O brasileiro que descobriu como o Universo pode acabar:777 poker

Crédito, Arquivo pessoal
A equação777 pokerLichnerowicz havia sido criada para tentar descrever o comportamento777 pokerfluidos viscosos viajando a velocidades relativísticas - comparáveis à velocidade da luz.
Quando encontrou a solução, Disconzi não pensou num efeito prático. Kephart e Scherrer propuseram uma questão: será que a viscosidade poderia impactar o Universo777 pokeralguma forma?
"Achei a ideia interessante, e passamos a nos encontrar com regularidade", conta o brasileiro. Nas primeiras reuniões, ele explicou os detalhes da solução. Depois, o trio aplicou a equação a alguns cenários. O resultado veio no ano seguinte, num estudo que rodou o mundo.
A novidade trouxe à tona a possibilidade natural do Big Rip - ou "grande ruptura" -, uma das principais teorias sobre o fim do mundo.
Trata-se777 pokerum Big Bang - teoria que aponta que o Universo começou com uma grande explosão - ao contrário.
A ideia propõe que, daqui a exatos 22,8 bilhões777 pokeranos, o Universo estará tão acelerado e disperso que os átomos que formam planetas e galáxias começarão a se desintegrar.

Crédito, Jeremy Teaford/Luiza Guerim
A teoria do Big Rip surgiu777 poker2003, mas todas as tentativas777 pokerdeterminar quando o Universo seria rasgado eram inconsistentes.
Cientistas que se aventuravam a estudar a propagação777 pokerfluidos viscosos, ou777 pokerenergia escura (forma777 pokerenergia que acelera a expansão do Universo), chegavam a um ponto777 pokerque, para que o rasgo acontecesse, essas matérias precisariam viajar a uma velocidade superior a da luz.
Só que nada viaja mais rápido do que a velocidade da luz.
Faltava algo mais consistente para corroborar a teoria. O estudo777 pokerDisconzi, publicado originalmente na revista Physical Review D, sugeriu um modo natural, e verossímil, desse fenômeno.
"O que era uma ideia puramente teórica agora é muito mais provável que corresponda à realidade física", explica Kephart, que pesquisou o tema com o brasileiro.
Paixão por equações
Disconzi,777 poker37 anos, é um sujeito afável777 pokerestatura baixa, cabeça raspada e olhos cor777 pokermel. Casou-se com a porto-riquenha Alexandra Valdés,777 poker35 anos, uma professora777 pokerCiências e Biologia. Os dois moram777 pokerNashville (EUA), cidade onde, desde 2014, ele ocupa o cargo777 pokerprofessor assistente777 pokerMatemática da Universidade777 pokerVanderblit.
O professor nasceu777 pokerPorto Alegre, mas ainda criança foi morar com a família777 pokerMontenegro, no interior do Rio Grande do Sul. Voltou à capital gaúcha777 poker1998 para ingressar na Faculdade777 pokerFilosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
"Sempre gostei777 pokerquestões profundas, que envolvessem pensamento crítico", relembra. A escolha, porém, não lhe agradou. No semestre seguinte, Disconzi pediu transferência para o curso777 pokerFísica.
A faculdade despertou nele uma paixão por pensamentos abstratos, cálculos e equações. Quando se formou, aproveitou para emendar dois mestrados na UFRGS: um777 pokerFísica e outro777 pokerMatemática, ambos concluídos777 poker2005.
Ao retirar os títulos, Disconzi percebeu que se considerava mais matemático do que físico.

