'Pauta moral é o votocard guard pokercabresto religioso', diz diretorcard guard pokerpolítica da CNBB:card guard poker
- Edison Veiga
- De Bled (Eslovênia) para a BBC News Brasil

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card guard poker A religião tornou-se um dos pontos centrais do debate político nacional no segundo turno das eleições brasileiras, com grande polêmicacard guard pokertornocard guard pokerpautas sobre moralidade.
O padre Paulo Adolfo Simões acompanha atentamente o fenômeno. Diretor do Centro Nacionalcard guard pokerFé e Política Dom Helder Câmara (Cefep), organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ele afirma que o uso político das pautas religiosas se tornou uma espéciecard guard poker"votocard guard pokercabresto religioso" —card guard pokerreferência à práticacard guard pokerabusocard guard pokerpoder econômicocard guard pokeragentes (como coronéis ou fazendeiros) para obrigar eleitores a votarem nos seus candidatos.
No caso da religião, essa coersão se daria por meiocard guard pokerlíderes religiosos, que utilizam o discurso da moralidade para influenciar o votocard guard pokerseus seguidores.
"Surge esse novo perfilcard guard pokerreligiosos, que foi construído também com algumas intenções. Eles trazem para o debate a pauta moral, que é para capturar os votos desses rebanhos. É o votocard guard pokercabresto religioso. Os fiéiscard guard pokerdeterminada igreja (...) vão todos para aquele candidato", afirma.
De seu escritóriocard guard pokerBrasília, Simões atendeu à reportagem da BBC News Brasil nesta terça-feira (18/10),card guard pokeruma conversacard guard pokerquase duas horas por videoconferência onde fez críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL), que disputa a reeleição contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Ele se diz católico, mas é tudo ao mesmo tempo. A pauta dele não é dos católicos, não e dos evangélicos. A pauta dele é dele, é da extrema-direita. E onde dá voto, ele vai", comenta Simões, que disse apoiar Lula, por ele apresentar "uma proposta que tem mais a ver com o evangelho".

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"Ele se diz católico, mas é tudo ao mesmo tempo", diz padre Paulo Adolfo Simões sobre Bolsonaro
O padre comenta também diferentes episódioscard guard pokeracirramento dos ânimos por contacard guard pokerdiscussões relogiosas — como a visitacard guard pokerBolsonaro à Aparecida no dia 12; um padre que teve a missa interrompida no Paraná; e o assédio virtual ao cardeal arcebispocard guard pokerSão Paulo, dom Odilo Pedro Scherer, por contacard guard pokersuas vestes vermelhas, cores litúrgicas correspondentes ao seu posto.
"É muito fácil chamar todo mundocard guard pokercomunista. Sobrou até para o cardeal dom Odilo, que, aliás, se defendeu muito bem. Achei a fala dele muito boa, alertando para o crescimento do nazifascismo no Brasil", afirma o diretor do Cefep.
O padre lembra que a CNBB, que acabacard guard pokercompletar 70 anoscard guard pokerhistória, nunca se furtou a posicionar-se politicamente. O organismo foi ativo na oposição a ditadura militar que comandou o paíscard guard poker1964 a 1985, defendeu o impeachmentcard guard pokerFernando Collorcard guard pokerMello,card guard poker1992, e tem publicado diversos posicionamentos contra atos do governo Bolsonaro, especialmente quando afetam políticas públicascard guard pokeramparo social oucard guard pokerproteção a minorias.
Além disso, anualmente, a instituição promove a Campanha da Fraternidade, quecard guard pokerforma recorrente debate temas sociais e políticos.

Padre Paulo Adolfo Simões é diretor desde marçocard guard poker2019 do Centro Nacionalcard guard pokerFé e Política Dom Helder Câmara (Cefep)
A seguir, os principais trechos da entrevista.
card guard poker BBC News Brasil - Muitos católicos,card guard pokercerta forma para se proteger, estão optando por não falarcard guard pokerpolítica, não se manifestar politicamente. Como é ser político dentro da Igreja?
card guard poker Padre Paulo Adolfo Simões - Não tem nada mais político do que se dizer apolítico. Quem ficacard guard pokercima do muro toma uma posição. Construímos um projeto [de conscientização] com foco nas eleições, mas é mais amplo: o projeto Encantar a Política. O pontocard guard pokerpartida é exatamente isso: existe uma noçãocard guard pokerque política é só militância partidária, eleitoral. E outra ideiacard guard pokerque política é coisa muito suja, que não dialoga com religião.
