A 'epidemia'sites de apostas de 1 realdesaparecimentossites de apostas de 1 realindígenas que intriga os EUA:sites de apostas de 1 real

  • Alessandra Corrêa
  • De Washington (EUA) para a BBC News Brasil
Carolyn DeFord beija a mãe, Leona Kinsey

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Há maissites de apostas de 1 realduas décadas Carolyn DeFord (à direita) busca pistas sobre o paradeirosites de apostas de 1 realsua mãe, Leona Kinsey (à esquerda)

sites de apostas de 1 real A americana Carolyn DeFord passou os últimos 22 anos procurando porsites de apostas de 1 realmãe, Leona Kinsey. Descendente da tribo indígena Puyallup, Kinsey foi vista pela última vezsites de apostas de 1 real25sites de apostas de 1 realoutubrosites de apostas de 1 real1999, emsites de apostas de 1 realcasasites de apostas de 1 realLa Grande, cidadesites de apostas de 1 realpouco maissites de apostas de 1 real13 mil habitantes no Estadosites de apostas de 1 realOregon.

"Nós não sabemos o que aconteceu", diz DeFord à BBC News Brasil.

"Ela disse a uma amiga que estava indo ao supermercado encontrar um homem chamado John e que depois passaria na casa dessa amiga."

Três dias depois, o carrosites de apostas de 1 realKinsey foi localizado no estacionamento do supermercado. Mas ela nunca mais foi vista.

"A polícia registrou o desaparecimento, mas inicialmente disseram que ela era maiorsites de apostas de 1 realidade e tinha o direitosites de apostas de 1 realsumir se quisesse e que não havia nada que pudessem fazer", lembra DeFord.

Descrita pela filha como "forte e independente", Kinsey tinha 45 anossites de apostas de 1 realidade quando desapareceu. DeFord questiona se o caso recebeu a atenção devida, lembrando que Kinsey trabalhava fazendo bicos e havia enfrentado problemas legais no passado.

"Minha mãe não tinha uma posiçãosites de apostas de 1 realstatus na comunidade para que se importassem com o que aconteceu com ela", afirma.

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Com o passar do tempo e a faltasites de apostas de 1 realavanços no caso, DeFord, que na época do desaparecimento tinha 25 anossites de apostas de 1 realidade, três filhos pequenos e morava no Estado vizinhosites de apostas de 1 realWashington, passou a realizarsites de apostas de 1 realprópria campanha para tentar encontrar a mãe.

Aos poucos, ela começou a entrarsites de apostas de 1 realcontato com outras pessoas na mesma situação, e acabou fundando uma associaçãosites de apostas de 1 realapoio às famíliassites de apostas de 1 realindígenas desaparecidos ou assassinados.

DeFord continua buscando saber o que aconteceu comsites de apostas de 1 realmãe. Mas, maissites de apostas de 1 realduas décadas depois, o desaparecimentosites de apostas de 1 realKinsey continua sem solução.

O drama enfrentado porsites de apostas de 1 realfamília é parte do que ativistas, políticos e o próprio presidente americano descrevem como uma "epidemia": milharessites de apostas de 1 realindígenas do país, especialmente mulheres e meninas, estão desaparecidos ou foram assassinados,sites de apostas de 1 realcasos muitas vezes ignorados pelas autoridades.

Muitas mulheres indígenas são vítimassites de apostas de 1 realviolência sexual ou tráficosites de apostas de 1 realpessoas. Grande parte dos desaparecidos nunca são encontrados.

Leona Kinsey

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Leona Kinsey é descendente da tribo indígena Puyallup e desapareceusites de apostas de 1 real1999 na cidadesites de apostas de 1 realLa Grande, no Estadosites de apostas de 1 realOregon

O problema voltou a ganhar atenção no mês passado, quando o presidente Joe Biden assinou uma ordem executiva estabelecendo prazosites de apostas de 1 real240 dias para que os Departamentossites de apostas de 1 realJustiça, do Interior esites de apostas de 1 realSegurança Interna apresentem uma estratégia para enfrentar a "crisesites de apostas de 1 realviolência" contra indígenas.

"Ações executivas anteriores não alcançaram mudanças suficientes para reverter a epidemiasites de apostas de 1 realpessoas indígenas desaparecidas ou mortas esites de apostas de 1 realviolência contra indígenas americanos", disse Biden.

