De padre pró-armas a cardeal ambientalista: como eleição divide a Igreja Católica:dafabet 642
- Leandro Prazeres
- Da BBC News Brasildafabet 642Brasília

Crédito, Getty Images
dafabet 642 Os gritos que ecoaram dentrodafabet 642uma igreja católica e interromperam uma missadafabet 642Jacareí (SP) no domingo (16/10) não revelaram apenasdafabet 642discordância com o sermão do padre Everton Machado. "O senhor não vai falardafabet 642Marielle Franco dentro da casadafabet 642Deus. Uma esquerdista do PSOL, uma homossexual, que quer a ideologiadafabet 642gênero dentro da escola das crianças", disse.
A interrupção da missa aos gritos pela mera citação ao nomedafabet 642Marielle Franco, um ícone da esquerda, assassinada no Riodafabet 642Janeirodafabet 6422018, colocaram à mostra como a Igreja Católica está sendo afetada pela disputa acirrada pelo voto dos seus fiéis na reta final do segundo turno.
"O abuso da religião para fins eleitorais nestas eleições deixou exposta uma fratura na Igreja Católica", disse a antropóloga e coordenadora acadêmica do Institutodafabet 642Estudos da Religião (ISER), Regina Novaes.
Edafabet 642meio a essa disputa, a diferençadafabet 642posicionamento entre religiosos explicita ainda mais essa "fratura". De um lado, padres como Edivaldo Betioli defendem abertamente o votodafabet 642Jair Bolsonaro e pautas como o usodafabet 642armas para legítima defesa. Do outro, o cardeal da Amazônia e arcebispodafabet 642Manaus, Dom Leonardo Steiner, conhecido por suas posiçõesdafabet 642prol do meio ambiente e por críticas ao presidente Bolsonaro, ataca a transformação da religiãodafabet 642"ideologia".
Corrida eleitoral acirrada
A disputa pelo voto católico se acirrou nas últimas semanas.. No primeiro turno, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) obteve 48,43% dos votos contra 43,20% do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Nadafabet 642tentativadafabet 642tirar uma diferençadafabet 6426,1 milhõesdafabet 642votos, Bolsonaro vem intensificando suas participaçõesdafabet 642eventos católicos enquanto Lula tenta manter a vantagem.
A estratégiadafabet 642Bolsonaro tem como base a noçãodafabet 642que a maioria do eleitorado católico declara votodafabet 642Lula e não no presidente e a constataçãodafabet 642que o volumedafabet 642eleitores católicos é maior que o evangélico, onde Bolsonaro já aparenta ter uma vantagem consolidada.
Segundo pesquisa do Instituto Datafolhadafabet 6422020, 50% dos brasileiros se autodeclaram católicos, contra 31% que afirmam ser evangélicos.
Segundo a pesquisadafabet 642intençãodafabet 642voto mais recente do Ipec (ex-Ibope), 56% dos entrevistados afirmam que votariamdafabet 642Lula, enquanto apenas 38% apoiam Bolsonaro. O cenário se inverte no segmento evangélico.
De acordo com a mesma pesquisa, 60% afirmam que votariamdafabet 642Bolsonaro contra 32%dafabet 642Lula.
Ao longo desse esforço pelo voto católico, Bolsonaro participou, recentemente, da procissãodafabet 642homenagem à Nossa Senhoradafabet 642Nazaré,dafabet 642Belém, e à Nossa Senhoradafabet 642Aparecida (padroeira do Brasil),dafabet 642Aparecida do Norte (SP).
A passagemdafabet 642Bolsonaro pela cidade paulista, no entanto, chamou atenção pelo tumulto causado por apoiadores do presidente que hostilizaram uma equipedafabet 642reportagemdafabet 642uma TV local e uma pessoa que usava uma camisa vermelha. Apoiadores do presidente também vaiaram o arcebispodafabet 642Aparecida, Dom Orlando Brandes, que disse, nadafabet 642homilia, que o Brasil precisava vencer os "dragões" do ódio e da violência.
A fissura
A antropóloga Regina Novaes avalia que episódios como a interrupçãodafabet 642missasdafabet 642São Paulo e no Paraná são reflexodafabet 642um processo que ela classificou como "religiogização (sic) da política".
"Isso acontece quando as identidades religiosas são acionadas e se sobrepõem ao debate político. É como se a identidade religiosa passasse a ser mais importante que as questões meramente políticas", disse a antropóloga.
Novaes explica que, historicamente, a Igreja Católica, tanto no clero quanto entre os seus fiéis, sempre foi dividida.
"Sempre houve divisões dentro do catolicismo. Nos anos 1970, líderes religiosos mais progressistas tiveram mais espaço. Depois, houve uma reação mais conservadora nos anos 1980 e 1990. Agora, há um momento mais progressista por conta do papadodafabet 642Francisco, mas as divisões continuam existindo. E elas também são vistas entre os fiéis", explicou a antropóloga.
Regina Novaes disse, no entanto, que a "religiogização da política" fez com que essas divergências deixassemdafabet 642ser tratadas nos "corredores" e passaram a ser vistas na "saladafabet 642estar" do catolicismo,dafabet 642uma alusão às missas.
"No catolicismo, o padre é alguém que exerce certa hierarquia sobre os fiéis. Quando você vê um fiel interrompendo uma missa e desafiando o padre, é porque há uma ruptura muito grande do laço que havia antes. E essa ruptura só ocorreu por conta do processo político", afirmou a antropóloga.
Essa "ruptura" mencionada por Regina Novaes pode ser exemplificada na diferença com a qual dois religiosos se manifestam sobre o atual momento político do Brasil.
Oficialmente, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) - principal representação da Igreja Católica no país - manteve a neutralidade e não declarou votodafabet 642nenhum candidato, mas isso não vem impedindo que padresdafabet 642diferentes correntes ideológicas se posicionem sobre as eleições.
Armas x meio ambiente
De um lado estão padres como Edivaldo Betioli, que defende o acesso a armasdafabet 642fogo para a legítima defesa e diz que o Brasil viveria uma suposta ameaça comunista. Ele declara seu voto a Jair Bolsonaro.
Do outro há padres como Frei David Santos e Júlio Lancelotti, que já declararam seus votosdafabet 642Lula. Há também sacerdotes com o cardeal Dom Leonardo Steiner, que não declara seu voto, mas faz críticas a Bolsonaro, ainda que sem mencionar o seu nome diretamente.
Betioli ficou conhecidodafabet 6422018 quando foi fotografado com um revólver e por defender o acesso a armasdafabet 642fogo nos casosdafabet 642legítima defesa. Por conta disso, ele passou a ser associado ao presidente Jair Bolsonaro, que apoia abertamente a pauta armamentista.
O padre mantém um canal no YouTubedafabet 642que grava novenas e orações. Em agosto deste ano, ele liderou uma novena virtual cujo fim culminaria no Dia da Independênciadafabet 642que pedia a intercessãodafabet 642Nossa Senhoradafabet 642Nazaré contra o "comunismo", o "ateísmo" o "laicismo", corrente que sustenta a ideiadafabet 642estado laico presente na Constituição Federaldafabet 6421988.

