Sífilis, a doença evitável eremo betnacionaltratamento barato que mata um número crescenteremo betnacionalbebês no Brasil:remo betnacional

Crédito, Leonardo Rattes/Ascom Sesab
No ano passado, 241 bebês brasileiros com menosremo betnacionalum anoremo betnacionalidade morreramremo betnacionaldecorrência da sífilis congênita,remo betnacionalque a infecção é passada pela mãe, durante a gestação.
O boletim mais recente do Ministério da Saúde, divulgadoremo betnacionaloutubro, aponta que,remo betnacional2018, foram registrados 26,3 mil casosremo betnacionalsífilis congênita no país. Desde 2010, quando a doença passou a serremo betnacionalnotificação obrigatória, o aumento foiremo betnacional3,8 vezes — passandoremo betnacional2,4 para 9 casos a cada mil nascidos vivos.
O aumentoremo betnacionaluma doença tão antiga e vista como superada pela ciência surpreende, já que a sífilis é considerada pelos médicos um malremo betnacionaldiagnóstico fácil e tratamento barato. Como é possível que uma infecção facilmente detectável, que existe há pelo menos 500 anos e cujo tratamento, inventadoremo betnacional1928, é um dos mais simples e baratos da medicina, atinja um número tão granderemo betnacionalpessoas — e crianças — no Brasil e no mundo?

Crédito, SPL
"A ciência já resolveu essa doença. O tratamento é à baseremo betnacionalpenicilina, extremamente barato. Não teria por que ter crianças nascendo com sífilis congênita", afirma a enfermeira Ana Rita Paulo Cardoso, mestreremo betnacionalSaúde Coletiva pela Universidaderemo betnacionalFortaleza com uma tese que analisou casosremo betnacionalsífilis gestacional e congênita nos anosremo betnacional2008 a 2010,remo betnacionalFortaleza. A pesquisa mostrou que a maior parte das mães teve acesso a consultasremo betnacionalpré-natal, mas o que falta, segundo Cardoso, é melhorar a qualidade das consultas.
No casoremo betnacionalmulheres grávidas, é possível detectar a doença com um teste rápidoremo betnacionalsangue. Feito o diagnóstico, é preciso tomar uma dose semanalremo betnacionalpenicilina benzatina (benzetacil), durante três semanas. Se o tratamento for seguido no início da gravidez, as chancesremo betnacionalinfecção do bebê são mínimas.
Um outro obstáculo ao tratamento adequado da sífilis parece ainda mais difícilremo betnacionalsuperar: a resistência dos homensremo betnacionalrelação ao tema, negando-se a comparecer às consultas para receber tanto o diagnóstico quanto o tratamento adequados. Para que a doença seja erradicada com sucesso, mesmoremo betnacionalgestantes, precisam ser medicados tanto a mulher quanto todos os seus parceiros sexuais.
Rotina pesada e faltaremo betnacionaldinheiro
Luisa descobriu a doença na gestaçãoremo betnacionalseu primeiro filho, Thiago. O diagnóstico foi precoce, ainda no primeiro trimestre, e ela tomou 13 injeçõesremo betnacionalantibiótico. Ficou aliviada quando, ao nascer, os exames mostraram que o menino estava livre da doença.
Na volta da licença-maternidaderemo betnacionalseu trabalho, como auxiliarremo betnacionalcozinharemo betnacionalum hotelremo betnacionalMaceió (AL), Luisa foi demitida. No exame demissional, um novo susto: a notíciaremo betnacionalque estava grávida novamente, embora acreditasse estar prevenida por usar pílulas anticoncepcionais e camisinha. E, apesar do tratamento, ela ainda tinha sífilis. "O obstetra falou que provavelmente foi a quantidaderemo betnacionalbenzetacil que eu tomei que cortou o efeito do anticoncepcional."
Alguns médicos e estudos apontam que pode haver interferênciaremo betnacionalantibióticos no efeitoremo betnacionalanticoncepcionais, embora haja discrepâncias entre a dimensão dessa interferência.
O maridoremo betnacionalLuisa, o pai da criança, nunca foi contaminado. A suspeita éremo betnacionalque ela tenha recebido a infecção do ex-marido,remo betnacionalquem estava separada há maisremo betnacionalum ano quando engravidou, e com quem não tem mais contato.
Com um anoremo betnacionalidade, a filharemo betnacionalLuisa tem uma rotina pesadaremo betnacionalatendimentos com fisioterapeuta, fonoaudiólogo, psicólogo e enfermeiro. A mãe, que cuida da meninaremo betnacionaltempo integral, não voltou a procurar emprego. O pai trabalha como ambulante, vendendo óculos e chinelos na beira da praiaremo betnacionalPajuçara,remo betnacionalMaceió, mas o movimento anda bem fraco neste ano, apesar do calor.
"Como houve vazamentoremo betnacionalóleoremo betnacionalpraias aqui perto, como Maragogi e Japaratinga, os turistas ficam achando que Maceió todinha está poluída." A sogra ajuda Luisa a pagar as despesas com alimentação desde que acabaram-se as parcelas do seguro-desemprego. O resto das contas começa a se acumular.
Por que os casosremo betnacionalsífilis não paramremo betnacionalcrescer?
Entre 2017 e 2018, a detecção da sífilis adquirida — ou seja, contraída por adultosremo betnacionalrelações sexuais desprotegidas com pessoas contaminadas — aumentou 28,3% no Brasil, também segundo o Ministério da Saúde. Os sintomas podem evoluirremo betnacionalferidas iniciais na região do contágio e manchas no corpo, febre ou mal-estar para lesões na pele, nos ossos e nos sistemas nervoso e cardiovascular, e até mesmo desenvolvimentoremo betnacionalquadros semelhantes à demência e à depressão.
A doença está distribuída por todas as regiões do país, aponta a coordenadoraremo betnacionalVigilância das Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde, Angélica Miranda. Das 241 mortesremo betnacionalbebês por sífilis congênita, 101 foram no Sudeste, 77 no Nordeste, 27 no Norte, 21 no Sul e 15 no Centro-Oeste.
Os maiores percentuaisremo betnacionalcasosremo betnacionalsífilis congênitaremo betnacional2018 ocorreramremo betnacionalcrianças cujas mães tinham entre 20 e 29 anosremo betnacionalidade (53,6%); a maior parte possuía da 5ª à 8ª série incompleta (22,2%). Em relação à corremo betnacionalpele das mães, a maioria se declarou como pardas (58,4%). Além disso, 81,8% das mãesremo betnacionalcrianças com sífilis congênita fizeram pré-natal, o que indica que não é o acesso a consultas o maior problema.

