A família que ajudou a desvendar origem genética da esquizofrenia:como funciona o vai de bet

A família Galvin na Academia da Força Aérea dos EUA, 1961

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, A família Galvin na Academia da Força Aérea dos EUA, 1961

O irmão havia sugerido que fizessem um balanço no galhocomo funciona o vai de betuma árvore, para o qual precisavamcomo funciona o vai de betuma corda, mas, uma vez que escolheram um dos pinheiros mais altos, a menina disse a Donald que o que ela queria era amarrá-lo na árvore.

Ele concordou sem problemas. Ela trouxe a lenha e a distribuiu ao redor dos pés descalços do irmão.

Meio século depois, a mesma Mary, que tinha mudado seu nome para Lindsay, contou ao jornalista e escritor Robert Kolker os fatos que marcaram aquele dia.

Ao lado da irmã Margaret, elas revelaram ao mundo a incrível históriacomo funciona o vai de betuma família que, por um tempo, foi o retrato perfeito do sonho americano do pós-guerra, comandada por um veterano da Segunda Guerra Mundial ecomo funciona o vai de betmulher, uma mãe que assava bolos e fazia as roupas para os 12 filhos (dez homens e duas mulheres).

Mas tudo não passavacomo funciona o vai de betfantasia — até mesmo essa históriacomo funciona o vai de betMary.

Não foi culpa da Mary

Donald não era um irmão comum. A vidacomo funciona o vai de betMary também estava longecomo funciona o vai de betser corriqueira.

Mary (mais tarde Lindsay) na escola primária

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Legenda da foto, Mary (mais tarde Lindsay) na escola primária

Donald a reverenciava porque estava convencidocomo funciona o vai de betque ela era Maria, a santa Virgem e mãecomo funciona o vai de betJesus Cristo. Ele, porcomo funciona o vai de betvez, acreditava ter recebido um diplomacomo funciona o vai de bet"exercício espiritual e teologia" das mãoscomo funciona o vai de betSanto Inácio.

Donald recitavacomo funciona o vai de betvoz alta orações, como o Credo dos Apóstolos e o Pai Nosso, e uma ladainha que ele chamoucomo funciona o vai de betSagrada Ordem dos Sacerdotes. Nomes e frases como "'Deo optimo maximo', Beneditino, Jesuíta, Ordem do Sagrado Coração, Imaculada Conceição, Maria Imaculada, Ordem dos Oblatos Sacerdotes..." eram entoadas dia e noite, sem cessar.

Em seus melhores dias, ele vestia um lençol marrom-avermelhado no estilocomo funciona o vai de betum monge. Às vezes, completava o vestuário com um arco e flechacomo funciona o vai de betplástico. Além disso, fazia caminhadas por horas, às vezes parandocomo funciona o vai de betlugares com pessoas - que faziamcomo funciona o vai de betconta que não o conheciam ou acabavam intimado ele a ir embora.

Em outros dias, permanecia nu, sentado na sala da casa,como funciona o vai de betcompleto silêncio.

Às vezes, Mary voltava da escola para encontrá-lo ocupado com tarefas que só ele conseguia entender, como tirar todos os móveis da casa ou jogar sal no aquário para envenenar os peixes.

A mãe, porcomo funciona o vai de betvez, se comportava como se tudo fosse normal, mesmo tendo que chamar a polícia quando o filho tinha acessoscomo funciona o vai de betfúria e violência.

Enquanto os outros irmãos encontravam desculpas para ficar longecomo funciona o vai de betDonald, Mary, a mais novacomo funciona o vai de bettodos, muitas vezes não tinha escolha a não ser ficar com ele.

E, apesar da pouca idade, sabia que não podia chorar nem reclamar: o irmão mais velho não era o único com comportamento estranho. Os pais sempre observavam todos os filhos, à esperacomo funciona o vai de betqualquer sinal preocupante.

