Por que cada vez mais jovens estão exaustos na Suécia, o 'paraíso' das leis trabalhistas:realsbet telegram

É um clichê quando falamos da Suécia: as pessoas lá trabalhamrealsbet telegramescritórios amplos com mobiliário ergonômico, e fazem várias pausas ao longo do dia - chamadasrealsbet telegramfika - para lanches, geralmente acompanhadosrealsbet telegramum pãozinhorealsbet telegramcanela. Na sexta-feira, a chefia libera todo mundo para sair mais cedo - e as pessoas se mandam para chalés à beirarealsbet telegramalgum lago paradisíaco.

Embora nem todos os trabalhadores tenham tais luxos, os números sugerem que menosrealsbet telegram1% dos suecos trabalham 50 horas por semana ou mais (no Brasil, a jornada regulamentar érealsbet telegram44 horas por semana), e os cidadãos suecos têm garantiarealsbet telegrampelo menos cinco semanasrealsbet telegramférias.

Há uma forte culturarealsbet telegramtrabalho flexível, juntamente com algumas das mais generosas licenças parentais e subsídios para quem tem filhos no mundo.

Por isso tudo, não é um lugar onde você esperaria encontrar um funcionário exausto que está lutando para concluir tarefas no localrealsbet telegramtrabalho ou que não consegue "desligar" do trabalho quando chegarealsbet telegramcasa.

Mas o númerorealsbet telegrampessoas diagnosticadas com doenças crônicas relacionadas ao estresse - incluindo a exaustão, uma condição também conhecida como "esgotamento clínico" ou "síndromerealsbet telegramburnout" - aumentou rapidamente nos últimos anos. Esta categoriarealsbet telegramdoença foi a razão mais comum para os suecos faltarem o trabalhorealsbet telegram2018,realsbet telegramacordo com a Swedish Social Insurance Agency (equivalente sueca do INSS brasileiro).

A síndromerealsbet telegramburnout foi responsável por maisrealsbet telegram20% dos casosrealsbet telegramauxílio-doençarealsbet telegramtodas as faixas etárias, no ano passado.

As taxas cresceram dramaticamente entre os jovens trabalhadores, com um aumentorealsbet telegram144% dos casos envolvendo pessoas entre 25 e 29 anos desde 2013.

As mulheres são mais propensas do que os homens a ficar doentes com exaustão - especialistas dizem que as mulheres ainda gastam mais temporealsbet telegramtarefas domésticas, independentementerealsbet telegramterem filhos ou não, e estão super-representadasrealsbet telegramtrabalhos estressantes, baseadosrealsbet telegramcuidados, como a enfermagem e o trabalho social. Apesar disso, o aumento tem sido perceptívelrealsbet telegramambos os sexos erealsbet telegramdiferentes setores.

'Um nível alto e constanterealsbet telegramestresse'

Natali Suonvieri,realsbet telegram27 anos, moradorarealsbet telegramGotemburgo, na costa oeste da Suécia, está entre as afetadas.

Ela diz que "bateu na parede" e foi desligada com exaustãorealsbet telegram2017, enquanto trabalhava como gerenterealsbet telegrammarketingrealsbet telegramuma pequena startup. Seu horáriorealsbet telegramtrabalho "normal" era das 08h às 17h, embora às vezes ela trabalhasse horas extras e checasse seus emails à noite.

"Eu tinha um nível alto e constanterealsbet telegramestresse", explica ela. "Eu estive doente por maisrealsbet telegramum ano, e, por três ou quatro meses, eu fiquei deitada na camarealsbet telegramposição fetal, mais ou menos", diz.

Ela afirma que a síndromerealsbet telegramburnout a deixou com problemas cognitivos. "Eu tenho dificuldaderealsbet telegramme concentrar. Eu tenho dificuldaderealsbet telegrammanter o foco… e problemasrealsbet telegramlembrar coisas".

Embora muitos países não reconheçam formalmente a exaustão ou o esgotamento clínico como uma condição médica, este é um diagnóstico legítimo na Suécia desde 2003.

A professora Marie Åsberg é psiquiatra do Instituto Karolinska, o maior centro acadêmicorealsbet telegrampesquisa médica da Suécia. Ela explica que é importante reconhecer que a doença engloba muito mais do que a sensaçãorealsbet telegramestar sobrecarregado no trabalho, uma reação comum durante períodos estressantes. Muitas vezes o que chamamosrealsbet telegram"burnout" geralmente desaparece quando as coisas se acalmam.

