Contra superbactérias, hospitais tentam conter abuso na prescriçãobenzema fifa 22antibióticos:benzema fifa 22

Placabenzema fifa 22Petri

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Legenda da foto, Uma das principais causas da resistência bacteriana é o uso excessivobenzema fifa 22antibióticos, inclusive dentro do ambiente hospitalar

Adrielly foi vítimabenzema fifa 22uma infecção por uma versão resistente da bactéria Staphylococcus aureus. Alémbenzema fifa 22ter que se submeter a uma cirurgia para limpeza da área, a estudante perdeu a chancebenzema fifa 22continuar com as transfusões.

Diante disso, a estudante teve que entrarbenzema fifa 22emergência na filabenzema fifa 22transplante. Ela recebeu um novo órgãobenzema fifa 22abril. Após idas e vindas, teve alta definitiva na última terça-feira, maisbenzema fifa 22seis meses depois da infecção bacteriana.

Assim como Adrielly, casosbenzema fifa 22pacientes infectados por bactérias resistentes vêm crescendo no Brasil e já causam ao menos 23 mil mortes por ano, estimam especialistas.

Uma das principais causas da resistência bacteriana é o uso excessivobenzema fifa 22antibióticos, inclusive dentro do ambiente hospitalar. Por esse motivo, hospitais brasileiros vêm implantando um novo sistema para controlar o consumo desses medicamentos e evitar abusos.

"Há uma dificuldade estrutural para enfrentar a resistência antimicrobiana, mas hoje sabemos que é preciso implementar regras básicas para diminuir o usobenzema fifa 22antimicrobianos. O paciente chega com um problema e o médico já prescreve o antibiótico," afirma Sylvia Lemos Hinrichsen, médica infectologista e professora da Universidade Federalbenzema fifa 22Pernambuco (UFPE).

Desde o ano passado, Sylvia vem treinando hospitais brasileiros a racionalizar o usobenzema fifa 22antibióticos, após estudar programasbenzema fifa 22gestãobenzema fifa 22uso desses medicamentos no Reino Unido.

Gestão racional

Chamadasbenzema fifa 22Antimicrobial Stewardship Program (ASM), as iniciativas começaram nos anos 2000 e se tornaram comuns na Europa e nos Estados Unidos com a preocupação crescente sobre superbactérias. No Brasil, programas para controle do usobenzema fifa 22antibióticos também não são novos, mas as iniciativas ainda estãobenzema fifa 22fase inicial.

O objetivo é que os médicos usem antibióticosbenzema fifa 22maneira mais precisa e evitem desperdícios. Quanto mais se usa um antibiótico sem necessidade, maior o riscobenzema fifa 22se criar uma superbactéria.

Cápsulasbenzema fifa 22remédio

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Legenda da foto, Iniciativas para usar antibióticosbenzema fifa 22forma mais precisa ainda estãobenzema fifa 22fase inicial no Brasil, apesarbenzema fifa 22não serem novas

De acordo com informações compiladas pelo Centrosbenzema fifa 22Controle e Prevençãobenzema fifa 22Doenças (CDC) dos Estados Unidosbenzema fifa 222014, cercabenzema fifa 2220% a 50% dos antibióticos prescritosbenzema fifa 22hospitaisbenzema fifa 22cuidados intensivos naquele país são ou desnecessários ou foram prescritos incorretamente.

No Brasil, as estatísticas não são melhores, segundo os médicos.

"Costumávamos tratar pacientes antes mesmo da cirurgia. A pessoa ia tirar um dente e começava com o antibiótico dias antes. E isso traz riscos muito graves", explica a médica Maria Manuela Alves dos Santos, superintendente do Consórcio Brasileirobenzema fifa 22Acreditação, que certifica a qualidadebenzema fifa 22hospitaisbenzema fifa 22parceria com a Joint Commission International.

Desde julho, a JC incluiu gestão racionalbenzema fifa 22antibióticos como um dos requisitos para seu selobenzema fifa 22qualidade. Para usar esses medicamentosbenzema fifa 22maneira mais eficiente, os hospitais precisam mapear os organismos infecciosos mais comuns embenzema fifa 22unidade e criar mecanismos para identificar rapidamente as reais causas das infecçõesbenzema fifa 22pacientes.

"Da mesma forma que um hospital precisabenzema fifa 22uma equipebenzema fifa 22limpeza, precisabenzema fifa 22uma equipebenzema fifa 22microbiologia para saberbenzema fifa 22realidade microbiológica. Porque é a partir disso que vou sugerir guias terapêuticos para os meus médicos", diz Pedro Mathiasi, infectologista do HCor,benzema fifa 22São Paulo, que desde 2013 lidera um programabenzema fifa 22gestão racionalbenzema fifa 22usobenzema fifa 22antibióticos.

Demora

Quando um doente chega ao hospital, os médicos muitas vezes não conseguem identificar prontamente a causa da infecção, mas colocam o paciente sob antibióticos, para evitar que a doença se alastre, enquanto colhem amostras para investigar o problema.

Essa investigação é feita pelo laboratóriobenzema fifa 22microbiologia, que determina quais bactérias, fungos ou vírus são a causabenzema fifa 22determinada doença. Em países desenvolvidos, esses testes saembenzema fifa 22até duas horas, mas, no Brasil, médicos relatam que resultados podem levar até sete dias para ficar prontos.

