Eleições 2022: 'Perseguição contra cristãos já começou no Brasil. Só que dentro da igreja':fiorentina palpite hoje
- Ricardo Senra - @ricksenra
- Da BBC News Brasilfiorentina palpite hojeLondres

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Pressãofiorentina palpite hojepastores e irmãosfiorentina palpite hojefé por votosfiorentina palpite hojeBolsonaro tem levado evangélicos a expulsão ou abandonofiorentina palpite hojeigrejasfiorentina palpite hojediferentes partes do Brasil
fiorentina palpite hoje "A gente se sentiu descartável." "É como se nós, cristãos, estivéssemos vivendo a própria ditadura dentro do templo." "Não reconheço mais a Igreja hoje." "O pastor abandonou a Bíblia pra falarfiorentina palpite hojecomunismo." "É triste ver um lugar sagrado sendo corrompido." "A perseguição contra os cristãos já começou no Brasil. Só que dentro da própria igreja."
Uma pesquisa do Datafolha sugere que seisfiorentina palpite hojecada dez evangélicos brasileiros pretendem votarfiorentina palpite hojeJair Bolsonaro (PL) no segundo turno. As frases acima foram ditas por cristãos que não fazem parte deste grupo majoritário.
Apesarfiorentina palpite hojerepresentarem parte expressiva da comunidade evangélica — quatrofiorentina palpite hojecada dez, segundo o levantamento mais recente do instituto —, aqueles que discordam do presidente raramente têm chancefiorentina palpite hojeexpressarfiorentina palpite hojeopinião.
Principalmente dentro das igrejas, eles contam.
À BBC News Brasil, eles dizem que, enquanto muitosfiorentina palpite hojeseus irmãosfiorentina palpite hojefé apoiam Bolsonaro por medofiorentina palpite hojeenfrentarem episódios futurosfiorentina palpite hojeintolerância religiosa no Brasil, a perseguição contra cristãos já existiria no país.
Nas palavras dos entrevistados, ela acontece dentro dos próprios templos, puxada principalmente por líderes religiosos que ameaçam com castigo divino ou punição dentro da própria igreja aqueles que discordam da fusão entre política e religião que tem marcado estas eleições.
A BBC News Brasil pediu esclarecimentos a todas as igrejas citadas nesta reportagem: Igreja Quadrangular, Igreja Batista, Assembleiafiorentina palpite hojeDeus e Santuário católicofiorentina palpite hojeSão Miguel Arcanjo. Nenhuma respondeu às solicitaçõesfiorentina palpite hojecomentários.
Enquanto pastores influentes como André Valadão e Silas Malafaia dizem que igrejas devem ter posição política clara e fazem campanha pela reeleição do atual presidente, a BBC News Brasil recebeu maisfiorentina palpite hoje100 relatosfiorentina palpite hojecristãos, principalmente evangélicos, que narram episódiosfiorentina palpite hojepressão ou intimidação dentro dos templos na reta final da eleição.
Muitos pediram anonimato, com medofiorentina palpite hojeconsequências para si próprios ou suas famílias dentro das igrejas.
Outros já sofreram consequências.

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Por votosfiorentina palpite hojeBolsonaro, líderes religiosos ameaçam com castigo divino ou punição dentro da própria igreja aqueles que discordam da fusão entre política e religião que tem marcado estas eleições
'Queimar quem votafiorentina palpite hojeLula'
Alisson Santos diz ter sido expulso junto à esposa da igreja evangélica que frequentava desde 2019fiorentina palpite hojeAracaju (SE). Até o iníciofiorentina palpite hojeoutubro, ambos trabalhavam como evangelizadoresfiorentina palpite hojejovens no templo.
Em entrevista à BBC News Brasil, ele diz que o apoiofiorentina palpite hojepastores a Bolsonaro e seus aliados sempre existiu, mas se intensificou no segundo semestre, quando um dos pastores se candidatou a deputado estadual.
"A partir daí,fiorentina palpite hojetodas as reuniões a gente tinha que orar por esse pré-candidato e fazia reuniões para falar sobre isso", ele conta. "Diziam que Bolsonaro é o único candidato que defende a liberdade religiosa, o único que vai manter igrejas abertas. E que, se Lula for eleito, ele vai fechar as igrejas, queimar as igrejas".
Ele conta que viu frequentadores da igreja sendo expostos no altar por discordarem dos candidatos apoiados pela igreja.
"Ele (o pastor), antes do culto, procurou pessoas para perguntarfiorentina palpite hojequem elas votariam. Algumas pessoas disseram que votariam num candidato diferente do dele. Na hora do culto ele usou essas pessoas como exemplo do que não fazer", ele diz.