Donald na capa do Denver Post, 10 anos antes, caçando falcões para a Academia da Força Aérea dos EUA

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Legenda da foto, Donald na capa do jornal Denver Post, 10 anos antes, caçando falcões para a Academia da Força Aérea dos EUA

No meio desse pesadelo, a meninacomo funciona o vai de bet7 anos teve a ideia do planocomo funciona o vai de betse livrar do irmão queimando-o numa fogueira.

Mas tudo não passoucomo funciona o vai de betum gritocomo funciona o vai de betdesespero: ela não cogitou matar Donald. Mary não era como os outros, e provaria isso para os pais e para si mesma.

Ela não sofria do mal que assolava a família, mas não conseguia escapar da sombra e dos efeitoscomo funciona o vai de bettudo aquilo.

Um traço comum

Toda essa história é apresentada por Robert Kolker no prefácio do aclamado livro The Boys of Hidden Valley Road: Inside the Mind of an American Family ("Os Meninoscomo funciona o vai de betHidden Valley Road: Por Dentro da Mentecomo funciona o vai de betuma Família Americana",como funciona o vai de bettradução livre).

A obra é resultadocomo funciona o vai de bethorascomo funciona o vai de betentrevistas com os membros da família Galvin ecomo funciona o vai de betleiturascomo funciona o vai de betpesquisas e artigos científicos.

Os Galvin constituíram um caso únicocomo funciona o vai de betuma doença desconcertante: a esquizofrenia.

Alémcomo funciona o vai de betDonald (nascidocomo funciona o vai de bet1945), o primeiro a ser acometido pela enfermidade, outros cinco irmãos sofriam desse distúrbio cerebral que engloba uma ampla variedadecomo funciona o vai de betsintomascomo funciona o vai de betmaneiras completamente diferentes.

  • como funciona o vai de bet James (1947-2001), o segundo filho, brigavacomo funciona o vai de betforma brutal com Donald e agredia os membros mais indefesos da família, principalmente as meninas Mary e Margaret;
  • como funciona o vai de bet Matthew (1958), um ceramista talentoso que, quando não estava convencidocomo funciona o vai de betque era o músico Paul McCartney, acreditava que seus estadoscomo funciona o vai de betânimo influenciavam o clima;
  • como funciona o vai de bet José (1956-2009), o mais pacífico dos irmãos doentes, sempre ouviu vozescomo funciona o vai de betépocas e locais diferentes;
  • como funciona o vai de bet Peter (1960), o menino rebelde, maníaco e violento. Durante anos, recusou toda ajuda oferecida;
  • como funciona o vai de bet Brian (1951-1973), a estrela do rock da família, que manteve os medos mais profundoscomo funciona o vai de betsegredo — e,como funciona o vai de betuma explosãocomo funciona o vai de betviolência, mudou a vidacomo funciona o vai de bettodos para sempre.
Brian (à esquerda) comcomo funciona o vai de betbandacomo funciona o vai de betrock no final dos anos 1960

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Legenda da foto, Brian (à esquerda) comcomo funciona o vai de betbandacomo funciona o vai de betrock no final dos anos 1960

"Brian foi morar na área da baíacomo funciona o vai de betSan Francisco, se apaixonou, a família conheceu a namorada e tudo parecia estar indo bem. Mas um dia esse relacionamento terminou, e logo depois ele a matou e cometeu suicídio", lembra Lindsay.

"Foi uma grande reviravolta. Isso marcou o momentocomo funciona o vai de betque a família não conseguia mais esconder o que estava acontecendo. Eles não podiam mais ficar nas sombras e tiveram que pedir ajuda."

Os Galvin não tinham feito isso antes, explica o autor, porque "sabiam que, no momentocomo funciona o vai de betque tornassem público o que estava acontecendo, o destinocomo funciona o vai de bettoda a família mudaria — e o futuro das crianças que não estavam doentes seria afetado". Eles então mantiveram a situaçãocomo funciona o vai de betsegredo enquanto puderam.

Fim da linha

Mimi, a mãe, tinha aprendido a fingir que nada do que ocorria era estranho.

"Fazer qualquer outra coisa seria o mesmo que admitir que ela não tinha controle real sobre a situação, que não conseguia entender o que estava acontecendo na própria casa, e muito menos como controlar o problema", analisa Kolker.

