Gravidez na infância: os riscos à vidajovem pan esportesuma gestação precoce:jovem pan esportes

jovem pan esportes Em um corpo imaturo e aindajovem pan esportesdesenvolvimento, uma gravidez aumenta as chancesjovem pan esportesmorte para a gestante e também os riscosjovem pan esportescomplicações graves — desde perda do útero até necessidadejovem pan esportesinternaçãojovem pan esportesUTI.

A gravidez na infância voltou aos holofotes nesta semana após o site The Intercept Brasil e o Portal Catarinas revelarem o casojovem pan esportesuma menina catarinensejovem pan esportes11 anos que engravidoujovem pan esportesdecorrênciajovem pan esportesum estupro e, apesarjovem pan esportester direito a um aborto legal e ter manifestado esse desejo, ficou um mêsjovem pan esportesum abrigo por determinação da Justiça, para impedi-lajovem pan esportesseguir adiante com o procedimento.

É um dos casosjovem pan esportesque a gravidez se torna uma violência contra a mulher, diz à BBC News Brasil o obstetra Olímpio Moraes Filho, diretor do Centro Integradojovem pan esportesSaúde Amauryjovem pan esportesMedeiros (Cisam), hospital ligado à Universidadejovem pan esportesPernambuco que é referênciajovem pan esportessaúde reprodutiva feminina.

Dois anos atrás, foi no Cisam que se desenrolou outro caso dramático do tipo: uma meninajovem pan esportes9 anos estuprada pelo tio teve a gravidez interrompida ali depoisjovem pan esportester tido esse direito negadojovem pan esportesseu Estado natal, Espírito Santo.

Apesarjovem pan esportesalgumas meninas já menstruarem a partir dos 9 ou 10 anosjovem pan esportesidade, a puberdade precoce ligada a questões sociais e hormonais não significa que o corpo delas esteja preparado para gestar ou parir, explica Melania Amorim, professorajovem pan esportesginecologia e obstetrícia da Universidade Federaljovem pan esportesCampina Grande e coautorajovem pan esportesdiretrizes nacionais relacionadas a procedimentos obstétricos.

Na fasejovem pan esportescrescimento do corpo, "em muitas meninas, os ossos da pélvis não estão formados, então o parto vaginal é muito difícil", diz Amorim. Mesmo com cesárea, há riscosjovem pan esportessangramento excessivo, anemia, eclâmpsia (hipertensão na gravidez), partos prematuros, rompimento do útero, necessidadejovem pan esportestransfusãojovem pan esportessangue ou internaçãojovem pan esportesUTI.

"Dados mostram que, quando o corpo está imaturo, a chancejovem pan esportesmorte é quatro ou cinco vezes maior do quejovem pan esportesuma gravidezjovem pan esportesmulheresjovem pan esportes20 a 24 anos. Isso ainda é matematicamente pequeno, mas os riscosjovem pan esportescomplicações graves são altos,jovem pan esportesaté 10%", afirma Olímpio Moraes.

"Tudo isso fora a dignidade humana, a saúde mental delas -jovem pan esportesuma criança ser mãejovem pan esportesoutra criança. É um dano gravíssimo", avalia Moraes. "A gravidez nessa circunstância é uma tortura - tanto que é comum que essas meninas não façam pré-natal, escondam a gestação ou tentem suicídio."

"Mesmojovem pan esportesmeninas mais velhas, ejovem pan esportescasosjovem pan esportesgravidez desejada e idealizada, acaba sendo uma catástrofe, porque aumenta a chancejovem pan esporteselas abandonarem a escola, perderem seus projetosjovem pan esportesvida e perpetuarem ciclosjovem pan esportespobreza", afirma Melania Amorim.

Atender gestaçãojovem pan esportescrianças é um desafio particular porque "estamos lidando com meninas que podem ter pontosjovem pan esportescomum com adolescentes, mas são crianças no sentido legal, psicológico e físico", explica o obstetra Jefferson Drezett, que por décadas coordenou o Ambulatóriojovem pan esportesViolência Sexual ejovem pan esportesAborto Legal do Hospital Pérola Byington,jovem pan esportesSão Paulo.

"Muitas nunca fizeram um exame ginecológico antes nem têm o entendimento da situação."

A interrupção da gravidezjovem pan esportescasosjovem pan esportesestupro é legal no Brasil, assim como no casojovem pan esportesriscos à saúde materna oujovem pan esportesanencefalia do feto.

No entanto, Olímpio Moraes explica quejovem pan esportesmuitos hospitais brasileiros esse direito não é garantido às mulheres. Por esse motivo, o Cisam, no Recife, costuma receber pacientesjovem pan esportesvários Estados do Brasil.

