, a "grande importância" que as exportaçõessport gold betcarnesport gold betfrango halal têm para o Brasil, tanto na geraçãosport gold betempregos comosport gold betdivisas para o país - atendendo a mercados expressivos como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Iraque e Egito.

Embora a proteína animal seja o principal produto halal do Brasil, o lequesport gold betprodutos que podem ser qualificados como halal é enorme - e outras indústrias brasileiras têm se beneficiado por essa expansãosport gold betolho no mercado muçulmano, ressalta Dib Tarras, diretorsport gold betcertificação halal do setor industrial da Federação das Associações Muçulmanas no Brasil (Fambras).

A federação já concedeu certificação halal a maissport gold bet170 indústrias brasileiras, afirma Tarras - incluindo produtos químicos, farmacêuticos, cosméticos, chocolate, laticínios... O Brasil exporta até leite condensado, açaí e pãosport gold betqueijo halal.

Os países árabes representam 20% dos consumidores muçulmanos do mundo. "O Brasil ainda tem um mercado gigantesco a explorar", afirma.

Substituição difícil

Em entrevista à BBC News Brasilsport gold betjaneiro deste ano, o presidente da Associaçãosport gold betComércio Exterior do Brasil (AEB), José Augustosport gold betCastro, afirmou que as exportaçõessport gold betfrango seriam as mais afetadas seguidas pelassport gold betcarne esport gold betaçúcar.

Mesmo assim, Castro avalia que dificilmente os países árabes conseguiriam, no curto prazo, substituir amplamente as importações brasileiras, já que há poucos países capazessport gold betexportar na mesma quantidade e custo que o Brasil. Além disso, as alternativas existentes para as nações islâmicas também esbarramsport gold betconflitos geopolíticos.

Se quisesse substituir a carne brasileira, o mundo árabe precisaria recorrer aos segundo e terceiro maiores exportadores: Estados Unidos e Austrália.

A questão é que os Estados Unidos, sob o governo Trump, foram os primeiros a transferirem a embaixada para Jerusalém. E,sport gold betdezembro, a Austrália reconheceu oficialmente Jerusalém como capitalsport gold betIsrael, embora não tenha transferidosport gold betembaixada para lá.

No caso do frango, Castro afirma que a União Europeia poderia, a médio prazo, tentar ocupar o vácuo deixado pelo Brasil. Ainda assim, seria custoso para os países árabes, já que o frango brasileiro é mais barato.

Quanto ao açúcar, produtores temem perdas a médio e longo prazo, mas também não acreditam que seja possível uma substituição completa do produto brasileiro.

"Não vejo, no curto prazo, um substituto imediato para o açúcar brasileiro. De uma forma estrutural, o Brasil responde por 50% do comércio mundialsport gold betaçúcar", ressalta Paulo Robertosport gold betSouza, coordenadorsport gold betcompetividade internacional da maior associaçãosport gold betusineiros do Brasil, a União da Indústria da Canasport gold betAçucar (Unica).

Ele afirma, porém, que a médio prazo, Tailândia, Índia e União Europeia podem se movimentar para substituir parte do que hoje é exportado pelo Brasil aos países árabes.

'Não vão colocar nossos empregossport gold betrisco'

Para se habilitar a produzir proteína halal, frigoríficos precisam implementar uma sériesport gold betmudanças. As exigências incluem espaços completamente separados para fazer o abate halal e linhassport gold betproduçãosport gold betvelocidades diferentes para a degola manual do frango, geralmente feita com discosport gold betcorte no abate não halal.

Os degoladores são necessariamente muçulmanos, o que abriu um mercado para trabalhadores islâmicos no país - e acabou gerando empregos para refugiados.

É o caso do ganês Tijani Jafaru, que chegou ao Brasil fugindosport gold betameaçassport gold betseu país e acabou conseguindo empregosport gold betum frigoríficosport gold betSanta Catarina, 100% voltado para exportação. Ele é um dos 33 muçulmanos que trabalham fazendo o abate halalsport gold betfrangossport gold betuma unidade na cidadesport gold betSeara, onde a marca homônima foi fundada.

"O Brasil é uma mãe que ajuda quando o filho está chorando", compara Tijani, 33 anos, que foi vítimasport gold betum golpesport gold betGana. Pediu empréstimosport gold betum banco para comprar um terreno, recebeu documentação falsa e acabou ficando sem teto, com uma dívida bancária e perseguido pelos mafiosos por trás do esquema.

Ele diz que os colegassport gold bettrabalho são "igual a família" e é grato pelo trabalho - que lhe traz sustento e lhe permite enviar dinheiro para casa para pagar gradualmentesport gold betdívida e ajudar os dois filhos, que sonhasport gold bettrazer para cá.

No frigorífico, conversas sobre as possíveis mudançassport gold betrumo na política externa brasileirasport gold betIsrael ganharam espaço entre as linhassport gold betprodução, despertando temor entre Tijani e os demais funcionários.

"Todos nós que trabalhamos nesses frigoríficos temos medo", diz o egípcio Moustafa Mitwalli, supervisor da unidade, que chegou do Egito há oito anos. Só lá são 700 funcionários, pondera - levando sustento para cercasport gold bet700 famílias.

"Se a mudança (da embaixadasport gold betIsrael) acontecersport gold betfavor do governo israelense, e problemas com os países árabes começarem, o risco não é só para a gente, é para todos que trabalham nesses frigoríficos, os brasileiros também", considera Mitwalli.

"Acredito que não vão fazer isso. Não vão colocar a economia do Brasil e os nossos empregossport gold betrisco."

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