"Mimi tomou muitas decisões que tiveram consequências brutais, que machucaram muitas das crianças. Mas, por outro lado, ela defendeu heroicamente os filhos doentes."

"Em outra família, eles poderiam acabar na rua e esquecidos", avalia o escritor.

Ela também teve que cuidar do marido, que sofreu um acidente vascular cerebral (AVC).

A família inteira celebrando o doutoradocomo funciona o vai de betDoncomo funciona o vai de bet1969

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Legenda da foto, A família inteira foi celebrar o doutorado do paicomo funciona o vai de bet1969

"Você pode até se perguntar por que ela não buscou ajudacomo funciona o vai de betum médico - mas se pensarcomo funciona o vai de betcomo especialistas tratavam pessoas como problemas mentais na época, é possível compreendê-la. É aí que se começa a entender como a família estava presa, perdida e confusa."

Durante muito tempo, as opções terapêuticas mais comuns se limitavam a dois caminhos, informa o autor.

"Um grupocomo funciona o vai de betmédicos entendia que a esquizofrenia era um problema genético e tentavam curá-la com terapiascomo funciona o vai de betchoque elétrico e lobotomias... eram colocadoscomo funciona o vai de bethospitais psiquiátricoscomo funciona o vai de betonde nunca mais sairiam."

"Outra parcela dizia: 'A culpa é dos pais, então vamos tirar todas as criançascomo funciona o vai de betcasa, colocar as saudáveis ​​em abrigos e as doentescomo funciona o vai de bethospitais psiquiátricos, para que nunca mais sejam vistas'."

Essa segunda opção devastou Mimi.

"Fiquei arrasada", revelou ela a Kolker. "Eu achava que era uma boa mãe. Assava um bolo e uma torta todas as noites. Sempre tinha gelatina com chantilly."

Do silêncio ao livro

O que então, após todos esses anos, levou os Galvin a querer tornar públicos os detalhescomo funciona o vai de betuma história que havia sido mantidacomo funciona o vai de betsilêncio por tanto tempo?

"As duas irmãs fizeram muita terapia para se recuperar dos traumascomo funciona o vai de betinfância e sentiram que a experiência delas poderia ser útil para outras pessoas", diz Kolker.

Além disso, Mimi já estava na casa dos 90 anos. A família então pensou: "É agora ou nunca".

Lindsay (Mary) e Margaret

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Legenda da foto, Lindsay (Mary) e Margaret, as duas únicas filhas, incentivaram a publicação do livro

No entanto, o interesse não era apenas contar o que aconteceu. "Eles também estavam genuinamente curiososcomo funciona o vai de betsaber se a família Galvin acabou contribuindocomo funciona o vai de betalguma forma com a ciência", acrescenta Kolker.

"Eles sabiam que cientistas haviam estudado o caso deles, e quecomo funciona o vai de betalgum momento foram vistos como um casocomo funciona o vai de betgrande importância, e achavam que alguém como eu poderia averiguar se isso teve alguma consequência."

O "perfil" genético da esquizofrenia tem desafiado o diagnósticocomo funciona o vai de betcasos até hoje, explica o autor.

Os pesquisadores sabem que um dos maiores fatorescomo funciona o vai de betrisco para a doença é a hereditariedade, mas a enfermidade não parece ser transmitida diretamentecomo funciona o vai de betpais para filhos.

Psiquiatras, neurobiólogos e geneticistas achavam que havia uma mutação específica no DNA que provocava a enfermidade, mas não conseguiram encontrá-la.

Em virtude do grande númerocomo funciona o vai de betcasos, os Galvin ofereceram uma oportunidade rara: estudar seis indivíduos que compartilham uma linhagem genética idêntica, já que foram concebidos pelo mesmo pai e pela mesma mãe.

A partir da décadacomo funciona o vai de bet1980, toda a família passou a ser objetocomo funciona o vai de betpesquisas. O material genético deles foi analisado pelo Centrocomo funciona o vai de betCiências da Saúde da Universidade do Colorado, pelo Instituto Nacionalcomo funciona o vai de betSaúde Mental e por maiscomo funciona o vai de betuma farmacêutica.

