Como Bolsonaro quer usar discurso na ONU para reposicionar Brasil no mundo:blaze aposta copa

  • Mariana Sanches - @mariana_sanches
  • Da BBC News Brasilblaze aposta copaWashington
Bolsonaro aparece compenetradoblaze aposta copafrente a painelblaze aposta copaeventoblaze aposta copaBrasília

Crédito, EVARISTO SA / AFP

Legenda da foto, Bolsonaro durante eventoblaze aposta copaBrasília; cenário preparado para discurso na ONU não é favorável ao brasileiro

blaze aposta copa Quando subir ao púlpito do plenário da Organização das Nações Unidas (ONU) blaze aposta copa para abrir a 74ª edição da Assembleia Geral, nesta terça-feira, 24, o presidente Jair Bolsonaro blaze aposta copa deve reposicionar o Brasil no xadrez global, diante dos líderesblaze aposta copaoutros 192 países.

Há exatos 70 anos,blaze aposta copa1949, o diplomata brasileiro Oswaldo Aranha fazia pela primeira vez a abertura do encontroblaze aposta copanações, inaugurando a tradição que, historicamente, daria ao Brasil a prioridade sobre o microfone e enunciando valores que norteariam a participação do país na ONU: o multilateralismo, uma agenda comprometida com a neutralidade e a mediação dianteblaze aposta copaconflitos internacionais.

Sete décadas mais tarde, às vésperasblaze aposta copacompletar 10 mesesblaze aposta copamandato, Bolsonaro enfrentará expectativa opostablaze aposta coparelação ao seu discurso inaugural na ONU. Bolsonaro falará logo depois do secretário-geral da ONU, o português António Guterres, e imediatamente antes do discurso do mandatário do país anfitrião, os Estados Unidos,blaze aposta copaDonald Trump, o que aumentará ainda mais a audiência das palavras do presidente.

Desde que assumiu, Bolsonaro vem operando uma alteração profunda na política internacional brasileira, combatendo o que chamablaze aposta copaglobalismo, climatismo, ideologiablaze aposta copagênero e defendendo o que denominoublaze aposta copa"verdadeiros direitos humanos" - a defesablaze aposta copavalores religiosos e o princípio da família tradicional.

"É o primeiro governo eleito democraticamenteblaze aposta copaum século que diz abertamente que veio romper com as tradições diplomáticas brasileiras", afirma Guilherme Casarões, professorblaze aposta copaRelações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas.

O cenário preparado para o discurso na ONU não é favorável ao brasileiro.

"Tá na cara que vou ser cobrado", admitiu o próprio presidenteblaze aposta copauma liveblaze aposta coparede social na última quinta-feira.

Queimadas na Floresta Amazônica somadas à promessa (não cumprida)blaze aposta copaBolsonaroblaze aposta copaque sairia do Acordo do Climablaze aposta copaParis,blaze aposta copasua intenção (não concretizada)blaze aposta copafechar o Ministério do Meio Ambiente, do desestímulo às açõesblaze aposta copafiscalização e aplicaçãoblaze aposta copamultas por crime ambiental pelo IBAMA e aos reiterados questionamentos da cúpula do governo sobre a importância da ação humanablaze aposta coparelação ao aumentoblaze aposta copatemperatura do planeta, levaram a França a censurar publicamente o Brasil, há cercablaze aposta copaum mês.

"A Amazônia absorve 14% do CO2 mundial. A perda do primeiro pulmão do planeta é um problema mundial", tuitou o presidente francês Emmanuel Macron. O governo brasileiro viu na mensagem um questionamento ablaze aposta copasoberania. O tom subiu a pontoblaze aposta copaMacron dizer que o Brasil não tinha um líder "à altura do posto"eblaze aposta copaBolsonaro fazer comentários considerados ofensivos sobre a primeira dama francesablaze aposta coparedes sociais.