Qual a percepção que a gente tem? Que as duas ideias não são espontâneas, são uma construçãocard guard pokerquem está no poder. Sempre para que o povo não participe das decisões que afetamcard guard pokervida, é como se deixássemos nas mãos da mesma elite que vem desde o Brasil colonial definindo os destinos do país ou,card guard pokeroutra leitura, uma certa elitecard guard pokeriluminados que goste maiscard guard pokerpolítica. Entendemos que a militância partidária e, sobretudo, eleitoral, é fundamental.
É importante o cristão e a cristã que se sente chamado assumir isso com todo o ônus que isso traz. Mas não é a única formacard guard pokerfazer política. Você faz políticacard guard pokermuitas formas, como nos sindicatos, nas associações, nos conselhoscard guard pokerdireitos e até no atocard guard pokerir à igreja,card guard pokernão ir,card guard pokerparticiparcard guard pokerum evento social,card guard pokerpronunciar-se ou se calar diantecard guard pokeralguma questão. São atos políticos.
A grande pergunta que a gente temcard guard pokerfazer é a seguinte: minha militância política écard guard pokerfavorcard guard pokerquem? Aí é a perguntacard guard pokerPaulo Freire [educador brasileiro que viveu entre 1921 e 1997]: é a favor dos opressores ou dos oprimidos? Estou a favor da maioria empobrecida ou a favorcard guard pokermanter o status quo? E às vezes isso se mistura um pouco. Na prática,card guard pokerrepente, você está defendendo a causa dos pobres e mantendo um grupo no poder. Ou,card guard pokerrepente, você está ajudando a manter um grupo no poder e,card guard pokeralguma forma, também beneficiando os pobres. As coisas são muito complexas, mas o importante é isso. Não dá para separar fécard guard pokerpolítica.
O Frei Betto [frade dominicano e escritor] tem uma frase muito interessante. Ele fala que nós somos seguidorescard guard pokerum preso político, que é Jesus. Jesus Morreu por uma condenação política, e não religiosa. Jesus não morreu atropelado por um camelo nas ruascard guard pokerJerusalém, nemcard guard pokergripe na cama. Ele morreu por uma condenação política. Ele não morreu condenado religiosamente, morreu por uma questão política. Isso não nos permite sermos omissos. Podemos até errar nas opções, mas precisamos fazê-las.

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"Tanto a Igreja Católica quanto os campos progressistas, acho que ainda não conseguimos falar com o povãocard guard pokerforma direta, sobretudo usando as mídias sociais. E a extrema-direita faz isso muito bem", diz Simões
card guard poker BBC News Brasil - Por falarcard guard pokeropções, como o senhor vê a polarização atual da política brasileira?
card guard poker Simões - A gente tem falado que a polarizaçãocard guard pokersi não é tão ruim, pois atravéscard guard pokerdois polos você pode fazer uma síntese. E sempre tivemos no Brasil uma polarização.
O problema é essa polarização violenta, que faz com que alguns até deixemcard guard pokerse posicionar por medocard guard pokeralguma reação, risco atécard guard pokerviolência física oucard guard pokercontaminar o ambiente familiar,card guard pokertrabalho. Essa é uma questão muito séria. A percepção internacional é que essa polarização é uma forma da extrema-direita dar um cala-bocacard guard pokerquem pensa diferente, criando justamente issocard guard pokerque as pessoas,card guard pokernome da boa convivência, evitem falarcard guard pokerpolítica, evitem se posicionar.
