O que é politicamente correto?:jogo do blaze grátis

jogo do blaze grátis O famoso politicamente correto hoje é criticado por muitos lados da política brasileira.

"Me coloco diantejogo do blaze grátistoda a nação, neste dia, como o diajogo do blaze grátisque o povo começou a se libertar do socialismo, da inversãojogo do blaze grátisvalores, do gigantismo estatal e do politicamente correto", disse o presidente Jair Bolsonaro emjogo do blaze grátispossejogo do blaze grátis2019. "Tá proibido contar piada. O mundo tá chato pra cacete, o mundo tá pesado, sabe? Todas as piadas agora viraram politicamente erradas", afirmou o ex-presidente Lula, ao defender piadas sobre nordestinosjogo do blaze grátis2022.

Mas o que é o politicamente correto, afinal? Especialistas afirmam que ele surgiu como um movimentojogo do blaze grátisesquerdajogo do blaze grátisdefesa da substituiçãojogo do blaze grátisexpressões, atitudes e percepções socialmente aceitas, mas ofensivas ou ameaçadoras para alguns grupos da sociedade, como mulheres, negros, indígenas, homossexuais e pessoas com deficiência.

Só que pouco tempo depois do surgimento do "politicamente correto", nos anos 1970, a direita americana conseguiu associar um significado negativo à expressão: ela passou a significar uma formajogo do blaze grátiscensura,jogo do blaze grátisataque à liberdadejogo do blaze grátisexpressão ejogo do blaze grátisum suposto vitimismo.

Muitos traçam paralelos com o livro 1984, do escritor britânico George Orwell. No livro, um regime ditatorial adota uma língua oficialjogo do blaze grátisque as palavras somemjogo do blaze grátislivros, jornais e documentos ao serem proibidas, e as pessoas têm cada vez menos possibilidadejogo do blaze grátisse expressar. No Brasil, aliás, a expressão muitas vezes é complementada como "ditadura do politicamente correto".

Mas a brigajogo do blaze grátistorno das palavras e atitudes não para por aí: muitas minorias passaram a argumentar que a expressão virou uma espéciejogo do blaze grátisarma usada para silenciá-las — ou seja, elas não podem mais fazer críticas ou questionamentos porque são acusadasjogo do blaze grátisser politicamente corretas. Ou são acusadasjogo do blaze grátisse vitimizarem, exagerarem, praticarem patrulha ideológica, serem sensíveis demais ("geração flocojogo do blaze grátisneve") ou fazerem mimimi ("mimizento").

Para entender todas as camadas desse debate sobre politicamente correto, a BBC News Brasil explica as origens dessa expressão na esquerda e como ela foi apropriada pela direita. Em seguida, lembra como um livro do escritor Monteiro Lobato reacendeu esse debate no Brasil. E, por fim, detalha como os cancelamentos e a linguagem neutra deram novas formas aos embates sobre politicamente correto.

E para além disso tudo, muitos especialistas defendem que todo esse debate tem pouco impacto se a sociedade que criou essas expressões não mudar junto. Ou seja, não adianta trocar uma palavra racista por outra se o racismo continuar presente entre as pessoas.

As origens do politicamente correto?

Especialistas apontam que a expressão surgiu e se popularizou entre os anos 1970 e os anos 1990jogo do blaze grátisuniversidades dos Estados Unidos.

Clive Hamilton, professorjogo do blaze grátisÉtica Pública da Universidade Charles Sturt, na Austrália, diz que, quando surgiu, "politicamente correto" era uma espéciejogo do blaze grátisparódia entre ativistasjogo do blaze grátisesquerda a partirjogo do blaze grátisuma traduçãojogo do blaze grátistextos comunistas da China, principalmente aqueles da Revolução Cultural, considerados doutrinários ou orwellianos (em referência a 1984).

