Como Sabin foi colaborar na erradicação da pólio no Brasil — e acabou saindo pela porta dos fundos:esporte bet entrar

Sabin durante visita ao Brasil

Crédito, Universidadeesporte bet entrarCincinnati

A confusão com o governo

Em 1980, Sabin veio para mais uma temporadaesporte bet entrartrabalhos no Brasil. Havia um surtoesporte bet entrarpoliomieliteesporte bet entrarSanta Catarina. De acordo com o New York Times, o cientista tinha sido convidado pelo então ministro da Saúde, o médico e político Waldyr Arcoverde (1932-2017). Mas, conforme registraram jornais brasileiros da época, o governo afirmava que Sabin tinha se oferecido para o trabalho.

Na ação pontualesporte bet entrarSanta Catarina, tudo deu certo. Sabin conduziu a campanhaesporte bet entrarvacinaçãoesporte bet entrarmassa das criançasesporte bet entraridade escolar. Mas logo começaram as divergências com o governoesporte bet entrarJoão Baptista Figueiredo (1918-1999), o último comandante da ditadura militar brasileira.

O cientista organizou um painel com maisesporte bet entrar25 mil criançasesporte bet entraridade escolar. Ele queria analisar os efeitos dos esforços da última década no combate à doença, tendoesporte bet entrarmente aquele relatório da OMS que havia lidoesporte bet entrar1973. Segundo o New York Times, foi aí que ele concluiu que havia problemas no sucesso anunciado naquela época.

Sabin aplica vacinação durante visita ao Brasil

Crédito, Universidadeesporte bet entrarCincinnati

Legenda da foto, Sabin aplica vacinação durante visita ao Brasil

Acreditando que os dados reportados eram falsos, ele escreveu uma dura carta ao presidente da República, afirmando que “a julgar pelos meus estudos, acredito que haja pelo menos 10 vezes mais pólio no Brasil do que aquilo que vem sendo relatado pelas autoridadesesporte bet entrarsaúde”.

“O Brasil precisaesporte bet entrarum programa nacionalesporte bet entrarvacinação contra a poliomielite, organizadoesporte bet entrarforma altamente eficiente e realizado anualmente”, pontuou. “No entanto, esse trabalho continua sendo impedido por entraves burocráticos e funcionários não confiáveis.”

A polêmica estava armada. Em 29esporte bet entrarmarçoesporte bet entrar1980, o jornal O Estadoesporte bet entrarS. Paulo publicou que,esporte bet entraracordo com um funcionário não identificado do Ministério da Saúde, Sabin havia sido convidado para atuar no país porque havia a ideiaesporte bet entrar“homenageá-lo”, mas ele “não soube comportar-se”.

Epidemiologistas ouvidos pela reportagem, também sem serem identificados, afirmavam que o cientista criou a polêmicaesporte bet entrarbuscaesporte bet entrar“promoção pessoal”.

Sabin disse ter encontrado incongruências sérias entre duas fontesesporte bet entrardados oficiais: os números da Fundação Serviçoesporte bet entrarSaúde Pública (FSESP), que teriam sido utilizados para comunicar a OMS, eram bem inferiores aos registros do Instituto Brasileiroesporte bet entrarGeografia e Estatística (IBGE). O cientista concluiu que o FSESP contabilizava apenas 12% das ocorrências,esporte bet entrarcomparação ao IBGE, e classificou como “lixo” o trabalho do primeiro.

Conforme levantou o jornal O Estadoesporte bet entrarS. Paulo,esporte bet entrarreportagemesporte bet entrar1ºesporte bet entrarabril daquele ano, os dados que precederam o relatório da OMS confirmavam a teseesporte bet entrarSabin. De 1969 e 1972, o IBGE havia registrado, ano a ano, respectivamente 11.832, 11.545, 31.111 e 6.170 casos da doença. No mesmo período, o FSESP relatou 1.136, 2.270, 2.206 e 1.429 ocorrências.