No Brasil, eu percebo que, politicamente, não temos uma polarização. Temos uma extrema-direita, violenta e tal, mas não temos uma extrema-esquerda, ao menos não uma extrema-esquerda que seja representativa. Não temos ninguém defendendo a invasãocard guard pokerterras, ninguém defendendo a estatizaçãocard guard pokerbancos, nada disso. Temos um campo representado pelo candidato Lula [Luiz Inácio Lula da Silva], pelo PT, que congrega outros partidos e inclui hoje muitos que defendem políticas liberais, que são maiscard guard pokercentro. São políticascard guard pokercentro. Não temos uma extrema-esquerda militante, então a polarização é complicadacard guard pokerser analisada.
Percebo que é mais uma tentativacard guard pokerinviabilizar o discurso político e propiciar uma ascensão da extrema-direita, que é, inclusive como [o cardeal arcebispocard guard pokerSão Paulo] Odilo Scherer alerta, o surgimento, o crescimento do nazifascismo no Brasil. Uma coisa muito séria, muito grave.
card guard poker BBC News Brasil - É esta gravidade que fez com que houvesse uniãocard guard pokertorno do Lula, emcard guard pokeropinião?
card guard poker Simões - O [ex-presidente] Fernando Henrique ao ladocard guard pokerLula é muito simbólico. Até o [fundador do partido novo, João] Amoêdo, quando manifesta o votocard guard pokerLula. A questão que une todo esse grupo é a defesa da democracia, que é um bem maior, que está acima das ideologias e do modelo econômico. Porque num sistema democrático você pode discutir o modelocard guard pokerpaís.
Se não tem o sistema democrático, não sabemos se vai poder discutir alguma coisa. Esta é a grande questão. […] O crescimento desta extrema-direita, inclusive católica e religiosa, indica que o brasileiro,card guard pokergeral, é conservador. E até os governos populares, com alguns avanços, acabaram ferindo o pensamento dessas pessoas que agora querem se manifestar. […] O momento é importante par a gente enfrentar e mostrar para essa extrema-direita, sobretudo cristãos católicos que estão se posicionando nesse espectro, que há outro pensamento, outra possibilidade. Que não podemos cair no extremismo. E as pessoas precisam entender o que é fascismo.
card guard poker BBC News Brasil - Mas esse discurso chega à população?
card guard poker Simões - Não sei muito se esse discursocard guard pokerdemocracia e fascismo interessa à populaçãocard guard pokergeral, que quer ter comida na mesa. O pessoal está preocupado se tem alguma coisa na geladeira, se sobra um dinheirinho no fimcard guard pokersemana, se vai dar para tirar férias. Se isso vem da democracia oucard guard pokeruma ditadura, para o povo, pouco importa. Aí vem um fator interessante, preocupação da Cefep: a faltacard guard pokerdiscussão política que nós temos.
Precisamos trabalhar mais, as pessoas não só não querem atuar politicamente como não querem discutir política, fogem disso. Precisamos formar o nosso povo, trabalhar para que as pessoas percebam que, num sistema democrático, com um governo mais progressista, a comida chega na mesa para todos e para todas. E os direitos estão garantidos para as minorias. No outro sistema a gente não sabe se um dia vai chegar [a comida]. Mas tanto a Igreja Católica quanto os campos progressistas, acho que ainda não conseguimos falar com o povãocard guard pokerforma direta, sobretudo usando as mídias sociais. E a extrema-direita faz isso muito bem.

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Códigocard guard pokerDireito Canônico proíbe padres e bisposcard guard pokermanifestarem apoio a candidatos
card guard poker BBC News Brasil - Gruposcard guard pokerWhatsAppcard guard pokercatólicos, mesmo aqueles criados com o objetivocard guard pokerpromover rezas comunitárias e confraternizações entre pessoas da mesma paróquia, estão dominados por postscard guard pokerdefesacard guard pokerBolsonaro e com críticas a um suposto comunismo. Há até vídeos, que viralizam,card guard pokerpadres fazendo novenas e pedindo orações a favor da reeleição do atual presidente, citando-o nominalmente. Há alguma orientação da Igreja para que padres não se posicionem dessa forma?
card guard poker Simões - Sim. Tem inclusive uma posição do próprio [Código de] Direito Canônico que diz que padres e bispos não devem manifestar apoio a candidatos. O papel da Igreja é orientar a consciência do cristão, dar informação para que as pessoas possam tomar acard guard pokerposição. O que temos no Brasilcard guard pokerhoje é que enquanto sempre se tomou muito cuidado com quem se posiciona a favorcard guard pokeralguma proposta políticacard guard pokeresquerda, não se toma cuidado com quem se posiciona a favor da direita. Não se tem nenhum cuidado com quem se posiciona a favor do candidato Bolsonaro.
