'Não podemos salvar nossa privacidade, mas a democracia nunca precisou dela', diz filósofo político Firmin DeBrabander:qual o melhor app para apostas

qual o melhor app para apostas O filósofo político Firmin DeBrabander, professorqual o melhor app para apostasfilosofia do Maryland Institute College of Art, nos Estados Unidos, começou a escrever seu livro sobre privacidade no mundo digital com a ideiaqual o melhor app para apostasdefender a importância social desse valor.

Mas no meio do caminho ele percebeu que não era capazqual o melhor app para apostasdefinir o que é privacidade, tampouco explicar com precisão por que é tão fundamental.

E se deparou com o paradoxoqual o melhor app para apostasque, embora a gente costume pensar nela como um pilar da nossa sociedade, na prática a maioria das pessoas está disposta a ceder seus dados na internetqual o melhor app para apostastrocaqual o melhor app para apostasum desconto no supermercado.

Partindo deste princípio, ele se propôs a analisar se a privacidade é essencial para uma sociedade democrática e publicou suas ideias no livro Life After Privacy: Reclaiming Democracy in a Surveillance Society" ("Vida após a privacidade: reivindicando a democraciaqual o melhor app para apostasuma sociedade vigiada",qual o melhor app para apostastradução livre).

Após revisar cuidadosamente vários exemplosqual o melhor app para apostascomo perdemos nossa privacidade digital — e nossa capacidadequal o melhor app para apostasnos defender daqueles que coletam e analisam nossos dados e metadados na internet —, ele conclui que a privacidade não é essencial para a democracia.

A seguir, a entrevista que DeBrabander concedeu à BBC News Mundo, serviçoqual o melhor app para apostasespanhol da BBC, editada por motivosqual o melhor app para apostasextensão e clareza.

qual o melhor app para apostas BBC News Mundo - Uma das coisas que me surpreendeu ao ler seu livro é a revisão histórica que você faz sobre o conceitoqual o melhor app para apostasprivacidade e como isso é algo relativamente novo na civilização humana.

qual o melhor app para apostas Firmin DeBrabander - A privacidade não tem uma dataqual o melhor app para apostasnascimento muito clara e simples. Você pode ver essa ideia emergente no cristianismo, por exemplo, no Evangelho. Há algumas passagens que sugerem que é importante para a fé religiosa.

E depois, nos séculos 17 e 18, você começa a ver menções, embora não totalmente articuladas. Mas acho que o que realmente explica a crescente valorização [social] da privacidade é o desenvolvimento da classe média e da riqueza.

No contexto europeu, especialmente no século 18, você começa a ver o desenvolvimento da cidade burguesa, e [a burguesia] a querer casas com cômodos especializados. Nas casas antigas isso não acontecia, as casas tinham um ou dois cômodos e muitas vezes as pessoas trabalhavamqual o melhor app para apostascasa, ou seja, também era um espaço público.

E então, conforme o padrãoqual o melhor app para apostasvida melhora, as pessoas começam a esperar isso. No Reino Unido, o movimento operário começa a dizer que o direito à moradia é um direito humano e da classe trabalhadora.

E que precisa haver um jardim na frente e nos fundos — e devem ser cercados. O grande "presente" dos EUA para o mundo, embora eu não ache que seja um presente, são os subúrbios, onde a maioria dos americanos vive.

E esse desenvolvimento dos subúrbios prioriza a privacidade. A atividade social acontece nos fundos, no jardim ou no porão. Muitos subúrbios nem têm calçadas. Mas tudo isso aconteceu depois da Segunda Guerra Mundial.

qual o melhor app para apostas BBC News Mundo - Ou seja, andaqual o melhor app para apostasmãos dadas com o desenvolvimento econômico. Mas agora pensamos que é algo essencial para quem somos. E no seu livro, qual o melhor app para apostas o sr. qual o melhor app para apostas argumenta que, na verdade, não é essencial. Me pergunto se qual o melhor app para apostas o sr. qual o melhor app para apostas chegou a essa conclusão depoisqual o melhor app para apostasver que não há outra saída possível... A primeira parte do livro é dedicada a explicar todos os exemplos que mostram que, basicamente, perdemos nossa privacidade na esfera digital.

qual o melhor app para apostas DeBrabander - Sou um filósofo político. Comecei na posiçãoqual o melhor app para apostasdefender a privacidade, ia escrever um livroqual o melhor app para apostasdefesa da privacidade.