Crédito, Reprodução/YouTube
Padre Edivaldo Betioli grava orações e novenasdafabet 642seu canal no YouTube. O padre diz ser a favor do usodafabet 642armasdafabet 642fogodafabet 642legítima defesa
"Livrai-nos, mãedafabet 642Deus e nossa, do flagelo do comunismo", diz um trecho da oração.
À BBC News Brasil, Betioli disse que rechaça o rótulodafabet 642"pró-Bolsonaro", mas admite que apoia a reeleição do presidente para evitar o retorno do PT ao poder.
"O atual presidente não é o candidato perfeito, e está longe da perfeição, mas ainda assim é a única alternativa contra o projetodafabet 642poder petista, que é mau e destruidor. O Partido dos Trabalhadores é publica e notoriamente favorável ao assassinatodafabet 642bebês no ventre materno e seu líder defende o aborto como questãodafabet 642saúde pública", disse o padre.
A descriminalização do aborto não aparece nas diretrizes do programadafabet 642governo que o PT divulgou na internet. Em abril, Lula disse, durante o evento, que o aborto deveria ser tratado como uma questãodafabet 642saúde pública. Na terça-feira (18/10),dafabet 642entrevista ao podcast Flow, ele disse ser contra o aborto e que a questão deveria ser decidida pela "lei".
Outro ponto no qual Betioli ecoa as pautasdafabet 642Bolsonaro é com relação à pauta armamentista e o suposto riscodafabet 642uma ameaça comunista ao Brasil.
Ele diz não defender medidas que facilitem o acesso a armas, mas sustentou que defende o direito ao usodafabet 642armas para a legítima defesa e diz não acreditar que a maior circulaçãodafabet 642armas possa trazer perigo.
"Sobre os dez mandamentos: o não matar diz respeito ao homicídio voluntário. A legítima defesa não se configura como um. Não temo que mais armas gerem mais violência", disse.
Questionado sobre o comunismo, ele diz acreditar que o país vive sob ameaçadafabet 642implantação do regime.
"Em relação ao Brasil, basta lermos todos os documentos do Partido dos Trabalhadores, desdedafabet 642fundação, cadernosdafabet 642teses, resoluções, atasdafabet 642congressos, bem como declarações do seu candidato e suas relaçõesdafabet 642amizade e inspiração com líderes socialistas para percebermos para onde querem levar o país. O comunismo é um perigo real", disse o padre.

