Os desconhecidos casosesportesdasorte appcrianças e bebês sequestrados na ditadura brasileira:esportesdasorte app

Essas 11 vítimas são filhosesportesdasorte appguerrilheiros eesportesdasorte appcamponeses que deram guarida ao movimento.

Os sequestrosesportesdasorte appcrianças foram realizados na primeira metade da décadaesportesdasorte app1970, durante as gestões dos generais-presidentes Emílio Garrastazu Médici - quando o ministro do Exército era Orlando Geisel, irmão do sucessoresportesdasorte appMédici - eesportesdasorte appErnesto Geisel. Era a fase mais graveesportesdasorte apprepressão da guerrilha do Araguaia.

Os 19 casos são listados no livro reportagem "Cativeiro sem fim", escrito por mim, Eduardo Reina.

Procurados na época da produção do livro, o Ministério da Defesa e os comandos do Exército e da Aeronáutica não responderam os questionamentos. Em entrevista a um livro publicado no ano passado, o general Eduardo Villas Bôas disse que relatos sobre o sequestroesportesdasorte appbebês na ditadura "carecemesportesdasorte appverossimilhança" (leia mais abaixo).

Em busca dos pais biológicos

"Vivo num pesadelo todo dia, ao pensar que minha mãe pode estar viva, precisandoesportesdasorte appmim", diz Rosângela Serra Paraná.

"Hoje vivo na angústiaesportesdasorte appnão saber quem eu sou, quantos anos eu tenho, e sequer saber quem foram ou quem são os meus pais", afirma.

Ela foi apropriada por Odyresportesdasorte appPaiva Paraná, integranteesportesdasorte appuma família tradicionalesportesdasorte appmilitares no Rioesportesdasorte appJaneiro.

Os pais apropriadoresesportesdasorte appRosângela Serra Paraná eram Odyresportesdasorte appPaiva Paraná e Nilza da Silva Serra. A família diz que a bebê fora adotadaesportesdasorte app1963.

Uma certidãoesportesdasorte appnascimento dá como dia do nascimento 1ºesportesdasorte appoutubroesportesdasorte app1963. Mas o registro só foi feitoesportesdasorte appcartórioesportesdasorte app22esportesdasorte appsetembroesportesdasorte app1967.

No documento elaborado no cartório do Catete, Rioesportesdasorte appJaneiro, está registrado que Rosângela é filha ilegítimaesportesdasorte appOdyr e Nilza. O documento não fornece o nome dos pais biológicos. Nilza, segundo a família, não podia gerar filhos.

Odyr é motoristaesportesdasorte appprofissão. Segundo Rosângela, o pai adotivo trabalhava como motorista para o general Ernesto Geisel. "Ele ficava com um carro preto, grande, que estava sempre limpando", recorda. Ambos frequentavam o sítio do general na cidadeesportesdasorte appTeresópolis, segundo Rosângela.

A certidãoesportesdasorte appnascimentoesportesdasorte appRosângela dá como localesportesdasorte appseu nascimento um imóvel na rua Marquêsesportesdasorte appAbrantes, 160, Flamengo, Rioesportesdasorte appJaneiro. O imóvel pertence à Rio Previdência, entidade dos servidores estaduais, que o comprouesportesdasorte app1958,esportesdasorte appacordo com a certidão do imóvel.

A mesma certidãoesportesdasorte appnascimento possui duas testemunhas. Uma é Alcindo Quintino Ribeiro, proprietárioesportesdasorte appum prédio onde a família Serra Paraná morou.

A outra é Paulo Cardosoesportesdasorte appOliveira, motoristaesportesdasorte appprofissão, como Odyr. O endereçoesportesdasorte appresidência dessa testemunha, porém, não existe.

O paiesportesdasorte appOdyr, Arcy Paraná, era militar. De acordo com o Diário Oficial, ele chegou ao postoesportesdasorte appsargento. Na décadaesportesdasorte app50, foi promovido e começou a trabalhar no setor administrativo do Exército.