Aí ficamos numa situação complicada. Parece que somos muito ingênuos ainda com relação a isso, embora tenha essa orientação, a extrema-direita já trouxe essa questão para o centro do debate. E, nesse momento eleitoral, seria muito ingenuidade não nos posicionarmos. Isto [este silêncio] está contribuindo para que os católicos pensem que todos os padres, bispos e religiosos estão com Bolsonaro.
card guard poker BBC News Brasil - Mas se está previsto no Direito Canônico, esses padres podem ser punidos?
card guard poker Simões - O bispo [da diocese onde ele atua] pode tomar posição com relação a eles. Mas até agora não foi tomada nenhuma posição, então parece que os bispos ou estão temerosos, ou estão a favor [desse tipocard guard pokermanifestação bolsonarista].
card guard poker BBC News Brasil - O bispo pode suspender ou apenas advertir?
card guard poker Simões - Seria uma advertência. Tenho notíciacard guard pokerque alguma diocese, depois que padres bolsonaristas se posicionaram, outros tomaram posição também [a favorcard guard pokerLula]. O bispo tentou conversar com todo mundo. […] Aí houve um acordo entre eles e aceitaram a orientação do bispo.

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Segundo Simões, católicocard guard pokergeral "escuta o que diz o padre, o bispo, mas votacard guard pokeracordo comcard guard pokerconsciência"
card guard poker BBC News Brasil - Por que nestas eleições a religião assumiu papel tão importante?
card guard poker Simões - São vários fatores que se entrelaçam. Um deles é que esta extrema-direita sabe que o eleitor evangélico segue um determinado pastor. E o eleitor católico que pertence a um grupo tradicionalista, normalmente ligado à Renovação Carismática [movimento ultraconservador do catolicismo], esse eleitor é muito fiel a seu chefe. Ele votacard guard pokerquem manda o padre, o pastor, o guru. Diferentemente do católicocard guard pokergeral que escuta o que diz o padre, o bispo, mas votacard guard pokeracordo comcard guard pokerconsciência, que é aquilo que a teologia moral ensina: o católico temcard guard pokerseguircard guard pokerconsciência.
Então surge esse novo perfilcard guard pokerreligiosos, que foi construído também com algumas intenções.
Eles trazem para o debate a pauta moral, que é para capturar os votos desses rebanhos. É o votocard guard pokercabresto religioso. Os fiéiscard guard pokerdeterminada igreja,card guard pokerdeterminado coletivocard guard pokercatólicos vão todos para aquele candidato. E então entra o populismo: o político percebe qual a índole do seu eleitorado e passa a assumir o discurso daquele grupo. Nem sempre ele acredita nisso.
O Bolsonaro, por exemplo, é contra o aborto, mas já defendeu a liberdade do casalcard guard pokerabortar. […] Enfim, [os políticos] não acreditam nessas pautas. Essa é uma questão. É um eleitorado fácilcard guard pokerser comprado, isso se percebe claramente. Esse eleitorado é composto por grupos normalmente com baixa formação cristã no sentido crítico. É uma formação que vai mais na linhacard guard pokerum treinamento para repetir alguns chavões.
Até usam, por exemplo, a Doutrina Social da Igreja [conjuntocard guard pokerorientações sociais do magistério católico] para dizer que a Igreja condenou o comunismo, mas também não definem o que é o comunismo. Repetem à exaustão uma fala do papa Pio 11 [que comandou a Igrejacard guard poker1922 a 1939], uma fala muito específica e [ignoram que] depois esse pensamento evoluiu.