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Ele já estava com o doutorado engatilhado na Universidade da Pensilvânia quando conheceu Dennis Sullivan, professor do Institute for Mathematical Sciences, centro777 pokerexcelência777 pokerpesquisa matemática da Universidade777 pokerStony Brook,777 pokerNova York. De lá, saíram três medalhistas do Fields, popularmente considerado o "Nobel da Matemática".
"Ele (Sullivan) me contou sobre a tradição777 pokerStony Brook, especialmente777 pokerequações diferenciais parciais, área que estudo. Daí topei trocar777 pokerinstituição", sintetiza Disconzi. Após virar PhD, ele conseguiu lugar no pós-doutorado777 pokerVanderbilt e, posteriormente, uma vaga como professor assistente.
Sempre vestido com jeans e camisa, ele chega à faculdade por volta777 poker7h30. A cafeteira é a primeira coisa que liga quando entra em777 pokersala - às vezes até mesmo antes das lâmpadas.
Com 14 metros quadrados, o ambiente é retangular, com paredes cor777 pokercreme, quadro negro, mesa e uma estante777 pokerL com cerca777 poker400 livros. Também há computador, cadeiras e uma confortável poltrona ocre. Tudo é milimetricamente organizado e limpo.
Como as aulas só ocorrem no primeiro horário das segundas, quartas e sextas-feiras, Disconzi passa praticamente o dia todo ali. Revisa lições, atualiza o próprio site, organiza eventos (seminários e congressos) e, claro, faz pesquisa. Várias, por sinal. O Big Rip é apenas a ponta do seu iceberg777 pokerseus estudos.
Singularidade matemática
Desde o doutorado, Disconzi se dedica às equações diferenciais parciais. Elas servem para descrever comportamentos (ou processos geométricos) por meio777 pokerdiferentes taxas777 pokervariação física.
Por exemplo: numa previsão meteorológica, é necessário equacionar no mesmo problema diferentes taxas777 pokervariação física - pressão atmosférica, velocidade do vento, temperatura, umidade e assim por diante.
Contudo, nem toda a equação desperta interesse ou possui um objetivo claro.
Quando matemáticos falam777 pokerresolver uma equação, geralmente querem "provar" que existem soluções, e não que haja uma fórmula específica para tal. Não raramente, os resultados ficam limitados a cenários muito específicos.

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Imagine o seguinte: os cientistas encontram evidências777 pokerque existiu vida777 pokerMarte. A descoberta seria o equivalente a provar a existência777 pokeruma solução - é uma afirmação ampla, geral, que não descreve detalhes do objeto. Referendar o organismo vivo que teria vivido por lá, com descrições particulares - se uni ou pluricelular, aquático ou não, inteligente ou não - seria como escrever a fórmula da solução.
A lógica ocorreu com a teoria da relatividade geral777 pokerAlbert Einstein, cujas equações foram criadas pelo físico777 poker1915 sob critérios gerais. Nos anos seguintes, a equação foi solucionada777 pokerforma fracionada, por partes,777 pokercondições particulares. A união dos resultados777 pokerum teorema geral - ou seja, a fórmula da solução - só apareceu na década777 poker1950.
Na mesma época, o francês Andre Lichnerowicz montou equações diferenciais parciais para descrever fluidos viscosos no contexto da relatividade geral. Foi esse problema que Disconzi solucionou parcialmente, dois anos atrás, e apresentou como um recém-contratado professor assistente da Universidade777 pokerVanderbilt.
"O que descobri pode ser considerado intermediário. Está entre o particular e o geral", explica.
A fórmula era mais valiosa do que ele imaginava.
Fluidos viscosos
Pensar777 pokerum contêiner cheio d'água ajuda a compreender a conexão entre a solução das equações777 pokerLichnerowicz, descoberta por Disconzi, e a cosmologia.
A água é feita777 pokermoléculas. Nela, existem regiões com mais matéria (as moléculas) e regiões mais vazias (o espaço entre as moléculas). Do ponto777 pokervista macroscópico, a água não é vista como um agregado777 pokermoléculas, mas como um fluido distribuído777 pokerforma homogênea (sem espaços entre uma parte e outra).
Do ponto777 pokervista cosmológico, o contêiner representa o Universo e a água, a energia contida nele. As galáxias são as moléculas777 pokerágua. Assim,777 pokervez777 pokerpensar o Universo como um aglomerado777 pokergaláxias, os astrônomos passaram a entendê-lo como uma distribuição homogênea777 pokermatéria e energia.
"O ponto crucial é que essa distribuição se comporta como se fosse um fluido enchendo o Universo", explica Disconzi. "Isso nos dá a certeza777 pokerque o Universo está777 pokerexpansão - e777 pokerforma acelerada."