O projeto começou com um diálogo com meus alunos, após o caso Edward Snowden, quando ele revelou que a Agênciaqual o melhor app para apostasSegurança Nacional dos EUA realizava espionagemqual o melhor app para apostasmassaqual o melhor app para apostascidadãos americanos. Eu dizia aos meus alunos: "Isso é horrível, né?" Mas eles não viam dessa forma.

Então pensei: tenho que escrever um livro para explicar por que isso é importante. Porém, quanto mais eu olhava para as pesquisas disponíveis, mais me dava contaqual o melhor app para apostasque isso era impossível.

Não há como salvar a privacidade. Por isso fui tentar entender como a democracia pode sobreviver sem ela. E depois olhei um pouco mais além e percebi que a democracia nunca precisou da privacidade.

E isso ficou claro para mimqual o melhor app para apostasdois aspectos. Por um lado, como filósofo, estudei a noçãoqual o melhor app para apostasprivacidade: podemos sequer defini-la e defendê-la? E concluí que não, graças sobretudo ao filósofo britânico Isaiah Berlin, que me ajudou muito a entender que não se pode definir a privacidade, ela é indefinível.

E, como explico no livro, é um conceito incoerente. Vou te dar um exemplo. Acabeiqual o melhor app para apostasargumentar que, a medidaqual o melhor app para apostasque respeitamos a privacidade, é por razões financeiras.

Mas para muitos historiadores e pensadores políticos, isso não é inteiramente aceitável, porque eles diriam que a revolução americana e a democracia foram fundadas na defesa da privacidade.

E há um bom argumento: os colonos estavam defendendoqual o melhor app para apostasprivacidade frente aos militares britânicos, que invadiam suas propriedades para cobrar impostos ou estavam aquartelando seus soldadosqual o melhor app para apostasresidências americanas.

Isto é verdade. Mas o que muitos não sabem é que a palavra privacidade não é mencionada uma única vez na nossa Constituição. Essa instituição supostamente profundamente americana e tradicional não é mencionada nenhuma vez.

[Mais tarde,qual o melhor app para apostas1890, os advogados Samuel Warren e Louis Brandeis escreveram um artigo que foi um marco para o tratamento da questão: "O direito à privacidade"].

Eles foram estimulados pelo desenvolvimento do fotojornalismo, sentiam que as câmeras invadiam a privacidade. E definem a privacidade como o direitoqual o melhor app para apostasser deixadoqual o melhor app para apostaspaz. Me dei contaqual o melhor app para apostasque esta é uma noção muito ambígua. A quem deixam alguma vezqual o melhor app para apostaspaz, e quem determina se te deixamqual o melhor app para apostaspaz?

O direito à privacidade se articula com frequência como o direito a não ser julgado pelos olhos dos outros,qual o melhor app para apostasser livrequal o melhor app para apostassua coerção.

Mas, quando você caminha sozinho, ainda carrega consigo a memória desses julgamentos. Então, o que acabei determinando é que a privacidade depende muitoqual o melhor app para apostasnós mesmos, do indivíduo, se você sente ou não o julgamentoqual o melhor app para apostasoutras pessoas. Por isso, algo objetivo se torna subjetivo, varia.

E pensandoqual o melhor app para apostastermos da era digital, nos anunciantes, que nos seguem online, a preocupação é que vão nos manipular. Bem, algumas pessoas vão resistir a esta manipulação muito facilmente, e outras não.