Isso é muito claro: é um grupo muito fácilcard guard pokerser manipulado.
card guard poker BBC News Brasil - E a pautacard guard pokercostumes parece "colar"…
card guard poker Simões - Eleitoralmente é o principal. Quando você traz a pautacard guard pokercostumes, fala que um candidato é a favor do aborto, fala que um candidato vai colocar banheiro unissex nas escolas, fala essa bobeira toda, essas fake newscard guard pokergruposcard guard pokerWhatsApp, você não discute as grandes questões do país.
Não se discute a fome, a pobreza, o desmonte das políticas públicas, o desmonte e o descrédito das instituições que é o mais sério que essa extrema-direita faz. Isso é muito grave. A pautacard guard pokercostumes é a cortinacard guard pokerfumaça para que não se pautem questões sérias e, mais ainda, não se apresentem programascard guard pokergoverno.
Para mim, é discurso para enganar bobo. Você pode ser contra tudo isso, mas nenhuma lei vai obrigar tudo isso. É uma democracia. A gente depende da democracia, uma lei que possibilita que quem quer, faça, mas que dentro da Igreja, da comunidade, eu possa ser contra, orientar meus fiéis. Mas politicamente é tudo irrelevante. A gente não está discutindocard guard pokerfato o que leva a morte das pessoas, que é a pobreza, que é a economia.
card guard poker BBC News Brasil - Afinal, a Igreja tem alguma orientação no sentidocard guard pokerque os fiéis não votemcard guard pokercandidatos que defendam questões que vão contra a doutrina da própria Igreja? Um católico deve escolher o político conforme o catecismo?
card guard poker Simões - Papa Francisco, quando veio ao Brasil [em 2013], na entrevista ocorrida no avião um jornalista perguntou para ele se ele não ia falar contra o aborto. Ele respondeu que todo mundo já sabe que a Igreja é contra o aborto e não precisamos repetir isso à exaustão. Todos os assuntos são muito complexos. A Igreja é contrária a essas pautas, mas se você vai votar ou nãocard guard pokercandidato que defende essas pautas, é outra questão.
Tem muito padre dizendo que católico não pode participarcard guard pokerpartidocard guard pokeresquerda. Mas o cristão,card guard pokergeral, é chamado a ser missionário, a viver o evangelho. O missionário estácard guard pokertodo lugar que possibilite a fala. Muitos cristãos vêm conversar e se manifestar dizendo que pela falacard guard pokeralguns padres, católicos não podem participarcard guard pokerpartidoscard guard pokeresquerdas porque estes são comunistas.
Primeiro precisa definir o que é comunismo e o que são comunistas. Porque se você pega os Atos dos Apóstolos [livro do Novo Testamento, que narra os acontecimentos vividos pelos primeiros seguidorescard guard pokerJesus logo após a morte dele], a proposta da Bíblia é comunista. Até mais radical. Por exemplo, Maria no Magnificat [cântico cuja autoria é atribuída à mãecard guard pokerJesus, conforme citação no Evangelhocard guard pokerLucas] fala não só para colocar comida nas mesas dos pobres como para despedir os ricoscard guard pokermãos vazias.
O comunismo não chegou a isso. Então Maria era mais comunista do que eles. O cristão católico — e a doutrina da Igreja vai nesta linha — é sobretudo um missionário. O missionário falacard guard pokertodos os espaçoscard guard pokerque é permitida a fala. Ele só não deve estar nos espaços onde a fala é tolhida. E aí temos bons cristãos católicos ecard guard pokeroutras denominações religiosas,card guard pokeroutras igrejas, que militam tantocard guard pokerpartidoscard guard pokeresquerda quantocard guard pokerpartidoscard guard pokerdireita. Não sei se oscard guard pokerextrema-direita são cristãoscard guard pokerverdade, mascard guard pokerdireita a gente conhece.

