'Vivemos na realidade do medo', diz moradora sobre assédio a mulherespokerstars analisefavela do Rio:pokerstars analise

Thais Cavalcante fala sobre dificuldadepokerstars analiselidar com assédio na favela da Maré

Crédito, Arquivo pessoal/Thaís Cavalcante

Legenda da foto, Thais Cavalcante fala sobre dificuldadepokerstars analiselidar com assédio na favela da Maré

Mas quanto mais a gente se acostuma com a realidade do medo que nos é colocada, pior ela fica. Afinal, se fosse fácil mudarpokerstars analiseuma hora para outra, as coisas seriam diferentes depois dos protestos realizados por mulherespokerstars analisevários Estados.

A limitaçãopokerstars analiseum favelado por ser favelado começa na faltapokerstars analisedireitos. Faltam os direitos quepokerstars analiseteoria até temos, mas não podemos usar e os que nunca foram oferecidos.

A criação que recebi dos meus pais foi quase a mesma que minhas vizinhas receberam. O tempo livre era só para brincar no beco. Pulava elástico, corria pique-esconde, alerta cor, bolapokerstars analisegude e outros. Nossas mães acompanhavam a gente até chegar à escola, que ficava pertopokerstars analisecasa.

Mesmo com a vida parecida com a minha, algumas amigas engravidaram. E no lugarpokerstars analiseestudos e trabalho, formar uma família passou a ser prioridade. Isso continua sendo comum na vidapokerstars analisejovens mulheres moradoraspokerstars analisefavelas.

A independência e a maternidade precoce estão ligadas. Quando o futuro não é focadopokerstars analisetrabalho ou estudo, a escolhapokerstars analiseviver pela tradição é feita por si só.

Independente do motivo, acho que ter um filho antes dos 18 anos não é um sonho.

Mas nós sofremos pressãopokerstars analisequalquer maneira. Se engravidou, tem que se juntar com o namorado e buscar formaspokerstars analisesustento. Se quer estudar, vai ter que trabalhar ao mesmo tempo e ralar muito pra conseguir uma bolsa na faculdade.

E quando se formar, vai chegar do trabalho debaixopokerstars analisesol, chuva ou tiroteio.

Favela da Maré fica na zona norte do Rio

Crédito, AFP

Legenda da foto, A favela da Maré fica na zona norte do Rio

A maior característicapokerstars analiseuma mulher cria da favela é ser lutadora. Por vencer o preconceito, trabalhar os sentimentos e o que enfrenta no dia a dia. Temos que lutar até para sermos identificadas.

As pessoas esperampokerstars analisenós alguémpokerstars analisepouco estudo, pobre e ignorante intelectualmente. É muito fácil dizer o que todo mundo diz. Só parece difícil lembrar que os nossos espaços receberam pessoaspokerstars analisetodos os Estados, e a diversidade sempre existiu.

Lembropokerstars analiseuma das minhas primeiras noites num luau na praia da zona sul. Fui com um amigo, afinal andar sozinha por aí a noitepokerstars analiseum lugar que você mal conhece não traz segurança.

Depoispokerstars analiseconhecer uma galera e bater um papo, me perguntampokerstars analiseonde eu era. "Da Favela da Maré", respondo. Um garoto diz: "Não acredito. Você, desse jeito, é da favela? Não parece".

Depoispokerstars analisenão entender por que ele dizia aquilo, fiquei tentando fazer o cara entender, mesmo surpresa com a situação.

Eu sou branca, magra e tenho cabelos lisos. Pensei: "Será que se eu disser que tenho sangue nordestino e favelado vai provar quem sou?"

Chateada com isso, me afastei um pouco do grupo. Mesmo assim, um garoto que estava na roda me ajudou a carregar um amigo bêbado. Ele foi até a Maré só para isso, apesarpokerstars analisenunca ter entrado.

Se isso acontecesse anos atrás, eu não teria me assumido como favelada na frentepokerstars analisetodo mundo. Eu tinha medopokerstars analiseme misturar com outras meninas da favela na adolescência porque somos estereotipadas.

Andarpokerstars analiseshort curto é ser vagabunda, e rebolar até o chão é dizer que está na pista. Mentira! Tem homens que só precisampokerstars analiseuma oportunidade para fazer o que sempre quiseram fazer ─ independentepokerstars analisea mulher tomar qualquer atitude.

A revoluçãopokerstars analisemulheres contra o assédio que se vê nas ruas é um grito guardado dentro do peito há muito tempo. Seja mulher da favela ou do asfalto, sinto que ainda falta a oportunidadepokerstars analisedemonstrar essa dor do jeito certo.

*Thaís Cavalcante é moradora da Favela da Maré e coordenadora do jornal comunitário "O Cidadão"