Em 3esporte bet entrarabril, o mesmo jornal publicou uma outra reportagem na qual o Ministério da Saúde admitia problemas com os registros. “Estávamos perdendo a batalha contra a poliomielite por faltaesporte bet entrarorganização e nãoesporte bet entrarestatísticas ouesporte bet entrarvacinas”, afirmou o então secretário-geral do ministério, o dentista e político Mozartesporte bet entrarAbreu e Lima. Ele concordava que havia “ausênciaesporte bet entrarregistro”esporte bet entrarcasos, mas enfatizou que a afirmação do cientistaesporte bet entrarque existiriam 10 vezes mais casos era “exagerada”.

Portas fechadas

Quando insistiu que as estatísticas fornecidas nos anos 1970 pelas autoridades brasileiras à OMS estavam erradas, Sabin viu todas as portasesporte bet entrarBrasília fechadas para ele. E passou a ser alvoesporte bet entraruma campanha difamatória. Segundo jornais da época, acusaram-noesporte bet entrarestar obsoleto e desacreditado no meio científico e, ainda, autoridades chegaram a apontar que ele, “um judeu americano”, havia sido mandado para o Brasil por “grupos sionistas”, “para ganhar espaço na imprensa, agora dedicada à cobertura da Organização para a Libertação da Palestina”.

O médico Albert Sabinesporte bet entrarpalestra no Instituto Fernandes Figueira – IFF/Fiocruz, durante visita ao Brasil no dia 28esporte bet entrarjunhoesporte bet entrar1961

Crédito, Arquivo Nacional.

Legenda da foto, O médico Albert Sabinesporte bet entrarpalestra no Instituto Fernandes Figueira – IFF/Fiocruz, durante visita ao Brasil no dia 28esporte bet entrarjunhoesporte bet entrar1961

Sabin decidiu voltar aos Estados Unidos sem nem sequer se despedir do alto escalão do governo, com quem havia trabalhado. Então diretoresporte bet entrarredação da revista Veja, o jornalista José Roberto Guzzo sentenciou, sobre o episódio: “nosso problema não é paralisia infantil, mas paralisiaesporte bet entraradultos”.

O cientista não guardou para si o rancor. Afirmou que as autoridades brasileiras eram culpadasesporte bet entrar“negligência profissional grave” e “deixaram o Brasil sob a ameaça permanenteesporte bet entrarepidemiasesporte bet entrarpoliomielite”.

Secretário Nacionalesporte bet entrarAções Básicasesporte bet entrarSaúde durante a gestãoesporte bet entrarArcoverde, o médico João Baptista Risi Júnior garante à BBC News Brasil que não houve qualquer intenção do governo militaresporte bet entrarmaquiar os números da paralisia infantil.

“Essa afirmação é totalmente falsa”, afirma ele,esporte bet entrarnota encaminhada à reportagem. “A polêmica entre Sabin e o Ministério da Saúde decorreuesporte bet entrarum fato insólito: a Organização Mundialesporte bet entrarSaúde havia publicado dados incorretos sobre o Brasil referentes ao período 1968 a 1972, e a discrepância dos dados oficiais foi usada por Sabin como justificativa para realizar aesporte bet entrarpesquisa.”

“Não foi possível convencê-loesporte bet entrarque os dados publicados pela OMS derivavamesporte bet entrarum sistemaesporte bet entrarinformação paralelo,esporte bet entrarcaráter experimental, que o ministério havia desativado muitos anos antes após comprovar aesporte bet entrarcompleta inconfiabilidade”, diz o médico.

“Resultou que as declarações do cientista, manifestando o seu inconformismo com a suspensão da pesquisa que ele havia proposto, foram ardilosamente utilizadas pela grande imprensa nacional para denegrir a imagem pública do governo militar, que então enfrentava crescente oposição política.”