"Ele fez isso durante a Palavra, duas semanas antes da eleição."
Para o jovem, o tom violento adotadofiorentina palpite hojealguns cultos contradiz o propósito dos templos religiosos.
"Teve um cultofiorentina palpite hojeque o pastor chegou e falou que se o candidato Lula fosse eleito e fossem queimar as igrejas, ele ia mandar queimar primeiro quem votou nele. Isso não foi fora da igreja, não foi nos corredores, foi na frente da igreja toda", ele diz.

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"Você passa a ser perseguido dentro do próprio templo pelos irmãos, na fé e pelos próprios pastores. Porque, se você não obedece, se você não segue aquele político que eles escolheram para votar, você não é cristão", diz entrevistada
'Minha esposa só chora'
Após semanas evitando se posicionar na frentefiorentina palpite hojepastores, Alisson compartilhou no status do WhatsApp um trechofiorentina palpite hojeuma entrevistafiorentina palpite hojeBolsonaro à revista IstoÉ Gente,fiorentina palpite hojefevereirofiorentina palpite hoje2000.
Questionado na ocasião sobrefiorentina palpite hojeopiniãofiorentina palpite hojerelação ao aborto, que hoje condena veementemente, o então deputado respondeu: "Tem que ser uma decisão do casal".
Alisson também compartilhou um vídeo gravadofiorentina palpite hoje2017, quando Bolsonaro discursou dentrofiorentina palpite hojeum templo da maçonaria — entidade criticada por parte dos evangélicos.
Ambas as imagens viralizaram recentemente nas redes sociais e foram usadas por opositores para ilustrar mudanças no discurso religiosofiorentina palpite hojeBolsonaro ao longo das últimas duas décadas.
"Foi justamente por esse vídeo que eles marcaram uma reunião da diretoria", conta o jovem.
"Ele (o pastor) disse: 'Se vocês que não querem seguir o posicionamento da igreja, procurem outro lugar'. E isso pra mim foi um absurdo. E não foi nem particularmente, foifiorentina palpite hojefrente a toda a diretoria."
Os dois deixaram seus cargos e não frequentam mais a igreja desde então.
"É muito triste. Minha esposa só chora desde o ocorrido. Ela só chora porque é o lugar que sempre nos acolheu", afirma. "A perseguição contra os cristãos já começou no Brasil. Só que dentro da própria igreja."

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Alisson diz ter sido expulso da igreja por pensar diferente do pastor: 'Perseguição contra cristãos já começou no Brasil. Só que dentro da igreja'
'Perseguição dentro do templo'
Marta vive numa capital nordestina. Muito religiosa, ela também diz que se viu obrigada a deixar a igreja que frequentava há décadas por discordar da pressãofiorentina palpite hojepastores por apoio ao presidente.
"Sinceramente, eu me senti pressionada. Fiquei muito triste, decepcionada primeiramente. E, sinceramente, não tenho vontadefiorentina palpite hojeretornar para o templo mais porque Jesus não é isso. Ele não veio para fazer pressão", diz.
"Você passa a ser perseguido dentro do próprio templo pelos irmãos, na fé e pelos próprios pastores. Porque, se você não obedece, se você não segue aquele político que eles escolheram para votar, você não é cristão. Afiorentina palpite hojefé, ela está sendo colocada à prova."
Durante toda a entrevista, Marta cita trechos e ensinamentos da Bíblia.
"Não é assim que Jesus nos ensinou, que a gente fosse agressivo, que a gente que se armasse e partisse para cima do nosso adversário. Não é isso que a palavra do Senhor ensina. A Palavrafiorentina palpite hojeDeus diz que a gente tem que mostrar o amor, a misericórdia, a bondade", afirma. " Jesus, ele é amor, é bondade. Ele veio para curar, salvar e libertar, e não para colocar medo nas pessoas."
Mãefiorentina palpite hojeuma criança pequena efiorentina palpite hojeum adolescente, ela conta que a pressão política e o consequente afastamento da Igreja abalou toda a família.
"Isso mexe muito com a família, porque temos uma base religiosa, uma base cristã. Você fala para os seus filhos, você prega para os seus filhos sobre afiorentina palpite hojedoutrina que você crê. E,fiorentina palpite hojerepente, o seu filho pergunta 'Mãe, que Cristo é esse'? 'Que doutrina é essa'? 'Que religião é desse jeito? Sobre pressão, sobre ditadura, sobre não poder escolher?'"