"Mas se a frase 'isso é politicamente incorreto' era ditajogo do blaze grátisforma irônica, ela também tinha uma intenção séria: desafiar o outro a pensar sobre o poder social da palavra e os estragos que ela poderia causar. À medida que essa formajogo do blaze grátispoliciamento linguístico se espalhou, tornou-se um meio altamente eficazjogo do blaze grátisenfrentar os preconceitos profundamente enraizados embutidos nas palavras e expressões cotidianas", escreveu Hamilton.

Segundo Hamilton, "o politicamente correto era 'político' no sentidojogo do blaze grátisque visava provocar mudanças sociaisjogo do blaze grátisum momentojogo do blaze grátisque atitudes racistas, sexistas e homofóbicas encontravam expressão na linguagem cotidiana e não eram censuradas, embora as palavras fossem humilhantes, depreciativas ou ameaçadoras para as minoriasjogo do blaze grátisquestão".

O Dicionário Concisojogo do blaze grátisPolítica da Universidadejogo do blaze grátisOxford conta que esse influente movimentojogo do blaze grátisuniversidades americanas defendia o princípiojogo do blaze grátisações afirmativas e noçõesjogo do blaze grátismulticulturalismo, promovendo discursos e comportamentos antissexistas e antirracistas.

"O movimento pelo politicamente correto buscava mudanças nos currículosjogo do blaze grátisgraduação que enfatizassem o papeljogo do blaze grátismulheres, pessoas não brancas e homossexuais na história e na cultura, e atacava a dominação da cultura ocidental por homens brancos europeus mortos", diz o dicionário.

Wilson Gomes, pesquisador e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), explica que o politicamente correto está associado ao que se chamajogo do blaze grátisidentitarismo ou políticas identitárias. Segundo Gomes, essa posição dentro do espectro da esquerda passou, a partir dos anos 1960, 1970, a substituir a lutajogo do blaze grátisclasses pela luta identitária, numa espéciejogo do blaze grátisidentidade versus sociedade.

Mas qual é a diferença entre essas duas lutas? Em resumo, Gomes afirma que a lutajogo do blaze grátisclasses ocorre pelos meiosjogo do blaze grátisprodução e determina que um será subalterno a outro, porque "quem tem os meiosjogo do blaze grátisprodução controla a mais-valia (o valor criado pelo trabalhador comjogo do blaze grátisforçajogo do blaze grátistrabalho) e, portanto, a pobreza é uma circunstância decorrente da riqueza".

Por outro lado, a chamada luta identitária, segundo Gomes, passa pela ideiajogo do blaze grátisque existe uma determinada identidade que identifica um conjuntojogo do blaze grátispessoas social e historicamente oprimido pelo outros e pela sociedade como um todo. "Portanto, é preciso que esses grupos ganhem consciência, como a ideia da consciênciajogo do blaze grátisclasse, e na luta identitária é uma espéciejogo do blaze grátisconsciência dajogo do blaze grátisprópria identidadejogo do blaze grátisuma minoria oprimida, seja negro, mulher, trans etc."

Nessa perspectiva, a opressão é sistêmica, se materializajogo do blaze grátistodos os aspectos da vida social, por exemplo, e mantém essas minoriasjogo do blaze grátiscondições subalternas. A luta identitária, portanto, passa pela tomadajogo do blaze grátisconsciência e pela reivindicação dessa condição. "Um dos aspectos da luta identitária diz respeito à disputa na linguagem, a disputa pela denominação das coisas, pelo modo como eles próprios são denominados. É uma luta para que tenha uma linguagem respeitosa da identidade e que, portanto, reflita essa identidade. É uma lutajogo do blaze grátisuma certa maneira pela polícia vocabular, como patrulhas ideológicas, constrangimentos etc. Porque o constrangimento é importante para essa luta", afirma Gomes.

