Copa do Mundo 2022: Asian Town, o bairro pobre dos operários que construíram estádios no Catar:casa de aposta palpites

  • José Carlos Cueto - @josecarloscueto
  • Enviado especial da BBC News Mundo ao Catar*
Trabalhadores migrantes assistem a um jogo na zonacasa de aposta palpitestorcedores do Asian Town

Crédito, José Carlos Cueto / BBC Mundo

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Futebol está sendo distração dos migrantes após jornadascasa de aposta palpitestrabalho que muitas vezes ultrapassam 12 horas

casa de aposta palpites A 20 quilômetros do Estádio Al Janoub, no Catar, milharescasa de aposta palpitestrabalhadores migrantes assistem ao futebolcasa de aposta palpitesuma tela gigante. Eles não podem se aproximar do campo, que muitos ajudaram a erguer com as próprias mãos.

Longe dos holofotes da cosmopolita, luxuosa e ultramoderna Doha, a capital do país, que é exibida na televisão, os homens mais humildes do país se reúnem emcasa de aposta palpitesparticular "áreacasa de aposta palpitestorcedores para pobres".

É assim que eles mesmos a chamam.

O local fica no estádiocasa de aposta palpitescríquete Asian Town, centro nevrálgico da zona industrial da capital, onde vivem centenas dos milharescasa de aposta palpitesmigrantes que construíram os estádios e outras infraestruturas do Catar 2022 e estão no centrocasa de aposta palpitesuma das maiores polêmicas desta Copa do Mundo.

"Vivemos e trabalhamos como escravos. Banco meus irmãos menorescasa de aposta palpitesUganda, para que comam e estudem", diz o jovem Moses. "Trabalhamoscasa de aposta palpitescondições que nenhum ser humano deveria trabalhar. As temperaturas são altas e trabalhamoscasa de aposta palpiteshorários que não combinamos, até 14 ou 15 por dia", acrescenta.

Migrantes esperando o início do jogo na fan zone do Asian Town

Crédito, José Carlos Cueto / BBC Mundo

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Alguns descrevem as telas instaladas na Zona Industrial como "a áreacasa de aposta palpitestorcedores para pobres"

No entanto, nem todos aqui pensam como ele.

Muitos agradecem ao Catar por lhes dar empregos e livrá-loscasa de aposta palpitessituações mais precáriascasa de aposta palpitesseus paísescasa de aposta palpitesorigem, como Índia, Bangladesh, Paquistão, Nepal e outras nações da África Oriental.

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"No Nepal ou no Paquistão há muita gente, menos trabalho e menos dinheiro. O Catar tem sido bom para nós", dizem dois dos entrevistados.

Organizações e instituições humanitárias denunciaram abusos e violações dos direitos dos trabalhadores durante os projetos para o Catar 2022 e a Organização Geral do Trabalho apontou que houve dezenascasa de aposta palpitesmortes.

Moses,casa de aposta palpitesUganda, garantiu à BBC News Mundo, o serviçocasa de aposta palpitesnotíciascasa de aposta palpitesespanhol da BBC, que doiscasa de aposta palpitesseus colegas morreram trabalhando, uma afirmação que não podemos verificarcasa de aposta palpitesforma independente.

"Um desmaiou com o calor. Simplesmente morreu", diz ele.

O governo do Catar, porcasa de aposta palpitesvez, afirma que 37 trabalhadores da construção civil morreram entre 2014 e 2020, embora apenas três deles por causas "relacionadas ao trabalho".

Um porta-voz do governo disse recentemente à BBC que as reformas implementadas, que fizeram do Catar o país do Golfo com a legislação trabalhista mais avançada, estão melhorando as condiçõescasa de aposta palpitestrabalho da maioria dos trabalhadores estrangeiros e que, ao passo que as medidas sejam implementadas, mais empresas devem cumprir as novas regras.

"Bem-vindo à áreacasa de aposta palpitestorcedores industrial"

É noitecasa de aposta palpitessexta-feira e para muitos o único diacasa de aposta palpitesfolga.

Enquanto os imigrantes lotam o estádiocasa de aposta palpitescríquete, um grupo improvisa uma dança perto da entrada, onde uma faixa reconhece seus esforçoscasa de aposta palpitesárabe, inglês e hindi: "Obrigado por suas contribuições para fazer a melhor Copa do Mundo da FIFAcasa de aposta palpitestodos os tempos".