No casojovem pan esportesSanta Catarina, a menina e a mãe procuraram atendimento no hospital Universitário Polydoro Ernanijovem pan esportesSão Thiago,jovem pan esportesFlorianópolis, segundo o Intercept. No entanto, o estabelecimento não aceitou fazer imediatamente a interrupção da gravidez, porque ela havia passado das 22 semanas — apesarjovem pan esporteso Código Penal não prever limite à idade gestacional.

O caso foi judicializado, e a juíza Joana Ribeiro Zimmer decidiu por colocar a criançajovem pan esportesum abrigo — decisão revertidajovem pan esportes21jovem pan esportesjunho. No vídeo tornado público pelo Intercept, a juíza pergunta à menina se ela "suportaria ficar mais um pouquinho" grávida, para ampliar as chancesjovem pan esportesvida extrauterina do bebê.

"Isso tudo é muito mais arriscado do que um aborto seguro, mesmo na idade gestacionaljovem pan esportesque a menina se encontrava", aponta Melania Amorim.

Jefferson Drezett concorda.

"Quanto mais se protela (a interrupção), maiores os riscos. Ninguém na medicina é capazjovem pan esportesdefinir se alguém vai morrer ou não. Mas nesse caso, nessa faixa etária, posso dizer, sem nenhum tipojovem pan esportesdúvida, que o risco da morte (da menina mantendo a gestação) é muitas vezes maior do que realizar um aborto", argumenta.

"Mas parece que isso não teve importância. A perceção éjovem pan esportesque houve um esforço muito maior para impedir que essa gestação fosse interrompida do que para proteger essa menina. É uma desigualdade - como se o feto fosse mais importante do que ela,jovem pan esportesuma vida que já existe."

"Se há jurisprudência e é legal, por que a juíza nega (o direito à interrupção da gravidez)?", questiona Olímpio Moraes.

"Imagina então como os médicos se sentem insegurosjovem pan esportesrealizar a prática. (...) O médico morrejovem pan esportesmedojovem pan esportesser processado. Em uma bola dividida (de um aborto que pode ser questionado), ele prefere fazer o que não vai causar problema para ele", afirma — criticando também o fatojovem pan esportesmuitos médicos alegarem "objeçõesjovem pan esportesconsciência" para não aceitar interromper gestações, apesarjovem pan esporteso direito à saúde se sobrepor a isso.

"Claro que se for a filha dele (quem foi estuprada e precisajovem pan esportesum aborto), 'tudo bem'. Mas sempre digojovem pan esportesminhas aulas: não tem um códigojovem pan esportesética médica para as pessoas que eu amo e um outro código diferente para pessoas pobres."

Nesta quarta-feira (22/6), o Ministério Público Federal recomendou que o hospitaljovem pan esportesFlorianópolis "garanta a pacientes que procurem o serviçojovem pan esportessaúde a realizaçãojovem pan esportesprocedimentosjovem pan esportesinterrupção da gestação nas hipótesesjovem pan esportesaborto legal (...) independentemente da idade gestacional e peso fetal, sendo desnecessária qualquer autorização judicial ou comunicação policial" - no caso específico da meninajovem pan esportes11 anos, "caso ela venha a procurar o hospital e manifeste consentimento atravésjovem pan esportesrepresentante legal".

A Federação Brasileira das Associaçõesjovem pan esportesGinecologia e Obstetrícia (Febrasgo) emitiu nota nesta quarta-feira (22/6) reforçando que "nos casos já previstosjovem pan esporteslei (gravidez resultantejovem pan esportesestupro, riscojovem pan esportesvida à gestante e anencefalia fetal), não há necessidadejovem pan esportessolicitar autorização judicial para o tratamento".

Além disso, diz a federação, "o atraso do tratamento colocajovem pan esportesrisco a saúde das meninas e mulheres que já têm o direito garantido e provoca desnecessária insegurança jurídica aos profissionaisjovem pan esportessaúde. O consentimento da menor e a autorizaçãojovem pan esportesum dos pais ou responsável são suficientes".

Dados tabuladosjovem pan esportes2020 pela BBC News Brasil pelo Sistemajovem pan esportesInformações Hospitalares do SUS, do Ministério da Saúde, apontava que o Brasil registrava,jovem pan esportesmédia, ao menos seis abortos por diajovem pan esportesmeninasjovem pan esportes10 a 14 anos.

Segundo o Fórum Brasileirojovem pan esportesSegurança Pública, desde 2018, mais da metade das vítimasjovem pan esportesviolência sexual que formalizam suas denúnciasjovem pan esportesdelegacias têm 13 anos ou menos.

"Quando um caso desse (como ojovem pan esportesSanta Catarina) acontece, você humaniza a questão", avalia Moraes. "O abortamento precisa ser tratado com humanidade e com evidências científicas. As pessoas não são criminosas, elas precisamjovem pan esportesajuda."

- Este texto foi publicado originalmentejovem pan esporteshttp://bbc.co.ukhttp://www.mi-rob.com/brasil-61902856

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