Embora os sintomas do esgotamento clínico possam variar, ela diz que eles tipicamente incluem "um estresse crônico contínuo", que pode se manifestarrealsbet telegramfadiga severa, ansiedade, dificuldadesrealsbet telegramconcentração e outras perturbações cognitivas.

"Uma vez desenvolvido, leva muito tempo para se recuperar. Se o seu cérebro não funciona adequadamente, é muito difícil ir trabalhar e fazer um trabalho normal", diz ela. Åsberg acredita que os últimos anos viram "epidemias" da doença na Suécia.

Um problema sueco?

Comparações internacionais são complicadas, porque as definiçõesrealsbet telegramburnout variamrealsbet telegrampaís para país - e nem todos reconhecem este diagnóstico.

Uma possível explicação para os números altos da Suécia é arealsbet telegramque, como o país foi um dos primeiros a descrever este tiporealsbet telegramdoença e aceitar seu diagnóstico, isto ajudou a derrubar tabus, encorajando mais pessoas a se manifestarem e tornando os empregadores mais conscientes e receptivos a respeito.

"As pessoas achavam, antigamente, que era uma espécierealsbet telegrambobagem... mas os debates sobre saúde mentalrealsbet telegramgeral e burnout têm sido cada vez mais comuns, o que também aumenta a tendênciarealsbet telegramprocurar ajuda e falar sobre isso", explica Selene Cortes, que é porta-voz da ONG sueca Mind, dedicada à saúde mental.

A professora Marie Åsberg também diz que o generoso sistemarealsbet telegrambem-estar social da Suécia desempenha um papel no assunto: as pessoas diagnosticadas com exaustão geralmente recebem aproximadamente 80%realsbet telegramseu salário, limitado a 774 coroas suecas (o equivalente a USD 83, ou R$ 311) por dia - o equivalente a um saláriorealsbet telegramR$ 9,6 mil.

"O estado paga, então você não vai sofrer economicamente se estiver doente", explica ela. "E por causa disso, o estado criou bancosrealsbet telegramdados muito bonsrealsbet telegrampessoas que estãorealsbet telegramlicença médica e por quê."

Mas, mesmo que os suecos tenham uma tendência maior ou incentivos econômicos para procurar ajuda, como podemos entender a aparente desconexão entre as poucas horasrealsbet telegramtrabalho no país - querealsbet telegramresto também valoriza o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal - e a prevalênciarealsbet telegramuma doença caracterizada por níveis crônicosrealsbet telegramestresse?

"Eu entendo que as pessoas fora da Suécia possam ter dificuldaderealsbet telegramacreditar que estamos ficando estressados, quando temos todos esses benefícios", diz a sueca Pia Webb, uma coach certificada pelo Conselho Europeurealsbet telegramMentoria e Treinamento.

Ela acredita que é algo como um "problema sueco", que muitas pessoas terminem o diarealsbet telegramtrabalho às 17h ou até mais cedo e são "muito ruinsrealsbet telegramnão fazer nada".

Ela argumenta que há uma forte pressão social no país para investir temporealsbet telegram"estarrealsbet telegramforma, estar ocupado e parecer perfeito". Webb diz acreditar ainda que esta pressão está aumentando nos últimos anos.

Os suecos fazem mais exercício que qualquer outro povo europeu, com exceção dos finlandeses,realsbet telegramacordo com uma pesquisa recente da série Eurobarômetro, organizada pela Comissão Europeia. Quase um terço da população da Suécia faz exercícios físicos cinco vezes por semana ou mais.

Embora vários estudos tenham confirmado os benefícios do exercício para melhorar a saúde mental, Webb argumenta que há perigos quando a atividade física se torna uma competição para completar "desafios cada vez mais duros", ou uma obrigaçãorealsbet telegramtreinar com o objetivorealsbet telegramatingir certo tiporealsbet telegramcorpo. Essas pressões podem ajudar a explicar por que as pessoas mais jovens estão sucumbindo com maior frequência à exaustão, diz ela.

É uma visão com a qual Cecilia Axeland, 25 anos,realsbet telegramEstocolmo, concorda.

Ela estava trabalhando bem além das horas regulares e "viajando muito"realsbet telegramum trabalho relacionado a vendas quando sofreu um esgotamento clínico, há dois anos. Apesar disso, ela diz que a pressão para trabalhar e "realizar coisas"realsbet telegramseu tempo livre também foi um grande gatilho para a doença, no caso dela.

"Eu senti a pressão... você precisa ser saudável, você precisa se alimentarrealsbet telegramforma saudável, você precisa relaxar, mas você também precisa estar 'lá fora'", explica ela. "E como eu também faço música... eu basicamente nunca descansava, e isso me drenou."