Críticas e guerras culturais

Para além do ambiente das universidades americanas, o filósofo conservador britânico Roger Scruton explica no Dicionário do Pensamento Político que, ao longo do século 20, as pessoas passaram a ter mais consciênciajogo do blaze grátisque linguagem e comportamento podem contribuir com ofensas e estereótipos e reforçar atitudes que promovem a discriminação.

Assim, houve um processo gradualjogo do blaze grátisreforma da linguagem política para banir termos considerados ofensivos, que acabou ganhando vida própria. Segundo Scruton, essas reformas linguísticas criaram um campo minado para aqueles que se referem a minorias com os termos incorretos.

"O conceitojogo do blaze grátispoliticamente correto se tornou temajogo do blaze grátisintensa polêmica nos EUA ejogo do blaze grátistodos os outros lugaresjogo do blaze grátisque a direita o ataca como uma ameaça à liberdadejogo do blaze grátisexpressão e uma desculpa para caça às bruxas, enquanto a esquerda o endossa (...) como um pressuposto necessário para um debate público justo e respeitoso", escreveu Scruton.

Em entrevista à BBC, Scruton afirmou que, à primeira vista, o politicamente correto parecer ser uma maneirajogo do blaze grátisser levantar a favor das vítimas, sejam elas mulheres, homossexuais, transgênero e outras minorias. "Mas na realidade se tratajogo do blaze grátiscriar vítimas."

Segundo ele, os defensores do politicamente correto são "especialistasjogo do blaze grátisse ofender, mesmo que não tenha havido ofensa" e atuam como juízes, promotores e jurados do que chamamjogo do blaze grátiscrime. "Eles são a vozjogo do blaze grátisuma justiça inquestionável. Seu objetivo é intimidar seus oponentes, expondo-os à humilhação pública." O filósofo inglês argumenta que o politicamente correto aproxima "acusação" e "culpa"jogo do blaze grátisum "crimejogo do blaze grátispensamento" e acaba com a presunçãojogo do blaze grátisinocência.

Crimejogo do blaze grátispensamento é uma expressão do livro 1984, no qual o Estado totalitário que controla a linguagem também policia e pune o pensamento das pessoas.

Scruton diz que a culpa da perseguição ao livre pensamento nos diasjogo do blaze grátishoje não é apenas do politicamente correto, mas tambémjogo do blaze grátisuma "característica da condição humana mais profunda e duradoura que vem à tonajogo do blaze grátiscaças às bruxas: a busca por bodes expiatórios".

Ele cita o filósofo e historiador francês René Girard, para quem as sociedades são sujeitas a grandes rivalidades se as pessoas sofrem para ter os mesmos poderes e posses das outras.

Segundo Scruton, a desconfiança entre as pessoas leva à buscajogo do blaze grátisbodes expiatórios para tentar resgatar a união da sociedade. Ou seja, as pessoas tentam curar as feridas, mas todos se acusamjogo do blaze grátisser culpados pelas divisões da sociedade.

Já Hamilton, da Universidade Charles Sturt, lembra que a busca por culpados, ou melhor, a principal reação negativa ao politicamente correto, foi disseminada por homens brancos privilegiados que se sentiam discriminados por políticasjogo do blaze grátisigualdade, defendendo que "você não deve se sentir mal pelo que é, pensa ou acredita".

Em debates promovidos pelo instituto Pew, muitos apoiadores do Partido Republicano (ao qual pertence o ex-presidente Donald Trump) falaram que a cultura politicamente correto tinha ido longe demais e demonstraram nostalgiajogo do blaze grátisoutras épocas, algo compartilhado pelos britânicos que apoiaram a saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit). Estes cidadãos, porjogo do blaze grátisvez, disseram ter medojogo do blaze grátisser tachadosjogo do blaze grátisracistas e reclamaram que brincadeiras e piadas se tornaram proibidas.