'Ninguém se importou com a nossa saída'

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Deloana: "A gente se sentiu descartável, né? Ficamos com essa visãofiorentina palpite hojeque é um ambientefiorentina palpite hojeque a gente não vai ser bem-vindo por causa da forma que a gente pensa"
Quase 3 mil quilômetros separam Martafiorentina palpite hojeDeloana, uma assistente socialfiorentina palpite hojeOsasco (SP) que frequentava a Assembleiafiorentina palpite hojeDeus há 12 anos. A história, no entanto, se repete.
"Sinto que perdi uma referência. De verdade. Sempre acrediteifiorentina palpite hojeDeus. Sempre gosteifiorentina palpite hojeficar na igreja. Sempre gosteifiorentina palpite hojeparticipar dos grupos. Era realmente algo que fazia parte da minha vida", ela conta por videoconferência.
"E eu sinto que isso se perdeu. Não reconheço mais a Igreja hoje como a que conheci há dez anos. Por mais que a Igreja sempre tenha tido um posicionamento conservador, tenha a questão da doutrina, eu vejo as coisas hojefiorentina palpite hojeforma muito violenta. Se pensofiorentina palpite hojeforma diferente, vem uma palavrafiorentina palpite hojecondenação. É como se eu pudesse ser punida por um pensamento que seja contrário."
A punição, na prática, aconteceu. Tudo começou quando seu marido, que frequentava a igreja desde criança, procurou um presbítero após um culto após se sentir ofendido por algumasfiorentina palpite hojesuas falas.
"Meu esposo terminou o ensinamento dos adolescentes e os levou para o final da aula para adultos. Esse homem estava finalizando a aula. Ele começou a passar alguns slides, colocando como se fosse o antes e depois dos jovens que entram nas universidades públicas. Era uma espéciefiorentina palpite hojealerta para os pais que estavam ali", ela conta.
As imagens, segundo Deolana, mostravam um "antes e depois"fiorentina palpite hojejovens que entramfiorentina palpite hojeuniversidades públicas. "O jovem todo arrumadofiorentina palpite hojeum primeiro momento, e depois ele fazendo usofiorentina palpite hojedroga ou se 'tornando homossexual' dentro da universidade e coisas desse tipo. Querendo deixar bem claro que a universidade pública era um ambiente perigoso para os jovens."
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Eles disseram ao religioso que aquele discurso era inapropriado e que o próprio maridofiorentina palpite hojeDeolana estudafiorentina palpite hojeuma universidade pública.
"Ele já se alterou bastante, pelo que eu entendi, por ter sido questionado por uma fala. Como se ele já não admitisse ser questionado. E aí chegou o momentofiorentina palpite hojeele falou: 'Estou vendo que você éfiorentina palpite hojeesquerda e sinto muito por você'", conta a assistente social.
"E ele falou como se fosse um posicionamento que fosse trazer uma condenação para a gente, como se fosse algo absurdo. Em momento algum o meu marido falou dessa questãofiorentina palpite hojepolítica,fiorentina palpite hojeesquerda efiorentina palpite hojedireita. Ele estava querendo focar na fala delefiorentina palpite hojerelação a universidadefiorentina palpite hojesi, e aí ele misturou vários assuntos."
O casal não conseguiu mais ir à Igreja depois do episódio.
"A gente se sentiu descartável, né? Ficamos com essa visãofiorentina palpite hojeque é um ambientefiorentina palpite hojeque a gente não vai ser bem-vindo por causa da forma que a gente pensa. O que me chateou mais a gente foi essa intolerância. Que o pensamento contrário seja colocado dessa forma, como se fosse pecado ou coisas do tipo", ela diz.
"E com isso a gente não retornou mais, nem ninguém procurou a gente. Então, ninguém se importou, essa é a verdade, com a nossa saída."
Santinhos

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Católica, Paula diz que distribuiçãofiorentina palpite hoje'santinhos' na portafiorentina palpite hojesantuário foi "a gota d'água"
João* e a esposa moramfiorentina palpite hojeSão Paulo (SP) e, diferentefiorentina palpite hojeAlisson, Marta e Deloana, vão continuar frequentando a igreja, apesar da pressão pelo votofiorentina palpite hojeBolsonaro —fiorentina palpite hojequem o casal não pretende votar.
"O nomefiorentina palpite hojeBolsonaro é citado normalmente (nos cultos). Os irmãos, eles se dirigem ao presidente como o candidato correto. É o candidato do bem. E os demais candidatos, todos, independente da ideologia, são os adversários. São candidatos do mal, digamos."