Pressões contemporâneas

A professora Marie Åsberg diz que é cética sobre a possibilidade destes tiposrealsbet telegrampressão ser mais forte na Suécia do querealsbet telegramoutros países ocidentais, mas concorda que a falharealsbet telegramagendar o tempo adequadorealsbet telegramrelaxamento é o fator mais crucial para o esgotamento clínico - e isto ajuda a explicar por que a exaustão é não apenas uma reação a uma jornadarealsbet telegramtrabalho longa.

O cérebro, explica Åsberg, não consegue diferenciar entre o seu períodorealsbet telegramtrabalho no escritório e outras tarefas relacionadas ao trabalho, como planejar muitas atividadesrealsbet telegramseu tempo livre, ter um hobby competitivo ou ficar acordado até tarde para garantir que seu perfil numa rede social esteja atualizado.

"Eu acho que o cérebro não se importa se você é pago por isso, ou não", diz ela, acrescentando que a maioria das pessoas que "bate na parede (isto é, que chega à exaustão)" são "muito ambiciosas" e "não dormem o suficiente". "Eles querem ter sucesso e mostrar ao mundo como eles são bons, então sobrecarregam suas próprias forças e resistência."

Ela argumenta que, ao ladorealsbet telegrammídias sociais e smartphones, existem outras pressões contemporâneas que podem estar influenciando o aumento dos casosrealsbet telegramexaustão tanto na Suécia quantorealsbet telegramoutros lugares.

No competitivo mercadorealsbet telegramtrabalho atual, onde os jovens lutam para garantir empregos permanentesrealsbet telegramáreas disputadas. A professora argumenta que muitos estão tão "ávidos e ansiosos para mostrar que são bons", que trabalham mais do que realmente precisam.

Os mantras modernos que nos incentivam a viver nossos sonhos também podem aumentar a pressão e criar decepções quando as coisas não saem como planejado. "Hojerealsbet telegramdia, desde a infância, você ouve dizer que, se você simplesmente trabalhar duro, pode ser qualquer coisa - todas as oportunidades estão abertas para você - e esse não é o caso para todo mundo."

Uma questão individual ou coletiva?

Alguns especialistas argumentam que o modo como a sociedade sueca está estruturada também coloca uma pressão grande sobre a saúde mental dos jovens. Selene Cortes, da ONG Mind, diz que a Suécia é um dos países mais individualistas e seculares do mundo,realsbet telegramacordo com o projetorealsbet telegrampesquisa global World Values Survey (WVS).

Existe uma norma cultural que sugere que os suecos devem ser independentes desde cedo, o que, segundo Cortes, pode ser um fardo para algumas pessoas - ou fazer com que elas não comuniquem problemas que poderiam ser sinaisrealsbet telegramalerta para um esgotamento clínico. "Os jovens são bastante solitários no processorealsbet telegramcriar uma vida futura", argumenta.

Pia Webb, que viveu no Reino Unido e trabalhou com clientesrealsbet telegramtoda a Europa, bem como da Suécia, tem uma mensagem semelhante.

"Outras culturas são mais orientadas para a família... as pessoas se ajudam mais", argumenta. "E eu acho que com isso também vem mais temporealsbet telegramrelaxamento,realsbet telegramapenas estar no 'aqui e agora', seja num jantarrealsbet telegramfamília, ou, no caso do Reino Unido, apenas sentar para tomar uma xícararealsbet telegramchá."

Prevenindo o burnout

Os especialistas se dividem a respeito da melhor formarealsbet telegramcombater o burnout. Alguns acreditam que cabe aos indivíduos tentar resolver as coisas por conta própria, enquanto outros argumentam que se tratarealsbet telegramum problema social, coletivo.

"É fácil dizer 'é culpa da sociedade que esteja tendo isto' (burnout), e 'eu sou apenas parte da estatística'. Há ainda quem sinta que é um tiporealsbet telegram'prestígio' trabalhar tanto", argumenta Webb.

Ela sugere ainda que muitos daqueles que acabam largando o trabalho por causa da exaustão não conseguiram lidar com questões pessoais, como problemasrealsbet telegramperfeccionismo, ansiedade ou confiança.

"Estar sempre ocupado é uma maneira fácilrealsbet telegramnão lidar com esses problemas", diz ela. "É claro que se você trabalhar longas horas ou não ter um gerente que te dê apoio, isto vai te drenar ainda mais, mas se você não encarar seus problemas pessoais, nunca vai resolvê-los."

