Como o comércio transatlânticonacional bets appescravos explica o caminho do óleo até as praias do Nordeste:nacional bets app

Mapa do Brasil e da África

Crédito, Divulgação

Legenda da foto, Mapa das duas viagens do alemão Hans Staden ao Brasil:nacional bets appum dos percursos, ele aproveitou a Corrente Sul Equatorial para navegar do Golfo da Guiné até a costa brasileira

A força da Corrente Sul Equatorial

Quando as manchasnacional bets appóleo já se espalhavam por nove Estados, no inícionacional bets appoutubro, o professornacional bets appOceanografia da Universidadenacional bets appSão Paulo (USP) Ilson Silveira fez uma simulação para tentar identificar o local do vazamento.

O experimento apontou que o óleo havia entradonacional bets appcontato com o oceano a uma distância entre 400 e 1.000 km da costa brasileira. De lá, teria sido transportado pela Corrente Sul Equatorial, um gigantesco rio que corre no Atlântico Sul no sentido leste-oeste. A corrente, que tem quatro ramos, se inicia no Golfo da Guiné, na costa ocidental da África, e vai até o litoral do Brasil.

"Desde o início percebi que a dimensão do acidente só se explicava por um grande sistemanacional bets appcorrentes", diz Silveira à BBC News Brasil.

Mapanacional bets appcorrentes marítimas do Atlântico Sul entre Brasil e África

Crédito, Ilson Silveira

Legenda da foto, Mapa das correntes marítimas no Atlântico Sul: Corrente Sul Equatorial se dividenacional bets appquatro ramos e corre da África até o Brasil e, ao chegar ao litoral brasileiro, na altura da Paraíba, se bifurca

A simulação do professor também indicou que o vazamento ocorreranacional bets applatitude próxima às dos Estadosnacional bets appPernambuco e Paraíba. Ao chegar ao litoral brasileiro nessa latitude, a Corrente Sul Equatorial se bifurca. Um ramo dela se torna a Corrente Norte do Brasil e sobe a costa, rumo ao Amapá, enquanto o outro ramo vira a Corrente do Brasil e desce o litoral, rumo ao Rio Grande do Sul.

Isso explicaria a chegada do óleo tanto a Estados ao norte da bifurcação (Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão) quanto a Estados ao sul (Alagoas, Sergipe e Bahia). Não por acaso, as primeiras manchasnacional bets apppetróleo apareceram justamente na Paraíba, onde se dá a bifurcação.

Por essa lógica, se o vazamento tivesse ocorrido um pouco mais ao norte ou um pouco mais ao sul, dificilmente atingiria todos os Estados do Nordeste. E se tivesse acontecido perto da costa, o óleo perderia o impulso da bifurcação e avançaria só para o norte ou para o sul, a depender do local da ocorrência.

A hipótese do professor Ilson Silveira foi reforçada na semana passada, quando a Polícia Federal divulgou dadosnacional bets appum relatório produzido pela empresa Hex Tecnologias Geoespaciais. Imagensnacional bets appsatélite coletadas pela empresa mostraram o que seria uma mancha originalnacional bets apppetróleo a 733 km do litoral paraibano — dentro, portanto, do perímetro e da latitude calculados pelo pesquisador.

Mapa do vazamentonacional bets appóleo no Nordeste

Crédito, Ibama

Legenda da foto, Mapanacional bets app29/9 mostra as praias no Nordeste afetadas pelo vazamentonacional bets appóleo: impacto se deu tantonacional bets appEstados ao norte quanto ao sul da bifurcação da Corrente Sul Equatorial

A influência das correntes na formação do Brasil

A bifurcação da Corrente Sul Equatorial justifica o esforço dos holandeses para controlar o arquipélagonacional bets appFernandonacional bets appNoronha no século 17. No livro O trato dos viventes: Formação do Brasil no Atlântico Sul - séculos 16 e 17, o historiador Luiz Felipenacional bets appAlencastro diz que o arquipélago "era a ponte para duas estratégicas rotasnacional bets appataque" às bases portuguesas nas Américas.