Faltasites de apostas de 1 realdados

Em abril, a secretária do Interior, Deb Haaland, primeira indígena a ocupar o cargo, já havia anunciado a criaçãosites de apostas de 1 realuma unidade especial para investigar casossites de apostas de 1 realindígenas desaparecidos e assassinados.

Nos últimos anos, vários Estados também criaram suas próprias forças-tarefas para combater o problema.

Mas, apesarsites de apostas de 1 realessa ser uma crise que persiste há décadas, até hoje não se sabe ao certo nem mesmo o númerosites de apostas de 1 realpessoas afetadas.

Não existe um bancosites de apostas de 1 realdados único que reúna essas informações, e há discrepâncias nos dados das diferentes agências e organizações que monitoram o problema.

Segundo o Centro Nacionalsites de apostas de 1 realInformações Criminais (NCIC, na siglasites de apostas de 1 realinglês), ligado ao FBI (a polícia federal americana), há atualmente cercasites de apostas de 1 real1,5 mil indígenas desaparecidos no país.

O NCIC recebeu 5.295 registrossites de apostas de 1 realmulheres e meninas indígenas desaparecidassites de apostas de 1 real2020, dos quais 578 continuavam ativos no fim do ano.

Outros 4.276 casos envolviam homens e meninos indígenas, sendo que 918 permaneciam ativossites de apostas de 1 realdezembro passado.

Ativistas dizem que o número real é bem maior.

Segundo relatório publicadosites de apostas de 1 real2018 pelo Institutosites de apostas de 1 realSaúde Indígena Urbana, parte da Comissãosites de apostas de 1 realSaúde Indígenasites de apostas de 1 realSeattle, das 5.712 mulheres e meninas indígenas desaparecidas registradas no NCICsites de apostas de 1 real2016, somente 116 estavam incluídas no bancosites de apostas de 1 realdados sobre desaparecidos do Departamentosites de apostas de 1 realJustiça.

As autoras do estudo buscaram informações com departamentossites de apostas de 1 realpolíciasites de apostas de 1 real71 cidadessites de apostas de 1 real29 Estados. Em 59% dos casos, os dados não foram fornecidos ou foram entregues incompletos.

Após pesquisarem relatos na imprensa e entrevistarem membrossites de apostas de 1 realcomunidades indígenas, as autoras encontraram maissites de apostas de 1 real150 mulheres desaparecidas ou assassinadas que a polícia não havia identificado.

"Constatamos que, quando mulheres e meninas indígenas desaparecem ou são mortas, as autoridades não investigamsites de apostas de 1 realforma apropriada e não ajudam (as famílias) e encontrá-las ou a solucionar os crimes", diz à BBC News Brasil a diretora do instituto, Abigail Echo-Hawk, que é coautora do relatório.

"Os bancossites de apostas de 1 realdados não mostravam que havia um problemasites de apostas de 1 realmulheres indígenas desaparecidas e assassinadas. E então eles não estavam investigando nem colocando recursos para nos ajudar a acabar com a violência", afirma Echo-Hawk, que pertence à Nação Pawneesites de apostas de 1 realOklahoma.

Segundo ela, o relatório serviu para chamar a atenção para o problema, mas pouco mudou desdesites de apostas de 1 realpublicaçãosites de apostas de 1 realrelação à coletasites de apostas de 1 realdados oficiais. Diante disso, organizações comunitárias começaram a montar seus próprios bancosites de apostas de 1 realdados.

Em um relatóriosites de apostas de 1 real2020, o Sovereign Bodies Institute (Instituto Corpos Soberanos), organização sem fins lucrativos que compila dados sobre violência contra indígenas, documentou 2.306 casossites de apostas de 1 realmulheres e meninas desaparecidas ou assassinadas no país.

Carolyn DeFord protestando

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Carolyn DeFord fundou associaçãosites de apostas de 1 realapoio a famíliassites de apostas de 1 realindígenas desaparecidos e assassinados

Ao examinar detalhadamente 105 casos ocorridos na Costa Oeste, o estudo concluiu que 62% das vítimas nunca foram incluídassites de apostas de 1 realnenhum bancosites de apostas de 1 realdados oficial sobre desaparecidos.

Violência desproporcional

A faltasites de apostas de 1 realdados confiáveis é resultadosites de apostas de 1 realuma combinaçãosites de apostas de 1 realfatores. Alguns sistemas têm informações incompletas ou incorretas, e muitos não incluem categoria racial das vítimas.