Um dos pontos levantados por parte dos republicanos era a fragilidade daqueles que se sentiam ofendidos, os "pequenos flocosjogo do blaze grátisneve (snowflakes)", como disse um dos entrevistados na pesquisa da Pew. A expressão é algo equivalente no Brasil a termos pejorativos como "mimizento/mimizenta", ou seja, pessoas acusadasjogo do blaze grátisserem "sensíveis demais" oujogo do blaze grátisfazerem "mimimi" (choramingar, reclamar, criticarjogo do blaze grátisforma exagerada etc.) quando apontam declarações ou atitudes ofensivas.

Especialistas apontam que esse tipojogo do blaze grátisreação ao politicamente correto surgejogo do blaze grátismeio a uma guerra culturaljogo do blaze grátiscurso, fenômeno que começou nos EUA nos anos 1990 e depois se espalhou pelo mundo. Alguns apontam a origem extraoficial dessa batalhajogo do blaze grátis1992, quando o republicano Patrick Buchanan discursou que havia uma "guerra cultural tão importante para o tipojogo do blaze grátisque nação que seremos quanto a própria Guerra Fria".

Ele identificou à época que o direito ao aborto, os direitos dos homossexuais, a discriminação religiosa e a presença das mulheres nas Forças Armadas seriam algumas das principais frentesjogo do blaze grátisbatalha.

Em linhas gerais, guerras culturais costumam ser descritas como o processojogo do blaze grátisque temas morais como legalização do aborto, do casamento gay ou do portejogo do blaze grátisarmas se tornam centrais no debate político, ofuscando outros temas, e opõem conservadores oujogo do blaze grátisdireita (pessoasjogo do blaze grátisviés mais disciplinador, rigoroso e punitivo) e progressistas oujogo do blaze grátisesquerda (o oposto).

Há muita trocajogo do blaze grátisacusações entre os envolvidos nessa guerra cultural. E no meio do tiroteio, há quem pense que não é para tanto, nem para tão pouco.

Melhor dizendo: há quem concorde que algumas dessas palavras e expressões sãojogo do blaze grátisfato ofensivas e devem ser banidasjogo do blaze grátisrespeito aos outros, mas também acredite que isso tudo está indo longe demais atualmente por meiojogo do blaze grátisduas vertentes do politicamente correto: cancelamentosjogo do blaze grátisexcesso e imposiçãojogo do blaze grátislinguagem neutra (entenda sobre esses termos mais abaixo).

Em 2021, o institutojogo do blaze grátispesquisas americano Pew publicou um levantamento com cidadãosjogo do blaze grátisquatro países sobre assuntos como o politicamente correto e o discurso ofensivo. Apenas na Alemanha a maioria dos cidadãos concordou que "as pessoas devem ser cuidadosas com o que dizem para evitar ofender os outros".

Na direção oposta, a maioria das pessoas na França, nos EUA e no Reino Unido afirmou que "as pessoas hoje se ofendem fácil demais com o que os outros dizem".

A principal divergência entre essas duas posições se dá nos EUA: 65% das pessoasjogo do blaze grátisesquerda defendem o cuidado com discurso ofensivo, e apenas 23% das pessoasjogo do blaze grátisdireita concordam com isso.

Ideologicamente, a esquerda é a mais preocupada com o que se diz, aponta o Pew. E aponta avanços positivos, apesarjogo do blaze grátistudo. Para muitos americanos democratas (apoiadores do partido do presidente Joe Biden), a mudança no discurso melhorou práticasjogo do blaze grátisnegócios, por exemplo. Para britânicos contrários à saída do Reino Unido da União Europeia, o politicamente correto trouxe um aumento da tolerância e fez com que piadas racistas fossem finalmente inaceitáveis.

Monteiro Lobato e PT reacendem debate no politicamente correto no Brasil

O tema do politicamente correto dominou o debate na imprensajogo do blaze grátisdois momentos importantes da história brasileira recente.