Uma dessas rotas ia do norte do litoral nordestino até o Caribe, e a outra descia toda a costa brasileira. A bifurcação também explica a decisão da Coroa portugesanacional bets appdividir o Brasilnacional bets appduas unidades administrativas: ao norte dela ficava o Estado do Grão-Pará e Maranhão, e, ao sul, o Estado do Brasil.

As correntes antagônicas tornavam quase impossível realizar viagens marítimas entre os dois Estados. Alencastro cita o isolamento que o padre português Antonio Vieira sentiu durante uma estadia no território ao norte:nacional bets appuma cartanacional bets app1654, ele escreveu que "alguém mais facilmente navega da Índia a Portugal do que desta missão (Maranhão) para o (Estado do) Brasil".

Missionários e autoridades que quisessem ir da Bahia até São Luís ou Belém costumavam primeiro viajar até Lisboa e sónacional bets applá partiam para o Grão-Pará.

Mapa do tráfico negreiro no Atlântico

Crédito, Slave Voyages

Legenda da foto, Mapa mostra o volumenacional bets apppessoas escravizadas transportados da África até as Américas: Brasil recebeu 4,8 milhõesnacional bets appafricanos

Tentativasnacional bets appcontornar as condições naturais resultaramnacional bets appfracassos notáveis. Alencastro conta que, no século 19, um navio da Marinha deixou o Rionacional bets appJaneiro carregadonacional bets appsoldados na expectativanacional bets appchegar ao Maranhão para conter a Revolta da Balaiada. A embarcação enfrentou fortes correntes contrárias e foi forçada a aportarnacional bets appMontevidéu, no Uruguai, centenasnacional bets appquilômetros ao sul do pontonacional bets apppartida.

As correntes explicam por que, desde o surgimento das primeiras manchas, o professor Ilson Silveira descartou que o óleo tivesse vazando diretamentenacional bets appalguma plataforma na Venezuela. Afinal, a Corrente Norte do Brasil vai do Rio Grande do Norte até a Venezuela, no sentido contrário ao da propagação das manchas.

Trocas entre Brasil e África

A lógica das correntes também influenciou o desenvolvimento econômico dos territórios brasileiros num momentonacional bets appque o tráficonacional bets appafricanos escravizados era um dos pilares da economia nacional.

As viagens dos navios negreiros até o Estado do Grão-Pará e Maranhão eram triangulares. As embarcações costumavam partirnacional bets appLisboa rumo à atual Guiné-Bissau e,nacional bets applá, viajavam com escravos até o Maranhão,nacional bets apponde voltavam a Portugal carregados com drogas do sertão (produtos florestais).

As trocas entre a África e o Estado do Brasil, porém, dispensavam a escalanacional bets appPortugal. Segundo Alencastro, por causa das condições naturais favoráveis, viagensnacional bets appida e volta entre a África e os portos brasileiros ao sulnacional bets appRecife eram 40% mais curtas do que deslocamentos entre o continente africano e portos no Caribe ou nos Estados Unidos, outros importantes destinosnacional bets appafricanos escravizados.

Navio brasileiro capturado

Crédito, Emory University

Legenda da foto, Carregadonacional bets appafricanos escravizados, navio brasileiro Andorinha é capturado pela Marinha britânica na costa da Nigéria,nacional bets app1849

Enquanto a Corrente Sul Equatorial facilitava o trajeto África-Brasil, outras condições naturais favoreciam a viagemnacional bets appvolta. Para chegar à costa africana, os navios luso-brasileiros podiam pegar carona no anticiclonenacional bets appSanta Helena, uma zonanacional bets appalta pressão atmosférica que opera como uma grande roldana, com os ventos soprandonacional bets appespiral. Podiam ainda pegar a Contracorrente Sul Equatorial, um canal que corre no sentido contrário à Sul Equatorial, entre os dois ramos austrais da corrente.