Também é comum que indígenas sejam identificados erroneamente como brancos, asiáticos ou hispânicos. Muitas vezes não há referência à tribo à qual a vítima pertence, o que faz com que a comunidade nem saiba que houve crime contra umsites de apostas de 1 realseus membros, e assim não possa exigir investigação.

Um históricosites de apostas de 1 realséculossites de apostas de 1 realviolência contra indígenas também faz com que muitos não confiem na polícia ou nas autoridades federais e acabem não denunciando ou compartilhando informações sobre crimes.

Mas, mesmo sem dados precisos, há evidênciassites de apostas de 1 realque indígenas americanos sofrem taxas desproporcionaissites de apostas de 1 realviolência.

De acordo com dados do Censo americano, há 574 tribos indígenas reconhecidas pelo governo federal. A população indígena no país ésites de apostas de 1 realcercasites de apostas de 1 real7 milhões, número que inclui pessoas que declaram pertencer a maissites de apostas de 1 realuma categoria racial.

Um relatório publicadosites de apostas de 1 real2016 pelo Instituto Nacionalsites de apostas de 1 realJustiça, ligado ao Departamentosites de apostas de 1 realJustiça, estima que 1,5 milhãosites de apostas de 1 realmulheres indígenas no país sofreram violência ao longo da vida, incluindo abuso sexual e agressão física.

Segundo o documento, nos Estados Unidos mulheres indígenas têm até três vezes mais chancesites de apostas de 1 realserem vítimassites de apostas de 1 realviolênciasites de apostas de 1 realcomparação com mulheressites de apostas de 1 realoutras raças. O Departamentosites de apostas de 1 realJustiça estima que somente 13% dos casossites de apostas de 1 realagressão sexual contra indígenas resultemsites de apostas de 1 realprisão do agressor.

Dados do Departamentosites de apostas de 1 realSaúde indicam que homicídio é a terceira principal causasites de apostas de 1 realmortesites de apostas de 1 realmulheres e meninas indígenas com idadessites de apostas de 1 real12 a 30 anos.

Outro estudo, financiado pelo Departamentosites de apostas de 1 realJustiça, calcula que,sites de apostas de 1 realalgumas reservas indígenas, a taxasites de apostas de 1 realhomicídiossites de apostas de 1 realmulheres chega a ser maissites de apostas de 1 real10 vezes maior do que a média nacional.

Mas a violência não está restrita às áreas pertencentes a reservas, já que maissites de apostas de 1 real70% dos indígenas nos Estados Unidos vivemsites de apostas de 1 realáreas urbanas.

E mesmo quando o crime ocorre nas reservas, é comum que o agressor sejasites de apostas de 1 realfora. A maioria das entrevistadas no relatório do Instituto Nacionalsites de apostas de 1 realJustiça disse que seu agressor não era indígena.

Emaranhadosites de apostas de 1 realjurisdições

O combate à crise é complicado pelo fatosites de apostas de 1 realque a polícia das reservas não pode prender ou processar agressores que não sejam membrossites de apostas de 1 realuma tribo, mesmo que tenham cometido crimessites de apostas de 1 realseu território ou que as vítimas sejam indígenas.

Quando o criminoso não é indígena, cabe às autoridades federais decidir se o caso será investigado e levado à Justiça.

Isso é frutosites de apostas de 1 realuma decisão da Suprema Corte (a mais alta instância da Justiça americana)sites de apostas de 1 real1978, no caso Oliphant versus Suquamish, que determinou que tribos indígenas não têm jurisdição sobre crimes cometidos por pessoas não indígenas.

Ativistas dizem que essa decisão agravou a crisesites de apostas de 1 realindígenas desaparecidos ou assassinados, principalmente mulheres vítimassites de apostas de 1 realviolência sexual.

No casosites de apostas de 1 realindígenas vítimassites de apostas de 1 realcrimes forasites de apostas de 1 realreservas, a investigação costuma ficar a cargosites de apostas de 1 realautoridades estaduais.

Em crimes cometidos por membrossites de apostas de 1 realtribos dentro das reservas, a jurisdição depende do Estado:sites de apostas de 1 realalguns, a polícia indígena divide a responsabilidade com autoridades estaduais, esites de apostas de 1 realoutros, com federais.

Em muitos crimes, há discordância sobre quem deve ser responsável pela investigação: a polícia local, estadual, o FBI ou a polícia indígena.

Essa burocracia e faltasites de apostas de 1 realcoordenação fazem com que muitos casos não sejam investigados ou processados.