O hall da Assembleia Geral da ONU do pontoblaze aposta copavista do orador

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Há exatos 70 anos, o diplomata brasileiro Oswaldo Aranha inaugurou a tradição, fazendo o discursoblaze aposta copaabertura da Assembleia Geral, o que, historicamente, daria ao Brasil a prioridade sobre o microfone

O temorblaze aposta copauma hostilidade durante a falablaze aposta copaBolsonaro - casoblaze aposta copalíderesblaze aposta copaalguns países se levantassem e deixassem o plenário nesse momento - levou à incerteza sobre a ida do presidente à Nova York até quase a véspera da viagem. Recém-operadoblaze aposta copauma hérnia abdominal decorrente da facada que sofreu durante a campanha presidencial, Bolsonaro poderia optar por alongar seu descanso para a recuperação e evitar o risco do desgaste.

"Nosso presidente está pronto para o combate e a viagem para Nova York, no dia 23, está assegurada", disse o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, na última sexta-feira, pondo fim ao suspense sobre a presença do brasileiro na ONU.

A Amazônia é nossa, o aquecimento global não é nosso

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Bolsonaro passou os últimos dias reunido com o filho, Eduardo, o assessor internacional da presidência para assuntos internacionais, Filipe Martins, e o chanceler Ernesto Araújo para elaborar o que dizer.

No discurso, ele defenderá a soberania brasileira e a posição do Brasil como líderblaze aposta copameio ambiente. O presidente dirá que o Brasil preserva 80% da mata amazônica original, possui matriz energética limpa e não alteroublaze aposta copanada a legislação ambiental, considerada rígida pelo governo. Tudo isso o credenciaria como maior liderança globalblaze aposta copapreservação, defenderá Bolsonaro,blaze aposta copaoposição aos europeus.

O presidente também dirá que as queimadas estão dentro dos níveis históricos anuais para o período e que há oportunismo comercial nas acusaçõesblaze aposta copadevastação. Diante da perspectivablaze aposta copaum acordoblaze aposta copalivre comércio entre Mercosul e União Europeia, a questão da Amazônia poderia servir como pretexto para boicotes e medidas protecionistasblaze aposta coparelação à produção brasileira, pondoblaze aposta coparisco o futuro do acordo comercial recentemente assinado entre o Mercosul e a União Europeia, cuja efetivação depende da confirmaçãoblaze aposta copacada país membro.

Ele apontará que apostablaze aposta copadesenvolvimento sustentável da região, com atividades econômicas mais complexas, questionando a noçãoblaze aposta copasustentabilidade meramente extrativista, que se resume,blaze aposta copaacordo com quadros do governo, à ideiablaze aposta copamanter a população local à base da retiradablaze aposta copaborracha e castanha da mata,blaze aposta copacondiçãoblaze aposta copamiséria.

Bolsonaro deverá ainda repetir que cabe ao Brasil definir como pretende proteger e desenvolver a região, e que nenhum consórcioblaze aposta copaajuda à Amazônia pode existir sem passar pela ingerência brasileira.

Por fim, o presidente deverá tentar desvincular as queimadas na Amazônia do fenômeno do aquecimento global. O chanceler Ernesto Araújo, um dos que levantam controvérsias sobre a importância da ação humana na mudança climática, tem tentado minimizar o impacto global da Amazônia ao dizer que a devastação da floresta seria responsável por 2%blaze aposta copatodas as emissõesblaze aposta copaCO2 no mundo.

Manifestante no Rioblaze aposta copaJaneiro exibe cartaz satirizando Bolsonaro

Crédito, REUTERS/Pilar Olivares

Legenda da foto, Manifestante no Rioblaze aposta copaJaneiro exibe cartaz satirizando Bolsonaro; pauta ambiental deverá estar no discurso do presidente brasileiro na ONU

Isolamento

O discurso sugerirá que o Brasil se tornou vítima do que o governo considera ser um alarmismo climático, ou climatismo, uma face do chamado globalismo que a gestão Bolsonaro busca combater: a capturablaze aposta copaorganismos internacionais por determinados interesses - o chamado marxismo cultural, a destruição do modelo tradicionalblaze aposta copafamília, dos valores religiosos e do conceitoblaze aposta copanação e fronteiras - e a tentativablaze aposta copaimpor tais interesses ao Brasil.

Extremamente minoritária no Itamaraty, essa linhablaze aposta copaexplicação sobre os arranjos internacionais tem sido enunciada pelo ideólogo do governo, o escritor Olavoblaze aposta copaCarvalho, e frequentemente adota tons conspiratórios para se referir ao mundo globalizado, chamado por Araújoblaze aposta copa"o sistema".