Para Daniela Mendes, enfermeira da área técnicaremo betnacionalInfecções Sexualmente Transmissíveis (IST) da Secretariaremo betnacionalSaúde do Distrito Federal, é possível que parte do aumento do númeroremo betnacionalcasos registrados pelo Ministério da Saúde se explique pela melhora na detecção e nos pré-natais sendo realizados no país. Mas,remo betnacionaloutra parte, esse crescimento reflete uma "lacuna na prática sexual segura". Entre 2017 e 2018, a detecção da sífilis adquirida — ou seja, contraída por adultosremo betnacionalrelações sexuais desprotegidas com pessoas contaminadas — aumentou 28,3% no Brasil, também segundo o Ministério da Saúde.
"É uma doença que existe desde a era pré-colombiana e o tratamento é muito barato. A detecção é feita com um furinho no dedo,remo betnacionallivre acesso (nos postosremo betnacionalsaúde), até para adolescentes. Mas mesmo assim a gente não consegue controlar nem erradicar a doença. A conta não fecha", afirma Mendes. "Temos uma baixa adesão das pessoas ao usoremo betnacionalpreservativos (camisinha) e a se testar regularmente para as infecções sexualmente transmissíveis."
O caminho, dizem os especialistas e o Ministério da Saúde, é conscientizar a populaçãoremo betnacionalrelação à saúde sexual: reforçar a consciênciaremo betnacionalque quem tem vida sexual ativa precisa usar camisinha, e se tratar quando alguma doença aparecer. "Na população jovem, o que se observa é que as pessoas estão parandoremo betnacionalusar camisinha. E, no caso da sífilis, é preciso ainda mais cuidado: a relação sexual não é só penetração, e você pode contrair sífilis por sexo oral, o que não é tão fácil com o HIV", diz Ana Rita Cardoso.
A resistência dos homens ao tratamento
Existem, também, dois entraves significativos no tratamento: o primeiro é que se houver atrasos longos nas doses, ele se torna ineficaz. O segundo é que, se a mulher voltar a praticar sexo inseguro com um parceiro infectado, voltará a contrair a sífilis. O jeito, então, é tratar também os parceiros.
Mas isso não costuma ser fácil. Muitos estudos científicos mostram que os homens são mais reticentes a tratamentos médicosremo betnacionalgeral, e mais ainda quando se trataremo betnacionaluma doença ligada à sexualidade.