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"Quando você traz a pautacard guard pokercostumes, fala que um candidato é a favor do aborto, fala que um candidato vai colocar banheiro unissex nas escolas, fala essa bobeira toda, essas fake newscard guard pokergruposcard guard pokerWhatsApp, você não discute as grandes questões do país", diz Simões
card guard poker BBC News Brasil - Ou seja: para ter liberdadecard guard pokerfala, é preciso democracia…
card guard poker Simões - Vejo como pauta fundamental a questão da democracia versus autoritarismo, inclusive dentro dos partidos. Porque uma coisa é você militar ou votar para candidatos ou partidos que têm uma pauta que não contempla as propostas da Igreja Católica, mas que lá dentro é um partido democrático, permite a discussão, a conversa, vai ouvir a sociedade. Outra coisa é você estarcard guard pokerum partido que também defende pautas contra a Igreja Católica, ou não defende pauta nenhuma, e que impõe um modelo, não permite a discussão. Onde é possível conversar, discutir, é fundamental que o cristão católico esteja presente e levecard guard pokercontribuição.
card guard poker BBC News Brasil - E o aborto, padre?
card guard poker Simões - Quando a gente fala da pautacard guard pokeraborto, a gente tem uma sensação que os movimentos chamados pró-vida foram captados por uma extrema-direita. Por quê? Eles se contentamcard guard pokerdizer que são pró-vida só defendendo que as pessoas nasçam, mas eles não defendem a vida dos que já nasceram. E o papa Francisco,card guard pokeruma exortação apostólica sobre a santidade, ele fala que os cristãos devem defendercard guard pokerforma clara e apaixonada a vida dos nascituros, mas também defender com a mesma ênfase a vidacard guard pokertodos os que já nasceram e que se debatem na pobreza. Então ser cristão pró-vida não é só ser contra o aborto. Mas a gente não pode ser ingênuocard guard pokerentrar nessa questão porque muitas vezes essas pautas são cortinacard guard pokerfumaça para desviar o assunto do que é essencial.

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Simões: "Nenhum ser humano tem o direitocard guard pokerpensar na hipótesecard guard pokertirar a vida do outro. Questiono a humanidade dessas pessoas"
card guard poker BBC News Brasil - Podemos dizer então que é mais interessante para o cristão estarcard guard pokerum lado políticocard guard pokerque haja debate do que estarcard guard pokerum campo que simplesmente vete o que for contrário à doutrina católica?
card guard poker Simões - Exato. Podendo expor seu pontocard guard pokervista, debater, conversar, ouvir o contraditório, a ciência. A grande defesa que o evangelho faz é a defesa da vida, sempre. E às vezes tem discurso que pode parecer pró-vida mas, na verdade, não redunda na vida. Tudo isso é importantecard guard pokerser ouvido. Por isso o debate é importante. É a história: Jesus debateu com todo mundo, conversou com fariseus, pecadores, com todos. […] É uma mesa na qual cabe todo mundo.
card guard poker BBC News Brasil - E o que justifica um cristão defender o armamentismo, o portecard guard pokerarmas? Não é contra o evangelho?
card guard poker Simões - Eu diria, e esta é uma posição minha, que defender portecard guard pokerarmas é um absurdo do pontocard guard pokervista humano. Nenhum ser humano tem o direitocard guard pokerpensar na hipótesecard guard pokertirar a vida do outro. Questiono a humanidade dessas pessoas. Quem defende o portecard guard pokerarmas está se desumanizando. Esta é a primeira questão. Se a gente vai falar com gente conservadora que defende o portecard guard pokerarmas, é preciso lembrar o quinto mandamento: não matar. Olha, você vai matar outra pessoa para defendercard guard pokerpropriedade? Você mata e vai para o infernocard guard pokerseguida, isso é muito tranquilo para mim, não tenho dúvidas.