'É um momento importante porque o Brasil vai dizer ao mundo o que pensa. O Brasil chegablaze aposta copauma posição defensiva, e o presidente deveria deixar claro qual é ablaze aposta copapolítica para o meio ambiente. Apenas reafirmar a soberania do Brasil não é suficiente. Esse governo foi eleito com uma agenda diferente das posiçõesblaze aposta copadireitos humanos,blaze aposta copaliderançablaze aposta copameio ambiente, e tem legitimidade para tomar as medidas que achar que deve tomar. Mas deve lembrar que as posições que adotablaze aposta copapolítica externa têm consequências" afirmou à BBC News Brasil o embaixador Rubens Barbosa, que liderou a embaixadablaze aposta copaWashington por quase 5 anos durante o governo Fernando Henrique Cardoso.

Dentre as consequências estaria o isolamento. De acordo com um embaixador que falou à BBCblaze aposta copacondiçãoblaze aposta copaanonimato por temorblaze aposta coparepresálias, esse risco já está no horizonte.

"Mudanças climáticas são um tema sensível para todo mundo: árabes e israelenses, russos, americanos e chineses. Acho perigoso não percebermos que estamos nos isolando, que as palavras têm um peso importante e que estamos enfrentado o resultado do que esse governo optou por dizer - considerando o meio ambiente um assunto menor. Falta sensibilidade para entender que seguir nesse caminho ideológico não é bom para o Brasil. Estamos destruindo um capital precioso e, quando o governo se der conta disso, vai ser difícil limpar o picadeiro", afirmou.

Especialistas e integrantes do Itamaraty ouvidos pela reportagem consideram pequena a possibilidadeblaze aposta copaque as delegações se retirem durante o discursoblaze aposta copaBolsonaro - o que seria uma humilhação sem precedentes para o país. Algumas embaixadas na Europa chegaram a fazer sondagens com os representantes desses países para apurar a possibilidadeblaze aposta copaum ato hostil.

"Os interesses financeiros devem pesar para evitar que algo assim aconteça. Mas,blaze aposta copaqualquer forma, os países não precisam desse instrumento para punir o Brasil. O parlamento austríaco já rejeitou o acordo Mercosul-União Europeia, o casteloblaze aposta copacartas começa a ruir", diz o embaixador,blaze aposta copareferência ao acordo comercial fechado durante a reunião do G20,blaze aposta copajunho, e que depende da aprovação unânime dos parlamentos dos países da União Europeia pra ser ratificado.

Eduardo Bolsonaro e Ernesto Araujoblaze aposta copaperfil

Crédito, Brendan Smialowski / AFP

Legenda da foto, Eduardo Bolsonaro e o chanceler Ernesto Araújo auxiliaram nos últimos dias o presidente brasileiro na elaboração do discurso

Alinhamento aos Estados Unidos

Na primeira fileira do auditório da Assembleia Geral da ONU, enquanto Bolsonaro falar, estará sentado aquele que é hoje seu aliado prioritário no mundo: o presidente americano Donald Trump. Na embaixada brasileirablaze aposta copaWashington, a avaliação éblaze aposta copaque a relação entre os dois países nunca foi tão estreita e que o compartilhamentoblaze aposta copaagendas - eblaze aposta copaestilos - entre os dois presidentes facilitou muito essa aproximação.

Essa proximidade não é fortuita: desde a eleição, Bolsonaro se aproximou, por meio do filho Eduardo,blaze aposta copaSteve Bannon, ex-estrategistablaze aposta copacomunicaçãoblaze aposta copaTrump e um dos ideólogos do atual movimentoblaze aposta copadireita. De acordo com o jornal O Estadoblaze aposta copaSão Paulo, Bannon teria se encontrado com Ernesto Araújo,blaze aposta copaWashington, há dez dias para se debruçar sobre o discurso que o presidente fará na ONU. Na mesma visita, Araújo afirmou queblaze aposta copaprioridadeblaze aposta copatrabalho é estabelecer uma data para que Trump visite o Brasil.