"Existe um tabu, tanto das mulheres quanto dos profissionaisremo betnacionalsaúde no momento do pré-natal,remo betnacionalse falar (com as gestantes) sobre parceiros sexuais", afirma Mendes. "Às vezes, as mulheres que vão chamar seu parceiro para se tratar acabam sofrendo violência por parte deles. Mas, se eu não o trato, a chanceremo betnacionala mulher se reinfectar é muito alta."
"A reinfecção mostra a importânciaremo betnacionalse fazer também o pré-natal do parceiro", afirma Angélica Miranda, do Ministério da Saúde.
Nas orientações para a prevenção, a responsabilidade recai mais sobre a mulher: a recomendação é que ela penseremo betnacionalfazer o exame para sífilis antesremo betnacionalengravidar, como parte das consultasremo betnacionalrotina. "Tem uma questão do machismo que bloqueia todo o tratamento", diz Ana Rita Cardoso. "O homem tem que participar, não é o tratamento mais fácil porque é injetável, mas não é questãoremo betnacionalescolha".
A pesquisa "Compreendendo a sífilis congênita a partir do olhar materno", das pesquisadoras Martha Helena Teixeiraremo betnacionalSouza e Elisiane Quatrin Beck, da Universidade Franciscanaremo betnacionalSanta Maria, entrevistou 15 mãesremo betnacionalbebês portadoresremo betnacionalsífilis congênitaremo betnacionalBrasília. Nove dessas mulheres receberam as três doses da medicação preconizada pelo Ministério da Saúde. No entanto, apenas três parceiros realizaram conjuntamente o tratamento.

Crédito, Rodrigo Nunes/MS
"A reinfecção mostra a importânciaremo betnacionalse fazer também o pré-natal do parceiro", afirma Angélica Miranda, do Ministério da Saúde. Ela diz que 100 municípios brasileiros com o maior númeroremo betnacionalcasosremo betnacionalsífilis participam, desde 2017,remo betnacionalum programa especial da pasta,remo betnacionalque as prefeituras recebem mais testes, e os esforçosremo betnacionalpré-natal são intensificados, para aumentar a detecção precoce da sífilis. No momento, estão sendo analisados os dados para verificar se a ação teve impacto real e se levou a reduções nos números da sífilis.
No Brasilremo betnacionalgeral, Miranda afirma que os números mostram que "houve uma desaceleração, a doença continua a crescer, mas não com a mesma frequência". A taxaremo betnacionalcasos notificadosremo betnacionalsífilis congênitaremo betnacionalbebês entre 2018 e 2019 (segundo casos registrados até junho deste ano), por exemplo, subiuremo betnacional7 para 7,1.
"Na sífilis congênita, o desafio principal é aumentar a quantidaderemo betnacionaldiagnósticos ainda no primeiro trimestre da gestação — incluir mais mulheres no pré-natal e mais precocemente, com mais consultas. Quanto antes essa gestante for tratada, mais se evitará a transmissão da doença pela placenta", agrega Miranda.
Para além do Brasil, a sífilis é uma preocupação global, aponta a OMS, que registra 6 milhõesremo betnacionalnovos casos da doença a cada ano.
A incidência da sífilis congênita caiu globalmente entre 2012 e 2016, mas isso ainda representa cercaremo betnacional660 mil casos anuais da doençaremo betnacionalcrianças. "É a segunda principal causa evitávelremo betnacionalnatimortos, precedida apenas pela malária", diz boletim da organização.
Por que as consultasremo betnacionalpré-natal falhamremo betnacionaldetectar a sífilis?
Daniela Mendes, da Secretariaremo betnacionalSaúde do Distrito Federal, afirma que alguns profissionais da saúde têm dificuldade tantoremo betnacionaldiscutir o tema com os pacientes quantoremo betnacionalregistrar corretamente a doença nos prontuários, o que dificulta o tratamento subsequente.

