Qual a origem da rivalidade entre Brasil e Argentina — e o que está mudando nessa rixa:unibet om

Homem sentado no meio fio,unibet omfrente a muro grafitado com imagensunibet omdois jogadoresunibet omfutebol argentinos;unibet omcima do muro, há uma bandeira do Brasil

Crédito, ANDRE COELHO/EPA-EFE/REX/Shutterstock

Legenda da foto, Ruas e muros do morro do Dendê, no Riounibet omJaneiro (RJ), foram pintadosunibet omhomenagem à seleção argentina durante a Copa do Mundounibet om2022

Com a saída do Brasil da Copa, alguns brasileiros famosos e anônimos aderiram à torcida pela seleção argentina — inclusive o narrador Galvão Bueno, da Rede Globo, conhecido por já ter dito que "ganhar é bom, mas ganhar da Argentina é melhor ainda".

Até o correspondente do jornal britânico The Guardian na América Latina, Tom Phillips, se surpreendeu com o apoiounibet ombrasileiros à seleção do país vizinho. "O que está acontecendo?", brincou ele no Twitter.

Pule Twitter post
Aceita conteúdo do Twitter?

Este item inclui conteúdo extraído do Twitter. Pedimosunibet omautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticaunibet omusounibet omcookies e os termosunibet omprivacidade do Twitter antesunibet omconcordar. Para acessar o conteúdo cliqueunibet om"aceitar e continuar".

Alerta: Conteúdounibet omterceiros pode conter publicidade

Finalunibet omTwitter post

Será que algo está mudando na rivalidade histórica entre Brasil e Argentina, alimentada por disputasunibet omCopa do Mundo e décadasunibet omcomparação entre o desempenhounibet omMaradona e Pelé?

Para entender isso, a BBC News Brasil ouviu analistas especializadosunibet omhistória,unibet omantropologia eunibet omfutebol, que observaram que esse sentimento atual reflete vários motivos.

A admiração por Messi, que coleciona sete Bolasunibet omOurounibet ommelhor jogador do mundo e costuma ser elogiado porunibet om"simplicidade" e "zero arrogância", a "garra dos jogadores e da torcida argentina" e a percepção das novas geraçõesunibet ombrasileiros, que se identificam como latino-americanos são elementos que contribuem para apaziguar a rivalidade histórica.

O professor João Manuel Casquinha, do Departamentounibet omHistória da Universidade Federalunibet omSanta Maria (UFSM), que faz pesquisas sobre futebol, atendeu à reportagem da BBC News Brasil quando acabavaunibet omsairunibet omuma reunião com outros dois professores. Os três acadêmicos estão torcendo pela Seleção Argentina, que neste domingo (18/12) disputará a final do mundial contra a França.

"Vou dar uma percepção bemunibet omtorcedor. Os jogadores argentinos sempre nos encantaram pelaunibet omdedicação, pelo seu amor pela pátria. Aquela coisaunibet omjogar pela bandeira eunibet omterminar os jogos e ir para o meio da torcida. Muita garra, muita vibração. E, alémunibet omtoda garra argentina, eles têm o melhor jogador do mundo e a gente acaba ficando com uma certa invejinha no Brasil", disse Casquinha.

Coordenador do Grupounibet omEstudosunibet omHistória do Esporte e das Práticas Lúdicas (Stadium), o professor entende que até o videogame tem contribuído para as novas torcidas brasileiras por Messi.

"Vemos os mais jovens que curtem o Messi, que o viram jogar no Barcelona, o veem jogar no Paris Saint Gemain e passaram quatro anos (até a Copa) jogando com 'Messi' no videogame. E eles acabam tendo tanta identidade com Messi como têm com o Neymar. Eu diria que,unibet omalguns casos, eles têm até mais identidade com o Messi do que com a maioria dos jogadores brasileiros, que nem sempre conhecem porque jogamunibet omequipes europeias menores e praticamente não atuam no território brasileiro", disse Casquinha.