A diplomacia brasileira considera já colher frutos dessa aproximação. Uma das mais comemoradas foi a ausênciablaze aposta copamenção à Amazônia no relatório final do G7,blaze aposta copameio à sérieblaze aposta copadiscussões públicas com Macron. A conquista foi atribuída ao apoio americano. Outros acenos importantes ao Brasil são o apoio explícito dos americanos à entrada do país na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e o reconhecimento do país como um aliado militar estratégico fora da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

Para assegurar tais posições junto aos americanos, no entanto, o Brasil tem adotado uma política internacional vacilante, já queblaze aposta copaalguns aspectos o estilo Trump contraria o históricoblaze aposta copaatuações do Brasil. Emblaze aposta copavisita ao presidente americano,blaze aposta copamarço, Bolsonaro compartilhou com ele o microfoneblaze aposta copauma entrevista e não retrucou quando o par afirmou que todas as opções estavam sobre a mesablaze aposta coparelação à Venezuela, sugerindo que o Brasil poderia concordar ou mesmo participarblaze aposta copauma investida militar contra o país vizinho.

Trumpblaze aposta copapé,blaze aposta copameio a outras pessoas sentadas, durante eventoblaze aposta copagala

Crédito, REUTERS/Joshua Roberts

Legenda da foto, Enquanto Bolsonaro falar na ONU, estará sentado, na primeira fileira, seu aliado prioritário no mundo: o presidente americano, Donald Trump

Isso foi rechaçado pela ala militar do governo brasileiro e o próprio chanceler Ernesto Araújo afirmou que essa era uma opção fora do jogo brasileiro. No entanto, há duas semanas, a Organização dos Estados Americanos (OEA) decidiu convocar o mecanismo do Tratado Interamericanoblaze aposta copaAssistência Recíproca (TIAR) para tratar da situação venezuelana. Em manifestação, a Costa Rica propôs que o TIAR excluísse a possibilidadeblaze aposta copaqualquer ação bélica. O Brasil votou contra a proposta.

Em relação ao Irã,blaze aposta copaescalada crescenteblaze aposta copatensão contra os EUA desde que Trump retomou as sanções econômicas ao país, o Brasil chegou a reter naviosblaze aposta copabandeira iraniana carregadosblaze aposta copamilho brasileiroblaze aposta copaportos nacionais porque a Petrobras se recusou a abastecer as embarcações, justificando temer retaliações americanas.

"Vocês já sabem que estamos alinhados com a política deles (dos EUA). Então fazemos o que temos que fazer", disse o presidente, defendendo a posição da empresa. O imbróglio foi resolvido com uma decisão do STF que ordenou o abastecimento dos navios iranianos. O Irã é o principal consumidorblaze aposta copamilho brasileiro.

A decisãoblaze aposta copaseguir os passosblaze aposta copaTrumpblaze aposta copaIsrael e transferir a Embaixada brasileirablaze aposta copaTel Aviv para Jerusalém, cidadeblaze aposta copadisputa entre palestinos e israelenses, também foi recebida com descontentamento pelos países árabes - grandes importadoresblaze aposta copacarne brasileira - que acabaram por forçar um recuo do Brasil no assunto sob penablaze aposta copaum boicote. O país ficou a meio caminho, tendo optado por abrir um escritórioblaze aposta copanegóciosblaze aposta copaJerusalém.

"O Brasil está apostandoblaze aposta copaum inédito alinhamento incondicional com os Estados Unidos, o que nos coloca junto a países como a Polônia, a Hungria, Itália e Israel", afirma Casarões,blaze aposta copareferência ao grupoblaze aposta copapaíses com governos nacionais-populistasblaze aposta copadireita. Nesse contexto, se insere o convite feito pelos americanos ao Brasil, e já aceito, para sediar uma edição da conferênciablaze aposta copapaz e segurança no Oriente Médio, que esse ano aconteceublaze aposta copaVarsóvia.

"É um evento dos Estados Unidos eblaze aposta copaIsrael para dizer porque eles não gostam do Irã", afirma Casarões. No discursoblaze aposta copaBolsonaro na próxima terça-feira, são esperadas críticas tanto à Venezuela quanto ao Irã.

A aposta do Itamaraty sob Ernesto Araújo é que esses movimentos tragam ao país investimentos e tecnologia que não teriam chegado enquanto o Brasil privilegiava cooperações com o terceiro mundo e parcerias Sul-Sul.