Primeiro,jogo do blaze grátis2004, o governo Lula publicou a cartilha Politicamente Correto e Direitos Humanos, com quase 100 termos ou expressões pejorativas acompanhadasjogo do blaze grátiscomentários. O objetivo do documento era, segundo o então subsecretáriojogo do blaze grátispromoção e defesa dos direitos humanos Perly Cipriano, responsável pelo material, "chamar a atenção dos formadoresjogo do blaze grátisopinião para o problema do desrespeito à imagem e à dignidade das pessoas consideradas diferentes".

"Pretojogo do blaze grátisalma branca - Um dos slogans mais terríveis da ideologia do branqueamento no País, que atribui valor máximo à raça branca, e mínimo aos negros. 'Apesarjogo do blaze grátisser preto, é gente boa' e 'É negro, mas tem um grande coração' são variações dessa frase altamente racista, segregadora", dizia um trecho da cartilha.

Outra passagem afirmava: "Branquelo - Por incrível que pareça, existe no Brasil preconceito racial contra pessoas brancas. Mais fortemente, contra membros das colônias europeias no Sul do País. 'Branquelo' e "branquelo azedo' são duas das expressões pejorativas contra os brancos."

Mas a distribuiçãojogo do blaze grátis5 mil exemplares acabou gerando ampla reação negativa. "É estarrecedor. Estamos ingressando numa era totalitária,jogo do blaze grátisque o governo dá o primeiro passo para instituir uma nova língua e baixar normas sobre as palavras que devemos usar?", afirmou o escritor João Ubaldo Ribeiro emjogo do blaze grátiscoluna no jornal O Globo.

O material foi rechaçado pelo próprio Lula, que costuma usar vários dos termos da cartilhajogo do blaze grátisseus discursos, como "louco", "peão" e "burro". Segundo reportagem do jornal O Estadojogo do blaze grátisS. Paulo à época, o então presidente afirmou que achava a cartilha "um absurdo, uma perdajogo do blaze grátistempo e um gasto desnecessáriojogo do blaze grátisdinheiro".

Ao discutir sobre a cartilha com assessores, Lula perguntou ao secretário da pasta responsável pela cartilha, Nilmário Miranda, por que "peão" é uma palavra pejorativa."Mas Nilmário, eu sou um peão e não me importo com isso. E também chamo as pessoasjogo do blaze grátispeão."

Seis anos depois, o tema do politicamente correto voltaria ao noticiário no Brasil, desta vez por causa do livro Caçadasjogo do blaze grátisPedrinho,jogo do blaze grátisMonteiro Lobato, acusadojogo do blaze grátisdisseminar "preconceitos e estereótipos contra grupos étnico-raciais".

O caso do livro, distribuído pelo governo federal a bibliotecasjogo do blaze grátisescolas, teve iníciojogo do blaze grátis2010 por meiojogo do blaze grátisuma denúncia à Ouvidoria da Secretariajogo do blaze grátisPolíticasjogo do blaze grátisPromoção da Igualdade Racial. Em seguida, a Câmarajogo do blaze grátisEducação Básica do Conselho Nacionaljogo do blaze grátisEducação (ligada ao Ministério da Educação) produziu pareceres sobre eventuais medidas.

Entre elas, treinar professores para saber lidar com livros do tipo e acrescentar informações à obra (por meiojogo do blaze grátisuma nota explicativa ou no textojogo do blaze grátisintrodução) sobre o contexto da épocajogo do blaze grátispublicação, o escritor Monteiro Lobato e estereótipos raciais na literatura.

Um triojogo do blaze grátispesquisadores (João Feres Júnior, Leonardo Nascimento, ambos da Uerj, e Zena Eisenberg, da PUC-Rio) que analisou o caso conta que metade dos textos opinativos na mídia tradicional publicados à época associava o caso ao politicamente correto e parte desses textos atribuía a responsabilidade à linha ideológica do PT, numa espéciejogo do blaze grátis"imposição da ideologiajogo do blaze grátisum grupojogo do blaze grátismilitantesjogo do blaze grátisesquerda autoritária sobre toda a sociedade".