Segundo dados do Departamentosites de apostas de 1 realJustiçasites de apostas de 1 real2019,sites de apostas de 1 realmaissites de apostas de 1 realum terço dos crimes cometidos por agressoressites de apostas de 1 realoutras raçassites de apostas de 1 realterras indígenas, promotores federais decidiram não seguir adiante com um processo.

"Eles criaram uma sériesites de apostas de 1 realleis e políticas que efetivamente permitem que pessoas nos matem, nos sequestrem, sem medosites de apostas de 1 realserem punidas se forem pegas", afirma Echo-Hawk.

"Esse emaranhadosites de apostas de 1 realjurisdições permite que agressores se aproveitem dessa brecha e andemsites de apostas de 1 realreservasites de apostas de 1 realreserva perpetuando violência."

Nos últimos anos, algumas tribos conquistaram o direitosites de apostas de 1 realdeter suspeitossites de apostas de 1 realseus territórios se estes estiverem quebrando leis estaduais ou federais.

Um programa do Departamentosites de apostas de 1 realJustiça envolvendo duas dezenassites de apostas de 1 realtribos garante a autoridades nessas reservas o direitosites de apostas de 1 realprocessar casossites de apostas de 1 realviolência doméstica contra suspeitos não indígenas. Uma propostasites de apostas de 1 realtramitação no Congresso ampliaria esse direito a outras tribos.

Abigail Echo-Hawk

Crédito, Divulgação/Mel Ponder

Legenda da foto, Abigail Echo-Hawk é coautorasites de apostas de 1 realrelatório sobre mulheres e meninas indígenas desaparecidas nos EUA

Mas o efeito dessas iniciativas ainda é limitado. E mesmo quando a polícia indígena fica responsável pela investigação, a faltasites de apostas de 1 realrecursos esites de apostas de 1 realpessoal para cobrir grandes extensõessites de apostas de 1 realterra muitas vezes dificulta a resolução dos casos.

Em meio a todos esses empecilhos, famílias como asites de apostas de 1 realCarolyn DeFord acabam assumindo a investigação sobre seus desaparecidos.

Muitas organizam mutirões com a ajudasites de apostas de 1 realconhecidos para colar cartazessites de apostas de 1 reallocais públicos e fazer buscassites de apostas de 1 realáreas remotas. Também tentam chamar a atenção para seus casos nas redes sociais.

Mas, assim como DeFord, é comum que fiquem anos sem ter respostas,sites de apostas de 1 realcasos que nunca são solucionados.

Tratamento diferente

DeFord diz que o casosites de apostas de 1 realsua mãe retrata problemas comuns enfrentados por indígenas vítimassites de apostas de 1 realviolência e suas famílias.

"Eles não levaram seu desaparecimento a sério", acredita. "Fizeram o registro, mas esperaram que ela voltasse para casa. Esperaram semanas antessites de apostas de 1 realcomeçar a procurar."

Echo-Hawk diz ter ouvido vários relatossites de apostas de 1 realque as autoridades parecem não acreditar que a pessoa desaparecida corre perigo.

"Trabalheisites de apostas de 1 realvários casossites de apostas de 1 realque alguém desapareceu e depois foi encontrado morto. E quando as famílias foram registrar o desaparecimento, ouviram da polícia perguntas como 'Ela estava bebendo?' ou 'Ela era trabalhadora sexual?'", relata.

"Fazendo suposições baseadassites de apostas de 1 realpreconceitos e estereótipos sobre pessoas indígenas. Suposições que não fariam se fosse uma mulher branca desaparecida", observa Echo-Hawk.

Ativistas criticam o fatosites de apostas de 1 realque o desaparecimentosites de apostas de 1 realindígenas não costuma ganhar a mesma atenção das autoridades, do público e da imprensa do que casossites de apostas de 1 realque a vítima é branca.

A disparidade ficou evidente recentemente no desaparecimentosites de apostas de 1 realGabby Petito, uma jovemsites de apostas de 1 real22 anos cujo corpo foi encontradosites de apostas de 1 realum floresta no Estadosites de apostas de 1 realWyoming após semanassites de apostas de 1 realbuscas frenéticas que geraram comoção nacional.

"Quando essa jovem branca e loira desapareceu, o Estado inteiro se mobilizou para encontrá-la", diz Echo-Hawk, lembrando que há maissites de apostas de 1 real700 indígenas desaparecidossites de apostas de 1 realWyoming.

"Todos merecem o tiposites de apostas de 1 realresposta que a famíliasites de apostas de 1 realGabby Petito recebeu."

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