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"No futuro, a divergência entre os cristãos não seria mais entre evangélicos e católicos, mas entre fundamentalistas e progressistas dos dois campos", opina Simões
card guard poker BBC News Brasil - card guard poker Bolsonaro tem origem católica e se diz católico, mas frequenta cultos evangélicos e,card guard pokergeral, aparece muito mais ao ladocard guard pokerpastores evangélicos do que no meio católico. A pauta dele é evangélica ou católica? Tem diferença?
card guard poker Simões - A pauta dele é dele. Da extrema-direita. Onde dá voto ele vai.
card guard poker BBC News Brasil - Essa postura dele ecard guard pokerseus seguidores tem acirrado a rivalidade entre católicos e evangélicos no Brasil?
card guard poker Simões - Licard guard poker2019, não me lembro quem falou, que no futuro a divergência entre os cristãos não seria mais entre evangélicos e católicos, mas entre fundamentalistas e progressistas dos dois campos. Claro que acaba existindo esse discurso contra evangélicos, que a gente faz até meio sem querer, mas, por outro lado, estamos muito próximos dos campos evangélicos progressistas, embora eles sejam minoria. Nas próprias igrejas, se um pastor se posiciona contra Bolsonaro, muitas vezes ele é tirado do ministério. Enfim, são minoria e sofrem muita retaliação. Quando falamoscard guard pokercampo evangélico no Brasil, a gente temcard guard pokertomar cuidado. Não é homogêneo. […] E todos esses pastores midiáticos que estão com Bolsonaro, eles estiveram com Lula e com Dilma.
card guard poker BBC News Brasil - Têm uma relação fisiológica com o poder?
card guard poker Simões - Exato. Bolsonaro tem o projeto dele. E essas igrejas têm o projeto delas. Isso é muito sério. Mas a discussão é a divergência entre progressistas e fundamentalistas.
card guard poker BBC News Brasil - Até dentro da Igreja Católica?
card guard poker Simões - Claramente.

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"É muito fácil chamar todo mundocard guard pokercomunista. Sobrou até para o cardeal dom Odilo, que, aliás se defendeu muito bem. Achei a fala dele muito boa, alertando para o crescimento do nazifascismo no Brasil"
card guard poker BBC News Brasil - Nos últimos 10 dias, houve uma nota crítica da CNBB ao uso político da religião, a confusão da visitacard guard pokerBolsonaro e seus apoiadores à Basílicacard guard pokerAparecida, um padre no Paraná que teve a missa interrompida por um bolsonarista e o cardealcard guard pokerSão Paulo atacado nas redes sociais por conta da cor vermelhacard guard pokersuas vestes litúrgicas. Como se manifestar sem ser taxadocard guard pokerpartidário? Qual a orientação da CNBB neste contexto?
card guard poker Simões - Historicamente, a religião cristã como um todo sempre se pautou por uma mística. Então aquilo que fortalece o cristão militante, que clareia suas posições, é ter uma mística. Vai muito alémcard guard pokerter momentoscard guard pokeroração ecard guard pokerreflexão, mas inclui também isso.
É conhecer o evangelho, ter familiaridade com isso, dar espaço para a palavracard guard pokerDeus, a meditação, a participação da comunidade nacard guard pokervida. Nos seus posicionamentos, neste momentocard guard pokersegundo turno, está necessariamente o apoio não a um dos dois candidatos e projetos, mas às causascard guard pokersuas propostas.
Eu não defendo o Lula pelo Lula. Não defendo o PT pelo PT. Defendo porque, a meu ver, neste momento, ele apresenta uma proposta que tem mais a ver com o evangelho. É mais coerente do que o outro candidato, que é católico, mas é tudo ao mesmo tempo e tem uma incoerência muito grande, por exemplo, quando fala da família tradicional. Ele pode representar a família tradicionalcard guard pokerqualquer um, menos a minha, que e tradicional. Eu não tenho aquele perfilcard guard pokerfamília.
E são muitas contradições. O essencial do evangelho é o pobre. Nossa defesa é dos pobres, dos empobrecidos. E também as pautascard guard pokerrelação a minorias. Mas a defesa do pobre,card guard pokergeral, porque os pobres são o centro do reinocard guard pokerDeus. E volto para o Magnificat, "derrubou dos seus tronos os poderosos, exaltou os humildes, sacioucard guard pokerbens os famintos, despediu os ricoscard guard pokermãos vazias". É muito fácil chamar todo mundocard guard pokercomunista. Sobrou até para o cardeal dom Odilo, que, aliás se defendeu muito bem. Achei a fala dele muito boa, alertando para o crescimento do nazifascismo no Brasil. Este é o modus operandi, essa violência extremista.
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