"Quem pede a suspensãojogo do blaze grátisuma obra por ela conter um termo considerado discriminatório está assassinando a cultura brasileira, que a cada dia é torpedeada por novas empreitadas da patrulha do politicamente correto", disse o lexicólogo Evanildo Bechara, membro da Academia Brasileirajogo do blaze grátisLetras.

Em editorial escritojogo do blaze grátis2011 sobre outra questão, a possibilidadejogo do blaze grátisse fechar escolas voltadas a estudantes com deficiência auditiva ou visual e inclui-los na redejogo do blaze grátisescolas convencionais, o jornal O Globo retomou o tema do politicamente correto.

"O extenso históricojogo do blaze grátismedidas com o viés do politicamente correto,jogo do blaze grátisobediência à linha ideológicajogo do blaze grátisáreas do PT e adotadas desde o primeiro governo Lula, recomenda prudência e boa dosejogo do blaze grátisceticismojogo do blaze grátisrelação ao desmentido (de que a proposta não seria adotada). Afinal, não é a primeira vez que o governo federal tenta empurrar goela abaixo da sociedade uma pílula supostamente progressista, que, na realidade, é um composto no qual mal se disfarça o DNA do autoritarismo e da intolerância", dizia o texto.

Para os pesquisadores, apesarjogo do blaze grátistoda reação ao politicamente correto, "nenhuma sociedade real existe sem uma medida do que seja o politicamente correto, isto é, da linguagem que é ou não aceita,jogo do blaze grátispadrões do que é ou não ofensivo".

Além disso, segundo eles, "não há registrojogo do blaze grátissociedade históricajogo do blaze grátisque tais padrões não tenham se imposto pela força da cultura e das instituições".

Como dito acima, muitos especialistas defendem que todo esse debate surte pouco efeito se o racismo, por exemplo, continuar presente entre as pessoas mesmo com palavras novas.

A socióloga e pesquisadora Sabrina Fernandes (Universidade Livrejogo do blaze grátisBerlim) defende que todo esse debate sobre liberdadejogo do blaze grátisexpressão e seus limites e soluções deveria passar também por livrar as pessoas da opressão antes se discutir a linguagem.

"É preciso libertar as pessoas da opressão também. E aí tudo se torna natural, porque se você tem uma sociedade que é mais feminista e menos machista, você não vai precisar ficar regulando as coisas machistas que as pessoas falam porque elas não vão sentir necessidadejogo do blaze grátisfalar isso. Porque se promoveu mudanças mais profundas", afirma Fernandesjogo do blaze grátisentrevista à BBC News Brasil.

Para o linguista e professor Sírio Possenti (Unicamp),jogo do blaze grátisartigo sobre o tema, as palavras ou expressões não carregam significados intrínsecos,jogo do blaze grátissi, mas, sim, significados consolidados nas estruturas e relações sociais e culturais.

Por isso, diz Possenti, se uma sociedade é racista, mudar os termos considerados ofensivos (ou criminosos) por outros mais "neutros" somente não tornará as relações ou os falantes menos ou mais racistas, e os significados preconceituosos acabarão sendo carregados e reproduzidos nas novas expressões substitutas.

Linguagem neutra, uma nova vertente do politicamente correto

Um dos fenômenos que costumam gerar mais debate atualmente nesse contexto é a linguagem neutra ou inclusiva, que, segundo o Parlamento europeu, visa "contribuir igualmente para reduzir os estereótiposjogo do blaze grátisgênero, para promover mudanças sociais e para alcançar a igualdadejogo do blaze grátisgênero". Para a instituição, esse conceito é mais do que uma questãojogo do blaze grátispoliticamente correto porque "reflete e influencia profundamente atitudes, comportamentos e percepções".