E onde fica a fronteira entre os esforços extremos para nos manipular e aqueles que são mais modestos? Parece impossível dizer. Se você é manipulado ou não, tem pouco a ver com os esforçosqual o melhor app para apostasmanipulação e mais a ver com você mesmo.

Isaiah Berlin chamava issoqual o melhor app para apostasáreaqual o melhor app para apostasnão interferência. E quem permite esta interferência? Sobretudo, eu mesmo.

O que me leva a outro ponto: uma das coisas com que me deparei no livro é que a privacidade é um valor muito estranho porque as pessoas parecem saber o que é, parecem respeitá-lo, mas seu comportamento é totalmente contrário.

O que me faz chegar à conclusãoqual o melhor app para apostasque não acredito que as pessoas se importem muito com a privacidade, para nada.

O que é interessante nessa era digital é que nossos espiões não precisam se esforçar muito para descobrir sobre nós. Estamos dando tudo a eles. Vivemos nossas vidas como um livro aberto.

Muita gente não consegue me dizer por que a privacidade é importante. O máximo que dizem é que invasõesqual o melhor app para apostasprivacidade são "creepy" (assustadoras), um termo muito ambíguo.

Não dizem nada, não dizem que algo esteja errado. As pessoas têm dificuldadequal o melhor app para apostasarticular o que é privacidade. E acho que é porque é uma instituição muito incoerente.

qual o melhor app para apostas BBC News Mundo - No entanto,qual o melhor app para apostasseu livro, qual o melhor app para apostas o sr. qual o melhor app para apostas explica o exemploqual o melhor app para apostasuma empresa nos qual o melhor app para apostas EUA qual o melhor app para apostas que descobriu que uma adolescente estava grávida antes mesmo daqual o melhor app para apostasfamília, por causa dos produtos que ela comprava (e não eram óbvios, coisas como óleos e algodões), e começou a enviar publicidade relacionada para ela. O pai ficou furioso, até que percebeu que a filha estava realmente grávida. E este é um exemplo muito claro do que é privacidade: meu direitoqual o melhor app para apostasestar grávida equal o melhor app para apostasnão contar a ninguém se não quiser.

qual o melhor app para apostas DeBrabander - Sim, acho este exemplo muito incômodo. Mas há algoqual o melhor app para apostaserrado nele? Exatamente o que está errado não está claro, e é difícil porque a empresa não fez nadaqual o melhor app para apostaserrado.

É esse tipoqual o melhor app para apostasvigilância que está acontecendo, e a maioria das pessoas fica felizqual o melhor app para apostasreceber marketing personalizado dessas empresas, sabe? Especialmente se vão te oferecer promoções, descontos ou cupons.

Se vão receber um benefício real, então perdoam com mais facilidade, são mais compreensivas.

qual o melhor app para apostas BBC News Mundo - qual o melhor app para apostas O sr. qual o melhor app para apostas chega à conclusãoqual o melhor app para apostasque privacidade é muito difícilqual o melhor app para apostasdefinir. Equal o melhor app para apostaspróxima conclusão é que, na realidade, não é essencial para a democracia. Como qual o melhor app para apostas o sr. qual o melhor app para apostas chegou a essa conclusão?

qual o melhor app para apostas DeBrabander - Por várias vias. A mais fácilqual o melhor app para apostasentender é olhar para a história do movimento trabalhista nos EUA e do movimento pelos direitos civis na décadaqual o melhor app para apostas1960 ou do movimento gay na décadaqual o melhor app para apostas1980.

Estes movimentos, especialmente o movimento pelos direitos civis, operaram sob graves ameaçasqual o melhor app para apostasviolênciaqual o melhor app para apostasmuitos momentosqual o melhor app para apostassua existência. Equal o melhor app para apostasnenhum momento a privacidade sequer foi uma possibilidade para eles.

Qual é o suposto valor da privacidade? Quem melhor o articulou foi John Stuart Mill, que disse que precisávamos do direito à privacidade porque temos que proteger o espaço para que o indivíduo pense o que quiser, diga o que quiser. É sobre ter liberdadequal o melhor app para apostaspensamento e expressão.