A ex-gerenterealsbet telegrammarketing Natali Suonvieri argumenta que a ênfase deve estarrealsbet telegramajudar as empresas a fazer mais para garantir que os funcionários possam gerenciar seus níveisrealsbet telegramestresse. Ela agora trabalha como educadora, erealsbet telegrammissão é ajudar as pessoas a terem uma vida laboral sustentável. Ela concluiu um mestradorealsbet telegramRelaçõesrealsbet telegramEmprego e Psicologia Organizacional, depoisrealsbet telegramsofrer ela mesma uma criserealsbet telegramesgotamento.

"Qualquer um pode desenvolver burnout", argumenta Suonvieri, que também dirige a maior comunidade da Suécia no Facebook para mulheres que sofrem com o estresse.

"(Burnout) não tem a ver com a quantidaderealsbet telegramhoras que você está trabalhando, e sim com o controle e os recursos que você tem no localrealsbet telegramtrabalho... e se eles garantem que o seu trabalho seja efetivo erealsbet telegramalta qualidade", diz ela. "É uma questão complexa, envolvendo tudo, desde a liderança até o tiporealsbet telegramambienterealsbet telegramtrabalho que você temrealsbet telegramgeral".

Suonvieri também se diz cética sobre os dados oficiais, segundo os quais menosrealsbet telegram1% dos suecos trabalham por longas horas, argumentando que muitos funcionários e empregadores não monitoram adequadamente quanto tempo é gasto checando e-mails ou revisando textos após o término do expediente oficial.

Soluções clínicas

Embora "o melhor tratamento seja a prevenção", a professora Marie Åsberg diz que o sistemarealsbet telegramsaúde da Suécia oferece uma sérierealsbet telegramtratamentos altamente subsidiados para pessoas com exaustão - e que outros países poderiam aprender com esta experiência.

Estes incluem cursosrealsbet telegramgrupo para lidar com o estresse, onde os participantes recebem dicas e exercícios. "Isso ajuda você a superar o sentimentorealsbet telegramvergonha (em relação ao problema)", diz Åsberg. "Eles (os outros membros do grupo) adoeceram pelo mesmo motivo que você, e você vê que eles são pessoas boas e pessoas interessantes. Então, logicamente, não há motivo para se envergonhar."

"Você meio que tem essa rederealsbet telegrampessoas passando pela mesma coisa", concorda Cecilia Axeland, que participourealsbet telegramum curso deste tipo, bem comorealsbet telegramum programarealsbet telegramqualidade do sono subsidiado pelo estado, depoisrealsbet telegramreceber o diagnósticorealsbet telegramburnout. "Isso é algo que eu senti que me ajudou, porque eu entendi que não estou sozinha."

Alguns suecos com exaustão também recebem terapia individual, mas há longas listasrealsbet telegramesperarealsbet telegramalgumas regiões, devido à escassezrealsbet telegrampsicoterapeutas treinados. Isto se tornou uma questão social e política cada vez mais debatida nos últimos anos.

Åsberg diz que um dos tratamentos mais procurados é a chamada Terapia Comportamental Cognitiva. O objetivo neste tiporealsbet telegramterapia é "treinar" os pacientes para substituir pensamentos inúteis por outros mais úteis ou realísticos. Este tiporealsbet telegramterapia pode realmente ter um impacto negativorealsbet telegrampessoas que sofremrealsbet telegramexaustão, especialmente nos primeiros estágios.

"Pode ser contraproducente, porque ensina as pessoas a fazerem um monterealsbet telegramcoisas e trabalharem emrealsbet telegramprópria recuperação, quando deveriam estar descansando neste momento."

Tirar um tempo para relaxar completamente também é o conselhorealsbet telegramCecilia Axeland para pessoas que passaram pelo mesmo problema que ela.

Depoisrealsbet telegramdescansar bastante durante os quatro mesesrealsbet telegramlicença médica, ela estudou por um ano e agora tem um novo emprego na indústriarealsbet telegramtecnologia. Mas ela está muito mais consciente sobre encontrar tempo para "desligar"realsbet telegramseu trabalho diário e hobbies do que antesrealsbet telegramficar doente.

"Eu costumo sairrealsbet telegramcaminhadas apenas para limpar minha mente e deixar meu telefonerealsbet telegramcasa. Ninguém pode me alcançar neste momento", diz ela. "Antes do meu burnout, eu realmente precisava me provar, e agora eu diria que sou muito mais gentil comigo mesma... isso é o mais importante."

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