Os casosesportesdasorte appJuracy e Miracy

Na região da guerrilha do Araguaia, no início da décadaesportesdasorte app1970, os militares sequestraram dois meninosesportesdasorte appuma mesma família.

O primeiro, Juracy Bezerraesportesdasorte appOliveira, é protagonistaesportesdasorte appum equívoco das forças militares. O alvo seria Giovani, filhoesportesdasorte appum dos líderes da guerrilha, Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão, com uma mulheresportesdasorte appnome Maria.

Em 1972 ou 1973, Juracy tinha cercaesportesdasorte appsete anosesportesdasorte appidade. As forças militares pensavam que ele era o verdadeiro filho do guerrilheiro Osvaldão com Maria Viana da Conceição. Mas a mãeesportesdasorte appJuracy era Maria Bezerraesportesdasorte appOliveira, e o pai, Raimundo Mourãoesportesdasorte appLira.

A confusão no sequestro teria ocorrido porque os soldados estavam à procuraesportesdasorte appum meninoesportesdasorte apppele escura, com idade entre seis e oito anos, filhoesportesdasorte appuma mulher branca,esportesdasorte appcorpo grande e olhos claros, cujo nome era Maria. Encontraram a mãeesportesdasorte appJuracy com as mesmas características e levaram o menino.

Seu destino foi Fortaleza, depoisesportesdasorte appter sido torturado e queimado numa fogueira num acampamento militar dentro da selva, após um militar ter sido alvejado durante trocaesportesdasorte apptiros com os guerrilheiros.

Acabou sendo apropriado pelo tenente do Exército Antônio Essílio Azevedo Costa, que o registrouesportesdasorte appcartório como se fosse seu filho legítimo, e conviveu com a família do tenente por muitos anos.

"Um dia chegaram e me levaram. Minha mãe, nem lembro o que ela fez. Eu era um menininho quando Exército me levou. Fiquei 15 dias no meio do mato. Me deram muita peia. Bateram, machucaram", diz a vítima.

O sequestrado ficou com uma das mãos deformada devido às queimaduras que sofreu. Ele conta que os soldados resolveram puni-lo por achar que seu pai havia matado um militar.

Depois, na cidadeesportesdasorte appFortaleza, Juracy foi criado pela mãe do tenente Antônio Essílio.

No início dos anos 2000, resolveu retornar à região do Araguaia, ainda pensando que fosse filhoesportesdasorte appOsvaldão.

Ao chegar, encontrou Antônio Viana da Conceição e descobriuesportesdasorte appverdadeira história. Reencontrou a mãe biológica, Maria Bezerraesportesdasorte appOliveira, quando descobriu que um irmão seu, Miracy, também havia sido levado pelos militares.

Hoje ele vive numa ilha no meio do rio Araguaia.

Irmãoesportesdasorte appJuracy, Miracy tinha a pele clara e olhos claros, ao contrário do irmão. Foi levado pelo sargento João Lima Filho para a cidadeesportesdasorte appNatal, no Rio Grande do Norte, tambémesportesdasorte app1972 ou 1973.

Anos mais tarde, Juracy e a mãe, Maria Bezerraesportesdasorte appOliveira, foram à procuraesportesdasorte appMiracy. Mas não encontraram nenhuma pista do sargento que o levou; nem conseguiram informaçõesesportesdasorte appquarteis do Exércitoesportesdasorte appNatal sobre o paradeiro do militar.

Giovani

Depois do sequestro equivocadoesportesdasorte appJuracy, os militares encontraram Giovani, filhoesportesdasorte appOsvaldão e Maria Viana da Conceição. O garoto tinha entre quatro e cinco anosesportesdasorte appidade quando foi levado, segundo conta outro filhoesportesdasorte appMaria, Antônio Viana da Conceição.