Mas como funciona na prática? Em geral, esse conceito é utilizado para não especificar o gênero do interlocutor. Assim, são utilizados, por exemplo, termos como "elu" —jogo do blaze grátisvezjogo do blaze grátisele ou ela — e a vogal "e" se torna recorrente nas palavras com terminologias que denotam gênero. Amigo se torna amigue. Bonito se torna bonite. Há algum tempo, chegou-se a usar a consoante "x" ou o símbolo "@" para essa finalidade (como "bonitx" ou "bonit@"), mas as dificuldadesjogo do blaze grátisleitura, fala e compreensão reduziram esses usos.

Há outras estratégiasjogo do blaze grátislinguagem neutra ligadas à substituição dos termos. Uma cartilha do Parlamento europeu sobre o tema sugere trocar expressões como "os políticos" por "a classe política", "os professores" por "o corpo docente" e, nas referências ao gênero humano, trocar o termo "homem" por "a humanidade", "o ser humano", "a sociedade" ou "as pessoas". A exceção ao último caso seria a expressão "direitos do homem", por ser "utilizadajogo do blaze grátismuitos textos jurídicos, a qual se refere a um conceito político e filosófico com um importante cunho histórico".

O tema costuma gerar reaçãojogo do blaze grátisgrupos conservadores no país. "Netflix colocajogo do blaze grátisseu catálogo desenho infantil que promove linguagem neutra, ideologiajogo do blaze grátisgênero e destruição da família. Pais, não deixem seus filhos assistirem o desenho Ridley Jones", postou no Twitter o deputado federal bolsonarista Carlos Jordy (PSL-RJ).

As mudanças passaram dos debates na mídia e nas redes sociais e já chegaram aos Três Poderes.

O governo Bolsonaro vetou seu usojogo do blaze grátisprojetos culturais financiados via Lei Rouanet (mecanismojogo do blaze grátisincentivo por meiojogo do blaze grátisisenção fiscal).

"Entendemos que a linguagem neutra (que não é linguagem) está destruindo os materiais linguísticos necessários para a manutenção e difusão da cultura. E que submeter a língua a um processo artificialjogo do blaze grátismodificação ideológica é um crime culturaljogo do blaze grátisprimeira grandeza", escreveu no Twitter o então secretáriojogo do blaze grátisfomento e incentivo à cultura, André Porciuncula.

"Tal expediente, apesarjogo do blaze grátisse vender como linguagem, não é um produto social apto a produzir comunicação. Ele não surgiu no cotidianojogo do blaze grátisum povo, mas sim criado e integradojogo do blaze grátisforma alienígena, atravésjogo do blaze grátismovimento político sectário."

A Assembleia Legislativajogo do blaze grátisRondônia chegou a aprovar uma lei proibindo a linguagem neutrajogo do blaze grátisescolas e editaisjogo do blaze grátisconcursos públicos, mas a medida acabou derrubadajogo do blaze grátis2021 pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Para o magistrado, a linguagem neutra "visa a combater preconceitos linguísticos retirando vieses que usualmente subordinam um gênero ao outro" e "é difícil imaginar que ajogo do blaze grátisproibição possa ser constitucionalmente compatível com a liberdadejogo do blaze grátisexpressão".

A relação entre cancelamento e politicamente correto

Uma das facetas atuais do politicamente correto é a chamada "cultura do cancelamento". Mas essa questão é tão polêmica que não há consenso nem sejogo do blaze grátisfato ela existe.

De um lado dessa briga estão aqueles que denunciam uma nova formajogo do blaze grátisjulgamento público, particularmente nas redes sociais, que tem levado à censura e ameaçado a liberdadejogo do blaze grátisexpressão.

O outro lado da disputa rebate afirmando que o termo cancelamento é um rótulo usado como artifício por quem tenta diminuir críticas e boicotes legítimos contra pessoas ofensivas, racistas ou homofóbicas, por exemplo. Algo parecido ao uso indiscriminado da expressão "politicamente correto", usada como guarda-chuva para muitas coisas diferentes.