"A relativa segurança e facilidade como se navegava da costa brasileira ao golfonacional bets appGuiné ou Angola permitia que naviosnacional bets apppequeno porte, como as escunasnacional bets appdois mastros que navegavam no rio São Francisco, empreitassem viagens negreiras", escreve Alencastro.

Tanto assim que, quando o Brasil se tornou independente,nacional bets app1822, comerciantesnacional bets appescravosnacional bets appBenguela, na Angola atual, iniciaram um movimento separatista para tentar se integrar ao país do outro lado do Atlântico. Na época, duas das principais rotas no comércio transatlânticonacional bets appescravos uniam Brasil e África: a maior delas, entre Luanda e Rionacional bets appJaneiro, e a rota entre Salvador e o Golfo da Guiné, com escala na ilhanacional bets appSão Tomé.

Segundo Alencastro, as correntes também ajudam a explicar por que a escravidãonacional bets appindígenas nunca alcançou a mesma dimensão que a dos africanos no Brasil.

"Mesmo que todos os ameríndios da Amazônia aparecessem acorrentados nas margens do Pará e do Maranhão para se entregar", diz o historiador, os ventos e as correntes continuariam a bloquear seu transporte até os principais mercadosnacional bets appPernambuco, na Bahia enacional bets appSão Paulo. "Já as travessias Brasil-Angola eram 'quase sempre acompanhadas por bom tempo ou por muito poucos distúrbios no mar e ventos'", como escreveunacional bets app1799 o governadornacional bets appAngola.

Africanosnacional bets appPorto Alegre

Crédito, ACERVO DO MUSEU DE PORTO ALEGRE JOAQUIM FELIZARDO

Legenda da foto, Africanos que deixaram condiçãonacional bets appescravizados posamnacional bets appestúdio, no final do século 19,nacional bets appPorto Alegre

Vazamentos no futuro?

Essas correntes marítimas que favoreceram a navegação entre Brasil e África no tempo da escravidão hoje tornam o Brasil vulnerável a vazamentosnacional bets apppetróleo que ocorram a milhares da costa brasileira, perto do litoral africano.

A extração do petróleonacional bets appplataformas marítimas é atualmente a principal atividade econômicanacional bets appvários países do Golfo da Guiné, entre os quais Congo, Gabão e Guiné Equatorial. Espera-se que a produção cresça ainda mais conforme tecnologiasnacional bets appextraçãonacional bets appáguas profundas, como as adotadas pelo Brasil no pré-sal, se expandam pela região.

O professor Ilson Silveira diz que,nacional bets apptese, a força das correntes marítimas pode fazer com que o litoral brasileiro seja afetado por vazamentos nessas plataformas no futuro. Nesse caso, porém, diz que o óleo provavelmente chegaria à costa brasileira "bastante intemperizado" (desfigurado pelas intempéries enfrentadas no trajeto).

Talvez antevendo possíveis problemas desse gênero, a Marinha brasileira tem se aproximadonacional bets appnações africanas no Atlântico Sul. Desde o início da década, forças navais brasileiras e africanas vêm realizando vários exercícios conjuntos. Oficiais da Marinha costumam dizer que a distância entre Natal e Dacar, a capital do Senegal, é menor que a linha que une os pontos extremos do Brasil, o que tornaria os países africanos tão importantes para a defesa marítima nacional quanto as nações sul-americanas.

No fimnacional bets appoutubro, a força naval brasileira participou pela primeira vez da Comissão Grand African Nemo, operação que agrega os 16 países do Golfo da Guiné e que, nesta edição, também teve entre os convidados Bélgica, Estados Unidos, França e Espanha.

Segundo uma nota divulgada pela Marinha, um dos objetivos do exercício foi justamente "adestrar as Marinhas amigas dos países africanos da costa ocidental" para incidentes no Golfo da Guiné, o que inclui o "combate à poluição no mar".

Línea

Crédito, Getty Images

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