Agora sabemos que amostras do material genético dos Galvin formaram a basecomo funciona o vai de betestudos científicos que ajudaram a entender melhor a esquizofrenia.

Ao analisar os DNAs deles e compará-los com amostras genéticas da populaçãocomo funciona o vai de betgeral, os pesquisadores ficaram ainda mais próximoscomo funciona o vai de betfazer avanços significativos no diagnóstico, no tratamento e até na prevenção da esquizofrenia, observa o escritor.

Mimi

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Legenda da foto, Saber que o que afligiu seiscomo funciona o vai de betseus filhos não foi culpa dela aliviou Mimi

Por muito tempo, os Galvin não tinham ideiacomo funciona o vai de betque poderiam estar ajudando outras pessoas e do quanto a contribuição deles tinha sido promissora."

"Isso foi o que os deixou mais felizes", lembra Kolker.

A partir dos estudos com o DNA dos irmãos, foi possível descobrir que a esquizofrenia possui realmente um fundo genético. Isso enfraqueceucomo funciona o vai de betvez as teoriascomo funciona o vai de betque a doença teria algo a ver com a educação ou à forma como foram criados pelos pais.

A família recebeu essas informações com alívio e satisfação. De repente, Mimi se dispôs a falar mais sobre o passado.

Vínculo inoxidável

Para o escritor, o que mais chamou a atenção foi que "os seis irmãos sem a doença mental encontraram seu caminho e levaram uma vida normal".

"Nenhum deles acabou como sem-teto ou viciadocomo funciona o vai de betdrogas."

"Como você passa por uma infância tão complicada e encontra o próprio caminho no mundo? E como você reavalia o relacionamento com a família?", questiona.

"O simples fatocomo funciona o vai de betquerer continuar a fazer parte daquele grupo depoiscomo funciona o vai de betexperiências tão traumáticas me surpreendeu. Por que eles não foram embora na primeira oportunidade e nunca mais voltaram?", pontua.

"Todos desenvolveram maneirascomo funciona o vai de betpermanecer conectados uns aos outros."

Linsay com seu marido e filhos

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Legenda da foto, Lindsay com o marido e os filhos

"Com Lindsay, por exemplo, pude ver como suas atitudescomo funciona o vai de betrelação à família foram mudando."

"Primeiro, ela quis ir embora, depois, veio a raiva. Na sequência, desejava resgatar alguns dos irmãos que ainda precisavamcomo funciona o vai de betajuda e, finalmente, ela se estabeleceucomo funciona o vai de betum papelcomo funciona o vai de betcuidadora muito semelhante ao que a mãe desempenhou por muitos anos", diz o autor.

"Quando ela era criança, não queria que os irmãos existissem. Agora, ela passa boa parte da vida cuidando deles."

Lindsay viveu décadas tentando entender a própria infância — e esse projeto continuacomo funciona o vai de betpé.

Ela aprendeu que a chave para entender a esquizofrenia é que essa chave continua distante e vaga.

Há uma listacomo funciona o vai de betsintomas, várias formascomo funciona o vai de betapresentação da doença e indicadores que se modificamcomo funciona o vai de betacordo com cada paciente.

Os psiquiatras dizem genericamente que a doença causa "afrouxamento das associações e pensamento desorganizado".

No entanto, quase ninguém pode explicar por que, quase meio século depois do diacomo funciona o vai de betque ela e o irmão subiram a colina, Donald continua recitando a ladainha religiosa — ou por que, por quase tanto tempo, manteve a ideia fixacomo funciona o vai de betque era filhocomo funciona o vai de betum polvo.

Mas assim que Donald vê a irmã mais nova chegar à instituição onde vive, se levanta, pronto para sair. Ele sabe que, quando Lindsay o visita, é para levá-lo para ver a família.

- Este texto foi publicado originalmentecomo funciona o vai de bethttp://www.mi-rob.com/geral-63276349

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