Segundo Risi Júnior, a colaboraçãoesporte bet entrarSabin “tornou-se conflitiva apósesporte bet entrarrevelaçãoesporte bet entrarum objetivo pessoal: realizar, antes do primeiro Dia Nacionalesporte bet entrarVacinação, uma pesquisaesporte bet entrarâmbito nacional para estimar a magnitude da poliomielite nos Estados brasileiros”. O Ministério da Saúde considerou tal esforço desnecessário e inviável.

Jáesporte bet entraracordo com a médica Dilene Raimundo do Nascimento, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz e organizadora do livro A História da Poliomielite, Sabin veio ao Brasil convidado pelo governo para assessorar a equipe envolvida na criação do programa dos Dias Nacionaisesporte bet entrarVacinação. Mas, diz ela à BBC News Brasil, o cientista “discordou das informações que o Ministério da Saúde dispunha sobre a poliomielite no Brasil e propôs uma pesquisaesporte bet entrarprevalênciaesporte bet entrarsequelasesporte bet entrarescolares, abrangendo todo o país”.

“Essa pesquisa necessitariaesporte bet entrarvultosos recursos e tempo para ser realizada. Os técnicos do Ministério da Saúde consideravam que os dados disponíveis permitiam identificar o problema e definir diretrizes básicas para um programaesporte bet entrarcontrole da doença que era urgente”, relata ela. “Essa discordância entre Sabin e os técnicos criou uma polêmica. O conflito foi bastante sério, mas o ministro da Saúde se manteve no cargo e implementou os Dias Nacionaisesporte bet entrarVacinação.”

Pesquisadoresporte bet entrarHistória da Saúde Pública e professor da Universidade do Estado do Rioesporte bet entrarJaneiro, o historiador André Luiz Vieiraesporte bet entrarCampos diz não duvidar que tenha havido, por parte do governo militar, uma tentativaesporte bet entrartornar os números menos desfavoráveis.

“Na décadaesporte bet entrar1970, isso seria muito provável, tendoesporte bet entrarvista que se tentou esconder a epidemiaesporte bet entrarmeningite”, comenta ele à BBC News Brasil,esporte bet entrarreferência ao surto dessa doença ocorridoesporte bet entrar1973, cuja divulgação foi abafada pelas autoridades.

“Entretanto, desde o fim dos anos 1970, com o governo Figueiredo, o Ministério da Saúde estavaesporte bet entrarfato comprometido com o controle e posterior erradicação da poliomielite”, completa o historiador.

Vítimaesporte bet entrarpólioesporte bet entrarum centroesporte bet entrarreabilitaçãoesporte bet entrar1947

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Milharesesporte bet entrarcrianças dos EUA foram vitimadas pela pólio nos séculos 19 e 20

A reportagem procurou o Instituto Sabinesporte bet entrarVacinas, instituiçãoesporte bet entrarWashington, nos Estados Unidos, responsável pelo legado do cientista. Questionada sobre as polêmicasesporte bet entrarsua última passagem pelo Brasil, a assessoria da entidade enviou, à guisaesporte bet entraresclarecimentos, um artigo publicadoesporte bet entrar2009 pelo periódico acadêmico American Journal of Public Health.

O texto elenca que, naquela ocasião, o governo brasileiro enfrentava “um momento político e economicamente difícil” e que a atuaçãoesporte bet entrarSabin poderia imprimir um papel institucionalesporte bet entrarrespaldo à administração federal. O artigo frisa que o cientista havia recebido carta branca do presidente Figueiredo e que, desde o início, acreditava que as estatísticas nacionais estavam subestimadas.

Ao longo dos trabalhos, relata o texto, Sabin adotou uma postura cada vez mais exigente, severa e arrogante. Ele passou a exigir do governo uma secretária bilíngue, mais espaço para escritório, suprimentos e melhorias paraesporte bet entrarequipe. Por fim, a gota d’água parece mesmo ter sidoesporte bet entrarobsessãoesporte bet entrarrealizar uma pesquisa amplaesporte bet entrartodo o país, antes do início dos Dias Nacionaisesporte bet entrarVacinação.