E não devemos invadir a privacidade se quisermos promover um ambientequal o melhor app para apostasliberdade audaz.

Não sabemosqual o melhor app para apostasonde vão vir os ganhosqual o melhor app para apostasdireitos civis. Não sabemos que ideias e pensamentos serão importantes para o futuro, mas o essencial é que sempre serão considerados uma afronta.

E a privacidade é importante para que as pessoas possam ser autônomas. É assim que você consegue a autonomia, a criatividade e a coragem dos eleitores individuaisqual o melhor app para apostasuma democracia.

Mas o problema é que quando você olha para trás, para o movimento dos direitos civis, por exemplo, nos anos 1950 e 1960 nos EUA, esses ativistas estavam profundamente ameaçados. E foram tratados com violência, espancados, assassinados. Foram oprimidos.

Nunca tiveram um espaçoqual o melhor app para apostasprivacidade para trabalhar cuidadosamente suas ideias, fazer planos e pensar. Eles só podiam avançar politicamente por meio da organização e dos esforços coordenados com grupos maioresqual o melhor app para apostaspessoas.

Então, no fim das contas, o problema com a privacidade é que ela coloca ênfase demais no cidadão individual, mas não há garantiaqual o melhor app para apostasque o cidadão individual realmente vá ser um cidadão democrático efetivo.

Os cidadãos democráticos se formam no que John Dewey, o filósofo americano, chamaqual o melhor app para apostasassociações. É isso que realmente treina, encoraja e empodera os cidadãos individuais.

Portanto, o que argumento é que, ironicamente,qual o melhor app para apostasvezqual o melhor app para apostasa privacidade ser uma das bases da democracia, ela é na verdade o seu resultado.

Por exemplo, foi graças aos esforços e ações coordenadas na esfera pública do movimento pelos direitos dos homossexuais que foi possível assegurar e proteger os direitos privados dos gays.

qual o melhor app para apostas BBC News Mundo - Mas suponho que o receio é que, se não fizermos nada para defender nossa privacidade online, podemos acabarqual o melhor app para apostasuma situaçãoqual o melhor app para apostasque não tenhamos mais uma democracia que nos permita exercer nossos direitos na esfera pública.

qual o melhor app para apostas DeBrabander - Acredito que, como cidadão, teria muito medoqual o melhor app para apostasque não façamos nada agora, que não sejamos capazesqual o melhor app para apostascontrolar o que acontecerá no futuro.

Eu faço esta crítica à ideiaqual o melhor app para apostasprivacidade e sou céticoqual o melhor app para apostasrelação a ela. Mas admito desde o início do meu livro que gostoqual o melhor app para apostaster privacidade e a valorizo, embora seja difícil dizer o que é exatamente.

E você tem razão, estamos diantequal o melhor app para apostasum dilema muito real. Mas olha, por um lado acredito que não há como voltar atrás. Especialmente por causa dessa pandemia, temos que fazer tudo, nosso trabalho, nossas compras, dar aulas... online.

Estamos ficando mais dependentes dos meios digitais que fazem com que nossos dados sejam vulneráveis. Mas estamos nos tornando cada vez mais dependentes, não menos, e não vejo que isso vá mudar.

Por isso suponho que o que estou argumentando é que, se não vamos mudar essa situação [...] e se esse vai ser o futuro, então temos que equilibrá-lo e nos proteger com uma verdadeira organização e orientação democrática. Por meio destas associações, como o movimento Black Lives Matter nos Estados Unidos. Acho que é extremamente importante.

Você sabe, esse tipoqual o melhor app para apostasassociação nas ruas, é na esfera pública onde se faz o verdadeiro poder democrático. E onde você realmente desafia o governo.

Não acho que seja possível desafiar o governo pelos meios digitais. Acho que os meios digitais são profundamente debilitantes quando se trataqual o melhor app para apostaspoder democrático.

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