O sequestro ocorreuesportesdasorte app1973, na cidadeesportesdasorte appAraguaína, atual Tocantins. A existência desse filho do guerrilheiro no Araguaia é revelada também por Sebastião Rodriguesesportesdasorte appMoura, o major Curió, hoje militar da reserva do Exército e responsável pela caçada aos guerrilheiros do PCdoB a partiresportesdasorte app1973 no Araguaia.

O paradeiroesportesdasorte appGiovani é desconhecido.

Ainda no Araguaia foi sequestrada Lia Cecília da Silva Martins, filha do guerrilheiro Antônio Teodoroesportesdasorte appCastro, o Raul.

Lia foi levada para um orfanato que pertencia a um tenente da Aeronáutica,esportesdasorte appBelém do Pará. Foi adotada por um casal que trabalhava na entidade.

Seis filhosesportesdasorte appcamponeses também foram tiradosesportesdasorte appsuas famílias biológicas e levados para quarteis do Exército,esportesdasorte apponde teriam sido liberados tempos depois. José Vieira; Antônio José da Silva, Antoninho; José Wilsonesportesdasorte appBrito Feitosa, Zé Wilson; Joséesportesdasorte appRibamar, Zé Ribamar; Osniel Ferreira da Cruz, Osnil; e Sebastiãoesportesdasorte appSantana, Sebastiãozinho.

Somente José Vieira foi localizado. Ele é filhoesportesdasorte appLuiz Vieira, um agricultoresportesdasorte appsubsistência e morador na regiãoesportesdasorte appSão Domingos do Araguaia. Luiz foi morto pelas forças militares.

"Aquelas pessoas que conheciam o povo da mata (como os guerrilheiros eram chamados) foram atacados pelas tropas. O pessoal que tava no mato foi atacado. Depois me prenderam. Aí, quando eu saí, já fiquei toda vida dentro do Exército", conta José Vieira.

Houve ainda casosesportesdasorte appsequestroesportesdasorte appbebês e crianças no Paraná, Pernambuco e Mato Grosso.

Respostas militares

Procuradosesportesdasorte app2018, quando o livro "Cativeiro sem fim" estava sendo produzido, o Ministério da Defesa, o Exército e a Aeronáutica não responderam aos questionamentos enviados.

O Ministério da Defesa sugeriu que novas solicitações fossem enviadas aos comandos do Exército, da Aeronáutica e da Marinha, alegando que as informações solicitadas estariam custodiadas sob o comando desses órgãos militares.

O Exército respondeu que "a Instituição esclarece que nada tem a informar sobre o assunto".

A Aeronáutica alegou que "em 16esportesdasorte appnovembroesportesdasorte app2009, a Procuradoria-Geralesportesdasorte appJustiça Militar manifestou interesse na análise dos documentos produzidos e acumulados pelo Comando da Aeronáutica, do períodoesportesdasorte app1964 a 1985. Nesse sentido,esportesdasorte app3esportesdasorte appfevereiroesportesdasorte app2010, o acervo, contendo 212 caixas com 49.867 documentos, foi recolhido à Coordenação Regional do Arquivo Nacional do Distrito Federal (COREG), onde sãoesportesdasorte appdomínio público, onde talvez possa realizaresportesdasorte apppesquisa".

No ano passado,esportesdasorte appentrevista publicada no livro "General Villas Bôas - conversa com o comandante",esportesdasorte appautoriaesportesdasorte appCelso Castro, da Fundação Getúlio Vargas, o militar questionou a ocorrênciaesportesdasorte appsequestrosesportesdasorte appcrianças na ditadura.

"Recentemente, alguém ligado aos direitos humanos trouxe à tona um tópico sobre o qual nunca ouvi falar,esportesdasorte appque cento e tantas crianças teriam sido sequestradas e afastadas dos pais. Essa e outras narrativas, a exemploesportesdasorte appum suposto massacreesportesdasorte appíndios, na abertura da BR-174, que liga Manaus a Boa Vista, carecemesportesdasorte appverossimilhança e contribuem para a faltaesportesdasorte appisenção na conclusão das apurações", afirmou Villas Bôas.

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