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Essa expansão, segundo ele, tende a ficar cada vez mais veloz com o passar do tempo,777 pokervirtude da energia emitida por corpos celestes - que aumentam, assim, a viscosidade do Universo.
A combinação777 pokerdistribuição777 pokerenergia e aumento da viscosidade produzirá uma pressão negativa. Na relatividade geral, o efeito777 pokeruma pressão negativa é gerar uma força que se opõe à força gravitacional. Dessa forma, as galáxias tendem a se separar, e os planetas ficarão mais e mais distantes uns dos outros.
No final, projetado para daqui a 22,8 bilhões777 pokeranos, tudo será rasgado777 pokerpedaços.
"Esse comportamento incomum é o Big Rip, produzido por uma taxa777 pokerexpansão infinita777 pokerum tempo finito", diz Robert Scherrer, coautor do estudo.
Ainda há muito a responder sobre a tese - um novo estudo do trio já está777 pokeranálise para publicação777 pokeruma revista científica. Pesquisadores777 pokeruma universidade italiana também estão debruçados sobre o objeto desde a primeira descoberta.
Futuro777 pokerVanderbilt
Quando não lê na escrivaninha ou rabisca o quadro, é na poltrona ao lado da estante que Disconzi desenvolve seus estudos.
"As pessoas tendem a achar que meu trabalho, por ser um matemático, é só fazer cálculos", ele diz, demonstrando um leve ressentimento.
"Na verdade, meu trabalho é construir argumentações lógicas para as equações, tendo uma pergunta perfeita como ponto777 pokerpartida. 'Sobre quais hipóteses a equação pode ter solução?'", ilustra.
Disconzi visita pouco o Brasil. Em média, vai a cada dois anos - embora já tenham se completado três anos desde a última vez777 pokerque pôs os pés no país. Geralmente a incursão começa pelo Rio777 pokerJaneiro, onde mora uma irmã. Depois, vai a Porto Alegre e a Montenegro para visitar o restante da família.
No Tennessee, o professor777 pokerVanderbilt mora com a esposa e uma gata, Kaya - diminutivo que homenageia a russa Sofia Kovalevskaya, uma das primeiras matemáticas777 pokerrenome, falecida777 poker1891.
Em casa, Disconzi mantém alguns hábitos típicos dos gaúchos. Toma chimarrão com frequência, com erva mate comprada na internet. Churrasco? Só777 pokerrestaurante brasileiro. "Em casa faço o americano", ri, reconhecendo777 pokerseguida que assar hambúrguer na grelha está longe777 pokerum churrasco legítimo.

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Para o futuro, Disconzi formula maneiras777 pokerescrever um livro777 pokerparceria com outros autores - David Ebin, da Universidade777 pokerStony Brook, é um deles. "Não existe um bom livro introdutório sobre equações diferenciais parciais. Tudo o que há foi escrito para especialistas, e os alunos ficam perdidos", justifica.
A obra só virá caso seja admitido como professor titular, o que pode ocorrer777 pokeraté cinco anos. Se efetivado, também gostaria777 pokerpropor um programa777 pokerdiversidade no Departamento777 pokerMatemática, semelhante ao que existe no777 pokerFísica.
"Infelizmente, negros, latinos e mulheres ainda encontram muita desvantagem no meio educacional", lamenta. Ele é único latino entre os 32 professores777 pokerMatemática777 pokerVanderbilt.
O desfecho do mundo, afirma ele, seguirá777 pokerseu horizonte777 pokerpesquisas. "O nosso estudo sobre o Big Rip mostra o quanto ainda falta a gente entender sobre o Universo", suspira. "Vamos seguir investigando."
O prazo final, assim como o777 pokertodo o Universo, deve expirar777 poker22,8 bilhões777 pokeranos.









