Mamadeirascasa da dona da betrefrigerante: 'vício'casa da dona da betbebida agrava desnutriçãocasa da dona da betindígenas:casa da dona da bet

Bebê waral bebendo refrigerante
Legenda da foto, Entre os warao, é comum encontrar crianças carregando mamadeiras com refrigerantes | Foto: Leandro Machado/BBC Brasil

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), as crianças enfrentam grave estadocasa da dona da betdesnutrição devido à alimentação escassa ou, por vezes, à má qualidade da comida. O órgão afirma que houve casoscasa da dona da betmorte por problemascasa da dona da betsaúdecasa da dona da betManaus e Belém.

Por outro lado, funcionários da prefeitura que acompanham os grupos têm enfrentado outra complicação: os indígenas consomem altas quantidadescasa da dona da betrefrigerante. Os servidores suspeitam que o excesso do produto está causando diarreia nas crianças.

A BBC Brasil acompanhou um grupocasa da dona da bet44 índios no centrocasa da dona da betBelém, 23 deles crianças. A comunicação com eles é bastante difícil, porque os warao falam apenas seu próprio idioma e não dominam a língua espanhola ou portuguesa.

De fato, as crianças beberam altas quantidadescasa da dona da betrefrigerantecasa da dona da betpoucas horas. Bebês carregavam mamadeiras cheias da bebida. Quando conseguiam algum dinheiro, os índios compravam a bebidacasa da dona da betbarracas do Ver-o-Peso, tradicional mercado popular no centrocasa da dona da betBelém.

Segundo Rita Rodrigues, psicóloga que acompanha a tribo na cidade, esse grupocasa da dona da bet44 warao chega a beber 20 litroscasa da dona da betrefrigerante por dia. "A gente tenta falar para os pais não darem refrigerante para as crianças, que poder ser ruim, mas é um hábito que eles aparentemente têm há tempos. Eles bebem o dia inteiro", diz Rodrigues.

INdígenascasa da dona da betBelém
Legenda da foto, Em um grupocasa da dona da bet44 pessoascasa da dona da betuma comunidadecasa da dona da betBelém, 23 eram crianças | Foto: Leandro Machado/BBC Brasil

Há duas semanas, devido à situação precária dos índios na capital do Pará, o MPF e a Defensoria Pública entraram na Justiça solicitando um abrigo emergencial para a etnia. Eles foram encaminhados a um albergue dentro do estádio Jornalista Edgar Augusto Proença, conhecido como Mangueirão.

Poucos dias depois, os índios decidiram deixar o local e voltar às ruas e à mendicância - parte está vivendocasa da dona da betcortiços. Segundo os funcionários da prefeitura, os motivos alegados por eles foram a dificuldadecasa da dona da betconseguir doações e até o acesso difícil ao refrigerante.

Diabetes entre os índios

A alimentação ruim e o aumento do consumocasa da dona da betprodutos com alto teorcasa da dona da betaçúcar tornou-se uma preocupação entre médicos que acompanham indígenas no Brasil.

Uma pesquisa da Universidade Federalcasa da dona da betSão Paulo (Unifesp), por exemplo, mostrou que 21% dos índios xavantes do Mato Grosso apresentavam diabetes - o índice na população brasileira écasa da dona da bet8%.

O estudo apontoou ainda que 31% dos membros da tribo têm riscocasa da dona da betdesenvolver a doença caso continuem com hábitos alimentares levados pelo homem branco.

Segundo o endocrinologista João Paulo Botelho Vieira Filho, autor da pesquisa, a diabetes tornou-se comum entre a tribo depois que a dieta tradicional indígena, formada principalmente por mandioca, milho e batata, passou a ser acompanhada por produtos industrializados distribuídoscasa da dona da betmerendas escolares e cestas básicascasa da dona da betprogramascasa da dona da betcombate à fome.

"A genética dos índios é propensa a diabetes quando a alimentação tradicional é trocada pelo açúcar. O homem branco, através dos séculos, passou por uma seleção natural: sobreviveram pessoas resistentes a diabetes. Os índios não passaram por isso, eles não foram acostumados a ingerir açúcar cristalizado", explica Vieira Filho.

Segundo ele, além da diabetes, a mudança da dieta causou outras doenças entre os membros, como obesidade, problemas renais, vasculares e cardíacos.