Dentro e fora do estádio, há telões gigantes e barracascasa de aposta palpitescomida e bebida.

Dezenascasa de aposta palpitesmilhares se reúnem nas arquibancadas e no campo para assistir aos jogoscasa de aposta palpitesum ambiente divertido, mas muito diferentecasa de aposta palpitesoutras áreascasa de aposta palpitestorcedorescasa de aposta palpitesDoha, principalmente pela ausência marcantecasa de aposta palpitesmulheres.

Migrantes dançam antes do iníciocasa de aposta palpitesuma partida da Copa do Mundo na áreacasa de aposta palpitestorcedores da Zona Industrial

Crédito, José Carlos Cueto / BBC News Mundo

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No diacasa de aposta palpitesfolga, migrantes se animam dançando antes do futebol

Nesta zona industrial onde vivem migrantes menos qualificados, as mulheres são apenas 0,5% entre pouco maiscasa de aposta palpites310 mil moradores.

A maioria dos homens está envolvida na construção e outras indústrias pesadas.

Entrevistados falam que trabalhamcasa de aposta palpitesseis turnos diferentes,casa de aposta palpitesmaiscasa de aposta palpites12 horas cada um,casa de aposta palpitestrocacasa de aposta palpitesum salário mínimo (1.000 rials ou R$ 1.500).

É difícil perguntar sobre pagamentos e condições trabalhistas. Eles geralmente respondem primeiro com uma risada irônica. E alertam que suas empresas pedem que não falem com jornalistas.

"Não podemos falar. Não queremos problemas, mas não estamos muito à vontade", diz um grupocasa de aposta palpitesmigrantes africanos.

De todos os depoimentos ouvidos pela reportagem, o maior salário era o equivalente a US$ 686 (R$ 3.600) por mês. O restante ganhavacasa de aposta palpitestorno ou um pouco mais do que o salário mínimo que o Catar aprovoucasa de aposta palpites2021, tornando-se apenas o segundo país árabe a fazer isso, depois do Kuwait.

E embora possa parecer uma quantia considerável considerando a situaçãocasa de aposta palpitesoutros países, os migrantes descrevem que mal lhes dá o suficiente para economizar e enviar remessas para ajudar suas famílias.

Migrantes assistem à partida entre Uruguai e Gana

Crédito, José Carlos Cueto / BBC News Mundo

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Migrantes assistem à partida entre Uruguai e Gana

Eles também têm dificuldade para ir a outras áreascasa de aposta palpitestorcedores da cidade, pois precisam levar um "hayya card", uma espéciecasa de aposta palpitesautorizaçãocasa de aposta palpitesresidência emitida para quem comprou ingressos, um luxocasa de aposta palpitesUS$ 60 ou mais que eles não podem pagar.

Por isso, muitos dizem que quase não saem do bairro.

"Não penseicasa de aposta palpitesir a um jogo porque minha empresa me trouxe para cá e agora me sintocasa de aposta palpitesuma jaula. Talvezcasa de aposta palpitesalgum momento, esteja mais livre. Esta áreacasa de aposta palpitestorcedores é para nós pobres e agradeço ao Catar por isso. Adoro isso aqui", diz John, um imigrante ganense.

Entrada do complexo Asian Town

Crédito, José Carlos Cueto / BBC Mundo

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Entrada do complexo Asian Town

Asian Town

A área industrial fica a cercacasa de aposta palpites15 quilômetros a sudoeste do Souq Waqif, o coração social e culturalcasa de aposta palpitesDoha. Ao contráriocasa de aposta palpitesmuitas atrações da capital, que podem ser alcançadascasa de aposta palpites30 a 40 minutoscasa de aposta palpitestransporte público, chegar aqui leva cercacasa de aposta palpitesuma hora.

O gigantesco metrô que ficou prontocasa de aposta palpitestempo recorde para a Copa do Mundo ainda não alcançou este bairro.

A principal atração é o chamado Asian Town ("bairro asiático"), um complexo formado por um shopping center mais acessível para o bolso da classe trabalhadora com restaurantes, lojas, cinemas, anfiteatro, campocasa de aposta palpitescríquete e Labor City ("Cidade do Trabalho"), onde pernoitam cercacasa de aposta palpites70 mil migrantes.