"Se o laboratóriobenzema fifa 22microbiologia dá retorno rápido, o médico ajusta o tratamento. Isso traz resultados melhores para o paciente e reduz o tempo dele no hospital", explica José Martinsbenzema fifa 22Alcântara Neto, farmacêutico do Hospital Universitário Walter Cantídio,benzema fifa 22Fortaleza, quebenzema fifa 22fevereiro desse ano também implantou um programa para racionalizar o usobenzema fifa 22antibióticos.

Porém, quanto mais esses testes demoram, maior o riscobenzema fifa 22pacientes receberem antibióticos fortes demais, que atacam múltiplas bactérias ao mesmo tempo. Chamadosbenzema fifa 22amplo espectro, esses medicamentos são efetivos, mas selecionam mais bactérias resistentes.

"Quando chega o resultado, vejo se posso diminuir o espectro do antibiótico, se posso dar uma dose mais branda. Esse é o pulo do gato. Porque às vezes você está dando um tirobenzema fifa 22canhão na bactéria quando um tirobenzema fifa 22chumbinho resolveria", compara Mathiasi.

Desde 2014, o HCor diz ter reduzidobenzema fifa 2260% o usobenzema fifa 22antifúngicos ebenzema fifa 22carbapenêmicos, uma classebenzema fifa 22antibióticosbenzema fifa 22amplo espectro. A queda foi registrada na UTIbenzema fifa 22cardiopediatria, que faz cirurgiasbenzema fifa 22alta complexidadebenzema fifa 22crianças.

A instituição também reduziu à metade casosbenzema fifa 22diarréia causadas pela bactéria Clostridium difficile, que é associada ao usobenzema fifa 22antibióticos. "Conseguimos praticamente tudo: redução dos índicesbenzema fifa 22resistência,benzema fifa 22custo com antibióticos ebenzema fifa 22efeito adverso para os pacientes", enumera Mathiasi.

Bactéria

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Legenda da foto, Medicamentos que atacam múltiplas bactérias são efetivos, mas selecionam as mais resistentes

A passos lentos

O HCor faz partebenzema fifa 22uma redebenzema fifa 22220 hospitais nacionais que têm sido treinados dentrobenzema fifa 22um programa internacional da empresa farmacêutica MSD. A companhia diz que já levou a iniciativa a 26 países.

Oferecido gratuitamente, o programa faz parte dos esforços da companhia para que seus antibióticos durem mais. Com a capacidadebenzema fifa 22bactériasbenzema fifa 22se adaptar rapidamente aos medicamentos desenvolvidos para eliminá-las, remédios às vezes podem se tornar inúteisbenzema fifa 22poucos anos, gerando perdas às farmacêuticas.

A ideia é elogiada por especialistas, mas ainda está longebenzema fifa 22representar a realidade brasileira.

"Não estamos onde deveríamos estar," resume Ana Gales, coordenadora do Comitêbenzema fifa 22Resistência Antimicrobiana da Sociedade Brasileirabenzema fifa 22Infectologia. "Um programa como esse deveria estarbenzema fifa 22todos os hospitais brasileiros. Mas, como país subdesenvolvido, temos instituições onde isso está completamente implantado, mas outras que ainda nem começaram", diz.

Parte dos entraves é estrutural. O Brasil tem cercabenzema fifa 226,2 mil hospitais, e nem todos possuem laboratóriosbenzema fifa 22microbiologia, o que dificulta tratamentos precisos.

Um levantamento preliminar da Agência Nacionalbenzema fifa 22Vigilância Sanitária (Anvisa)benzema fifa 222015 indicou que o país tinha 660 laboratórios do gênero cadastradosbenzema fifa 22seu sistema - praticamente um para cada dez hospitais. A agência diz que abriu nova chamada para cadastrar essas instituições.

Também não há ainda um guia nacional para as instituições hospitalares. Aqueles que adotaram tais iniciativas recorreram a publicações internacionais, como a da Sociedade Americanabenzema fifa 22Doenças Infecciosas (IDSA, na siglabenzema fifa 22inglês).

Em nota, a Anvisa informou que trabalha desde novembrobenzema fifa 22uma diretriz nacional para hospitais e que irá publicá-la até o final do ano.

"Um modelo nacional vai sem dúvida estimular os hospitais a adotar o modelo", avalia Alcântara Neto, do Hospital Walter Cantídio. "Você imagina, vários hospitais do Ceará, trabalhando com uma mesma metodologia. Tem chancebenzema fifa 22dar resultados melhores."

Lucro

Outro entrave é comercial. Ainda perdurabenzema fifa 22muitos hospitais, principalmente privados, a visãobenzema fifa 22que usar antibióticos é uma prática lucrativa. As instituições, ao medicar pacientes, cobram dos convênios o uso desse medicamento, num modelobenzema fifa 22revenda, no qual garantem margembenzema fifa 22lucro.

Mas especialistas dizem que a prática está cada vez maisbenzema fifa 22declínio. "A gente já identifica que esse pagamento por serviçobenzema fifa 22antibiótico está morrendo. Poucos hospitais ainda sobrevivem disso", diz Mathiasi, do HCor.

Sylvia Hinrichsen, da UFPE, acredita que a mentalidade econômica do usobenzema fifa 22antibióticos e a culturabenzema fifa 22usar o medicamentobenzema fifa 22excesso precisam mudar por inteiro - e que o paciente também faz parte dessa mudança.

"Essa cultura vai precisar mudar porque a própria população vai começar a entender que não é para tomar antibiótico por 21 dias, não é para tomar quatro tiposbenzema fifa 22antibióticos numa tacada só", diz.

"Vai ser igual a quando começamos a usar cintobenzema fifa 22segurança - vamos entender que o riscobenzema fifa 22não utilizar corretamente pode ser fatal."