"A mensagem é que o Brasil vai fazer concessões unilaterais na esperançablaze aposta copareceber investimentos diretos, com a vindablaze aposta copaempresas estrangeiras interessadasblaze aposta copase beneficiar da mãoblaze aposta copaobra barata do Brasil e da reduçãoblaze aposta copagarantias aos trabalhadores pelo Estado", afirma Elaini da Silva, professorablaze aposta coparelações internacionais da Pontifícia Universidade Católica (PUC)blaze aposta copaSão Paulo

A manobra, porém, é considerada arriscada mesmo por quem teria a ganhar com tais vantagens econômicas. Fontes do Fundo Monetário Internacional ouvidas reservadamente pela BBC News Brasil afirmam que Bolsonaro despreza o riscoblaze aposta copaTrump não ser reeleito no ano que vem. O presidente já disse que torce pela reeleição do Republicano.

"Os investidores se movimentam olhando a taxablaze aposta copainflação eblaze aposta copajuros, a expectativablaze aposta copacrescimento e a condiçãoblaze aposta copaprevisibilidade do país. Para um país robusto como os Estados Unidos, a políticablaze aposta copaTrump acaba causando pouco dano, mas isso não é verdade para o Brasil. Essas discussõesblaze aposta copapolítica externa aumentam o nívelblaze aposta copaincerteza. Nunca vi algum país se beneficiar economicamente quando o seu mandatário ofende a mulherblaze aposta copaum dos presidentes do G7", diz um analista.

No mercado financeiro chama a atenção o modo como as autoridades brasileiras têm privilegiado o discurso ideológicoblaze aposta copavezblaze aposta copatentar aproveitar a agenda positiva da reforma da previdência, esperada há anos por investidores estrangeiros e às vésperasblaze aposta copaser aprovada no Senado Federal. Em discursoblaze aposta copamaisblaze aposta copameia hora na Heritage Foundation, um dos principais think tank conservadores dos Estados Unidos, o chanceler Araújo sequer mencionou a reforma das aposentadorias e pensões, pauta cara aos liberais que lotavam a plateia do evento.

"O Brasil tem coisas boas a dizer, mas simplesmente não diz", afirma o embaixador ouvido sob anonimato pela BBC News Brasil.

Ruim dentro, pior fora da ONU

Bandeira das Nações Unidasblaze aposta copafrente ao prédio da organizaçãoblaze aposta copaNova York

Crédito, Brendan Smialowski / AFP

Legenda da foto, Apesar da opiniãoblaze aposta copaBolsonaro sobre a ONU, uma das prioridades da política externablaze aposta copaseu governo é a reeleição para um assento no Conselhoblaze aposta copaDireitos Humanos

"Se eu for presidente, eu saio da ONU. Não serve para nada essa instituição. Sim, saio fora. Não serve para nada a ONU. (O Conselhoblaze aposta copaDireitos Humanos) É um localblaze aposta copareuniãoblaze aposta copacomunistas e gente que não tem qualquer compromisso com a América do Sul pelo menos", afirmou Bolsonaro há um ano, ainda durante a campanha presidencial.

No início do mêsblaze aposta copasetembro, ele voltou à carga contra a ONU, atacando a alta comissária da instituição para os direitos humanos, a ex-presidente chilena Michele Bachelet: "Parece que quando tem gente que não tem o que fazer, como a senhora Michelle Bachelet, vai lá para a cadeirablaze aposta copadireitos Humanos da ONU".

Em que pese a opiniãoblaze aposta copaBolsonaro sobre a ONU e seu órgãoblaze aposta copadireitos humanos, uma das prioridadesblaze aposta copapolítica externa do governo atual é a reeleição para um assento no Conselhoblaze aposta copaDireitos Humanos das Nações Unidas.

Criadoblaze aposta copa2006, o Conselho é formado por 47 países e tem como função monitorar violações dos direitos humanos ao redor do mundo e municiarblaze aposta copainformações a Assembleia Geral da ONU, que pode deliberar por sanções aos países com governos violadores e autoritários. Cabe ao órgão, por exemplo, acompanhar a situação dos venezuelanos.

A eleição, que aconteceblaze aposta copameadosblaze aposta copaoutubro, conta com duas vagas a serem ocupadas por países da América Latina e apenas dois candidatos a elas: Brasil e Venezuela. Na prática, portanto, a vaga estaria assegurada.