Crédito, Rodrigo Nunes/MS
Emremo betnacionalteseremo betnacionalmestradoremo betnacionalFortaleza, a enfermeira Ana Rita Paulo Cardoso analisou 175 casosremo betnacionalgrávidas que tiveram bebês com sífilis congênita. Chamou atenção da pesquisadora o fatoremo betnacionalque, mesmo quando o diagnóstico da sífilis na gestante ocorria durante o pré-natal, é possível que a maioria dos testes tenham sido aplicados tarde demais, considerando que a maioria dos relatóriosremo betnacionalnotificação da doença foi feito durante o segundo e terceiro trimestres da gestação.
"Estudos mostram a importânciaremo betnacionalprever atendimento pré-natalremo betnacionalqualidade com diagnóstico precoceremo betnacionalgrávidas, e destacam que a evolução inadequada do tratamento dado à mãe têm relação com a mortalidade das crianças", diz o estudoremo betnacionalCardoso.
Vergonha, tabu e exames atrasados
Os casos no Brasil são, provavelmente, subnotificados. Nos registros oficiais, a informaçãoremo betnacionalque uma criança morreu por sífilis só é registrada quando o médico escreve no obituário, o que muitas vezes não acontece a pedido da própria família, diz a pesquisadora, que cita o exemplo do Ceará, onde realizou a pesquisa.
"Para dizer 'essa criança morreu por sífilis' é preciso que o médico coloque isso no atestadoremo betnacionalóbito. E a maioria das vezes passa batido, coloca 'causa desconhecida' para a morte. Há resistência, vergonharemo betnacionalfalar, estão cercadasremo betnacionaltabu. DST é muito associada à promiscuidade", diz.
O estudo explica que a sífilis pode ser transmitida ao bebê a partir da nona semanaremo betnacionalgravidez, embora a transmissão seja mais frequente entre a 16ª e a 28ª semanas. É fundamental que a evolução do tratamento seja monitorada atentamente pelos médicos, para evitar possíveis reinfecções.
Entre os principais problemas das consultas, a pesquisadora aponta testes realizados com atrasos e com resultados defasados; mulheres que abandonam o pré-natal; faltaremo betnacionalacompanhamento para chamarremo betnacionalvolta as mulheres que abandonam o pré-natal; dificuldadesremo betnacionaltrazer o parceiro e convencê-lo a seguir o tratamento.
"Podemos concluir que as mulheres grávidas e os recém-nascidos com sífilis congênita não estão recebendo tratamento adequado. Os recém-nascidos não recebem testesremo betnacionalrotina para investigar a neurosífilis, como é a recomendação do Ministério da Saúde, e muitas mortes e abortos poderiam ter sido evitados com a administração adequada."
A filharemo betnacionalLuisa já demonstra melhoras desde que começou o tratamento, conta a mãe. Já está mais firme ao sentar, mas, com um anoremo betnacionalidade, ainda não dá sinaisremo betnacionalfalar ou engatinhar. A menina fez exames mais precisos no dia 26remo betnacionaljulho para saber quais os efeitos neurológicos da sífilis congênita, mas o resultado não saiu até hoje.
"Eu ainda não sei se ela tem microcefalia porque estou esperando os exames, que não estão prontos por faltaremo betnacionalmaterial aqui", lamenta. "Me mandam ligarremo betnacional15remo betnacional15 dias e ficar aguardando. Quando eu ligo, dizem: daqui a 15 dias a senhora liga novamente, daí eu ligo. Desde julho".
A esperançaremo betnacionalLuisa é conseguir respostas positivas sobre os pedidosremo betnacionalBolsa Família, que ela fez no mês passado, e do Benefícioremo betnacionalPrestação Continuada, salário mínimo pago pelo governo federal para pessoasremo betnacionalbaixa renda "com deficiência que apresentem impedimentosremo betnacionallongo prazo,remo betnacionalnatureza física, mental, intelectual ou sensorial".
"Tenho vontaderemo betnacionalvoltar a trabalhar, mas minha vida parou. Minha rotina é toda dedicada a ela", diz Luisa.

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