Foto aérea mostra rua pintadaunibet omazul e brancounibet ommeio às dezenasunibet omcasas da favela

Crédito, ANDRE COELHO/EPA-EFE/REX/Shutterstock

Legenda da foto, Algo está mudando na rivalidade histórica entre Brasil e Argentina? Na foto, rua pintada com as cores do país vizinho no Dendê

"A gente tem uma nova geraçãounibet omtorcedores que torce para o Arsenal, para Manchester City, para o Paris Saint Germain, para o Barcelona... É um fenômeno que vemos acontecendo nos países sul-americanos. Tem a ver com a globalização. E esses clubes têm trabalhado uma inserção na América Latina", afirmou.

Essa mesma geração se identifica,unibet ommuitos casos, mais como latino-americana, ao contrário do que pensavam seus pais e seus avós no passado. Esse sentimento também explica a torcidaunibet ommuitos brasileiros, na visão do professor Casquinha — ele próprio diz querer "uma vitória dos sul-americanos" neste domingo.

O técnico da seleção argentina, Lionel Scaloni, também tentou cultivar isso.

Scaloni é amigounibet omvários jogadores brasileiros, se declara "fã" do Brasil e disse que seria "estimulante" ter o apoio da torcida brasileira e das outras nações da América do Sul na final — desde 2006, os europeus são os únicos a erguer a taça da Copa do Mundo.

Mas, para deixar a rixaunibet omlado, é preciso entender suas origens.

A origem da rivalidade Brasil x Argentina

É na política, e não no futebol, que alguns historiadores situam esse princípio.

O historiador Boris Fausto, coautorunibet omBrasil e Argentina: Um Ensaiounibet omHistória Comparada (1850-2002), diz que a rixa começou no século 19, quando os dois países passaram a disputar a liderança regional na América do Sul.

Para Fausto, essa rivalidade política acabou sendo assimilada pela sociedade. E, com isso, se descolouunibet omfatos históricos e invadiu outros setores, como o futebol.

O cientista político argentino Rosendo Fraga também acha que Brasil e Argentina herdaram a rivalidade que existiu entre os ex-colonizadores, Portugal e Espanha, no processounibet omocupação da América do Sul. E nisso, a disputa pela região chamada Cisplatina, nos arredores do rio da Prata, tem papel importante.

Blusas da seleção brasileira e argentina penduradasunibet ompequeno comércio na favela

Crédito, ANDRE COELHO/EPA-EFE/REX/Shutterstock

Legenda da foto, Para Boris Fausto, a rivalidade política entre os países, iniciada no século 19, acabou invadindo outros setores, como o futebol

Essa disputa chegou ao ápice na Guerra da Cisplatina (1825-28), que opôs o Brasil, já independenteunibet omPortugal, e as chamadas Províncias Unidas do Rio da Prata, que mais tarde viriam a formar a Argentina.

O Brasil sofreu duras derrotasunibet omtrês batalhas da guerra e acabou desistindounibet omser dona do território. Os argentinos também não ficaram com a Cisplatina, que acabou virando outro país: o Uruguai.

Mas a desconfiança bilateral continuou, apesar da faltaunibet omhostilidades ou conflitos daliunibet omdiante. Inclusive Brasil, Argentina e Uruguai foram aliados na Guerra do Paraguai (1864-1870).

O cientista político argentino Vicente Palermo, autorunibet omLa Alegria y la Pasión - Relatos Brasileños y Argentinos en Perspectiva Comparada ("A Alegria e a Paixão - Relatos Brasileiros e Argentinosunibet omPerspectiva Comparada",unibet omtradução livre) acha que, historicamente, era comum que argentinos exibissem um arunibet omsuperioridade perante os brasileiros. Isso por causa do período históricounibet omque a Argentina foi um dos países mais ricos do mundounibet omPIB per capita, com uma classe média mais pujante.

Mas ele acha que isso mudou principalmente depois da ditadura militar instalada no país entre 1976 e 1983, quando os argentinos se viram dianteunibet omproblemas semelhantes ou até mais graves que os brasileiros, como a sucessãounibet omcrises econômicas.

Hoje, Vicente Palermo acha que os argentinos mudaram completamente a visão sobre o Brasil e enxergam o país como um ator globalunibet ompeso.

Mas os clichês se mantiveram,unibet omparticular no futebol e, mais ainda,unibet omCopas do Mundo — com um saldounibet omtaças obviamente favorável ao Brasil.