"Asian Town, melhor acomodação com instalaçõescasa de aposta palpitesserviço completo", diz uma placacasa de aposta palpitesuma das entradas vigiadas da Labor City.

Vista interior da Labor City apóscasa de aposta palpitesinauguraçãocasa de aposta palpites2015

Crédito, Getty Images

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Acesso à Labor City é restrito e vigiado

Esta é zona residencial que o Catar inauguroucasa de aposta palpites2015 sob intensa pressão internacional devido a denúncias sobre as condições precárias dos trabalhadores da construção civil.

A entrada é proibida: um murocasa de aposta palpitescercacasa de aposta palpitesquatro metroscasa de aposta palpitesaltura cerca as instalações com dezenascasa de aposta palpitescâmerascasa de aposta palpitessegurança instaladas.

O complexo é cercado por grandes rodovias que dificultam a caminhada e por extensas áreas abertas onde latascasa de aposta palpitesrefrigerante, garrafas plásticas e sacoscasa de aposta palpitesbatata se acumulam na areia.

É difícil dizer que Labor City parece degradada ou pobre por quem a vêcasa de aposta palpitesfora, mas está longecasa de aposta palpitesparecer como os maiores complexos residenciais da capital.

Lixo na areiacasa de aposta palpitesfrente a Labor City.

Crédito, José Carlos Cueto / BBC Mundo

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Nos terrenos baldios que cercam a Labor City não há o mesmo cuidado com a limpeza como no restantecasa de aposta palpitesDoha

Dentro há mesquitas, lavanderias, academias e lanchonetes.

Muitos dormemcasa de aposta palpitesquartos para quatro, embora Moisés assegure quecasa de aposta palpitesalguns vivem até 16.

Diacasa de aposta palpitesdescanso jogando críquete

Num dos espaços abertos que circundam esta espéciecasa de aposta palpitescidade intramuros, alguns dos seus moradores organizam uma festacasa de aposta palpitescríquete.

Trata-se uma forma divertida e baratacasa de aposta palpitesrelaxar à luz do dia e durante os jogos da Copa do Mundo.

"Às vezes, jogamos por até 10 horas. Adoramos críquete", diz um trabalhador paquistanês à BBC News Mundo.

Aqui, vários entrevistados dizem estar satisfeitos com suas vidas quando comparadas com o que deixaram para tráscasa de aposta palpitesseus países.

"As empresas para as quais trabalhamos nos pagam pelo alojamento e nos dão vales para comer. Dentro da Labor City, há supermercados e um hospital. Estamos muito gratos", diz um nepalês.

Migrantes jogando críquetecasa de aposta palpitesfrente a um campo aberto

Crédito, José Carlos Cueto / BBC Mundo

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Alguns dos migrantes passam o diacasa de aposta palpitesfolga jogando críquete

Mas eles admitem que o que ganham nem sempre é suficiente.

"Nos diascasa de aposta palpitesfolga não saímos daqui. O Catar é muito caro e não queremos desperdiçar porque temos que ajudar nossas famílias", ressaltam, pedindo que não revelemos seus nomes por medocasa de aposta palpitesrepresáliascasa de aposta palpitessuas empresas.

"Recentemente um falou mal da Copa do Mundocasa de aposta palpitesuma entrevista ao vivo e isso não caiu muito bem", dizem.

"Estamos no Catar para ganhar dinheiro e voltar para casa"

John, o trabalhador ganense que descreve o estádiocasa de aposta palpitescríquete como "a áreacasa de aposta palpitestorcedores para pobres", mora do outro lado da zona industrial.

Para chegar aquicasa de aposta palpitesAsian Town é preciso atravessar um túnel subterrâneo que passa por uma rodovia. A estrutura está repletacasa de aposta palpitescâmerascasa de aposta palpitessegurança.

Túnel que liga a Zona Industrial à Asian Town

Crédito, José Carlos Cueto / BBC Mundo

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Vigilância, como no restantecasa de aposta palpitesDoha, também é abundante na zona migratória

O bairro é composto principalmente por armazéns, prédios semi-construídos, guindastes, edifícioscasa de aposta palpitesapartamentos humildes, lojas, restaurantes e lanchonetes populares

Várias áreas não estão pavimentadas e a poeira é frequentemente levantada pelo vento.