O movimentojogo do blaze grátisboicotes digitais ganhou força na última década como uma maneirajogo do blaze grátisamplificar a vozjogo do blaze grátisgrupos oprimidos e forçar ações políticasjogo do blaze grátisempresas ou figuras públicas.

Por não terem força política ou econômica para conseguir mudanças sozinhas, esses grupos adotam uma tática mais ou menos assim: um usuáriojogo do blaze grátismídias sociais, como Twitter e Facebook, presencia um ato que considera errado, registrajogo do blaze grátisvídeo ou foto e posta emjogo do blaze grátisconta, com o cuidadojogo do blaze grátismarcar a empresa empregadora do denunciado e autoridades públicas ou outros influenciadores digitais que possam amplificar o alcance da mensagem. É comum que,jogo do blaze grátisquestãojogo do blaze grátishoras, o post tenha sido replicado milharesjogo do blaze grátisvezes.

A cascatajogo do blaze grátismensagens a uma empresa e a eventual repercussão na mídia costuma precipitar atitudes sumárias para estancar o desgastejogo do blaze grátisimagem, como cancelar contratos ou negócios com o alvo do boicote, sem que a pessoa sob ataque possa necessariamente se defender na Justiça, por exemplo.

Por isso, alguns críticos costumam chamar esses boicotesjogo do blaze grátislinchamento público. Diante do que qualificaram como "atmosfera sufocante", um grupojogo do blaze grátis150 jornalistas, intelectuais, cientistas e artistas, considerados progressistas, resolveu publicar, na revista americana Harper's Magazine,jogo do blaze grátis2020, um texto intitulado "Uma carta sobre Justiça e Debate Aberto".

Assinada por nomesjogo do blaze grátispeso, como o linguista Noam Chomsky, os escritores J.K. Rowling e Andrew Solomon, a ativista feminista Gloria Steinem, a economista trans Deirdre McCloskey, e o cientista político Yascha Mounk, a carta afirma que "a livre trocajogo do blaze grátisinformações e ideias, força vitaljogo do blaze grátisuma sociedade liberal, tem diariamente se tornado mais restrita. Enquanto esperávamos ver a censura partir da direita radical, ela está se espalhando tambémjogo do blaze grátisnossa cultura: uma intolerância a visões opostas, um apelo à vergonha pública e ao ostracismo e a tendênciajogo do blaze grátisdissolver questões políticas complexas com uma certeza moral ofuscante".

A resposta à carta dentro do próprio movimento progressista não tardou. Um grupojogo do blaze grátisartistas, intelectuais e jornalistasjogo do blaze grátisveículos como New York Times e NPR acusou os autores da primeira carta de, do altojogo do blaze grátisseu sucesso profissional e posição confortável no mercado, ignorar as dificuldadesjogo do blaze grátisminorias, como negros e população LGBTQ+, no debate público no mundo acadêmico, nas artes, no jornalismo e no mercado editorial.

"Os signatários, muitos deles brancos, ricos e dotadosjogo do blaze grátisplataformas enormes, argumentam que têm medojogo do blaze grátisser silenciados, que a chamada cultura do cancelamento está forajogo do blaze grátiscontrole e que eles temem por seus empregos e pelo livre intercâmbiojogo do blaze grátisideias, ao mesmo tempojogo do blaze grátisque se manifestamjogo do blaze grátisuma das revistasjogo do blaze grátismaior prestígio do país", afirmam os signatários do novo documento, intitulado "Uma carta mais específica sobre Justiça e debate aberto". Vinte e três dos signatários o fizeramjogo do blaze grátisforma anônima por medojogo do blaze grátisrepresálias.

- Este texto foi publicadojogo do blaze grátishttp://www.mi-rob.com/geral-62550838

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