Efeito Messi

Lionel Messi

Crédito, Molly Darlington/Reuters

Mas, agora, para o pesquisador João Manuel Casquinha, o comportamentounibet omMessi contribui para que a torcida brasileira se envolva mais com a seleção argentina.

"Uma coisa que o Messi não faz é ficar ostentando, indo pra balada. Enquanto isso, nossos jogadores fazem churrasco, comem carne com ouro... Então, o torcedor brasileiro vê que essa galera [os jogadores brasileiros] está cada vez mais distante dele", opina Casquinha.

José Paulo Florenzano, professorunibet omantropologia da Pontifícia Universidade Católicaunibet omSão Paulo (PUC-SP) e ex-membro do conselho consultivo do Centrounibet omReferência do Futebol Brasileiro (CRFB), entende que, apesarunibet omhistórica, a rivalidade entre o Brasil e a Argentina não se manifesta sempre da mesma maneira: tem altos e baixos, a depender do contexto.

"Dependendo da conjuntura esportiva, você tem um acirramento desse sentimentounibet omantagonismo eunibet omrivalidade. Em determinadas conjunturas, como agoraunibet om2022, você tem a possibilidadeunibet omuma identificação transversal que atravessa as fronteiras do Estado-Nação", avalia.

Para o especialista, essa identificação além fronteiras é responsabilidadeunibet omMessi. "A seleção argentina do Messi consegue transcender os limites nacionais da Argentina. Existe a identificaçãounibet omvários países com a figura do Messi e o futebol que ele representa e joga", pontua.

Duas pessoas com as costas das camisasunibet omNeymar eunibet omMessi por suas seleções

Crédito, Reuters

A política também tem um peso no debate. Neymar conquistou críticosunibet omum lado e admiradores do outro ao declarar apoio a Jair Bolsonaro (PL) na campanha presidencialunibet om202.

"Neymar também tem admiradores no mundo inteiro pelo futebol exuberante que joga. Mas acredito eu que hoje seja muito mais fácil para um brasileiro torcer para a Argentina do Messi do que o inverso, um argentino se identificar com o Brasil do Neymar", opina Florenzano.

O antropólogo acha que o estilounibet omMessi é mais agregador a torcedores não argentinos do que ounibet omDiego Maradona — que, embora fascinante, era visto como rebelde e, por vezes, controverso.

Num documentário recente da Netflix, lançado pouco antes da Copa do Mundo, Messi fez uma espécieunibet omdiscursounibet ommotivação para os jogadores da Seleção Argentina, falando sobre a importância da oportunidadeunibet omvencer no Maracanã a final da Copa América contra o Brasil,unibet om2021.

Ele não citou a rivalidade e buscou colocar o foco no próprio time. "Já sabemos quem é a Argentina e quem é o Brasil. Não quero falar sobre isso. Formamos um time lindo. Vamos levantar essa copa, vamos levá-la para a Argentina para desfrutar com nossas famílias, com nossos amigos, com as pessoas que sempre apoiaram a Argentina", disse.

Essa foi a conquista mais importante que a seleção liderada por Messi conquistou para a Argentina até a disputa do mundialunibet om2022 — e um momento crucial também para mudar a percepção dos torcedores argentinos a respeitounibet omMessi, até então admirado, mas visto como alguém que trazia mais conquistas ao times europeus do que à Seleção Argentina.

Mas qual foi o sentimento predominante na Argentina, quando o Brasil foi eliminado?

Algounibet om'alívio' foi detectadounibet omalguns torcedores argentinos. "O Brasil seria um competidor muito difícil pela fortalezaunibet omseu futebol", explicou um dos comentaristas esportivos do canal 13,unibet omBuenos Aires.

Nas redes sociais, circulou imagem atribuída à TV Crónica, que costuma exibir títulos originais com letras maiúsculas naunibet omtela, dizendo: "Lá se vai o avião brasileiro (com os jogadores)".

Um comentárista disse que a eliminação significava "um gigante a menos para enfrentar" — talvez sem imaginar que a seleçãounibet omseu país contasse agora com o apoiounibet omsetores da torcida do próprio Brasil.

- Este texto foi publicadounibet omhttp://www.mi-rob.com/internacional-64008317