Não há favelas ou outras construções típicas das comunidades mais carentes da América Latina, mas o contraste é marcantecasa de aposta palpitesuma cidade empenhadacasa de aposta palpitesmostrar seu lado moderno e vibrante.

"Divido um quarto com outras seis pessoas, mas não estamos tão mal e, portanto, é mais provável que lutemos por direitos no futuro", diz ele.

"Estamos no Catar para ganhar dinheiro e voltar para casa. Quero ficar 10 anos, mesmo que meu contrato seja por dois, economizando e mandando dinheiro para minha família. Gosto do Catar, embora às vezes, quando vemos a polícia, não sei se devo chegar mais perto ou fugir. Eles são assustadores", diz John com uma risada.

Edificio na Zona Industrial

Crédito, José Carlos Cueto / BBC Mundo

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Prédios residenciais modestos se intercalam com armazéns na Zona Industrial

Uma realidade além do Catar

Alguns desses trabalhadores conhecem experiênciascasa de aposta palpitesoutros países da região, onde as condições são piores.

"Tenho conhecidos na Arábia Saudita cujos empregadores nem os deixam saircasa de aposta palpitescasa", diz Moses.

O Catar é o primeiro país árabe a abolir o polêmico sistema kafala (patrocíniocasa de aposta palpitesárabe) e o segundo a estabelecer um salário mínimo depois do Kuwait.

Sob a kafala, se um funcionário mudassecasa de aposta palpitesemprego, poderia ser processado, preso e deportado. Seus passaportes eram muitas vezes retidos, impedindo-os efetivamentecasa de aposta palpitesdeixar o país.

Operário no Catar

Crédito, Getty Images

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Catar fez vários progressoscasa de aposta palpitesdireitos trabalhistas, embora organizações humanitárias estejam pedindo mais esforços

A ONG Human Rights Watch (HRW) reconhece as melhorias do Catar, mas insiste que "os trabalhadores migrantes ainda dependemcasa de aposta palpitesseus empregadores para facilitar a entrada, residência e emprego no país, o que significa que os empregadores são responsáveis por solicitar, renovar e cancelar suas autorizaçõescasa de aposta palpitesresidência e trabalho".

"Os trabalhadores podem ficar sem documentos sem culpa própria quando os empregadores não cumprem esses processos, e são eles, e não seus empregadores, que sofrem as consequências", diz a ONGcasa de aposta palpitesum relatóriocasa de aposta palpites2020.

No ano passado, a organização observou que os trabalhadores estrangeiros ainda sofrem "deduções salariais ilegais e punitivas" e enfrentam "mesescasa de aposta palpitessalários não pagos por longas horascasa de aposta palpitestrabalho extenuante".

O Catar considera que a imprensa internacional é injusta por colocar muito foco nessas questões e dar menos peso ao seu progresso nos últimos anos.

Interior do shopping Asian Town

Crédito, José Carlos Cueto / BBC Mundo

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No shopping Asian Town não há grandes marcas ou restaurantes refinados, comunscasa de aposta palpitesoutras áreas da cidade

Interior do shopping Asian Town

Crédito, José Carlos Cueto / BBC Mundo

"Espero que esta Copa do Mundo nos traga melhores condições e mais direitos", diz um imigrante indiano.

O sentimento é compartilhado por outros trabalhadores, exceto Moisés, o mais crítico, que sente que esta Copa do Mundo não é para eles.

"Damos muito para nossas empresas, mas recebemos pouco. Estou torcendo para mudarcasa de aposta palpitesemprego", confessa.

"Nada vai mudar depois da Copa. Acho que as condições vão ser ainda mais duras", resigna-se.

*Os nomes usados nesta reportagem foram trocados proteger a identidade dos entrevistados.

* Esta reportagem foi produzidacasa de aposta palpitescolaboração com Sam Sheringham, repórter da BBC Sport no Catar. Você pode ouvir alguns dos depoimentoscasa de aposta palpitesinglês no podcast 'World Football in Qatar - Inside the Asian Town fan park' clicando aqui.

- Este texto foi publicadocasa de aposta palpiteshttp://www.mi-rob.com/internacional-63929329