Embora possa parecer contraditória, a estratégia faz sentido, conforme explicam integrantes do governo, no esforçoblaze aposta copaocupar espaços considerados da "esquerda" e levar para lá as convicções da gestão atual.

O Itamaraty pediu a seus diplomatas que combatam o uso do termo "gênero"blaze aposta copaacordos multilaterais, pleiteando a substituição por "sexo biológico". Diplomatas defenderam a mudança à BBC Brasil dizendo que a Constituição Brasileira não prevê a palavra gênero e que o termo família se refere a casais heterossexuais, já que não há possibilidade biológicablaze aposta copageraçãoblaze aposta copafilhosblaze aposta copacasais homossexuais.

"O Brasil tem demonstrado um posicionamento mais duro do que Paquistão e Egitoblaze aposta coparelação à gênero", afirma Camila Asano, especialistablaze aposta copapolítica externa da Conectas, entidade da sociedade civil que se posicionou institucionalmente contra a reeleição do Brasil ao Conselhoblaze aposta copaDireitos Humanos à luz dos movimentos recentes do país na área.

Pesou na avaliação da Conectas, uma sérieblaze aposta copadeclaraçõesblaze aposta copaBolsonaroblaze aposta copadefesa aos regimes ditatoriais e militares que se espalharam pela América Latina entre as décadasblaze aposta copa1960 e 1980.

A última delas foi justamente contra Bachelet. Ao reagir à crítica da alta comissária da ONUblaze aposta copaque há um "encolhimento do espaço democrático no Brasil", Bolsonaro afirmou que a ex-presidente "se esquece que seu país só não é uma Cuba graças aos que tiveram a coragemblaze aposta copadar um basta à esquerdablaze aposta copa1973, entre esses comunistas o seu pai, brigadeiro à época".

Bolsonaro se referia ao regime ditatorialblaze aposta copaAugusto Pinochet, que derrubou o governo eleitoblaze aposta copaSalvador Allende e é considerado responsável, entre outros crimes, pela morte do paiblaze aposta copaBachelet, Alberto, submetido a torturas enquanto estava preso por ordens da ditadura. O elogio a Pinochet causou mal-estar até entre aliadosblaze aposta copaBolsonaro, como o atual presidente chileno Sebastian Piñera, que o desautorizou a falar sobre a história do Chile.

Antes disso, ao criticar o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, Bolsonaro afirmou que "um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade".

O Estado Brasileiro já reconheceu que o paiblaze aposta copaFelipe, Fernando Santa Cruz, desapareceu enquanto estava sob custódia do Estado Brasileiro, durante a ditadura,blaze aposta copa1974. As manifestações do presidenteblaze aposta copafavor do regime militar levaram a OAB a denunciar o governo brasileiro à ONU e pedir monitoramentoblaze aposta coparelação ao "frágil processoblaze aposta coparedemocratização" do país.

Bolsonaro sentadoblaze aposta copacadeira durante evento

Crédito, EVARISTO SA/AFP

Legenda da foto, Para alguns, ida do presidente à Nova York por si só indica uma disposição para o diálogo

Para o embaixador Rubens Barbosa, a intençãoblaze aposta copaBolsonaroblaze aposta coparelação ao Conselhoblaze aposta copaDireitos Humanos encontra paralelo no movimento feito pela ditadura militar brasileira, na décadablaze aposta copa1970,blaze aposta copaocupar assento na então Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos, órgão antecessor ao Conselho atual.

"Naquele momento o Brasil também estava na defensiva, querendo assegurarblaze aposta copasoberania sobre a Amazônia, na lógica do integrar para não entregar, e se antecipar para saber o que diziam do paísblaze aposta coparelação aos direitos humanos, temerosoblaze aposta copadenúncias", diz Barbosa.

Para representantes do Itamaraty, só a ida do presidente a Nova York já é um recadoblaze aposta copauma disposição para o diálogo. Mas o embaixador Rubens Barbosa afirma que a mera intenção não basta, os termos do discurso são cruciais para demonstrar à opinião internacional essa disposição:

"Vai ter que calibrar o discurso para poder mudar essa perspectiva negativa agora que o Brasil adotou posição na contra mão do mainstream".

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