Nas redes sociais, feministas evangélicas se unem contra duplo preconceito:0800 bet 365

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Legenda da foto, Mulheres religiosas que também se identificam com o feminismo dizem sentir-se minoria nas igrejas e no movimento feminista

"No grupo, podemos discutir coisas que não conseguimos nem no meio feminista, por sermos cristãs, e nem no meio cristão, onde sofremos bastante rejeição."

Nos limites "seguros" da comunidade, elas falam sobre passagens da Bíblia que consideram machistas ou feministas, compartilham vídeos "problemáticos" das suas próprias igrejas, mas também exaltam pastores e padres considerados progressistas e tiram dúvidas sobre doutrinas religiosas.

Assuntos como masturbação, aborto, laicidade do Estado e homossexualidade também entram no debate – e provocam discordâncias.

"Acontece muito0800 bet 365as meninas entrarem no grupo, verem os posts e dizerem: 'aqui tem coisas sobre as quais eu sempre quis falar, mas nunca pude, porque nunca achei ninguém que estivesse disposto a falar comigo sobre isso', afirma Thayô.

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'Paciência'

Para Thayô, a maneira "não positiva" como evangélicas são confrontadas0800 bet 365discussões sobre temas polêmicos nos grupos feministas – "mesmo com boas intenções" – pode afastá-las do debate. Isso acentua a rejeição que muitas sentem dentro das próprias comunidades religiosas.

"O mais frequente no grupo são meninas que não estão se encaixando (nas igrejas), mas não querem se afastar e deixar0800 bet 365praticar0800 bet 365fé", afirma. Ela mesma, que participava da Igreja Cristã Evangélica do Brasil, diz ser hoje uma cristã pós-denominacional – que não frequenta nenhuma denominação específica.

A dificuldade0800 bet 365conciliar os questionamentos feministas com as doutrinas religiosas também motivou as amigas Jordanna Castelo Branco,0800 bet 36531 anos, e Guísela Araújo,0800 bet 36536 anos, a buscarem denominações evangélicas mais inclusivas.

"Eu nasci na igreja Batista, cresci na Assembleia0800 bet 365Deus, fui para a igreja Nova Vida e hoje sou0800 bet 365uma comunidade chamada Libertas, que é uma igreja mais alternativa dentro da igreja Presbiteriana", diz Jordanna.

Crédito, BBC World Service

"Desde adolescente, eu questionava o papel da mulher: por que tinha que ser criada para ser uma boa dona0800 bet 365casa se, na escola0800 bet 365que eu estudava, homens serviam o almoço e o jantar? Por que eu não podia usar calças jeans na igreja, se eram muito mais confortáveis? Por volta dos meus 16 anos, havia muitas cobranças para que eu andasse maquiada e soubesse cozinhar. E o meu questionamento causava espanto."

Depois0800 bet 365um período afastada dos cultos, ela decidiu voltar e diz estar mais satisfeita com o diálogo dentro da nova comunidade. Mesmo assim, declarar-se feminista ainda foi um problema.

"Quando eu comecei0800 bet 365fato a me identificar como feminista e assumir isso, eu já estava na Libertas. Mesmo assim, foi uma confusão. Alguns começaram a debochar, as meninas me criticaram. Foram dois amigos homens da igreja, que são mais ligados a movimentos sociais, que me defenderam. E aí a discussão começou e, algum tempo depois, outras mulheres começaram a se assumir como feministas também", conta.

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A fluminense Guísela Araújo assumiu-se como feminista após uma tragédia pessoal. Em 2010,0800 bet 365irmã foi assassinada por um ex-namorado. Hoje, ela diz sentir que não encontra um lugar "nem dentro da igreja, nem fora". Mesmo assim, pretende continuar tentando.

"Estou buscando uma igreja, porque é difícil encontrar um espaço0800 bet 365que eu consiga atuar com liberdade, dentro das coisas que eu acredito. Nasci na Assembleia0800 bet 365Deus, mas falar0800 bet 365feminismo lá é muito complicado. A igreja é onde eu quero estar porque acho que há muito a ser feito."

No entanto, ela diz que resposta0800 bet 365outras feministas0800 bet 365debates sobre religião desestimula o ativismo. "Em várias discussões na internet mesmo, vejo que não dão muito valor ao meu discurso porque sou cristã. E nem acreditam que uma mulher possa fazer a escolha pelo cristianismo", afirma.

"Eu até entendo as mulheres evangélicas que torcem o nariz para o feminismo porque não conhecem. E acho que poderiam ter mais paciência e boa vontade com as feministas. Mas acho também que falta às feministas mais paciência e boa vontade com as religiosas. A tolerância é algo que a gente vai construindo."

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'Feminista perfeita'

Segundo a cientista política Rayza Sarmento, da UFMG, os embates com a religiosidade0800 bet 365algumas mulheres não significam que o feminismo é intolerante. "É um pouco natural que esses embates ocorram. A própria história do feminismo é lidar com as diferenças e com questões muito sensíveis", disse à BBC Brasil.

"Quando o feminismo surge como bandeira política, é marcado pela história0800 bet 365vida das mulheres brancas e0800 bet 365classe média. As líderes feministas negras, por exemplo, diziam que tinham dificuldade0800 bet 365lidar com os homens no movimento negro e com as brancas no movimento feminista."

"Mas isso não o torna o movimento mais frágil, pelo contrário. Essas diferenças o tornam um movimento muito potente, até porque desmistifica a ideia0800 bet 365que todas as mulheres são iguais", conclui.

Foto: Reprodução Facebook

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Legenda da foto, Em grupo, mulheres evangélicas dizem sentir-se mais à vontade para discutir temas polêmicos e questionar doutrinas

A publicitária carioca Luíse Bello,0800 bet 36526 anos, no entanto, reclama do que diz ser "uma visão muito superficial sobre as igrejas evangélicas no Brasil"0800 bet 365debates dos quais participou.

"Na igreja que eu frequento desde criança nunca enfrentei nenhum problema por ser feminista. Tive muito mais problemas me assumindo evangélica0800 bet 365algumas ocasiões do que dizendo que sou feminista na igreja", afirma.

Para ela, a resistência aos evangélicos é mais forte "por causa0800 bet 365uma bancada conservadora no Congresso, porque muitas igrejas evangélicas estão na TV colocando seus discursos e pela maneira estereotipada" como são retratados pelos meios0800 bet 365comunicação.

"Frequento uma denominação com uma doutrina rígida0800 bet 365alguns aspectos. Realmente, se a gente for pegar as coisas que são esperadas das mulheres segundo a doutrina, elas não se encaixam muito com algumas ideias do feminismo. Mas eu fazer parte da igreja não faz0800 bet 365mim menos feminista", diz.

"Você diz que é evangélico e logo vem à cabeça a imagem0800 bet 365alguém que é um tonto doutrinado e não consegue enxergar além do que o pastor fala. Isso me cansa muito. Eu sou0800 bet 365uma igreja que é completamente apolítica. Não podemos, pela doutrina, misturar Estado e religião. Isso as pessoas nem sabem que existe."

Grupos como o "Feministas cristãs", ela diz, ajudam a lidar com os dilemas0800 bet 365quem tenta conciliar as duas posições.

"Eu não sou uma feminista perfeita. Eu também não sou uma cristã perfeita. Eu quero ser, estou me esforçando. Mas eu sou uma pessoa. Eu não tenho todas as respostas."