Pólio no Brasil

Conforme conta Risi Júnior, autor do livro Poliomielite no Brasil: Do Reconhecimento da Doença à Interrupção da Transmissão, os primeiros registros da doença no país datam do início do século 20. “A primeira epidemiaesporte bet entrarpoliomielite no Brasil foi descritaesporte bet entrar1911, na cidade do Rioesporte bet entrarJaneiro, pelo pediatra Antônio Fernandes Figueira, que reuniu 49 casos adoecidosesporte bet entrar1909 a 1911”, descreve.

“Desde então passaram a ser registrados pequenos surtos da doençaesporte bet entrarvários pontos do país, destacando-se uma epidemia ocorrida na cidade do Rioesporte bet entrarJaneiro,esporte bet entrar1939, com 287 casos. Na décadaesporte bet entrar1950, a doença expandiu-se consideravelmente, tendo causado as principais epidemias registradasesporte bet entrartoda a história da poliomielite no Brasil, com ápices no Rioesporte bet entrarJaneiro,esporte bet entrarSão Paulo e no Paraná. Entre 1950 e 1960 foram notificados oficialmente 6.493 casos nas capitais brasileiras — número considerado muito subestimado,esporte bet entrarface da precariedade dos registros estão disponíveis.”

Zé Gotinha

Crédito, Conass / reprodução

Legenda da foto, No Brasil, o personagem Zé Gotinha surgiuesporte bet entrar1986 como parteesporte bet entraruma campanhaesporte bet entrarvacinação contra a pólio

Antes dos surgimento das vacinas — a Salk, com vírus inativados,esporte bet entrar1955, e a Sabin,esporte bet entrarvírus vivos atenuados,esporte bet entrar1960 —, o único tratamento possível era dar assistência médica aos doentes na fase aguda e aos portadoresesporte bet entrarsequelas.

Com o advento da vacina, começaram políticas públicas para importação do produto e desenvolvimentoesporte bet entrarinfraestrutura para a aplicação do mesmo na população. Risi Júnior conta que várias táticas foram empregadas, até chegar às campanhas maciças nacionais, como defendia Sabin.

Isso, aliás, passou a ocorrer logo apósesporte bet entrarsaída do Brasil,esporte bet entrar1980. Para o médico, foi uma “medida heroica” a instituição dos Dias Nacionaisesporte bet entrarVacinação, duas vezes ao ano, simultaneamenteesporte bet entrartodos os municípios brasileiros.

“Cercaesporte bet entrar20 milhõesesporte bet entrarcrianças foram vacinadasesporte bet entrarcada uma dessas operações, visando a atingir todo o grupo etário alvo, inclusive indivíduos já vacinados. O impacto foi imediato”, afirma Risi Júnior.

As primeiras campanhas ocorreramesporte bet entrar14esporte bet entrarjunho e 16esporte bet entraragostoesporte bet entrar1980. Naquele ano, foram registradas 1290 ocorrências da doença no país. No ano seguinte, apenas 122. “E,esporte bet entrar1982, ocorreram, nacionalmente, somente 45 casos”, enfatiza a médica Nascimento.

Em 1983, a incidência da doença já estava no chamado “nívelesporte bet entrarcontrole”, ou seja, menosesporte bet entrar0,1 caso por 100 mil habitantes. “A introdução dessa estratégia foi um marco da história da poliomielite no Brasil e do controleesporte bet entraroutras doenças evitáveis por vacinação”, completa Risi Júnior.

O último casoesporte bet entrarpoliomielite no Brasil foi confirmadoesporte bet entrarmarçoesporte bet entrar1989, na Paraíba. A OMS certificou a erradicação da doença no paísesporte bet entrar1994.

“Albert Sabin foi o idealizador da estratégiaesporte bet entrarvacinaçãoesporte bet entrarmassa contra a doença”, reconhece o médico. “Ele sempre insistiu que aesporte bet entrarestratégiaesporte bet entrarvacinação era a única capazesporte bet entrarerradicar a poliomielite nos paísesesporte bet entrardesenvolvimento.”

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