"A dieta tradicional indígena é uma das melhores do mundo. Não houve preocupação por parte dos governoscasa da dona da betretirar alimentos com açúcares das cestas básicas e da merenda. A proposta dos programas era acabar com a fomecasa da dona da betqualquer forma, sem pensar nas consequências nutricionais dos alimentos que estavam sendo distribuídos", diz.

Indígenascasa da dona da betBelém
Legenda da foto, Os índios Warao começaram a desembarcarcasa da dona da betBelémcasa da dona da betjulho | Foto: Leandro Machado/BBC Brasil

Para Érika Blandino, nutricionista e mestrecasa da dona da betsaúde pública pela USP, há risco para saúde quando crianças substituem alimentação ricacasa da dona da betnutriente por produtos com alto teorcasa da dona da betaçúcar, como o refrigerante.

"O ideal é retardar esse contato da criança com refrigerante o maior tempo possível, não tem uma idade certa. Quando ele introduzido precocemente,casa da dona da betforma alguma é um alimento para substituir o leite materno", explica.

Os alimentos distribuídos nos abrigos públicos que receberam os warao venezuelanos também tem sido alvocasa da dona da betcríticas.

"De forma emergencial, para matar a fome, os índios receberam alimentos que não fazem partecasa da dona da betsua dieta. Ocorre que essa alimentação continua sendo distribuída. A longo prazo, ela é inadequada. O ideal seria oferecer uma dietacasa da dona da betque eles pudessem preparar seus próprios alimentos, com base nacasa da dona da betcultura tradicional", afirma João Akira, procurador da República que vem acompanhando os grupos venezuelanos.

Para Vieira Filho, a tomadacasa da dona da betterritórios indígenas pelo agronegócio ou madeireiros também influencia na saúde das tribos. "Os índios precisamcasa da dona da betterras ecasa da dona da betespaço para produzir seus alimentos. No momentocasa da dona da betque eles perdem essas áreas,casa da dona da betalimentação piora, pois passam a depender da dieta do homem branco", diz.

Indígenascasa da dona da betBelém
Legenda da foto, Membros da etnia warao têm vividocasa da dona da betforma precária no país: crianças estão desnutridas e com diarreia por causa do alto consumocasa da dona da betaçúcar | Foto: Leandro Machado

Akira também critica a estrutura dos abrigos oferecidos por prefeituras e governos estaduais. "Os abrigos são inadequados do pontocasa da dona da betvista sanitário,casa da dona da betsegurança,casa da dona da betalimentação. O Estado brasileiro está confinando centenascasa da dona da betpessoascasa da dona da betginásioscasa da dona da betesporte insalubres. É uma situação dramática que não está ganhando a devida atenção do Estado brasileiro", diz Akira.

Migração e retorno

Segundo um relatório antropológico do MPF, que passou a acompanhar os warao desde o ano passado, as famílias que chegaram ao país viviam anteriormentecasa da dona da betregiões próximas do Orinoco, o principal rio da Venezuela. Eles são o principal grupo indígena do país, com aproximadamente 49 mil integrantes.

Durante o governocasa da dona da betHugo Chávez, a etnia dependiacasa da dona da betdoações e ajudacasa da dona da betprogramas sociais. Muitos viviam nas ruas,casa da dona da betcidades como Tucupita e Barrancas. Depois, diante da crise econômica no governo Nicolás Maduro, tanto os benefícios sociais quanto as doações nas cidades rarearam a pontocasa da dona da betobrigar os índios a se mudar.

"Nas cidades venezuelanas, o comércio é o principal meiocasa da dona da betacesso dos warao aos bens alimentícios, o qual ficou comprometido com o aumento substancial dos preçoscasa da dona da betitens básicos da alimentação local, como arroz, farinhacasa da dona da bettrigo, banana e mandioca", diz o relatório. "A escassezcasa da dona da betcomida e seu alto custo na Venezuela eram constantemente ressaltadas como as principais causas para saíremcasa da dona da betseu paíscasa da dona da betorigem."

A migração para fugir da fome e encontrar melhores condiçõescasa da dona da betvida é uma das características dos warao, segundo o MPF. Tem sido comum, por exemplo, algumas pessoas retornarem à Venezuela depoiscasa da dona da betuma temporada no Brasil.