Crédito, BBC Brasil
Dom Leonardo Steiner foi empossado cardeal pelo Papa Francisco. Ele é arcebispodafabet 642Manaus e conhecido por posições pró-meio ambiente
Dom Leonardo Steiner, pordafabet 642vez, vai na contramão do que disse Betioli. Empossado cardeal pelo Papa Francisco, o sacerdote critica a pauta armamentista defendida por Bolsonaro, rechaça a ideiadafabet 642que o país vive sob uma ameaça comunista e ataca o uso da religião como instrumento político.
"Não seidafabet 642que comunismo estão falando. Eu tenho 72 anos e não acho que nós tenhamos corrido esse risco nem mesmodafabet 6421964 (ano do golpe militar) [...] quando se coloca uma questão ideológica como essa é quase impossível discutir determinadas acusações", disse Steiner à BBC News Brasil.
Ao criticar a pauta armamentista, Dom Leonardo Steiner cita o exemplodafabet 642São Franciscodafabet 642Assis, que teria pedido a seus seguidores que andassem desarmados.
"Não édafabet 642armas que criamos novas relações. A agressão só cresce. Achamos que estamos protegidos, mas não estamos protegidos. Veja nos Estados Unidos a quantidadedafabet 642morte causada por armas legalmente adquiridas [...] vivemos uma realidadedafabet 642que a fraternidade está ficando esquecida", disse o sacerdote.
Conhecido pordafabet 642defesa do meio ambiente, o cardeal criticou a política ambiental do governo Bolsonarodafabet 642entrevista publicada nesta semana ao jornal O Globo.
"A depredação da Amazônia preocupa. O governo não tem feito muito coisa, eu diria que até tem incentivado, por meio das palavras, o descuidodafabet 642relação à Amazônia", disse.

Crédito, Clauber Cleber Cateano/PR
O presidente Jair Bolsonaro participou da romaria fluvialdafabet 642homenagem a Nossa Senhoradafabet 642Nazaré,dafabet 642Belém (PA)
Abuso da fé
A intensificação da corrida pelos votos católicos fez com que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) emitisse uma nota oficial na véspera do feriadodafabet 642Nossa Senhora Aparecida condenando o que classificou como "exploração da fé como caminho para angariar votos no segundo turno".
"A manipulação religiosa sempre desvirtua os valores do Evangelho e tira o foco os reais problemas que necessitam ser debatidos e enfrentadosdafabet 642nosso Brasil", diz um trecho da nota.
Para Regina Novaes, o padrãodafabet 642abuso da fé conduzido por Bolsonaro fez com que Lula também aderisse à prática.
"Hoje, a gente vê um abuso do uso da religião para fins políticos dos dois lados. Mas não podemos deixardafabet 642mencionar que Lula faz esse movimento como uma reação ao padrão adotado por Bolsonaro", disse a antropóloga.

Crédito, Ricardo Stuckert
Lula participadafabet 642evento com freis franciscanosdafabet 642São Paulo na reta final do segundo turno
Para Regina Novaes, a Igreja Católica não está preparada para lidar com esse fenômeno.
"A Igreja Católica é marcada pela hierarquia. Ela não está equipada para lidar com a contestação direta pelos fieis ou mesmo entre o clero causada por motivos políticos. A lógica que a gente via nas denominações evangélicas foi transferida para o meio católico", disse.
Dom Leonardo Steiner, pordafabet 642vez, diz acreditar que os danos causados pelas eleições deste ano não irão prejudicar a Igreja.
"A Igreja Católica é uma instituição milenar. Já atravessamos coisas muito mais complicadas que isso. Acredito que depois das eleições, a situação vai se normalizar", disse.
- Este texto foi publicadodafabet 642http://www.mi-rob.com/brasil-63323875