Ele conta que, além do voto para presidente, pastores chegaram a indicar nomes e númerosfiorentina palpite hojecandidatos a cargos legislativos no primeiro turno dentro do templo.
"Geralmente a gente tem essa parte dos avisos no final dos cultos. Então, o pastor comentou que alguns irmãos tinham perguntado para ele alguma sugestãofiorentina palpite hojecandidatos para deputadosfiorentina palpite hojesenadores (…) Então ele falou que, para quem quisesse, estava sendo montada uma listafiorentina palpite hojecandidatosfiorentina palpite hojedeputadosfiorentina palpite hojeque fosse, que seria disponibilizada para os irmãos que procurassem."
Frequentes nos comentários ouvidos pela reportagem, os relatos sobre indicaçõesfiorentina palpite hojevotos dentro e forafiorentina palpite hojetemplos não vem sófiorentina palpite hojeevangélicos.
Católica, a paranaense Paula Izidro diz que essa foi a gota d'água.
"Eu tinha o costumefiorentina palpite hojeparticiparfiorentina palpite hojeuma caminhada com peregrinos da região ao Santuáriofiorentina palpite hojeSão Miguel Arcanjo. E na porta do santuário estavam entregando o santinhofiorentina palpite hojeum candidato. Toda aquela coisa da peregrinaçãofiorentina palpite hojefé acabou para mim ali", ela diz.
"Aquilo me deixou indignada, porque eles usaram o santuáriofiorentina palpite hojepalanque. O padre fala abertamente sobre engajar na eleição, posta foto com Bolsonaro, e isso me deixa muito, muito deprimida. Logo ele que defende tortura, penafiorentina palpite hojemorte, que não se importou com as pessoas na pandemia e tudo mais. Não condiz com o contexto religioso", ela diz.
'Perdi minha fé. Não tenho mais religião'
Enquanto muitos dos cristãos ouvidos pela reportagem contam que decidiram se afastarfiorentina palpite hojesuas igrejas e buscar outras opções, ondefiorentina palpite hojeposição política seja respeitada, Luiz Fernando, que vive no interior da Bahia e era evangélico desde os 12 anos, tomou decisão mais drástica.
"Durante todos os anos que eu estive na Igreja, passamos por eleições presidenciais, por eleições municipais e nunca, até 2018, foi abordada essa questãofiorentina palpite hoje'votefiorentina palpite hojetal candidato'. Era uma coisa que deixava todo mundo muito à vontade. Você não sabia se o seu irmão da cadeira da frente era a favor do partido A ou do partido B. Não sabia se a pessoa ao seu lado era a favorfiorentina palpite hojepartido A ou partido B. Tinha essa liberdadefiorentina palpite hojevoto e ninguém era recriminado por isso", ele lembra.
"Em 2018, eleição presidencialfiorentina palpite hojeque Jair Bolsonaro apareceu como o candidato cristão, que levantava a bandeira da família, da religiosidade, aquela coisa toda, eu percebi que a entonação dos cultos, o direcionamento dos cultos da igreja modificou. O pastor líder,fiorentina palpite hojeculto, no púlpito, falou: 'Vamos como cristãos votarfiorentina palpite hojeJair Bolsonaro, pois ele representa a família e ele representa a nós cristãos. Aí, naquele momento eu entendi e falei 'não'. A política entrou na Igreja."
"Aí eu simplesmente percebi que tudo o que eu tinha vivido, aquela coisafiorentina palpite hojepaz,fiorentina palpite hojeamor ao próximo,fiorentina palpite hojetentar conquistar através do amor, foi tudo por água abaixo, porque eu vi o ódio presente nas pessoas, nos meus amigos que eram da igreja. Eu vi essa coisafiorentina palpite hojeguerra. Então eu falei: 'não, não dá mais, me desiludi com a religião. Eu simplesmente deixeifiorentina palpite hojeir'."
A decepção o levou a, pela primeira vez na vida, se declarar "sem religião".
"Depois desse governo que se diz cristão, eu não consigo mais me relacionar com Deus intimamente. Na última pesquisa do IBGE, eu já declarei que não tenho fé. (Perguntaram) 'Você é crente, você é católico, qual é afiorentina palpite hojereligião?' Eu falei: 'Não, não tenho religião'. Então não sei o que eles colocaram. Se agnóstico ou ateu, alguma coisa assim. Mas eu já não me coloquei mais como cristão, não me representa. Isso já não me representa mais."
"Eu percebi que para eu voltar a ter um relacionamento com Deus, a Igreja precisa mudar. E eu vejo que a Igreja não quer mudar."
*Nome alterado a pedido do entrevistado
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